Há 30 anos atuando no mercado da construção, o francês François Jourdan tem formação em agronomia, engenharia mecânica e administração, área na qual se especializou no decorrer de sua bem-sucedida trajetória profissional.
A partir de 1998, Jourdan atuou por quatro anos na New Holland em Curitiba (PR), deslocando-se posteriormente para a CNH. Após passagens por Londres, Chicago e Paris, chegou há oito anos à Terex Corporation, onde já foi responsável pelo marketing global da divisão de guindastes e, desde outubro do ano passado, ocupa o cargo de presidente para a América Latina.
As constantes mudanças geográficas e de funções na indústria de equipamentos ajudaram-no a consolidar uma visão privilegiada do setor, como o leitor pode conferir nesta entrevista em que o executivo descreve o desafio de elevar uma empresa ainda nova no mercado nacional a um novo patamar, além de opinar sobre assuntos como as estratégias mundiais do grupo, o atual cenário da indústria, as oportunidades de negócios no segmento de infraestrutura e outros. Acompanhe.
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Há 30 anos atuando no mercado da construção, o francês François Jourdan tem formação em agronomia, engenharia mecânica e administração, área na qual se especializou no decorrer de sua bem-sucedida trajetória profissional.
A partir de 1998, Jourdan atuou por quatro anos na New Holland em Curitiba (PR), deslocando-se posteriormente para a CNH. Após passagens por Londres, Chicago e Paris, chegou há oito anos à Terex Corporation, onde já foi responsável pelo marketing global da divisão de guindastes e, desde outubro do ano passado, ocupa o cargo de presidente para a América Latina.
As constantes mudanças geográficas e de funções na indústria de equipamentos ajudaram-no a consolidar uma visão privilegiada do setor, como o leitor pode conferir nesta entrevista em que o executivo descreve o desafio de elevar uma empresa ainda nova no mercado nacional a um novo patamar, além de opinar sobre assuntos como as estratégias mundiais do grupo, o atual cenário da indústria, as oportunidades de negócios no segmento de infraestrutura e outros. Acompanhe.
M&T – Desde que assumiu a presidência da Terex Latin America, o que já foi possível realizar?
François Jourdan – Já fizemos muito, mas ainda não é o suficiente. Até aqui, nosso grande desafio tem sido a integração da Terex Latin America, para a qual fechamos o escritório em Alphaville e abrimos outro em Cotia (SP), além de estabelecer uma linha de atuação para a companhia se tornar mais eficiente, coerente e bem definida. Isso inclui foco no cliente de modo a superar suas expectativas – e maior eficiência nas operações. De todo modo, essa integração se realiza por etapas, passando primeiro por estabilização, integração e implementação da estratégia, até obtermos nosso principal objetivo, que é o crescimento da empresa.
M&T – A propósito, qual é a meta de crescimento na região?
François Jourdan – Acredito bastante no mercado latino-americano, que representa 8% das receitas globais do grupo, mas é difícil de prever o comportamento futuro, pois o setor é muito dinâmico. Mas também é um mercado que precisa de infraestrutura e de equipamentos, ou seja, o crescimento está aqui. Por isso, se fizermos a coisa certa, em dois ou três anos podemos chegar a uma posição mais forte.
M&T – E o que é fazer “a coisa certa”?
François Jourdan – Com 15 anos no Brasil, a empresa ainda é bem jovem e, por isso, precisamos colocá-la em outro patamar. E estamos trabalhando forte nisso. Não saberia dizer exatamente aonde vamos chegar, mas se olharmos as posições que temos hoje, podemos vislumbrar o cenário. Em plataformas aéreas, por exemplo, o desafio é desenvolver a participação na América do Sul – incluindo Argentina, Peru, Chile e Colômbia. No segmento de equipamentos portuários, já temos 45% de participação e, assim, o desafio agora é estabilizar e profissionalizar a rede de concessionários. Mas o segmento com o maior desafio é o de guindastes, no qual já temos uma boa participação na América do Sul (40%), mas precisamos mudar a estratégia no Brasil, pois nosso contrato de concessionário terminou há alguns meses e, agora, estamos contratando uma nova equipe para reforçar as vendas. Vai demorar, mas devemos manter a confiança. Estamos no caminho e a empresa soube demonstrar ao mercado que é possível confiar em nós.
M&T – Qual é a estrutura que dá suporte às operações?
François Jourdan – Atualmente, temos 1.200 pessoas atuando no Brasil (há 10 anos eram apenas 50 pessoas), incluindo duas fábricas – uma em Cotia (SP), com a Demag, e outra em Betim (MG), para produtos de energia –, um centro logístico em Vitória (ES) e um armazém em Jundiaí (SP). Temos sete filiais no Sul e Sudeste, mas já há previsão de abrirmos novas casas no Nordeste e no Centro-Oeste. Em Manaus, Recife e Fortaleza também já temos representação, mas ainda não há uma estrutura de distribuição. E, agora, inauguramos um Centro de Treinamento – a Terex University – e um centro para demonstração de produtos, também em Cotia.
M&T – A Terex tem a intenção de trazer novas linhas para o Brasil?
François Jourdan – Estamos analisando isso, mas ainda não tomamos nenhuma decisão. É mais um desafio que temos. Pensamos em nacionalizar alguns produtos do segmento de guindastes, porém estamos na etapa de análise inicial. Para os fabricantes, hoje o mais difícil é o custo, mas também temos o problema da qualidade do aço. Portanto, temos de ter uma visão em longo prazo, especialmente para o nosso tipo de produto. De todo modo, o mercado está crescendo e, evidentemente, temos produtos que poderiam tranquilamente já estar sendo feitos aqui.
M&T – Porque ocorrem tantas mudanças no grupo, com a constante venda e compra de linhas de produtos?
François Jourdan – Diria que são estratégias da empresa, que atualmente estão focadas em equipamentos de levantamentos de pessoas e de cargas. Por isso, a empresa acredita que o essencial é investir nos segmentos em que podemos ter uma posição de liderança. Na parte de mineração, por exemplo, a venda do negócio de caminhões off-road – em que tínhamos concorrentes fortes – pode ser vista como uma estratégia clara nesse sentido. Mas como atuamos em segmentos de plataformas, guindastes, processamento de material, energia e construção, essas mudanças não mexem na estrutura.
M&T – O fato de ser uma empresa com capital aberto impacta nessas decisões?
François Jourdan – Sem dúvida, ter capital aberto é um desafio, pois as pessoas sempre estão olhando o que você está fazendo muito de perto. Até porque, se você é investidor, precisa ter uma estratégia clara. E, como os mercados estão sempre mudando, você precisa constantemente avaliar se ainda vale a pena permanecer em determinado mercado, o que pode significar a necessidade de investimentos pesados. Ou seja, você precisa ter liberdade e clareza de objetivos para investir, fazer aquisições, desfazer-se de segmentos e, no limite, estabelecer uma estratégia.
M&T – Qual o maior desafio da infraestrutura brasileira e o que esperar para os próximos anos?
François Jourdan – Temos vários desafios em infraestrutura aqui, como todos os modais de transportes e a geração de energia elétrica. De fato, a quantidade de desafios é enorme e a dificuldade para conseguir tudo isso é muito grande, pois a extensão territorial do Brasil é maior do que a Europa inteira. Entretanto, muita coisa já melhorou. Hoje, por exemplo, a viagem entre São Paulo e Piracicaba é feita em uma rodovia com nível europeu, sendo que 15 anos atrás não era assim. E há muitos outros exemplos como esse. Mas, mesmo com essas mudanças, a percepção interna é que ainda falta muita coisa a ser feita. O que explica essa sensação é que o brasileiro talvez tenha um pouco de pressa para recuperar o tempo perdido.
M&T – Como vê o cenário global do setor? No futuro, teremos apenas players gigantes nesse mercado?
François Jourdan – A crise financeira de 2008 realmente foi pesada e acabou afetando o setor da construção também. O importante é perceber que esse mercado sempre terá altos e baixos, mas vai continuar a evoluir, pois a população está crescendo e, consequentemente, demandando mais prédio e casas. E essa necessidade sempre existirá. O que muda é a concorrência, sendo que alguns players desaparecem e surgem outros, tornando o mercado mais profissional. Com isso, o número de marcas está diminuindo, mas simultaneamente a oferta de máquinas para o cliente final aumentou. Há 20 anos, por exemplo, tínhamos 50 marcas de guindastes e só a Terex já comprou 12 delas nesse período. Com isso, um cliente brasileiro, que antes tinha acesso a apenas uma ou duas diferentes máquinas, agora tem acesso a todas. Ou seja, temos uma concentração maior, mas mais presença também.
M&T – Qual a política da empresa para aumentar a confiabilidade e segurança dos equipamentos?
François Jourdan – Como nosso negócio principal é içar pessoas e cargas pesadas, estamos sempre extremamente vigilantes para assegurar o maior nível de segurança possível no desenvolvimento dos produtos, mas infelizmente sabemos que 99,9% dos acidentes provêm do ambiente, erro humano ou falta de manutenção. Na Terex, inclusive, realizamos testes exaustivos com guindastes – que chegam a permanecer mais tempo fora da fábrica sendo testados do que na própria montagem industrial. Tanto que, muitas vezes, atrasamos o lançamento de um produto para garantir um equipamento perfeito em termos de segurança. Além disso, por padrão os guindastes trabalham com 70% da capacidade, exclusivamente para gerar segurança. Afinal, como fabricantes, seria uma falta de responsabilidade não tomarmos cuidados e medidas quanto a isso.
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