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Revista M&T - Ed.244 - Junho 2020
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Coluna do Yoshio

Os benefícios inesperados do caos

"É profundamente lastimável que a percepção de muitos profissionais no Brasil seja de espanto e incredulidade diante do mero cumprimento da lei."

ONa mitologia grega, o Caos (Χάος) é uma expressão do deus da desordem, cujo domínio abrange a falta de união e o desiquilíbrio. Geralmente, uma situação caótica é entendida como uma confusão absoluta e sem qualquer produto útil, sempre associado à ordem e à união. Mas como vivemos tempos de contradições e paradoxos, temos visto que uma decisão tomada por motivos errados pode gerar resultados interessantes, exatamente como descreve a Teoria do Caos, especificamente por meio da analogia do ‘Efeito Borboleta’. Para lembrar: segundo a cultura popular, o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um terremoto do outro lado do mundo.

Vejamos um exemplo. Um fato importante ocorrido em 2018 foi a greve dos caminhoneiros, que afetou a fundo as atividades produtivas no país. Pontualmente, a saída para o problema foi a criação de uma tabela de fretes, com va


ONa mitologia grega, o Caos (Χάος) é uma expressão do deus da desordem, cujo domínio abrange a falta de união e o desiquilíbrio. Geralmente, uma situação caótica é entendida como uma confusão absoluta e sem qualquer produto útil, sempre associado à ordem e à união. Mas como vivemos tempos de contradições e paradoxos, temos visto que uma decisão tomada por motivos errados pode gerar resultados interessantes, exatamente como descreve a Teoria do Caos, especificamente por meio da analogia do ‘Efeito Borboleta’. Para lembrar: segundo a cultura popular, o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um terremoto do outro lado do mundo.

Vejamos um exemplo. Um fato importante ocorrido em 2018 foi a greve dos caminhoneiros, que afetou a fundo as atividades produtivas no país. Pontualmente, a saída para o problema foi a criação de uma tabela de fretes, com valores que corrigiam as distorções acumuladas e que, depois, foi transformada em lei para que tivesse força de se impor ao mercado.

É certo que os valores majorados foram rejeitados por muitos e, certamente, não é uma lei das mais respeitadas atualmente. Muitos embarcadores visualizaram na constituição de frota própria a solução natural ao rigor da lei. Outros até hoje não praticam os valores estabelecidos, como se o ‘acordo entre as partes’ pudesse protegê-los do não cumprimento da lei.

Mas com o tempo, outros embarcadores mais sérios (termo empregado com o significado de ‘praticantes do compliance’) estão servindo de condutores para uma nova postura no mercado. São empresas que não aceitam firmar contratos que não atendam integralmente à lei, surpreendendo até mesmo os prestadores de serviços de transporte de carga.

Sem dúvida, é profundamente lastimável que a percepção de muitos profissionais no Brasil seja de espanto e incredulidade diante do mero cumprimento da lei. É até possível que esta lei seja daquelas que ‘não pegam’ e venha a ser modificada ou extinta no futuro. Mas, até lá, vem provocando um efeito benéfico não planejado, que é o de educar muita gente. Cabe registrar que este efeito nunca fora previsto ou sequer imaginado.

No futuro, o fato talvez seja erroneamente reportado como uma ação visionária e futurista do governo Temer. Mas, na verdade, não foi nada além de uma reação aterrorizada frente à ação inesperada dos caminhoneiros. Um caso lapidar de caos criativo.

*Yoshio Kawakami
é consultor da Raiz Consultoria e diretor técnico da Sobratema

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