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Revista M&T - Ed.198 - Fevereiro 2016
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Guindastes

Solução caseira

Com histórias de superação, criatividade e até recuo, saiba como os fabricantes de gruas e guindastes de torre estão reagindo à crise, que pegou o setor imobiliário no contrapé

Já virou chavão dizer que 2015 foi um ano que pode ser riscado da história econômica do Brasil. Pelo menos no que diz respeito a resultados. Afinal, vínhamos em uma toada de grandes negócios, com vultosos investimentos em todas as áreas da economia. País em desenvolvimento, o Brasil continua carente de muita coisa, principalmente infraestrutura, o que veio a criar um sem-número de oportunidades a serem exploradas.

O segmento de construção civil é um bom exemplo disso, figurando entre os que mais cresceram nos últimos 10 anos. Porém, com o arrefecimento da sanha imobiliária – após um período de vazão da demanda reprimida, acompanhado por muita especulação –, o setor foi, proporcionalmente, um dos que mais se abateram pelo quase colapso político e econômico do país. Não por outro motivo, a expectativa dos fabricantes de gruas e guindastes de torre, equipamentos imprescindíveis aos canteiros de obras nos dias de hoje, é pouco otimista para este ano.

Mas nem todas as empresas se deixaram contaminar pelo clima ruim, mesmo que permaneçam pressionadas. A Mani


Já virou chavão dizer que 2015 foi um ano que pode ser riscado da história econômica do Brasil. Pelo menos no que diz respeito a resultados. Afinal, vínhamos em uma toada de grandes negócios, com vultosos investimentos em todas as áreas da economia. País em desenvolvimento, o Brasil continua carente de muita coisa, principalmente infraestrutura, o que veio a criar um sem-número de oportunidades a serem exploradas.

O segmento de construção civil é um bom exemplo disso, figurando entre os que mais cresceram nos últimos 10 anos. Porém, com o arrefecimento da sanha imobiliária – após um período de vazão da demanda reprimida, acompanhado por muita especulação –, o setor foi, proporcionalmente, um dos que mais se abateram pelo quase colapso político e econômico do país. Não por outro motivo, a expectativa dos fabricantes de gruas e guindastes de torre, equipamentos imprescindíveis aos canteiros de obras nos dias de hoje, é pouco otimista para este ano.

Mas nem todas as empresas se deixaram contaminar pelo clima ruim, mesmo que permaneçam pressionadas. A Manitowoc é uma delas. Apesar de ter paralisado as operações da fábrica em janeiro, a estratégia adotada pela empresa tem sido aproveitar o tempo ocioso para tentar colocar a casa em ordem. “Tivemos de paralisar a operação, pois não é possível continuar com menos de 10% da capacidade instalada em uso”, diz Leandro Nilo de Moura, gerente de marketing da fabricante. “Por outro lado, com a redução do fluxo de negócios, estamos fazendo coisas que, em condições normais, não seriam possíveis, como oferecer um treinamento técnico mais elaborado e conversar mais com nossos clientes, por exemplo.”

EXPECTATIVA

Embora a Manitowoc tenha atingido o índice para enquadrar seus produtos no Finame/PSI em apenas um ano de operação, ainda havia muito a ser feito. Desde que inaugurou a planta no noroeste do Rio Grande do Sul, em meados de 2012, a fabricante vinha procurando fornecedores de componentes para sua linha o que, com tempo hábil maior, se tornou uma tarefa mais produtiva. “Podemos desenvolver novos fornecedores e afinar nossas relações com eles, já que nossos produtos têm muita tecnologia embarcada e a oferta de fabricantes especializados no Brasil é muito escassa”, pontua Moura. “Há muitos usuários, mas poucos desenvolvedores de fato de produtos e componentes.”

Fruto de um investimento inicial de 75 milhões de dólares e outros tantos utilizados na modernização do sistema de usinagem e pintura, entre outras benfeitorias, a fábrica no início mal dava conta da demanda. Em contrapartida, há pouco mais de seis meses tem de lidar com a retração do mercado brasileiro e a consequente redução na demanda interna por guindastes e gruas. A solução? Primeiro, a Manitowoc passou a usar a planta gaúcha como base exportadora para países como México e vizinhos da América Latina, bem como nações do Oriente Médio e África, para tornar seu negócio viável. Com o acúmulo no estoque, porém, a empresa posteriormente decidiu paralisar totalmente a linha, por tempo indeterminado. Contudo, Moura garante que a empresa estará pronta para atender à demanda na hora em que o mercado tiver um novo ciclo de crescimento e a produção for retomada. “Inclusive, temos uma expansão já programada com esse propósito”, revela.

Tal expectativa tem fundamento, muito além de meros presságios alvissareiros. O Brasil é o quinto maior mercado em volume de produção de equipamentos RT – da sigla em inglês para Rough Terrain, traduzido por terreno acidentado – e, de acordo com o executivo da Manitowoc, vem crescendo ano a ano. “Nossa matriz de produção e a relação que temos com nossos parceiros permitiram que não fôssemos devastados pela crise”, comenta Moura. “Mas um mercado com o potencial do Brasil também garante um fôlego a mais, de modo que estamos apostando em uma retomada a partir do segundo semestre deste ano.”

ATENDIMENTO

A estimativa de recuperação da combalida economia brasileira é a mesma na Terex Latin America, fabricante de soluções para içamento e movimentação para diversos segmentos. Segundo o gerente de serviços da área de guindastes, Ricardo Beilke Neto, o impacto da crise também foi menor na companhia. “Não sentimos tanto, pois havíamos fechado alguns lotes com empresas hidrelétricas em 2014, que estão sendo entregues este ano”, afirma. “Além disso, alguns mercados latino-americanos estão muito bem, como nos casos do Chile e do Peru, no segmento de mineração, e da Colômbia e Argentina, que começam a retomar investimentos, principalmente em infraestrutura pública.”

Como Moura, da Manitowoc, Beilke também acredita no potencial do Brasil. Para ele, ainda estamos muito aquém e, nisso, reside a chave do equilíbrio do negócio: a diversificação das áreas de atuação. “Portos, aeroportos, rodovias, fontes alternativas de geração de energia, principalmente eólica, todas essas áreas carecem de investimentos e em algum momento isso terá de acontecer”, avalia. “Como o mercado de hidrelétricas foi muito afetado pela crise política, nossa expectativa é de que os demais setores comecem a puxar a retomada de investimentos a partir da segunda metade do ano.”

O reforço no pós-venda, por sua vez, veio a reboque da crise. Com 45% de toda a frota de guindastes Terex na América Latina, o Brasil exigiu uma adequação da empresa no que diz respeito a atendimento. Conforme explica Paulo Reis, executivo de vendas da área de guindastes da Terex, “o modelo brasileiro de negócios é diferente, demanda uma atuação mais direta e presente junto aos clientes. Diante disso, rapidez é crucial para manter os custos baixos e os usuários satisfeitos”.

Um exemplo desta política diferenciada é o programa Minha Terex, em operação há um ano. Para citar apenas um dado, 92% dos chamados via call center são solucionados no primeiro contato, que pode envolver – dependendo da ocorrência – várias áreas, como atendimento, garantia, suporte técnico, peças e treinamento. O programa contempla ainda uma unidade móvel de atendimento ao cliente que faz o diagnóstico das falhas dos equipamentos, resolvendo o problema ou encaminhando-o à área responsável.

Em paralelo, a Terex está promovendo a demonstração de equipamentos em sua fábrica em Cotia (SP), onde é possível testar um guindaste RT em um simulador, o Simulift, direcionado ao treinamento de operadores e sinalizadores. A experiência, na avaliação de Reis, “estreita relações e suscita um interesse ainda maior por nossos produtos”.

O Brasil é o único país da América do Sul em que a Terex adota essa conduta junto ao mercado. E, em um futuro não especificado por Beilke, há planos para voltar a montar equipamentos em regime CKD aqui, como já ocorreu no passado na planta de Betim (MG). Ou, quem sabe, produzir guindastes RT em solo brasileiro.

Outra empresa que tem se apoiado no pós-venda para resistir à crise é a Liebherr. Como a Terex, no final de 2014 a fabricante de origem alemã comercializou um pacote considerável de guindastes de torre com uma das maiores construtoras de imóveis populares do país, passando boa parte de 2015 realizando a entrega técnica destes equipamentos. Uma atribuição, justamente, da área de pós-venda.

Para Luiz Meirelles, gerente comercial de guindastes de torre da Liebherr Brasil, a escassez e o alto custo da mão de obra para construção civil “criam ainda mais desejo nas construtoras de mecanizar as etapas do processo de construção”. “Embora tenhamos sentido a desaceleração do mercado este ano, com uma menor disposição do que nos anos anteriores, notamos também que a cultura está mudando”, observa. “E, mais do que nunca, as construtoras percebem a necessidade de mecanização do canteiro de obras, que reduz custos e prazos.”

SOBREVIVENTE

Já na Siti, localizada em Campinas (SP), a situação se complicou nos últimos meses. De acordo com Ezio Molina, diretor superintendente da companhia, a empresa passou maus bocados em meados do ano, quando teve de cortar pela metade seu efetivo de 200 funcionários. Com um dos maiores portfólios de gruas – senão o maior – das fabricantes instaladas no Brasil, a empresa goza de um diferencial que poucas de suas concorrentes desfrutam: toda sua linha pode ser financiada via Finame. Mas, depois do fim da modalidade PSI, com juros de 9,5% ao ano e prazos bastante alongados, Molina enxerga pouca (ou “nenhuma”) perspectiva. “Como é possível um juro desse nível, mais ainda em um país em desenvolvimento?”, questiona. “Trabalhamos apenas para pagar despesas do governo e quase nada sobra para reinvestirmos no negócio.”

O engenheiro, que dirige a empresa há mais de quatro décadas, se ressente pelo que chama de “regras injustas”. “Ser empresário no Brasil é ser um sobrevivente”, critica, sugerindo que para a economia ganhar força novamente, antes de qualquer coisa, são necessários três elementos: corte de juros, privatização das concessionárias de serviço e alteração das leis trabalhistas, de modo a tornar a relação entre empregador e funcionário mais “justa e igualitária”.

Enquanto essas mudanças não vêm, tudo indica que o caminho para essas empresas está na prestação de serviços de pós-venda para os equipamentos em uso, além de colocar a casa em ordem e torcer pelo melhor.

O que há por aqui

No Brasil, a produção de guindastes de torre e gruas ascensionais ainda não tem grande expressividade no que tange à variedade ou mesmo volume. Mas, diante de um mercado imobiliário em retração, o que temos disponível hoje atende à demanda. Com modelos localmente produzidos em sua fábrica de Passo Fundo (RS), a Manitowoc oferece cinco modelos de guindastes hidráulicos – com capacidade para manutenção e instalações entre 30 e 80 toneladas de carga – e uma grua de torre, a MCT 85, com capacidade de carga de 5 toneladas. Com comprimento máximo de lança de 52 metros e carga de ponta de 1,1 tonelada, a chamada “grua topless” é indicada para projetos de menor porte, principalmente residenciais, em áreas urbanas com pouco espaço de manobra.

A Liebherr, por seu turno, produz em sua unidade de Guaratinguetá (SP) o guindaste de torre 85 EC-B5b, com altura livre de 46,2 metros, sem ancoragem, e capacidade máxima de carga de 5 mil kg, dos quais 1,3 mil na ponta de lança a 50 metros de raio.

O maior portfólio dentre os fabricantes nacionais é o da Siti, com cerca de 20 modelos de gruas ascensionais e móveis de até 200 tm produzidos aqui, além de meia dúzia de opções de produtos importados da Itália.

 

 

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