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Revista M&T - Ed.294 - Junho de 2025
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A ERA DAS MÁQUINAS

Motores Flex entram em cena

Por Norwil Veloso

Disponível desde 2003, o motor Flex (Flexible Fuel Engine) de ciclo Otto funciona com diferentes combustíveis. Foto:IMAGENS: REPRODUÇÃO


Operando no ciclo termodinâmico Otto de 4 tempos, um motor Flex (flexible fuel engine) é capaz de funcionar com diferentes combustíveis, permitindo que o usuário escolha o que melhor atenda às suas necessidades. Embora possa ser usada qualquer mistura de combustíveis, nos motores Flex não é possível utilizar álcool 46º GL, comumente encontrado em supermercados, devido ao alto conteúdo de água. Na maior parte dos países foi dada preferência ao etanol, embora nos EUA também tenha havido veículos que funcionaram com metanol (M85).

Produzido a partir da cana de açúcar ou do milho, o etanol comum apresenta vantagens e desvantagens em relação à gasolina. Como vantagens, é possível citar sua natureza renov&aa


Disponível desde 2003, o motor Flex (Flexible Fuel Engine) de ciclo Otto funciona com diferentes combustíveis. Foto:IMAGENS: REPRODUÇÃO


Operando no ciclo termodinâmico Otto de 4 tempos, um motor Flex (flexible fuel engine) é capaz de funcionar com diferentes combustíveis, permitindo que o usuário escolha o que melhor atenda às suas necessidades. Embora possa ser usada qualquer mistura de combustíveis, nos motores Flex não é possível utilizar álcool 46º GL, comumente encontrado em supermercados, devido ao alto conteúdo de água. Na maior parte dos países foi dada preferência ao etanol, embora nos EUA também tenha havido veículos que funcionaram com metanol (M85).

Produzido a partir da cana de açúcar ou do milho, o etanol comum apresenta vantagens e desvantagens em relação à gasolina. Como vantagens, é possível citar sua natureza renovável, enquanto as principais desvantagens incluem menor densidade de energia e baixa volatilidade, o que dificulta a partida em clima frio.

No Brasil, o etanol é usado de duas maneiras: como álcool etílico anidro combustível, adicionado à gasolina pura, ou misturado com água, constituindo o álcool etílico hidratado combustível.

A gasolina é uma mistura extremamente variável de hidrocarbonetos, contendo contaminantes como enxofre, metais, oxigênio e nitrogênio.

Com a crise do petróleo de 1973, o governo brasileiro passou a adicionar etanol à gasolina. Atualmente, o teor está em torno de 25% de etanol anidro, conforme determinações governamentais.

FUNCIONAMENTO

Álcool e gasolina podem ser misturados em quaisquer proporções no motor Flex, pois a composição é reconhecida por um sensor (sonda lambda) que analisa a composição do gás de escapamento que passa por ela, informando ao sistema de injeção qual o combustível está sendo usado. A identificação da mistura define a calibração de variáveis como tempo de injeção e tempo de avanço de ignição, sem qualquer interferência do motorista. No Brasil, o ajuste da injeção é feito por meio de um software automotivo desenvolvido no país.

Para permitir esse comportamento “inteligente”, foram feitas modificações no motor convencional, compreendendo, entre outras, utilização de materiais para evitar a corrosão decorrente da presença de álcool hidratado, mudança no tempo de abertura e fechamento das válvulas e nos componentes do sistema de injeção eletrônica e adequação do sistema de partida e das velas de ignição ao uso dos dois combustíveis.

Nos EUA, o desenvolvimento foi feito a partir dos motores a gasolina, enquanto no Brasil foi utilizada a experiência dos motores a etanol, de taxa de compressão mais elevada (10 a 12:1), obtendo-se melhor desempenho e economia de combustível. Algumas ideias que circulam no meio – como necessidade de executar o primeiro abastecimento com gasolina, possibilidade de o uso de um mesmo combustível por período longo “viciar” o motor e menor durabilidade dos motores Flex – são improcedentes. A única alegação que procede é o menor desempenho do motor flex em relação à configuração de combustível único.

FLEX NO BRASIL

Nos veículos desenvolvidos pela indústria automobilística brasileira, a injeção de combustível é ajustada por meio de software automotivo desenvolvido no país, que não requer sensores. Devido a isso, os veículos precisam rodar pelo menos 5 km (ou 10 min) para que a mistura seja identificada corretamente. Disponíveis desde 2003, os veículos Flex tiveram seu sucesso facilitado pela infraestrutura construída desde o Pró-Álcool (Programa Nacional do Álcool, criado pelo governo em 1975).

Composição é reconhecida por um sensor que informa ao sistema de injeção qual combustível está sendo usado.


Atualmente, 95% dos veículos produzidos no Brasil estão equipados com motor Flex, que permite abastecimento com gasolina, etanol ou uma mistura dos dois, em qualquer proporção. No país, existem ainda veículos que funcionam com gás natural (GNV), permitindo a escolha entre qualquer mistura – gasolina E25, álcool E100 ou GNV.

A inovação mais recente foi o desenvolvimento de motocicletas com motor Flex. Em 2007, a Delphi Automotive Systems apresentou o primeiro motor Flex, adaptado em uma moto Yamaha, enquanto a Magneti Marelli apresentou um projeto adaptado de uma moto Kasinski. A Toyota do Brasil lançou o primeiro veículo híbrido Flex em 2018, com um projeto desenvolvido em parceria com universidades federais, que pode funcionar a eletricidade, gasolina ou etanol.

FLEX NO MUNDO

Em 2007, circulavam nos EUA mais de 6 milhões de veículos Flex E85, que utilizavam motores a gasolina modificados para aceitar a mistura de 0 a 85% de etanol. O valor máximo foi fixado pela indústria para evitar problemas na partida em clima frio e controlar as emissões.

Na Suécia (que tem a maior população de veículos Flex da Europa), foi iniciado em 1994 um programa de testes, mas as indústrias locais se recusaram a participar alegando que a rede de postos era insuficiente. O desafio foi aceito pela Ford, que em 2001 começou a importar veículos Fox equipados com a tecnologia, vendendo mais de 15.000 unidades até 2005, quando Volvo e Saab lançaram seus modelos.

Na Europa, os veículos Flex são vendidos em diversos países, incluindo Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Noruega, Polônia, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça.

Linha do tempo

O primeiro veículo Flex vendido no mundo foi o Ford modelo T, produzido de 1908 até 1927. Dispunha de um carburador de injeção ajustável para uso com etanol, gasolina ou uma mistura de ambos. Embora Henry Ford (1863-1947) preferisse o etanol, a gasolina prevaleceu devido ao baixo preço do petróleo até a crise de 1973, que abriu oportunidade para o uso de combustíveis alternativos.

Na segunda metade da década de 1970, o governo brasileiro implantou o Pró-Álcool, buscando reduzir o consumo de derivados de petróleo. A primeira medida foi estabelecer a mistura de álcool anidro com gasolina, definida entre 20% e 25%. Em 1979, como resposta à 2ª crise do petróleo, foi lançado o primeiro veículo nacional que utilizava etanol puro, o Fiat 147.

Após alcançar quase 9 milhões de veículos a álcool, a frota começou a diminuir devido ao aumento do preço do açúcar no mercado, que provocou escassez de combustível E100.

Em 2002, foi lançado o primeiro veículo Flex moderno – o Volkswagen Gol –, logo seguido por modelos de fabricantes como Chevrolet, Citröen, Fiat, Ford, Honda, Mitsubishi, Peugeot, Renault e Toyota.

Nos EUA, o desenvolvimento de veículos com combustível alternativo também foi uma resposta à crise de 1973. A Califórnia liderou o processo, usando metanol. Em 1996, a Ford lançou versões do veículo Taurus capazes de operar com metanol M85 ou etanol E85 misturados com gasolina. A preferência recaiu sobre o etanol devido ao apoio dos agricultores e aos programas de subsídio à produção de milho. Em 2006, a Fiat lançou o Siena Tetrafuel, desenvolvido em conjunto com a Magneti Marelli, que pode operar com 100% de álcool hidratado, gasolina E25, gasolina pura (não disponível no Brasil) ou GNV.

Primeiro veículo Flex do mundo, o Model T foi introduzido por Henry Ford no início do século XX com carburador de injeção ajustável.


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