Com o avanço da mecanização, a aplicação das cordas expandiu-se para diversas atividades produtivas
Os primeiros fósseis de cordas são datados entre 15 e 17 mil anos, o que torna essa tecnologia muito mais antiga que a aparição do machado (8.000 a.C.) ou da roda (6.000 a.C.). Os arqueólogos, contudo, acreditam que, devido a provas como marcas de desgaste, agulhas de osso, desenhos etc., o início do uso de cordas deve ser muito anterior, retrocedendo à descoberta do fogo (cerca de 400.000 a.C.), coincidindo com as primeiras ferramentas de pedra lascada.
Porém, poucos percebem a importância desses artefatos na história do desenvolvimento humano. Muitas vezes, não são nem mesmo mencionados em livros sobre a história da tecnologia. Contudo, é difícil encontrar alguma das tecnologias atuais que não tenha, em algum momento, dependido de cordas, nós e emendas. Desde a pré-história, são
Com o avanço da mecanização, a aplicação das cordas expandiu-se para diversas atividades produtivas
Os primeiros fósseis de cordas são datados entre 15 e 17 mil anos, o que torna essa tecnologia muito mais antiga que a aparição do machado (8.000 a.C.) ou da roda (6.000 a.C.). Os arqueólogos, contudo, acreditam que, devido a provas como marcas de desgaste, agulhas de osso, desenhos etc., o início do uso de cordas deve ser muito anterior, retrocedendo à descoberta do fogo (cerca de 400.000 a.C.), coincidindo com as primeiras ferramentas de pedra lascada.
Porém, poucos percebem a importância desses artefatos na história do desenvolvimento humano. Muitas vezes, não são nem mesmo mencionados em livros sobre a história da tecnologia. Contudo, é difícil encontrar alguma das tecnologias atuais que não tenha, em algum momento, dependido de cordas, nós e emendas. Desde a pré-história, são usados para amarrar, puxar, caçar, fixar, elevar, escalar e muitas outras aplicações, como redes de pesca, armadilhas, fabricação de ferramentas de pedra (fixando-as nos cabos de madeira), lanças e arpões, cestos, vestimentas, fixação de animais em arados etc.
Com o avanço da civilização, a aplicação desses elementos expandiu-se para reboques de embarcações, movimentação de pedras pesadas e obeliscos (os primeiros foram construídos pelos antigos egípcios), criação de dispositivos multiplicadores de carga (que resultaram em guindastes, catapultas e outros engenhos), pontes suspensas (originárias da China), cordame de embarcações e outras. Também chegaram a ser usados como forma de linguagem pelos incas (com os chamados “quipus”) para cálculos, censos e outras aplicações similares.
DESENVOLVIMENTO
A fabricação das cordas (e posteriormente dos cabos) compreende quatro etapas: preparação das fibras, torção das fibras para formar os fios, torção dos fios para formar as pernas e torção das pernas para formar a corda ou cabo. Em cada etapa, a torção é feita no sentido oposto da anterior, para combater a tendência natural de desfazer-se.
É provável que as cordas mais antigas, ainda no período pré-histórico, fossem trançadas utilizando o comprimento usual das fibras, e que essa atividade tivesse começado a se desenvolver com a produção de cestos e redes. O processo se iniciou manualmente e assim permaneceu por muitos séculos.
Com o advento do comércio, o consequente aumento do tráfego marítimo aumentou significativamente a demanda por cordas e cabos. Afinal, os navios necessitavam de cabos para manter fixos os mastros, acionar as âncoras e manobrar as velas. Assim, tornaram-se necessários cabos cada vez mais longos (um navio médio tinha cerca de 35 km de cabos e cordas) e resistentes, o que implicava mais pernas e, portanto, maior diâmetro.
A partir do século XIX, passou-se a usar fibras tropicais na fabricação das cordas
Isso levou à construção das primeiras fábricas. Como o processo se desenvolvia em linha reta, essas estruturas eram compostas por galpões longos e estreitos. Comprimentos em torno de 400 m eram comuns, havendo registro de fábricas com mais de 700 m. Mas os dispositivos de fabricação continuavam a ser manuais, só passando para acionamento a vapor no início da Revolução Industrial.
O processo mais comum compreendia um sistema de fixação com três ganchos que podiam girar. Na primeira fase, três conjuntos de fibras eram desbobinados ao longo do berço. Na fase seguinte, era acionada uma manivela, de modo a torcer as fibras de cada conjunto e formar as pernas de cabo. Na fase três, as pernas eram trançadas para formar o cabo.
Nessa altura, o risco de incêndio era muito alto devido à facilidade de combustão do cânhamo e das chamas abertas pelo processo de revestimento com alcatrão – que aumentava a resistência do material à umidade.
NÓS E EMENDAS
As cordas e cabos, por si, são inúteis. É necessário que possam ser amarrados em algum objeto ou outro cabo. E, para isso, fazem-se necessários nós e emendas. Embora tenha começado de forma muito simples, essa tecnologia transformou-se numa atividade bastante especializada à medida que o tempo passou.
Cada atividade desenvolveu os nós que melhor atendiam às suas necessidades. Atualmente, contudo, essa tecnologia vem caindo em desuso devido às mudanças na aplicação e natureza dos cabos. Somente algumas atividades (escoteiros, alpinistas, marinheiros) ainda têm algum conhecimento do assunto.
Isso ocorreu por duas razões. Primeiramente, a maioria das atividades que utilizavam os nós foi desaparecendo com o tempo. Não havia mais necessidade de puxar barcos em canais, construir dispositivos bélicos e outras atividades do tipo. Além disso, os cabos mudaram. Até a metade do século XX, eram feitos de fibras vegetais (papiro, coco, bambu). O cânhamo, usado na China há milênios, foi a principal fibra usada na Europa e na América.
No século XIX, passaram a ser utilizadas algumas fibras tropicais, como sisal, juta e outras. Em 1834, Wilhelm August Julius Albert inventou o cabo de aço, para substituir correntes de sustentação nas minas, onde o peso inviabilizava a movimentação a maiores profundidades.
Na segunda metade do século XIX, as fibras tropicais passaram a ser substituídas por arames de aço, a partir dos quais passaram a ser fabricados os cabos. Elevadores, pontes pênseis e guindastes são equipamentos que dependem totalmente dos cabos de aço, que suplantaram os similares de fibras naturais.
SINTÉTICOS
Além disso, a partir da segunda metade do século XX passaram a ser usados cabos sintéticos em atividades como pesca, paraquedismo, balões, esportes aquáticos, alpinismo e outros. Inicialmente, predominou o nylon – um dos mais usados até hoje –, seguido pelo poliéster e pelo polipropileno (não tão resistentes, mas mais baratos que as fibras naturais). Depois vieram produtos como Kevlar, Technora, Twarom, Yectran e Zylon, até chegar ao polietileno de peso molecular ultra-alto (100 vezes mais resistente que o aço). Assim, o mercado de fibras naturais para cabos está praticamente extinto.
Manual e laborioso, o processo de produção de cordas permaneceu inalterado por muitos séculos
Hoje, o mercado de cabos de aço também já começa a perder espaço para o de fibras sintéticas. Mesmo os cabos de aço vêm tendo a alma de fibra substituída por polipropileno ou PVC. Em contrapartida, os cabos sintéticos não são recicláveis nem biodegradáveis, além de consumirem mais energia para serem produzidos.
E também não é possível usar nós em nenhum desses materiais. Por isso, os nós foram substituídos por outros dispositivos de fixação, feitos de aço ou alumínio, como, por exemplo, os grampos Crosby (também conhecidos como “clips”). Para os saudosistas, ao menos os cordões de sapatos continuam utilizando fibras naturais na amarração.
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A invasão chinesa – Parte 1
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