Se no início do ano o mercado brasileiro para guindastes de torre (ou gruas, como também são conhecidos esses equipamentos) estava animado com o possível aumento da demanda – que há um bom tempo vem se mantendo em patamares muito baixos no país –, a chegada do novo coronavírus frustrou as expectativas.
Passados mais de quatro meses desde o início da pandemia, as perspectivas sobre o futuro imediato no segmento ainda são divergentes, pois há quem vislumbre novos negócios ainda para este ano, enquanto outros já projetam 2021. Mais que isso, a acentuada oscilação cambial, parâmetro fundamental de uma indústria cujos produtos são quase todos importados, torna esse horizonte ainda mais indefinido.
Todavia, para Paulo Carvalho, diretor do segmento de gruas da Alec (Associação Brasileira de Locadores de Equipamentos e Bens Móveis), o mercado pode retornar rapidamente ao ritmo de negócios imediatamente
Se no início do ano o mercado brasileiro para guindastes de torre (ou gruas, como também são conhecidos esses equipamentos) estava animado com o possível aumento da demanda – que há um bom tempo vem se mantendo em patamares muito baixos no país –, a chegada do novo coronavírus frustrou as expectativas.
Passados mais de quatro meses desde o início da pandemia, as perspectivas sobre o futuro imediato no segmento ainda são divergentes, pois há quem vislumbre novos negócios ainda para este ano, enquanto outros já projetam 2021. Mais que isso, a acentuada oscilação cambial, parâmetro fundamental de uma indústria cujos produtos são quase todos importados, torna esse horizonte ainda mais indefinido.
Todavia, para Paulo Carvalho, diretor do segmento de gruas da Alec (Associação Brasileira de Locadores de Equipamentos e Bens Móveis), o mercado pode retornar rapidamente ao ritmo de negócios imediatamente anterior à pandemia: “A verdade é que não era lá um ritmo muito intenso”, ele admite. “Mas com o volume de mão de obra com o qual trabalhávamos, nossa capacidade estava tomada e já pensávamos até em contratações.”
A confiança se ampara no fato de que, durante a pandemia, a construção civil manteve a execução da maioria das obras que já vinha tocando, com exceções pontuais em alguns estados, como Santa Catarina e Ceará. Por outro lado, o setor imobiliário suspendeu o lançamento de novos empreendimentos. Mas ainda neste ano podem surgir novos projetos imobiliários, confia o diretor da Alec, especialmente em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, que no decorrer de agosto devem ter suas atividades econômicas em grande parte normalizadas. “O Brasil tem um enorme déficit habitacional e não há estoque de imóveis disponível”, justifica Carvalho. “Além disso, a taxa de juros está no nível mais baixo da história, o que favorece o investimento em imóveis.”
Quem também acredita na possibilidade de novos lançamentos imobiliários e, portanto, de novos negócios para a indústria de gruas ainda em 2020, é o gerente comercial da Liebherr, Luis Meirelles. Segundo ele, entretanto, o cenário ainda instável dificulta previsões mais exatas em termos de volume. “Neste ano, acredito que teremos um volume de negócios um pouco superior ao de 2019”, diz ele.
Para algumas empresas, restante do ano será de planejamento para 2021
Assim como Carvalho, Meirelles também cita o impacto da crise sanitária nos novos lançamentos. Ele observa que, embora a construção civil tenha sido considerada como atividade essencial, os investimentos em novos empreendimentos imobiliários passaram a ser feitos de maneira “bastante ponderada” durante a pandemia. Mesmo assim, a tendência é que o setor imobiliário volte rapidamente a demandar mais gruas, algo que, pela projeção de Meirelles, também acontecerá em outras atividades. “Normalmente, associamos guindastes de torre a obras de construção predial”, ressalta. “Mas esses equipamentos também têm ampla aplicação em construção industrial, infraestrutura e mineração, por exemplo.”
PERSPECTIVAS
Há também no setor quem adote um tom mais contido quanto às expectativas de retomada dos negócios com gruas, como é o caso de Ricardo Beilke Neto, gerente sênior de serviços para o segmento de guindastes da Terex Latin America. “Esta segunda metade do ano provavelmente será mais de planejamento”, ele avalia. “Isso porque as grandes construtoras e locadoras já estão pensando em 2021.”
Todavia, o especialista pondera que, caso algumas privatizações planejadas pelo governo federal se concretizem em breve (dependendo de quais sejam), podem ocorrer algumas vendas de gruas até o final do ano. “E talvez já no início de 2021 os locadores reativem suas compras”, completa Beilke. “Isso é necessário, pois o parque brasileiro está obsoleto e, com a crise, muitos equipamentos foram para outros países.”
No início do ano, ele prossegue, a Terex vinha obtendo um desempenho “muito bom” no mercado nacional. Porém, a situação mudou com a chegada do novo coronavírus e o transtorno nas atividades produtivas que se seguiu. “Mas já estamos sendo acionados para cotações novamente”, ele ressalta.
Esse aumento no volume de solicitações de cotações – especialmente a partir de junho – é confirmado por Luciano Dias, diretor de vendas da Manitowoc no Brasil. Porém, ainda não resultou em vendas, ao menos por enquanto. “Acho difícil surgirem novos pedidos até setembro, uma vez que o processo de decisão de compra de uma grua demanda algum tempo”, observa. “Os negócios podem até voltar a acontecer no último trimestre do ano, mas ainda não dá para ter qualquer certeza sobre isso.”
Há ainda outro fator a considerar, que é a dimensão do parque instalado de máquinas e, paradoxalmente, a maturidade adquirida pelo setor no Brasil. Comparada a outros países da América Latina, acentua Dias, a frota de gruas brasileira não só é maior, como em muitos casos também apresenta melhores condições estruturais, além de dispor de assistência técnica em todo o país e contar com boa disponibilidade de peças de reposição. “Isso também inibe a compra de máquinas novas, especialmente nos momentos de demanda mais contida, quando os clientes buscam utilizar mais intensivamente suas frotas”, ele argumenta.
INDICADORES
Este ano, o faturamento geral do mercado de locação de gruas certamente será inferior ao registrado em 2019, prevê Carvalho. Mas essa queda não deverá ser muito acentuada. “Os indicadores da Alec revelam reduções leves no faturamento, assim como na quantidade de mão-de-obra nas empresas do setor”, ele relata.
São sinais animadores em vista das circunstâncias, mesmo que essas mesmas empresas talvez enfrentem dificuldades para investir em novas gruas. Até por uma questão de recursos. Quase todos importados, os guindastes de torre fornecidos no Brasil têm seus preços atrelados ao dólar, que no primeiro semestre deste ano valorizou cerca de 36% em relação ao real. Apenas no segundo trimestre, a disparada atingiu aproximadamente 25%. “As verbas destinadas à locação certamente não comportam esses aumentos acentuados dos preços dos equipamentos”, reconhece o diretor da Alec.
Tendência é que o setor imobiliário volte rapidamente a demandar gruas no país
Essa percepção do encarecimento abrupto da moeda norte-americana como obstáculo adicional à aquisição de novos guindastes de torre é avalizada por Dias, da Manitowoc, empresa que, após abrir e fechar uma fábrica local em um curto espaço de tempo, hoje importa todas as gruas que comercializa no Brasil. “Em dólares, o valor das gruas até que não aumentou de forma significativa nos últimos anos”, ele salienta. “Mesmo com as atualizações tecnológicas, uma grua atualmente tem um preço em dólares muito similar ao que um equipamento equivalente tinha há cinco anos.”
De acordo com o especialista, os números globais da Manitowoc mostram retração de 21,3% nos negócios no primeiro trimestre, quando vários mercados já eram afetados pela pandemia. Mesmo antes dessa queda, ele observa, mercados como Estados Unidos e Europa já davam sinais de desaceleração. “No Brasil, ao contrário, até tínhamos uma expectativa de moderada recuperação no primeiro semestre”, comenta Dias. “Porém, tivemos uma queda forte no segmento de máquinas novas, com estabilidade nos projetos de manutenção.”
Para o executivo, ainda é difícil definir a exata participação da pandemia nessa retração dos negócios no mercado brasileiro. “Até porque, apesar de alguns indícios de aquecimento no final de 2019, ainda não havia a sinalização de uma economia realmente aquecida”, justifica o profissional da Manitowoc.
Volume de solicitações de cotações cresceu, mas ainda não se converteu em negócios
PORTFÓLIO
Mas isso não tem tirado o foco da empresa no que se refere ao portfólio para o mercado brasileiro. Na ConExpo deste ano, por exemplo, a fabricante apresentou duas gruas com “grande apelo” no mercado nacional. Uma delas é o modelo automontante HUP M28-22, que após desmontado assume o tamanho de uma carreta. A outra é o modelo MCT325, versão de um equipamento bem-conhecido no Brasil, cuja parte superior pode ser transportada em apenas sete contêineres, podendo agora ser montado em apenas um dia e meio.
Já a Terex, conta Beilke, aposta em gruas automontantes com capacidade de até 4 toneladas e nas gruas flat top, até 40 toneladas. O especialista destaca ainda acessórios como o sistema telemático T-Link, o elevador para gruas de torre T-Lift e sistemas eletrônicos avançados que permitem controle mais preciso do guindaste, além de fornecerem dados operacionais instantâneos e simplificarem a configuração do equipamento.
De cima para baixo: modelo automontante HUP M28-22, a grua articulada CTLH192-12 e o cabo sintético da Libherr
Recentemente, a empresa lançou a grua articulada CTLH192-12, qualificada como “bastante adequada” para ambientes onde a movimentação é mais restrita, por apresentar “o mais baixo raio, em serviço e fora de serviço”, de apenas 3 e 8 metros, respectivamente, com comprimento máximo de lança de 55 metros e capacidade máxima de 12 toneladas.
Aquecendo-se a demanda por novos equipamentos, a Liebherr também deve trazer novidades para o Brasil como as gruas com fibras sintéticas, que substituem o aço como matéria-prima dos cabos, o que torna o equipamento mais leve e simplifica sua montagem. “Equipamentos com cabos de fibras vêm sendo muito bem-aceitos nos mercados onde já estão disponíveis”, destaca Meirelles.
Na opinião do especialista da Liebherr, a demanda por gruas pode crescer no mercado brasileiro em um ritmo até mesmo superior ao da própria evolução da indústria da construção, quantificada em novas obras, pois esses equipamentos colaboram decisivamente com o processo de industrialização crescente do setor. “Temos no Brasil um enorme campo para industrializar as obras”, diz ele. “Um exemplo disso é o uso desses equipamentos, que podem trazer ganhos enormes em termos de produtividade, redução de prazos e custos nos empreendimentos.”
Fabricantes adotam protocolos para o atendimento de campo
Em um cenário de normalidade, a queda na demanda de gruas poderia estimular os proprietários a reformar esses equipamentos, mas até agora essa possibilidade não se transformou em realidade. Ocorre que, como destaca o gerente de serviços para o segmento de guindastes da Terex Latin America, Ricardo Beilke Neto, muitas empresas usuárias de gruas suspenderam as atividades nos momentos iniciais da pandemia. “Como resultado, tivemos uma redução de 40% a 50% nos atendimentos”, diz ele.
E esses atendimentos destinados à manutenção ou reforma, destaca Beilke, passaram a seguir protocolos definidos com base tanto nas recomendações das autoridades locais quanto da Terex em âmbito global. Isso inclui, entre outros itens, a análise – antes da aprovação de um atendimento – de todo o trajeto que o profissional precisará percorrer, desde o momento em que sai de casa até seu retorno, avaliando quesitos como meio de transporte, necessidade de hotel e se essa eventual hospedagem conta ou não com protocolos de segurança contra a covid-19. “E na volta recomendamos o teste do coronavírus, que nós financiamos”, diz Beilke.
Atendimento ganhou procedimentos especiais durante a pandemia
Também a Manitowoc elaborou um protocolo – ainda vigente em meados de julho – para a atuação de seus profissionais durante a pandemia. Com ele, os kits dos profissionais de assistência técnica passaram a contar com álcool gel e uma quantidade maior de máscaras (por razões diversas, já havia máscaras nesses kits). “E cada viagem desses profissionais passou a ter a necessidade de aprovação de um comitê que considera, entre outros fatores, o meio de locomoção que será utilizado e as condições sanitárias da cidade para onde ele precisa deslocar-se”, detalha Luciano Dias, diretor de vendas da empresa para o mercado nacional.
Segundo ele, não houve exatamente uma queda na demanda por esses serviços, mas sim um “remanejamento do calendário” dos programas de manutenção, com as ações sendo implantadas de forma mais gradual, até porque os clientes perceberam que as máquinas que reformariam não seriam demandadas para novos projetos, pelo menos durante algum tempo. “O mercado, especialmente as locadoras, não parou de se movimentar em busca de informações e de relacionamento”, comenta. “Fizemos mais de 20 webinars, todos com pelo menos 100 participantes cada um.”
Na Liebherr, por sua vez, a demanda por serviços de manutenção das gruas cresceu, como revela o gerente comercial Luis Meirelles. “As incertezas diminuem os investimentos em equipamentos novos”, pondera. “Assim, a frota existente deve estar pronta para atender à demanda.”
Com as restrições para viagens dos profissionais, especialmente de avião, a Liebherr tem buscado, sempre que possível, ampliar a quantidade de atendimentos feitos por telefone, canais digitais ou representantes locais – nesse caso, minimizando os deslocamentos da equipe da própria empresa. “Temos atendimento técnico remoto, como ocorre para clientes com know-how para realizar uma ação de manutenção, mas que têm alguma dúvida”, ressalta Meirelles. “Mas isso já vem de algum tempo, apenas acentuou-se durante a pandemia.”
Saiba mais:
Alec: alec.org.br
Liebherr: www.liebherr.com.br
Manitowoc: www.manitowoc.com/pt
Terex: www.terex.com/pt-br
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