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Revista M&T - Ed.214 - Julho 2017
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Entrevista

RICARDO BEILKE NETO

“Existe um mercado esperando para acordar”

Engenheiro com 16 anos de atuação no setor da construção e mineração, o gerente de serviços do segmento de guindastes da Terex Latin America, Ricardo Beilke Neto, é um profissional com ampla visão do mercado de equipamentos, tendo já passado por players de diferentes segmentos, como Haulotte, Metso e Grupo CNH Industrial.

Formado em engenharia de controle e automação pela Universidade Metodista de Piracicaba, o executivo chegou há quatro anos ao Grupo Terex, onde responde por toda a área de serviços e atendimento ao cliente da marca, com foco estrito em plataformas tecnológicas, capacitação de pessoas e segurança operacional de uma frota de 1.500 equipamentos em operação só no Brasil.

Nesta entrevista exclusiva à M&T, dentre outros assuntos Beilke discorre sobre o novo projeto de treinamento de operadores de guindastes oferecido pela Terex Cranes no Brasil – que foi lançado em primeira mão na M&T Peças e Serviços –, incluindo aspectos de segurança, tecnologia e manutenção, além de traçar uma análise do cenário atual para o segmento e as mudanças ocorridas na


Engenheiro com 16 anos de atuação no setor da construção e mineração, o gerente de serviços do segmento de guindastes da Terex Latin America, Ricardo Beilke Neto, é um profissional com ampla visão do mercado de equipamentos, tendo já passado por players de diferentes segmentos, como Haulotte, Metso e Grupo CNH Industrial.

Formado em engenharia de controle e automação pela Universidade Metodista de Piracicaba, o executivo chegou há quatro anos ao Grupo Terex, onde responde por toda a área de serviços e atendimento ao cliente da marca, com foco estrito em plataformas tecnológicas, capacitação de pessoas e segurança operacional de uma frota de 1.500 equipamentos em operação só no Brasil.

Nesta entrevista exclusiva à M&T, dentre outros assuntos Beilke discorre sobre o novo projeto de treinamento de operadores de guindastes oferecido pela Terex Cranes no Brasil – que foi lançado em primeira mão na M&T Peças e Serviços –, incluindo aspectos de segurança, tecnologia e manutenção, além de traçar uma análise do cenário atual para o segmento e as mudanças ocorridas na estrutura local da empresa após a negociação com a finlandesa Konecranes, que recentemente adquiriu os negócios de pórticos, pontes rolantes e soluções portuárias da marca. “Nosso foco está cada vez mais centrado na elevação de cargas e pessoas”, diz ele. Acompanhe os principais trechos.

Como é feito o atendimento ao cliente?

Trabalhamos em três pilares: a parte de call center (atendimento), equipe de campo e treinamento. O principal é o treinamento, mas também somos uma marca amigável, que permite que o cliente faça várias manutenções no equipamento. Em termos de Brasil, temos quatro especialistas localizados em áreas estratégicas.

Qual é o desafio do pós-venda em épocas de frota parada?

O pós-venda não está parado. Temos vários projetos em mineração, eólicas e energia, por exemplo. A área de locação acabou baixando realmente, mas isso não impactou tanto por conta desse cenário. Conseguimos manter os serviços, tanto que não tivemos redução de quadros nessa área. Estamos com a mesma equipe há três anos.

O mercado brasileiro corre riscos? A empresa pensou em sair?

Não, o Brasil tem esses ciclos, com picos de aquecimento e recessão. Além disso, todas as economias do mundo já passaram pelo que passamos agora. E a Terex, ao mesmo tempo, vem se consolidando em uma empresa para elevação de pessoas e cargas, sem deixar que sua equipe fique na zona do conforto. E como ainda não existe venda, a empresa está investindo em pós-venda, trazendo ferramentas e investindo na proximidade ao mercado.

Como está o cenário na construção?

No momento, todo mundo está só especulando. Mas certamente existe um mercado esperando para acordar. Nossos clientes estão esperando os projetos de concessões acontecerem. Mas também estão buscando outras formas de se reinventar, e não somente no Brasil, como na América Latina. Vários clientes brasileiros estão buscando o Mercosul. Esse é um ponto estratégico também.

Como estão os demais países latino-americanos?

Os destaques continuam sendo o Chile e o Peru, enquanto a Argentina vem com crescimento bem interessante, inicialmente com obras de pequeno porte na construção civil, mas já começa a falar-se em renovação da área petroleira, além de torres eólicas. Já na Colômbia, o destaque é o mercado de equipamentos usados, que está cada vez mais aquecido.

Como é a atuação nesses países?

Em tod a América Latina, do México à Argentina, trabalhamos com distribuidores e um gerente de vendas. Há ainda alguns engenheiros de serviços para atender a esses distribuidores. De modo que eles não estão sozinhos no mercado.

Com a volta da Demag, como ficou a oferta de guindastes?

Hoje, temos duas marcas na área de guindastes: Terex, que trabalha basicamente com os equipamentos norte-americanos, na linha de RT’s (Rough Terrain), Truck Cranes e American’s HC (Hydraulic Crawler), e Demag, com os produtos da Alemanha, incluindo Crawlers, AT’s (All Terrain) e alguns equipamentos especiais.

Qual é o principal produto no Brasil?

Historicamente, a predileção é por guindastes RT, que representam 40% da frota no país, pois o mercado brasileiro é mais de construção, em projetos de longa duração. Só que há limite de carga. É quando entra o AT, inclusive com a questão de mobilidade do projeto, e outras famílias.

A formação de operadores é um problema no país?

Ainda é um gargalo. Quando se começa um projeto, perde-se muito tempo até preparar a equipe para ter a habilidade de operação, impactando na produtividade e na questão financeira. Afinal, treinar um operador durante todo o período da obra é algo que leva tempo. Não se faz isso em um ano. São anos de experiência. Com as obras paradas, temos uma grande oportunidade de trabalhar com esses operadores.

E como fazer isso?

Buscamos desenvolver um modelo que traga benefícios ao locador, à construtora e também ao operador. Ou seja, que tenha custo acessível e permita que ele se profissionalize por conta própria. É aí que propomos novas metodologias, como o e-learning “Mundo dos Guindastes”, por exemplo, no qual investimos 200 mil reais na implantação, para auxiliar nesta questão.

Qual é a dinâmica deste projeto?

O projeto nasceu dentro da Sobratema, com o Instituto Opus, quando identificamos essa demanda. Como disse antes, toda vez que se iniciava um projeto novo, perdia-se muito tempo para identificar e treinar os operadores. Até em questões básicas de formação, como matemática. Assim, avaliamos a possibilidade de transformar o treinamento em um projeto de e-learning, com custo mais acessível do que um curso de 40 horas, que pode girar em torno de 2 mil reais. Isso significa a possibilidade de realizar um curso acessível, com todo o conhecimento básico do mundo dos guindastes. E isso não é aplicável apenas ao operador, como também às pessoas que trabalham em volta de um equipamento, pois todos têm de saber os riscos, conhecer a geometria e a matemática envolvidas em um guindaste. Por isso, é um curso aberto a todos.

Como funciona?

Antes, perdia-se muito tempo na preparação e o e-learning supre essa deficiência de mercado. O operador chega pronto, sabendo sobre centro de gravidade e demais aspectos operacionais, pois já tem essa visão. Passando a preparação, ele já tem os primeiros contatos com o simulador (SimuLift), com o qual treina aproximadamente 40 horas. Depois, já é possível ir para o equipamento. Mas também vamos criar um banco de dados de operadores, que será compartilhado com o mercado. O Instituto Opus estima algo como 20 mil operadores, mas esse é um número que não sabemos ao certo.

Como o simulador tem sido usado?

Devido à característica de mercado, atualmente só temos o simulador de RT na América Latina. Mas a Terex lançou outro modelo na bauma 2015, para guindastes AT. E, no momento, estamos criando o SimuLift Itinerante, que lançamos recentemente na Exponor (Exhibición de Tecnologías e Innovaciones Globales para la Minería), no Chile. Trata-se de uma solução dentro de um contêiner, que chega antes à obra e o treinador segue depois, para fazer o treinamento. É um processo de locação do simulador.

Qual é a principal deficiência dos nossos operadores?

Para quem nunca operou, o principal ponto é ter a familiarização e a sintonia nos movimentos, mas também a intepretação de uma tabela de cargas e os riscos envolvidos na operação. E isso não é viável de se obter com o equipamento real, de modo que o simulador ajuda muito nesse sentido.

Quais são os principais recursos de segurança de um guindaste?

O mercado de guindastes atua com alta tecnologia. Há a parte de computadores, com toda a informação de controle do que se passa com o equipamento e com o operador, se há overload, problemas de patolamento incorreto etc., de modo que conseguimos mensurar isso e trabalhar essas informações dentro de um treinamento. Os guindastes modernos são como um avião, com redundância de sensores de segurança e toda a informação da operação.

O que diferencia o segmento de guindastes dos equipamentos pesados?

Assim como os equipamentos de mineração, os guindastes precisam de uma confiabilidade muito grande. Nesse sentido, o índice de quebras fica muito abaixo dos equipamentos de construção, por exemplo, que se desgastam muito. Com os guindastes, praticamente não existem paradas. Isso porque um crawler, por exemplo, é estacionário, trabalha como suporte da obra. Mas sem ele, não se faz nada.

Como se escolhe um guindaste adequado à operação?

Em linhas gerais, é necessário avaliar em qual segmento a máquina vai atuar. Para montagem de torres eólicas, por exemplo, é preciso ter equipamentos de alta capacidade, como um AT de 500 toneladas ou CC de 600 toneladas. Na construção civil de pequeno porte, já são equipamentos menores. Tudo depende de como a empresa quer se posicionar no mercado.

Diferentes tipos de guindastes exigem atendimentos distintos?

Quanto maior a capacidade do equipamento, também muda o perfil do engenheiro de manutenção, pois há necessidade de maior conhecimento eletrônico da máquina. As falhas mecânicas são quase nulas, de modo que o mais recorrente são as falhas eletrônicas. Já em um RT, que é mais de produção, há mais falhas mecânicas. Isso ajuda a determinar qual técnico colocar em determinado produto.

Como os guindastes podem evoluir ainda mais?

Atualmente, nosso topo de linha é o modelo CC8800-1, de 3.200 toneladas. Mas a grande evolução diz mais respeito ao alcance. Quanto mais alto, maior o desafio. Em torres eólicas, que é o ponto mais crítico na atualidade, já içamos até 114 metros de altura, mas já existem evoluções para 120 metros. E não vai parar por aí.

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