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Revista M&T - Ed.204 - Agosto 2016
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Entrevista

"Poucos vão sobreviver"

À frente das operações comerciais da Locar Guindastes e Transportes Intermodais há três anos, o executivo José Henrique Bravo Alves é engenheiro eletricista formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e também possui pós-graduação em engenharia de segurança na Universidade Santa Úrsula (RJ) e pelo Fundacentro.

Ao longo de sua carreira profissional, o executivo carioca já exerceu atividades de liderança em proeminentes empresas nacionais e multinacionais, notadamente na área de logística, como Manserv Logística, Ultracargo, Petrolog e Katoen Natie, até assumir a posição de vice-presidente comercial da prestadora de serviços e locação de equipamentos baseada em Guarulhos (SP).

Pioneiro na adoção de serviços in house na indústria petroquímica, Alves tem agora o desafio de conduzir as operações comerciais da Locar em meio a uma das maiores turbulências já vividas pelo setor de máquinas e equipamentos no país. Experiência para isso não falta, aliada a uma visão privilegiada do mercado, que ademais inclui a renovação das frotas em modelo trade-in como


À frente das operações comerciais da Locar Guindastes e Transportes Intermodais há três anos, o executivo José Henrique Bravo Alves é engenheiro eletricista formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e também possui pós-graduação em engenharia de segurança na Universidade Santa Úrsula (RJ) e pelo Fundacentro.

Ao longo de sua carreira profissional, o executivo carioca já exerceu atividades de liderança em proeminentes empresas nacionais e multinacionais, notadamente na área de logística, como Manserv Logística, Ultracargo, Petrolog e Katoen Natie, até assumir a posição de vice-presidente comercial da prestadora de serviços e locação de equipamentos baseada em Guarulhos (SP).

Pioneiro na adoção de serviços in house na indústria petroquímica, Alves tem agora o desafio de conduzir as operações comerciais da Locar em meio a uma das maiores turbulências já vividas pelo setor de máquinas e equipamentos no país. Experiência para isso não falta, aliada a uma visão privilegiada do mercado, que ademais inclui a renovação das frotas em modelo trade-in como estratégia para a obtenção de novos negócios. “Vão sobreviver poucas empresas, que têm condições de se juntar, enquanto outras vão ser incorporadas por alguém ou vão para a massa falida mesmo”, avalia o executivo nesta entrevista exclusiva à M&T. Acompanhe os principais trechos a seguir.

Qual é a realidade do segmento de locação hoje?

Temos uma demanda reprimida, por várias razões. Há falta de oportunidades de negócios e os preços praticados pelo mercado muitas vezes não remuneram o próprio bem. Quando se consegue realizar uma venda, é suficiente só para girar o caixa. Mas, na verdade, está produzindo resultado negativo, se analisar o negócio de uma perspectiva econômica. Ou seja, o mercado está tentando gerar negócio para manter a empresa em pé. Isso ocorre no segmento em geral. Na Locar, especificamente, há uma solidez bastante relevante, o que permite manter-se de uma maneira diferenciada no mercado. Mas não há geração de riqueza ou possibilidade de fazer com que a empresa cresça. Estamos preocupados unicamente em fazer com que a empresa sobreviva, mantenha as margens adequadas e preserve o know-how, que são as pessoas.

Porque isso aconteceu?

Não tem mágica neste segmento. O cálculo do preço é feito por meio de um sistema que considera taxa de juros, retorno sobre o investimento, forma de atendimento e manutenção, ou seja, uma composição que chega a um limite de custos sobre o qual são estipuladas as margens. Em plataformas, por exemplo, isso caiu muito, até mais acentuadamente do que em guindastes. Em certo momento, houve uma demanda enorme e, agora, o mercado está começando a ficar do tamanho da necessidade.

Nesse contexto, é possível renovar as frotas?

Temos até renovado as frotas em substituição a um volume maior. Ou seja, trocamos dez equipamentos antigos em substituição a cinco novos, por exemplo. Logo, se analisar o imobilizado, ele não muda em valor, mas em quantidade. Mas ao menos mantemos uma frota mais nova e sem custo, principalmente sem ter de manter as máquinas mais antigas, que são mais caras. Então, seguimos por essa linha: renovar a frota, em menos quantidade, usando muito trade in com os grandes fornecedores, e gerando caixa para manter a essência da empresa, retendo os profissionais mais importantes.

Qual é o tamanho da frota atualmente?

No início do ano, tínhamos cerca de 400 guindastes. Se somar com os demais, como as plataformas e as soluções para transporte, chega a 3 mil equipamentos. Porém, durante o semestre, ficamos um movimento de substituição de equipamentos com mais de dez anos, que chega a talvez uns 25% da frota. Outros, ainda nem recebemos. Até porque não nos interessa, pois estamos usando somente 50% da frota. Por isso, é melhor que o equipamento permaneça lá no fornecedor, como um “crédito” a ser recebido mais à frente, quando houver mais movimento no mercado. Não compensa receber agora, para ficar parado no pátio.

Houve ajustes na estrutura?

A Locar é uma ilha nesse mercado, pois tem capital, crédito e geração de caixa positiva. Não é a desejada, mas é suficiente. Como sociedade anônima, somos a única empresa do segmento com balanços auditados há dez anos. Isso tudo gera credibilidade. Mesmo assim, tivemos de fazer ajustes. Isso se dá em função da quantidade de negócios. Com 50% das máquinas paradas, tivemos de fazer uma redução de mais de 40% na nossa equipe. Temos 1,3 mil colaboradores, mas já tivemos 2,5 mil. O mesmo ocorreu com o faturamento, que caiu para cerca de 350 milhões de reais, ou 50% abaixo de 2013.

Houve um movimento predatório no setor?

Quando tivemos o boom de oportunidades, muitas empresas com capital – mesmo não tendo conhecimento – se aventuraram nesse negócio. A pessoa via o aluguel de um guindaste ou de uma máquina de terraplenagem, por exemplo, e achava o valor alto. Então, imaginava que havia muitas oportunidades, que de fato existiam.  E colocava o capital no negócio, mesmo sem know-how. E assim surgiram dezenas de empresas, que não faziam este tipo de atividade antes, mas passaram a investir. Com isso, houve uma explosão de oferta, mesmo tendo uma demanda grande. Mas até esse momento, por volta de 2011, ainda era possível praticar preços que permitiam obter um payback de um equipamento em menos de dez anos, por exemplo. A partir de 2013, com as obras começando a parar, passou-se a vender serviços para pagar a conta com o banco, a folha salarial etc. Não era mais o custo do equipamento [que importava], algo que se tornou até secundário, mas os compromissos básicos da empresa.

Isso levará a uma “seleção natural”?

Temos essa expectativa. Inclusive, achamos que está demorando muito para isso acontecer. Não se vê muitas empresas de equipamentos quebrando. Apenas algumas apenas, além de fusões e aquisições. Contudo, com o passar do tempo e a situação difícil se mantendo, naturalmente não haverá outro caminho. Vão sobreviver poucas empresas, que têm condições de se juntar, enquanto outras vão ser incorporadas por alguém ou vão para a massa falida mesmo. E a Locar, pela sua própria história de solidez, tem condições hoje de ser uma dessas consolidadoras.

Nesse sentido, qual é a expectativa de retomada do mercado?

Somos otimistas, mas não conseguimos realizar os planejamentos ainda, pois o país não deslanchou. E este setor depende dos investimentos. Por melhor boa intenção que possa haver, precisamos de um plano, principalmente na parte de concessões e de PPP’s, que traga dinheiro novo e oportunidades de investimentos. Mas não temos projetos e há um lapso de tempo para sua confecção, licitação e mobilização, o que demora um ano, um ano e meio para fazer. Só aí podemos usar de fato esses ativos, que são importantes para as obras.

O que nos falta, afinal?

Faltam regras claras e incentivos, que façam com que o investidor tenha segurança. Afinal, as mudanças de regras eram o modus operandi do governo. E o investidor tem receio de aportar capital em um negócio que muda a regra no meio do jogo. Isso tem de ser regulado pelo mercado, e não por motivos políticos. Todo investidor tem aversão a risco, essa é a questão que resume o principal problema do país no momento. Temos uma fama ruim pela nossa história recente e precisamos gerar credibilidade lá fora.

Quem ainda demanda máquina?

Em infraestrutura, atendemos basicamente obras da Vale e alguma coisa na área de construção rodoviária. O resto não tem nada. Em relação à energia eólica, por exemplo, temos dúvidas quanto ao investimento. Queríamos atender a esse mercado com equipamentos, mas de uma maneira geral, o mercado não contrata equipamentos. Isso porque o modelo de negócio tem sido na base de turn key, com a contratação de uma empresa para montar as torres, incluindo os serviços de engenharia. E não temos – nem gostaríamos de ter – essa parte. Por isso, muitas vezes ficamos fora desses projetos. Não temos experiência, know-how ou mesmo interesse em investir nisso.

O envelhecimento da frota preocupa em termos operacionais?

Não, porque mesmo sendo mais velha, a máquina não tem rodagem. O que importa é o horímetro da máquina. Comercialmente há perda de valor, pois ela é vendida pelo ano de fabricação. Mas em termos de segurança operacional não, pois o equipamento nem foi usado. É isso que conta para o desgaste.

Aliás, o que mudou nos equipamentos para içamento de carga?

Eles evoluíram de uma concepção basicamente mecânica para um conceito eletrônico. Isso inclui sistemas de segurança muito mais efetivos, pela possibilidade de antecipar problemas. Outro ponto é a capacidade de operação, com muito mais mecanismos de produtividade. No geral, são mais velozes e ágeis do que eram no passado. Como possuem sistemas computadorizados, também são imunes a grandes erros, pois bloqueiam os movimentos equivocados e, assim, previnem situações críticas. E na parte de intervenções, há registros de tudo o que aconteceu com a máquina, permitindo uma manutenção mais adequada.

E o que esperar do futuro?

É tudo cenário de especulação, pois não sabemos o que vai acontecer em três meses. Mas precisamos imaginar o que vem pela frente para traçar as medidas de hoje. Isto posto, diria que em um ano e meio o mercado começa a se estabilizar. Mas, até lá, continuará terrível. Haverá consolidação do mercado, incluindo quebras. Para sobreviver, tem de ser muito bom. Esse mercado, contudo, não tem como não acontecer. O país é extremamente carente de infraestrutura. Qualquer governo que pense no país vai investir nesse segmento. Assim, o mercado de serviços com equipamentos vai crescer muito, mas a taxa de crescimento não vai mais seguir as “invenções de mercado”, como ocorreu com a nossa onerosa indústria naval. Vamos crescer naquilo que temos mais vocação.

 

 

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