Com o aquecimento do mercado e a crescente sofisticação das máquinas, os índices de acidentes em operações com guindastes vêm aumentando consideravelmente no país. Convidado para falar sobre o assunto em seminário promovido pelo Sindipesa (Sindicato Nacional das Empresas de Transporte e Movimentação de Cargas Pesadas e Excepcionais), o engenheiro mecânico Camilo Filho insistiu na necessidade de certificação da atividade. “O trabalho de movimentação de cargas exige planejamento e treinamento”, diz ele. O evento integrou o Sobratema Congresso 2012, que se realizou simultaneamente à M&T Expo 2012.
Durante sua explanação, o especialista ressaltou que o tombamento da máquina figura como maior tipo de ocorrência, mas com poucos casos fatais, pois o operador normalmente tem tempo para sair da máquina, ou “limpar o banco”, como se diz no meio. Já os acidentes fatais são ocasionados geralmente por contato com a rede elétrica (39% dos casos) ou durante a montagem e desmontagem dos equipamentos (12%). Outros riscos que exigem atenção são os esmagamentos, decorrentes da falta de isolamento d
Com o aquecimento do mercado e a crescente sofisticação das máquinas, os índices de acidentes em operações com guindastes vêm aumentando consideravelmente no país. Convidado para falar sobre o assunto em seminário promovido pelo Sindipesa (Sindicato Nacional das Empresas de Transporte e Movimentação de Cargas Pesadas e Excepcionais), o engenheiro mecânico Camilo Filho insistiu na necessidade de certificação da atividade. “O trabalho de movimentação de cargas exige planejamento e treinamento”, diz ele. O evento integrou o Sobratema Congresso 2012, que se realizou simultaneamente à M&T Expo 2012.
Durante sua explanação, o especialista ressaltou que o tombamento da máquina figura como maior tipo de ocorrência, mas com poucos casos fatais, pois o operador normalmente tem tempo para sair da máquina, ou “limpar o banco”, como se diz no meio. Já os acidentes fatais são ocasionados geralmente por contato com a rede elétrica (39% dos casos) ou durante a montagem e desmontagem dos equipamentos (12%). Outros riscos que exigem atenção são os esmagamentos, decorrentes da falta de isolamento da área. Prender o pé durante a patolagem também é algo comum. “Em 95% dos casos, é a atuação falha do profissional que causa o acidente”, explica o engenheiro.
Para mostrar como é possível evitar acidentes com esses equipamentos, Camilo Filho enfatizou algumas medidas básicas de segurança pré-operacional. “Antes de tudo, é necessário fazer um planejamento prévio, que compreenda dados sobre o terreno, peso da carga, velocidade do vento, a existência de tubulações, fiações e outras redes no local”, diz ele. O operador deve ainda verificar se existe um plano de rigging e consultar a tabela de carga do equipamento.
Cuidados básicos
As orientações práticas incluem aspectos como contatar a empresa de energia elétrica, colocar um calçamento adequado sobre as patolas para evitar o afundamento de terreno, certificar-se do isolamento da área de giro do contrapeso e amarrar bem as cargas. Já a inspeção do equipamento deve ser diária, contemplando a verificação de todos os comandos, cabos de aço, manilha, guincho, braço, polias, moitão, cinta, esticador, pneus e sensores, de forma a observar se todos os acessórios estão instalados corretamente.
Em termos de manutenção, itens como folgas no pino, irregularidades nas polias, corrosão no pé da lança, acúmulo de água e ausência de proteção no motor e na corrente também exigem atenção. É importante ainda afixar a sinalização do American National Standards Institute (ANSI) e da American Society of Mechanical Engineers (ASME), norma composta por 23 sinais. Para evitar içamentos cegos, a comunicação entre o assistente e o operador deve ser apenas por meio de rádio e sempre por meio de sinais claros. “Se o operador não entender a sinalização, ele deve parar imediatamente a operação”, alerta Camilo Filho.
O auxiliar jamais pode ficar embaixo da carga suspensa, assim como o operador deve evitar içamentos múltiplos e equilíbrio instável. Com pesos iguais dos dois lados, a tendência é tombar para trás, pois “o guindaste trabalha com momento de inércia, como uma balança”. Outro fator de risco é o vento. “Pela frente é pior”, ele explica. “O operador recebe a informação que a carga está mais pesada que o real e, quando o vento cessa, a carga passa do ponto de equilíbrio e aumenta o raio.” Já para evitar dano estrutural, a lança não deve receber carga lateral, mas sempre vertical. “Assim, só a força peso atua”, ensina o especialista.
Atenção aos acessórios
O engenheiro também abordou as condições que reduzem a capacidade dos guindastes, assim como o uso de lingada, outriggers e outros acessórios para içamento, como manilhas, cabos e balancins. “Quanto menor o ângulo da lingada com a horizontal, maior é a tensão atuante no cabo”, explica Camilo Filho. “Por isso, o melhor ângulo para se trabalhar é o de 60º, sendo que ângulos menores que 30º nunca devem ser usados.” O cabo, inclusive, deve ser compactado de alto desempenho, pois contém muito mais aço em sua composição. A aplicação errada do cabo de aço e da cinta também é algo recorrente: “a capacidade do cabo de aço cai 25% e a da cinta diminui 20% quando eles são enforcados.”
Conhecimento de física é algo igualmente fundamental neste tipo de operação. Com a lança no ângulo máximo, por exemplo, o centro de gravidade sai do prumo e pode ocorrer tombamentos, como explica o engenheiro. Camilo Filho lamentou a demora na regulamentação desse tipo de atividade no país, como há muito já existe nos EUA. “As tecnologias estão em constante evolução, exigindo que os operadores se atualizem. No futuro próximo, só os profissionais treinados poderão operar e também terão os melhores salários”, ele afirma.
Para David Rodriguez, diretor comercial da Makro Engenharia, especializada em içamento de cargas pesadas, o índice de acidentes com guindastes tende a diminuir consideravelmente se as empresas do setor forem consultadas na fase de planejamento e projeto dos empreendimentos. “No caso da instalação de usinas eólicas, por exemplo, constatamos muitas vezes que as vias de acesso não foram dimensionadas para suportar o tráfego dos equipamentos pesados que mobilizamos.”
Foco no treinamento
O estudo do site de operação, segundo ele, envolve até mesmo a análise da janela de tempo em que os equipamentos podem operar com segurança, já que, por motivos óbvios, as usinas eólicas sempre são projetadas em locais com forte incidência de ventos. “Os guindastes contam com sistemas que limitam sua operação de acordo com a velocidade dos ventos, mas ele se baseia em uma peça padrão e a carga movimentada pode variar de área, o que denominamos como área vélica. Essa constatação nos leva a crer que as tabelas de carga dos equipamentos deveriam ser reduzidas em mais de 50% para a maior segurança da operação”, afirma Rodriguez.
Ele ressalta os investimentos dos fabricantes em sistemas que proporcionam maior segurança nos trabalhos com guindastes, mas destaca que as empresas do setor precisam investir em soluções proativas. “A caixa preta do equipamento não evita os acidentes; por isso, estamos investindo em um sistema próprio de monitoramento on line da frota.” O sistema em implantação vai acompanhar em tempo real a operação de todos os guindastes da Makro, contando com um centro de controle em sua sede, localizada em Fortaleza (CE).
Assim como Rodriguez, o empresário Giancarlo Rigon, da locadora de guindastes BSM Engenharia, ressalta a importância de se investir no treinamento do pessoal. “Para isso, dispomos de instituições de reconhecida qualidade, como o Instituo Opus, da Sobratema, e dos cursos oferecidos pelos próprios fabricantes”, ele completa. Rigon explica que, para se habilitar a operar guindastes em sua empresa, o profissional precisa ter segundo grau completo e, após concluir um curso de qualificação, ele trabalha pelo período de seis meses sob a supervisão de outro funcionário mais experiente.
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