Nos frequentes contatos que mantenho com executivos de empresas industriais do setor de construção, invariavelmente enfrentamos uma incômoda questão que transborda o pensamento para tornar-se foco dos diálogos: quando (e quanto) o mercado de máquinas para construção voltará?
Desta pergunta depreendem-se dois dilemas que, se não chegam a atormentar a mente dos executivos, ao menos geram dúvidas inquietantes que são compartilhadas. O primeiro diz respeito à crença de que é preciso visualizar com precisão a retomada de mercado para que uma empresa possa voltar a crescer. Aprendemos isso nas empresas por meio de perguntas dos nossos superiores executivos e acionistas, que querem minimizar equívocos custosos. Todavia, nessa correlação esconde-se sorrateiramente a premissa de que a empresa somente voltará a crescer se o mercado também voltar a crescer.
Não há dúvidas de que o crescimento do mercado facilita a retomada de qualquer empresa. No entanto, também pode estar refletindo a necessidade de uma mudança de modelo mental, que livre os executivos
Nos frequentes contatos que mantenho com executivos de empresas industriais do setor de construção, invariavelmente enfrentamos uma incômoda questão que transborda o pensamento para tornar-se foco dos diálogos: quando (e quanto) o mercado de máquinas para construção voltará?
Desta pergunta depreendem-se dois dilemas que, se não chegam a atormentar a mente dos executivos, ao menos geram dúvidas inquietantes que são compartilhadas. O primeiro diz respeito à crença de que é preciso visualizar com precisão a retomada de mercado para que uma empresa possa voltar a crescer. Aprendemos isso nas empresas por meio de perguntas dos nossos superiores executivos e acionistas, que querem minimizar equívocos custosos. Todavia, nessa correlação esconde-se sorrateiramente a premissa de que a empresa somente voltará a crescer se o mercado também voltar a crescer.
Não há dúvidas de que o crescimento do mercado facilita a retomada de qualquer empresa. No entanto, também pode estar refletindo a necessidade de uma mudança de modelo mental, que livre os executivos de uma de suas crenças mais limitantes. Afinal, qualquer empresa deve buscar um desempenho melhor do que o mercado para melhorar a sua posição e sustentabilidade econômica, sob a pena de estar fadada a repetir o sofrimento toda vez que o mercado passar por uma baixa. Não seria justamente esta a essência do papel que buscamos nos bons executivos?
O segundo dilema está em uma compreensão mais fria do mercado, ao invés de manter expectativas “milagrosas” sobre os volumes de mercado. O patamar de volumes alcançados em um mercado turbinado por financiamentos fáceis e baratos – junto ao grande número de obras públicas igualmente “turbinadas” – gerou um cenário enganoso. Certamente, não é uma tarefa fácil visualizar com realismo o patamar de “demanda natural” do mercado brasileiro. Mas, se tomarmos a média de um longo período, chegamos a um mercado de aproximadamente 23 mil unidades por ano, abaixo dos picos já registrados de mais de 30 mil unidades/ano. A “sanfona” do mercado é provocada por intervenções que aumentam de forma artificial a disponibilidade de capital para obras e financiamentos, produzindo ora antecipações, ora atrasos da “demanda real” de máquinas.
Em um paralelo com a arte, a situação remete à peça “Esperando Godot” (1952), de Samuel Beckett, em que os personagens esperam alguém cuja chegada parece iminente, mas é constantemente adiada. Em suma, vivemos em um mundo complexo e também ansiamos por uma clareza absoluta do nosso mercado – com tempo e volumes firmes – para guiar nossas decisões. Ao invés disso, creio que seria mais proveitoso exercitar um raciocínio transversal, do concreto ao abstrato, de modo a criar uma estratégia realmente inovadora.
*Yoshio Kawakami é consultor da Raiz Consultoria e diretor técnico da Sobratema
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