Engenheiro mecânico com mestrado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), o executivo gaúcho Gilvan Medeiros assumiu a posição de CEO da Ammann Latin America há cinco anos, quando a empresa suíça decidiu vir para o país. Como ele mesmo diz, foi o primeiro funcionário da marca no Brasil, onde a fabricante possui uma planta fabril instalada em Gravataí (RS) para a produção de usinas de asfalto e rolos compactadores de 12 toneladas. “Fui contratado para estabelecer um negócio greenfield, ou seja, fazer e executar o business plan totalmente do zero”, relembra.
Evidentemente, a aposta teve um lastro de experiência. Com pós-graduação na Kellogg School of Management, escola de negócios da Universidade Northwestern, nos EUA, Medeiros atua há 17 anos no segmento de asfalto, tendo passado por empresas do setor como Terex Roadbuilding, Ciber Equipamentos Rodoviários e Ziemann Liess.
Antes disso, o executivo iniciou a carreira projetando fábricas para a indústria de bebidas, em diversas posições na área de engenharia. Posteriormente, migrou para a ár
Engenheiro mecânico com mestrado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), o executivo gaúcho Gilvan Medeiros assumiu a posição de CEO da Ammann Latin America há cinco anos, quando a empresa suíça decidiu vir para o país. Como ele mesmo diz, foi o primeiro funcionário da marca no Brasil, onde a fabricante possui uma planta fabril instalada em Gravataí (RS) para a produção de usinas de asfalto e rolos compactadores de 12 toneladas. “Fui contratado para estabelecer um negócio greenfield, ou seja, fazer e executar o business plan totalmente do zero”, relembra.
Evidentemente, a aposta teve um lastro de experiência. Com pós-graduação na Kellogg School of Management, escola de negócios da Universidade Northwestern, nos EUA, Medeiros atua há 17 anos no segmento de asfalto, tendo passado por empresas do setor como Terex Roadbuilding, Ciber Equipamentos Rodoviários e Ziemann Liess.
Antes disso, o executivo iniciou a carreira projetando fábricas para a indústria de bebidas, em diversas posições na área de engenharia. Posteriormente, migrou para a área técnico-comercial, acumulando a representação de uma série de produtos. Foi o início de sua carreira executiva, que o levaria à liderança latino-americana da mais longeva – e, segundo ele, a maior em unidades e receitas – fabricante de usinas de asfalto do mundo. Nesta entrevista exclusiva, Medeiros discorre sobre tecnologia, produtividade, estratégia, mercado e outros assuntos. Acompanhe os trechos principais.
Por que é importante apostar em tecnologias avançadas?
Acredito muito na busca por produtividade. Uma produtividade maior significa fazer mais com a mesma quantidade de recursos. Hoje, quando o país debate ajuste fiscal e corte de gastos, para não falar em outros problemas muito sérios que estão atualmente em pauta, precisamos buscar as melhores práticas, até porque temos uma necessidade vital de infraestrutura. Ou seja, é necessário garantir a melhor utilização dos recursos aplicados, fazer mais quilômetros de rodovias com os mesmos recursos.
Com isso é possível?
Isso passa por eficiência energética, pela qualidade do pavimento. Uma rodovia que, supostamente, foi feita para durar de seis a oito anos, tem durado apenas dois, três anos no Brasil. E isso é um custo muito alto para a sociedade, que ela não pode mais pagar. Nesse sentido, outra ferramenta importante é, enquanto fabricantes, trazer à luz certas discussões que mostrem como é possível contribuir para tornar isso viável e mais acessível.
Como a empresa se posiciona nesse sentido?
Sendo líder de mercados com alta exigência, que inclusive já passaram por essa necessária busca por produtividade, a empresa acumulou um portfólio de soluções tecnológicas na área de usinas de asfalto. Isso nos coloca na vanguarda do setor, como uma referência obrigatória, sem qualquer demérito aos demais fabricantes. Afinal, a competição permite que se busquem objetivos mais altos. Mas quando se fala em reciclar 100% do material, por exemplo, de fato somos os únicos com exemplos vivos para mostrar. Não se trata de algo teórico, mas de realizações concretas. Pela minha própria trajetória, que já soma 17 anos nessa indústria, posso afirmar que poucas empresas tem esse know-how diferenciado. Tanto que já assumimos a liderança na América Latina e agora queremos completar a tarefa aqui no Brasil, em até três anos.
E como foi possível atingir esse nível de excelência?
A Ammann possui um departamento de pesquisa e desenvolvimento totalmente independente da fábrica. Lá, são criados conceitos, em uma atividade separada dos processos de engenharia, do dia a dia de chão de fábrica. São profissionais que pensam o futuro. Estão conectados com universidades da Suíça, da França, da Alemanha. Os melhores cérebros estão buscando alternativas não para amanhã, mas para os próximos 20 anos.
Qual é o maior desafio para a disseminação dessas tecnologias?
É cultural. Nem todos os empresários brasileiros mantêm controle de custos profissional em seus negócios. Se você fala do custo de operação de uma máquina, muitas vezes não há métrica. Então, estou falando de algo que não lhe é familiar. É quase outro idioma. Temos um grupo de empresas de primeira linha, com administração focada em todos os detalhes, mas as realidades ainda são muito díspares. Há uma necessidade de olhar para esse mercado de um modo novo. Talvez a crise faça um pouco esse trabalho. Os mais frágeis e mal administrados vão acabar saindo do jogo, cedendo lugar a empresas com outros padrões.
A alta produtividade também abrange os serviços?
Hoje, atendemos as máquinas no campo de forma online, por meio de diagnóstico remoto. Um percentual de 85% dos atendimentos é feito sem a presença física do técnico para a correção do problema. E esse atendimento de 24 por 7 é uma grande ferramenta e um diferencial. No começo, era uma barreira, pois havia receio. Afinal, existe um medo do brasileiro – e do latino-americano em geral – quanto se fala em tecnologia, uma vez que a mão de obra ainda é muito deficiente. Mas quando o usuário se dá conta que uma chamada de 20 minutos repõe a máquina em funcionamento, resolvendo um problema que poderia custar dezenas de milhares de reais, entre atendimento e parada da produção, ele não abandona mais [a solução].
Por que a empresa, que tem quase 150 anos, demorou tanto para aportar no Brasil?
Por natureza, os suíços são muito conservadores. Eles medem muito os passos, são talvez mais lentos que outras culturas. Diferentemente do norte-americano, que ao perceber o odor de oportunidades, já monta uma fábrica no local. Depois, se dá errado, também fecha com uma grande rapidez e vai-se embora. Os suíços demoram a entrar, como ocorreu na América Latina, apesar de já atuarem na Europa, na Ásia, em algumas partes da África. Mas quando decidiram, vieram com toda a força e comprometimento. A cultura helvética ajuda muito nesse sentido, pois uma vez que se comprometem com algo, não abandonam por pequenas oscilações naturais de mercado, como agora. A demanda de máquinas recuou muito nesta crise, mas o suíço não está preocupado apenas com este ano, pois está aqui para as próximas décadas.
Aliás, sentiram uma queda nos últimos dois anos?
Somos um player novo no mercado brasileiro. Com isso, tivemos algumas vantagens ao conceber nossa estrutura, que foi pensada para resistir a essas oscilações. Isso significa um corpo enxuto com custo fixo, limitado e controlado rigidamente. Além disso, nunca cogitamos depender de apenas um mercado. Não é porque a fábrica está aqui que temos de depender do Brasil. E isso se mostrou acertado. Tanto que, em 2015, ocupamos a primeira posição em exportação nesse segmento e crescemos em volume. Isso ajudou a mitigar as variações [na demanda].
A propósito, qual é o caminho para sobreviver nesse setor?
Como disse antes, acreditamos muito na inovação. Esse é o momento em que as empresas têm de olhar para si e buscar produtividade. Antes, eram capazes de obter rentabilidade por relação política, por alta demanda, uma série de variáveis. Que hoje não estão mais presentes. Para sobreviver, precisa olhar para os processos, gastar menos energia, ter um custo operativo menor.
Qual produto está no foco atual?
A usina de asfalto com alta capacidade de reciclagem, uma solução sofisticada que, para grandes metrópoles, é uma necessidade. Se colocar em perspectiva todos os aspectos envolvidos, economia de energia, utilização de recursos naturais, baixas emissões de poluentes, verá que não é um luxo, mas uma necessidade.
E qual é o tamanho deste mercado na América Latina?
Se somar todos os competidores, em um ano bom é um mercado de 250 unidades. E o Brasil representa 50% deste total. No ano passado, devido à crise, o mercado interno caiu em 80% no volume comercializado. Para quem tem estruturas mais pesadas, ficou muito mais difícil fazer a adaptação a essas variações tão bruscas.
Quais são os grandes avanços recentes nos equipamentos?
A eletrônica realmente trouxe grandes facilidades. É realmente fantástico o avanço no mapeamento, gerenciamento, uso de GPS, melhorias na precisão, de controles eletrônicos. Mas há também toda uma parte de controle laboratorial, química, polímeros, fibras, novas misturas e materiais, que antes simplesmente não estavam disponíveis. E tudo isso surgiu nos últimos 15 anos.
Como a sustentabilidade incide no setor?
O poder público, que é o grande contratante, deve passar a se preocupar com esses fatores ambientais. É preciso envolver os empreiteiros, os projetistas, os fabricantes de equipamentos, o Estado, todos conscientes da necessidade de mudança. Assim, cada um se beneficia a seu modo, seja com novas metodologias, processos mais rentáveis, economia de energia, redução da poluição, comercialização de máquinas e benefícios globais para a sociedade. No Brasil, onde os padrões dos contratantes se dão via lei de licitação, o Estado precisa se dar conta que essas soluções já estão disponíveis.
Como o setor sairá da crise em termos de pessoal?
Neste setor, o maior número de empregos no país está nas empreiteiras. E esse nível baixou muito atualmente. Isso estancou o processo de qualificação e treinamento da mão de obra, principalmente entre os mais jovens. Os fabricantes também tiveram uma perda nesse sentido, muitas vezes de profissionais qualificados. É uma preocupação, pois talvez não voltem mais para o segmento quando a demanda voltar. No longo prazo, pode sim ser prejudicial.
As fabricantes podem atuar mais ativamente nesse sentido?
Elas deveriam. Mais que isso até. No conjunto de agentes da pavimentação, incluindo empreiteiros, consultores, fiscais, órgãos públicos e fabricantes, todos devem admitir que não adianta mais fazer como antes, buscando aportar produtividade, novas tecnologias, ou seja, buscar novos caminhos. Ajudar a manter uma trajetória de investimento estável no país, senão vamos continuar sujeitos a esses ciclos brutais, em que uma hora tem dinheiro e na outra não tem.
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