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Revista M&T - Ed.79 - Out/Nov 2003
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ENTREVISTA

RANDON: Um sobrenome para a indústria nacional

Dois irmãos fizeram de uma oficina na região Sul do país um dos maiores conglomerados da indústria automotiva da América do Sul.

O queijo Gran Padano RAR é 100% nacional e não deve nada ao importado do Piemonte, na Itália. A marca, as iniciais e até as vaquinhas que produzem o leite são de Raul Anselmo Randon. Patriarca de um dos mais importantes conglomerados da indústria automotiva da América do Sul, com faturamento estimado de R$1,4 bilhão em 2003, que se notabilizou por produzir no Brasil o que, em determinados momentos, só estava disponível no exterior e, portanto, tinha que ser importado. Foi assim que, entre outras coisas, se tornou líder do segmento de caminhões fora-de-estrada até 35 t e colocou sua marca em cinco em cada dez carretas que circulam pelas estradas brasileiras. O Gran padano é uma merecida regalia de “seu” Raul, depois de uma jornada de mais de cinquenta anos iniciada, junto com seu irmão Hercílio, já falecido, na ferraria do pai, Abramo Randon, em Tangará (SC) e depois Caxias do Sul (RS), eterno berço desta família “oriundi” do Vêneto, no norte da Itália.

Como nem só de queijo vive o homem, em breve deve chegar às prateleiras o vinho RAR, que poderá ser servido na mesa, ao lado da fruteira com as maçãs Rasip, outro de seus prazeres que. como todos os outros, acabou se tornando um negócio promissor. De qualquer modo é a elas que recorre ao despertar religiosamente às 6:10 h. Para mergulhar nos seus cinquenta minutos de exercício na piscina, antes de seguir para a “firma”. E lá que esse gigante, de 1,86 m e peso oscilando entre 120 e 130 kg, aos 74 anos, recebe clientes, visitantes, se reúne com sua diretoria e a holding familiar e ainda encontra tempo para dedicar-se ao Projeto Florescer, que promove a formação de crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos


Dois irmãos fizeram de uma oficina na região Sul do país um dos maiores conglomerados da indústria automotiva da América do Sul.

O queijo Gran Padano RAR é 100% nacional e não deve nada ao importado do Piemonte, na Itália. A marca, as iniciais e até as vaquinhas que produzem o leite são de Raul Anselmo Randon. Patriarca de um dos mais importantes conglomerados da indústria automotiva da América do Sul, com faturamento estimado de R$1,4 bilhão em 2003, que se notabilizou por produzir no Brasil o que, em determinados momentos, só estava disponível no exterior e, portanto, tinha que ser importado. Foi assim que, entre outras coisas, se tornou líder do segmento de caminhões fora-de-estrada até 35 t e colocou sua marca em cinco em cada dez carretas que circulam pelas estradas brasileiras. O Gran padano é uma merecida regalia de “seu” Raul, depois de uma jornada de mais de cinquenta anos iniciada, junto com seu irmão Hercílio, já falecido, na ferraria do pai, Abramo Randon, em Tangará (SC) e depois Caxias do Sul (RS), eterno berço desta família “oriundi” do Vêneto, no norte da Itália.

Como nem só de queijo vive o homem, em breve deve chegar às prateleiras o vinho RAR, que poderá ser servido na mesa, ao lado da fruteira com as maçãs Rasip, outro de seus prazeres que. como todos os outros, acabou se tornando um negócio promissor. De qualquer modo é a elas que recorre ao despertar religiosamente às 6:10 h. Para mergulhar nos seus cinquenta minutos de exercício na piscina, antes de seguir para a “firma”. E lá que esse gigante, de 1,86 m e peso oscilando entre 120 e 130 kg, aos 74 anos, recebe clientes, visitantes, se reúne com sua diretoria e a holding familiar e ainda encontra tempo para dedicar-se ao Projeto Florescer, que promove a formação de crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos.

Raul Randon também sai a campo e participa regularmente de feiras e encontros de negócios. Logo depois de participar da M&T Expo’2003, em setembro, onde acompanhou o lançamento do novo fora-de-estrada RK 430C, Randon seguiu para uma feira agropecuária na Bolívia. De lá, trouxe pedidos de compra de todos os produtos expostos, inclusive de sua nova retroescavadeira RK 406. Na escala de seu voo em São Paulo deu esta entrevista exclusiva para a revista M&T. onde falou sobre os avanços da empresa nas últimas cinco décadas, uma história que se confunde com a evolução do transporte pesado no país.

Revista M&T: Como se iniciou essa saga, que transformou uma pequena oficina mecânica em um dos maiores conglomerados industriais do país?
Randon: Meu pai nasceu em 1900 em Caxias do Sid e, aos dezoito anos, ganhou de meu avô, italiano, uma bigorna e tornou se ferreiro. Foi para Tangará, em Santa Catarina. onde começou a fabricar rodas de aço para carroças e ferramentas para os madeireiros. Em 1939, já com quatro filhos (eu, meu irmão e duas irmãs) voltou paira Caxias, que estava se desenvolvendo muito com a BR 116. Então começou a guerra e. nesse período, não se importava nada. Na década seguinte, meu irmão, que já trabalhava com reformas de motores, passou a fazer esses serviços no galpão de meu pai. Em 1949. quando voltei do exército, me juntei a ele.

Revista M&T: Foi aí que nasceu a Mecânica Randon, a fábrica de freios a ar?
Randon: Foi um pouco depois. Conhecemos um italiano, Antônio Primo Fontebasso, apaixonado por automóveis e que realmente era um visionário. Os caminhões, que transportavam madeira na serra, utilizavam freios hidráulicos e frequentemente despencavam morro abaixo. Ele tinha uma ideia inicial, que foi desenvolvida por meu irmão. Hercílio era realmente muito engenhoso e até hoje utilizamos alguns sistemas projetados por ele. Mais tarde o italiano ficou doente e quis sair da sociedade. Preferiu ficar em sua casa, fazendo o que mais gostava envenenar os motores daquelas “baratas” francesas da época.

Revista M&T: O que mais vocês fabricavam na época? Foi a Randon que inventou o terceiro eixo?
Randon: Era uma novidade em termos mundiais. O caminhão típico da época era o “João Bobo”, que aguentava muito desaforo, com um eixinho atrás. Numa carretinha pequena se colocava até 25 t de carga. Naquela época o limite máximo para carregar peso nos caminhões era dado pelos pneus e por isso o máximo que se fazia era reforçar sua estrutura. Hercílio teve outra ideia: o terceiro eixo.

Revista M&T: A ideia do semi reboque foi de vocês ou veio de fora?
Randon: Não. já existia, o Triverato. Massari. e Rivelli. já fabricavam semirreboques de dois eixos. A nossa patente é do semirreboque, com três eixos, que foi fundamental naquele tempo. Em 1964, os militares quiseram botar ordem na carga, para garantir financiamento do Banco Mundial para as estradas. Foi então que surgiu a Lei da Balança.

Revista M&T: A história da Randon. ao que parece, se confunde com a história do transporte pesado no Brasil. Nesse sentido, qual foi o grande salto?
Randon: Em 1970 fui para a Europa, substituindo meu irmão que desistiu na última hora. Visitei a Feira de Milão, na Itália, e também fui até Hannover, na Alemanha. Me chamou a atenção a produção de semi- reboques. Apesar do sistema ferroviário desenvolvido, eles fabricavam de 25 a 30 mil carretas por ano. Nos Estados Unidos, esse mercado era de 80 mil unidades ao ano e o Brasil, com 80% de seu transporte feito por rodovia, mal chegava a 5 mil carretas ao ano. Voltei para o Brasil a falei para meu irmão que deveríamos comprar uma “colônia” de 25 hectares e começar a fabricai-pelo menos 1000 unidades por mês. Ele riu. pois fabricávamos 500 por ano, mas em 1974 a fábrica estava inaugurada.

Revista M&T: Nessa inauguração, a Randon lançou também o caminhão fora-de-estrada RK 424. Como o projeto foi desenvolvido?
Randon: Foi um desafio lançado pelo pessoal da Scania e do Grupo Batistella. Eu disse que não tinha dinheiro para o projeto, mas eles disseram que não havia problema e agendaram uma visita na Kochum, empresa de engenharia e fabricante de navios na Suécia, que estava disposta a negociar o projeto de um fora-de-estrada. Não houve acordo, não entendi bem porquê. Pouco tempo depois, recebo a visita de um sueco falando castelhano e negociamos um contrato de transferência de tecnologia.

Revista M&T: A Randon desde 1987 tem joint ventures com fabricantes internacionais de freios, ar condicionado e suspensões, mas parece resistir a parcerias na área de fora-de-estrada. Por que?
Randon: Somos um pouco teimosos e realmente não queremos perder o controle do negócio e do desenvolvimento tecnológico. Com o fora-de-estrada, por exemplo, evoluímos muito tecnologicamente. A princípio, o que buscamos são parcerias com empresas que tenham mercado para venderem nosso produto. Sempre digo: não é só nos associarmos a uma empresa para que ela possa explorar nosso negócio, é para ganhar mercado também. A nossa mais recente joint venture, com o grupo Arvin Meritor, por exemplo, irá gerar exportações de US$250milhões nos próximos cinco anos.

Sempre digo: não vamos nos associar a uma empresa para que ela possa explorar nosso negócio, é para ganhar mercado também.

Revista M&T: Mas no caso da retroescavadeira, a Randon está sozinha, competindo com os principais fabricantes mundiais.

Randon: A ideia é essa mesma-concorrer com os grandes. Quando se concorre com pequenos, a única coisa que você consegue é depreciar seus próprios preços. O que não significa que não estejamos abertos às parcerias, desde que atenda também o nosso interesse. A John Deere chegou a até nos anunciar como fabricantes deles aqui no Brasil. Depois, chegaram dois diretores encabulados, dizendo que a cúpula mandou parar. Até hoje não sei o motivo.

Revista M&T: No início, o senhor previa que a Randon chegasse ao estágio atual?
Randon: Não, eu sempre pensava em crescer, mas não pensava em chegar até aqui. O grande salto foi a transição do médio para o grande, porque o médio tem a despesa do grande e não fatura como esse. Naquela época, a administração, a mão-de-obra, tinha um gasto muito maior do que a pequena e se você quisesse fazer a coisa bem feita tinha que ter a estrutura da grande.

Revista M&T: O senhor, que é autodidata e se formou no trabalho, pensa em se aposentar um dia?
Randon: Já estou aposentado pela lei, mas parar de trabalhar nunca. É bom trabalhar, não tem coisa melhor que trabalhar. Na Randon damos curso para os empregados que vão se aposentar. E complicado parar de repente, depois de 25, 30 anos.

Revista M&T: Que futuro o senhor projeta para o grupo?
Randon: Não digo projeto. O que tinha que fazer, o sistema de funcionamento das empresas está incluído, podemos ainda fazer divisões dentro das empresas, temos bastante produtos, que poderão gerar empresas menores e mais eficientes.

A ideia é concorrer com grandes. Com pequenos, a única coisa que você consegue é depreciar seus próprios preços.

Revista M&T: O senhor acredita possível manter a holding sob controle familiar?
Randon: As empresas de pai para filho nem sempre se aguentam. Mas meus filhos já participam da direção da empresa há dez anos. Tenho cinco filhos e quatro trabalham comigo. Com exceção da Roseli, que é médica pediatra, todos estão diretamente envolvidos. A Maurien, que é advogada, e os três homens, que são engenheiros mecânicos e administradores de empresa. Estou contente, não é fácil os filhos entrarem no negócio e gostarem. Além disso, tenho o apoio de minha mulher, Nilva, uma parceira, que sempre cuidou de todos nós e certamente irá para o céu.

Revista M&T: O Sr. está confiante com as perspectivas do Brasil?
Randon: Sim, acho que o Lula está fazendo um trabalho muito sério, mas faltam investimentos. Nesse primeiro ano, o governo segurou demais o dinheiro para estradas, infra -estrutura e isso para o país. Temos tido safras recordes a cada ano. Assim, já temos mercado para as carretas, mas teremos infraestrutura para evitar os gargalos lá na frente, se o crescimento continuar dessa maneira?

Temos tido safras recordes a cada ano. Assim, já temos mercado para as carretas, mas teremos infraestrutura para evitar os gargalos lá na frente?

Revista M&T: O que significa para o senhor o Projeto Florescer?
Randon: Ele não foi batizado de florescer por acaso. Jovens de 7 a 14 anos que depois do período escolar ficavam à toa e muitas vezes sozinhos, pois a mãe trabalha, hoje tem aulas de música, esportes, inglês e informática. Ao completarem 14 anos, entram na fase de profissionalização, tornam-se aprendizes e aos 16 ganham o seu primeiro emprego. Temos muita coisa para se fazer nesse mundo, é uma pena que um dia a gente vai ter que sair dele.

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