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Revista M&T - Ed.224 - Junho 2018
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Coluna do Yoshio

Esperando Godot?

Nos frequentes contatos que mantenho com executivos de empresas industriais do setor de construção, invariavelmente enfrentamos uma incômoda questão que transborda o pensamento para tornar-se foco dos diálogos: quando (e quanto) o mercado de máquinas para construção voltará?

Desta pergunta depreendem-se dois dilemas que, se não chegam a atormentar a mente dos executivos, ao menos geram dúvidas inquietantes que são compartilhadas. O primeiro diz respeito à crença de que é preciso visualizar com precisão a retomada de mercado para que uma empresa possa voltar a crescer. Aprendemos isso nas empresas por meio de perguntas dos nossos superiores executivos e acionistas, que querem minimizar equívocos custosos. Todavia, nessa correlação esconde-se sorrateiramente a premissa de que a empresa somente voltará a crescer se o mercado também voltar a crescer.

Não há dúvidas de que o crescimento do mercado facilita a retomada de qualquer empresa. No entanto, também pode estar refletindo a necessidade de uma mudança de modelo mental, que livre os executivos de uma de suas crenças mais limitantes. Afinal, qualquer empresa deve buscar um desempenho melhor do que o mercado para melhorar a sua posição e sustentabilidade econômica, sob a pena de estar fadada a repetir o sofrimento toda vez que o mercado passar por uma baixa. Não seria justamente esta a essência do papel que buscamos nos bons executivos?

O segundo dilema está em uma compreensão mais fria do mercado, ao invés de manter expectativas “milagrosas” sobre os volumes de mercado. O patamar de volumes alcançados em um mercado turbinado por financiamentos fáceis e baratos – junto ao grande número de obras públicas igualmente “turbinadas” – gerou um cenário enganoso. Certamente, não é uma tarefa fácil visualizar com realismo o patamar de “demanda natural” do mercado brasileiro. Mas, se tomarmos a média de um longo período, chegamos a um mercado de aproximadamente 23 mil unidades por ano, abaixo dos picos já registrados de mais de 30 mil unidades/ano. A “sanfona” do mercado é provocada por intervenções que aumentam de forma artificial a disponibilidade de capital para obras e financiamentos, produzindo ora antecipações, ora atrasos da “demanda real” de


Nos frequentes contatos que mantenho com executivos de empresas industriais do setor de construção, invariavelmente enfrentamos uma incômoda questão que transborda o pensamento para tornar-se foco dos diálogos: quando (e quanto) o mercado de máquinas para construção voltará?

Desta pergunta depreendem-se dois dilemas que, se não chegam a atormentar a mente dos executivos, ao menos geram dúvidas inquietantes que são compartilhadas. O primeiro diz respeito à crença de que é preciso visualizar com precisão a retomada de mercado para que uma empresa possa voltar a crescer. Aprendemos isso nas empresas por meio de perguntas dos nossos superiores executivos e acionistas, que querem minimizar equívocos custosos. Todavia, nessa correlação esconde-se sorrateiramente a premissa de que a empresa somente voltará a crescer se o mercado também voltar a crescer.

Não há dúvidas de que o crescimento do mercado facilita a retomada de qualquer empresa. No entanto, também pode estar refletindo a necessidade de uma mudança de modelo mental, que livre os executivos de uma de suas crenças mais limitantes. Afinal, qualquer empresa deve buscar um desempenho melhor do que o mercado para melhorar a sua posição e sustentabilidade econômica, sob a pena de estar fadada a repetir o sofrimento toda vez que o mercado passar por uma baixa. Não seria justamente esta a essência do papel que buscamos nos bons executivos?

O segundo dilema está em uma compreensão mais fria do mercado, ao invés de manter expectativas “milagrosas” sobre os volumes de mercado. O patamar de volumes alcançados em um mercado turbinado por financiamentos fáceis e baratos – junto ao grande número de obras públicas igualmente “turbinadas” – gerou um cenário enganoso. Certamente, não é uma tarefa fácil visualizar com realismo o patamar de “demanda natural” do mercado brasileiro. Mas, se tomarmos a média de um longo período, chegamos a um mercado de aproximadamente 23 mil unidades por ano, abaixo dos picos já registrados de mais de 30 mil unidades/ano. A “sanfona” do mercado é provocada por intervenções que aumentam de forma artificial a disponibilidade de capital para obras e financiamentos, produzindo ora antecipações, ora atrasos da “demanda real” de máquinas.

Em um paralelo com a arte, a situação remete à peça “Esperando Godot” (1952), de Samuel Beckett, em que os personagens esperam alguém cuja chegada parece iminente, mas é constantemente adiada. Em suma, vivemos em um mundo complexo e também ansiamos por uma clareza absoluta do nosso mercado – com tempo e volumes firmes – para guiar nossas decisões. Ao invés disso, creio que seria mais proveitoso exercitar um raciocínio transversal, do concreto ao abstrato, de modo a criar uma estratégia realmente inovadora.

*Yoshio Kawakami é consultor da Raiz Consultoria e diretor técnico da Sobratema

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