Há 40 anos atrás, um estagiário de engenharia entrava com entusiasmo em um jipe da Camargo Corrêa em direção às oficinas da empresa em Guarulhos, na Grande São Paulo. Lá, ele ajudava a estruturar a ainda embrionária área de manutenção de equipamentos. E, depois, nas obras da Hidrelétrica de Jupiá, Ilha Solteira, e da Ponte Rio Niterói, faria prevalecer dentro dessa mesma área critérios de engenharia. Aos 32 anos, estava de volta à São Paulo, como Diretor Estatutário de Manutenção e Suprimentos. Uma década depois, tornou-se responsável pela coordenação e assistência de manutenção em todas as obras da empresa. Nos anos seguintes, toda essa experiência lhe valeria o ingresso em outros degraus da hierarquia da Companhia, até atingir o posto de Superintendente da Participações Morro Vermelho S.A., holding familiar que reúne os acionistas do Grupo Camargo Corrêa. O engenheiro Pietro Francesco Giavina-Bianchi, fala ne
Há 40 anos atrás, um estagiário de engenharia entrava com entusiasmo em um jipe da Camargo Corrêa em direção às oficinas da empresa em Guarulhos, na Grande São Paulo. Lá, ele ajudava a estruturar a ainda embrionária área de manutenção de equipamentos. E, depois, nas obras da Hidrelétrica de Jupiá, Ilha Solteira, e da Ponte Rio Niterói, faria prevalecer dentro dessa mesma área critérios de engenharia. Aos 32 anos, estava de volta à São Paulo, como Diretor Estatutário de Manutenção e Suprimentos. Uma década depois, tornou-se responsável pela coordenação e assistência de manutenção em todas as obras da empresa. Nos anos seguintes, toda essa experiência lhe valeria o ingresso em outros degraus da hierarquia da Companhia, até atingir o posto de Superintendente da Participações Morro Vermelho S.A., holding familiar que reúne os acionistas do Grupo Camargo Corrêa. O engenheiro Pietro Francesco Giavina-Bianchi, fala nessa entrevista à revista M&T - Manutenção & Tecnologia da evolução da área de equipamentos e da própria Camargo Corrêa nos últimos quarenta anos. Sócio e fundador da Sobratema, Pietro Bianchi elogia os programas da entidade voltados ao aperfeiçoamento dos profissionais brasileiros.
Revista M&T: No passado, a Camargo Corrêa notabilizou- se por uma estrutura própria de manutenção completa. A central de manutenção ocupava uma área de 100 mil m2. e chegou a ter 650 empregados. Hoje, isso seria inviável?
Pietro- hoje já não é necessária. Há 30 anos atrás a situação era diferente, primeiro por que, havia extrema dificuldade de se importar peças, e nós tínhamos que fabricá-las. Hoje, não se fala em reforma para uma máquina de 25 mil horas, mas na época, diante das dificuldades para a importação de equipamentos, isso era uma necessidade. O dealer, no Brasil, se limitava a vender a máquina e receber do fabricante sua comissão e não se estruturava para dar assistência técnica, o que exigia que tivéssemos uma retaguarda pesada para o pós-venda, embora nosso core business não fosse fazer manutenção e sim, obras.
Revista M&T: A experiência de qualquer modo foi válida?
Pietro: Foi muito útil no sentido de manter o equipamento operando através de uma boa manutenção preventiva e ao mesmo tempo, estabelecer uma série de programas de acompanhamento, vida útil dos equipamentos, etc, o que gerou uma grande economia de custos para a empresa. Mas, além da manutenção própria, que foi um mal necessário, essa estrutura tinha uma outra função muito importante e de cuja falta hoje a Camargo Corrêa se ressente: a formação de engenheiros de manutenção. Com a Central, em Guarulhos, mantínhamos uma uniformidade do conceito de manutenção dentro da empresa, atendíamos às necessidades das obras, nessa área, padrão que levou pelo menos uns dez anos para se cristalizar.
Revista M&T: E agora, onde são formados esses engenheiros? Na própria obra?
Pietro: Hoje, esses engenheiros vão para a obra acompanhando um engenheiro mais experiente, mas há limitações e custos elevados que impedem a utilização da obra como uma escola. Há, claro, os programas de traineé, que por melhores que sejam, não substituem a experiência de formar um profissional no dia-a-dia e por um longo período de tempo.
Revista M&T: Como evitar em uma obra que as prioridades da produção comprometam a programação estabelecida para a manutenção dos equipamentos?
Pietro: Hoje, a própria área de operação para a máquina dentro do programa de manutenção preventivo, pré-estabelecido. Os profissionais de operação e manutenção estão na mesma posição hierárquica. Há cerca de cinco anos, em algumas obras, foi feita uma experiência de subordinar a manutenção à operação. Isso não deu certo e demonstrou que deve haver autonomia entre as áreas e deixar as possíveis divergências para o residente solucionar.
Revista M&T: A Camargo também tem investido muito no treinamento de operadores. O seu curso interno de operadores polivalentes já é uma referência no setor. Houve evolução nesse sentido?
Pietro: Antigamente, eram precisos uns 10 anos para se formar um bom operador e isso com a vinda de técnicos estrangeiros para ensinar a operar máquinas simples como motoescrêiperes. Hoje contamos com mais recursos para ajudar o operador a entender o que está fazendo em um equipamento. Temos inclusive parceria com o Instituto Opus, de treinamento de operadores da Sobratema.
Revista M&T: Falando em Sobratema, o senhor tem acompanhado as atividades da entidade nos últimos anos. Na sua opinião, como ela tem contribuído para o desenvolvimento da área de equipamentos no Brasil?
Pietro: Eu sou sócio da Sobratema desde o início. Ela desempenha um papel fundamental, que é o de valorizar e prestigiar o usuário de equipamentos, estabelecendo um salutar entrosamento com os fabricantes. Outro aspecto essencial em suas atividades é facilitar o acesso às informações tecnológicas. A M&T EXPO, uma grande feira internacional realizada aqui no Brasil é, sem dúvida nenhuma, uma grande conquista nesse sentido.
Revista M&T: Voltando à Camargo, vemos que nos últimos anos ela tem participado de consórcios juntamente com outras grandes empreiteiras. Essa composição não gera conflito de interesses?
Pietro: É evidente que todos que participam desses consórcios ou concessões querem minimizar seu custo. Então, é importante a troca de experiência entre as empresas participantes, no sentido de se buscar a melhor forma de trabalho. Acaba havendo uma composição das melhores práticas de cada uma, tanto na parte de operação, como na de controle e gerenciamento da obra.
Revista M&T: A Camargo Corrêa tem diversificado muito suas atividades, chegando a atuar em muitos momentos como contratante e empreiteira de uma determinada obra. A construção ainda é o core business da Camargo?
Pietro: A construção civil ainda é o carro-chefe dentro do grupo Camargo Corrêa em termos de faturamento, rendimento e aplicação de mão de obra. Há questão de 5 anos, com a criação da holding operacional, com 16 empresas, a construtora se concentrou especificamente para sua função, a área de construção pesada, propriamente dita. Com isso, a área de concessões de estradas, por exemplo, tornou-se um negócio independente. Do mesmo modo, a parte de energia elétrica, alumínio, e outras atividades que não a construção, constituíram se em empresas específicas, cada uma com resultados próprios a serem alcançados.
Revista M&T: Outra característica da construtora é sua atuação predominantemente nacional. Porque, ela não tem participado de obras em outros países?
Pietro: A Camargo concentrou suas atividades no Brasil . Tivemos experiências na Venezuela, Bolívia, Colômbia e Peru, com resultados não muito confortáveis. Estamos sempre abertos à novas oportunidades no exterior. No nosso plano operacional está previsto obter serviços nos países da América Latina.
Revista M&T: No Brasil, nos últimos anos os grandes projetos só foram viabilizados com participação da iniciativa privada. O senhor acredita que essa seja uma tendência irreversível?
Pietro: Há muito a ser feito e espaço para todos. Não há recursos oficiais suficientes e já a iniciativa privada está investindo pesadamente após as privatizações e concessões.
O setor ferroviário nacional, por exemplo, é uma lástima e não porque não seja inviável ou antieconômico. Mas porque a privatização feita foi incipiente, sem obrigatoriedade de um investimento pelas concessionárias. Não que a privatização seja a solução para tudo. Mesmo porque, se tomamos por exemplo o setor de saneamento básico, vemos, que ele requer um alto investimento e baixo retorno, o que deve ser feito pelo setor público, uma vez que estas obras são de cunho social e consequentemente uma função do Estado, e poderá ter parceria com instituições privadas.
Revista M&T: O senhor está otimista em relação ao novo governo?
Pietro: Otimistas sempre fomos. Evidentemente é preciso aguardar.
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