Atual presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir), Alcides Geraldes Braga é do tipo de paulistano que gosta de desafios. Após iniciar carreira como contínuo na unidade da Randon em Guarulhos (SP), logo ocuparia o cargo de auxiliar de escritório no departamento de vendas da empresa gaúcha, até assumir o posto de vendedor interno.
Sua expertise comercial rapidamente o levaria ao cargo de consultor externo de vendas para a região Centro-Oeste. Após dois anos, em 1987, Braga retornou a São Paulo e desligou-se da empresa, ingressando em uma concessionária de caminhões da Mercedes-Benz. Pouco depois, trocou a revenda pela área comercial da FNV Fruehauf, que na ocasião pertencia ao grupo Engesa, permanecendo até abril de 1991.
Posteriormente, ingressou na Metalúrgica Paulista com a missão de revigorar os negócios da filial paulista da empresa. Nesse posto, o foco eram baús novos, além de reparação de implementos em geral. O contrato previa que, após um ano, a empresa repassaria todo seu ativo de São Paulo, que correspo
Atual presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir), Alcides Geraldes Braga é do tipo de paulistano que gosta de desafios. Após iniciar carreira como contínuo na unidade da Randon em Guarulhos (SP), logo ocuparia o cargo de auxiliar de escritório no departamento de vendas da empresa gaúcha, até assumir o posto de vendedor interno.
Sua expertise comercial rapidamente o levaria ao cargo de consultor externo de vendas para a região Centro-Oeste. Após dois anos, em 1987, Braga retornou a São Paulo e desligou-se da empresa, ingressando em uma concessionária de caminhões da Mercedes-Benz. Pouco depois, trocou a revenda pela área comercial da FNV Fruehauf, que na ocasião pertencia ao grupo Engesa, permanecendo até abril de 1991.
Posteriormente, ingressou na Metalúrgica Paulista com a missão de revigorar os negócios da filial paulista da empresa. Nesse posto, o foco eram baús novos, além de reparação de implementos em geral. O contrato previa que, após um ano, a empresa repassaria todo seu ativo de São Paulo, que correspondia a 300 m² de oficinas, pátio, escritórios e respectivos maquinários, de maneira a tornar a operação mais autônoma. Oito meses depois o acordo foi desfeito, mas a transferência dos ativos foi efetivada, constituindo a base para a criação da Truckvan, em janeiro de 1992, onde atua até hoje.
Como presidente da Anfir desde 2012, Braga está no seu segundo mandato e, nesta entrevista, defende ser “favorável ao fortalecimento do mercado interno e da abertura de novas oportunidades para exportação”. Acompanhe.
Em 2015, o setor de implementos registrou queda acima de 40%. Quais fatores contribuíram para isso?
A queda geral na atividade econômica foi o principal fator, pois o setor de implementos rodoviários sofre diretamente com qualquer oscilação dessa natureza. O segmento depende essencialmente do desempenho de outros setores da economia que, em 2015, não tiveram bom desempenho. Os implementos rodoviários são responsáveis pelo transporte de mais de 60% de todas as mercadorias que circulam pelo país. Desde insumos a produtos importados, tudo o que se desloca pelo sistema rodoviário necessita de implementos rodoviários. Assim, qualquer redução ou mesmo interrupção nos negócios de algum segmento afeta diretamente o setor.
O crédito mais restrito contribuiu para esse cenário?
Sim. Contribuiu bastante a falta de linhas de financiamento e recursos para dar suporte aos negócios do setor. Até 2014, o setor de implementos rodoviários podia financiar qualquer bem em sua totalidade. Em 2015, porém, as regras foram alteradas e a parcela financiável baixou de 100% para 70% (para pequenas e médias empresas) e 50% (grandes empresas). A taxa anual de juros praticada nos financiamentos no âmbito do programa passou para 10% para as grandes empresas, 9,5% para as pequenas e médias empresas e 9% na modalidade Pró-Caminhoneiro, destinada a autônomos. Essa alteração em um ano de fraco desempenho da economia trouxe dificuldades na medida em que as empresas não tinham condições de financiar a parcela de 30% ou 50% restantes para a aquisição dos implementos rodoviários, conforme a faixa de atuação do cliente.
A decisão do Conselho Monetário Nacional agravou a situação?
Na última semana de outubro, o CMN (Conselho Monetário Nacional) reduziu em R$ 30,5 bilhões os recursos destinados à aquisição de bens de capital no âmbito do PSI. A medida também estabeleceu a data de 30 de outubro como limite para a entrada dos protocolos de financiamento no BNDES, o que na prática representou o fim dessa modalidade de crédito.
É possível recuperar essa perda? Como?
Em 2016, isso não será possível porque o resultado deste ano deverá ser igual ao apurado em 2015. A retomada deverá começar somente em 2017, porque a economia leva muito tempo para se recuperar. Mas atualmente não há qualquer sinal que indique o reaquecimento imediato dos setores produtivos.
Como a Anfir pode ajudar para a retomada da indústria?
Estamos em contato constante com o governo no sentido de mostrar a situação do setor e buscar alternativas para ajudar a indústria. Em agosto, por exemplo, a Anfir assinou o Acordo de Cooperação Técnica com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). A medida permite aos agricultores cadastrados no programa de agricultura familiar adquirir implementos rodoviários com incentivos oficiais. O convênio é feito por intermédio do financiamento do Pronaf Mais Alimentos, do Programa Nacional da Agricultura Familiar, que terá verba de R$ 26 bilhões para o ano safra 2015/2016. Também conseguimos a inclusão dos fabricantes de implementos rodoviários dentre as empresas que podem tomar parte nas missões internacionais de promoção comercial coordenadas pela Apex (Agência de Promoção de Exportações e Investimentos).
Os incentivos do BNDES contribuíram para ampliar as vendas do setor?
Sem dúvida. O BNDES é o parceiro histórico da indústria. Mas a manutenção do ritmo de crescimento não depende somente do apoio do governo, como de toda uma conjuntura favorável que estimule o aquecimento da economia. Não acreditamos na volta das mesmas condições de juros subsidiados que tivemos em 2014, até porque o próprio Ministério da Fazenda já deixou claro que não há recursos para isso. Assim, acreditamos que o crescimento será retomado de forma gradual, com o mercado se acomodando às novas regras e demandas.
Como a Anfir avalia as regras atuais do Finame?
O BNDES foi sensível ao pedido da Anfir e, em dezembro, ampliou a fatia de participação do banco nos financiamentos no âmbito do PSI para 80% (pequenas e médias empresas) e 70% (grandes). Essa participação pode melhorar para 90% e 80%, respectivamente, o que ajudaria bastante o setor. A taxa de juros praticada na TJLP é adequada e os seus recursos – originados no FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) – têm a vantagem de não representarem subsídio, algo que o governo federal já sinalizou que não tem condições de conceder.
Com o mercado interno em queda, a indústria pode melhorar o volume das exportações?
Sem dúvida. Como disse acima, a Anfir fez a aproximação com a Apex e conseguiu a inclusão dos fabricantes de implementos rodoviários entre as empresas que podem tomar parte nas missões internacionais coordenadas pela entidade. A Apex tem sido bastante receptiva, o que encoraja o fabricante brasileiro de implemento rodoviário a disputar o mercado internacional. No ano passado, inclusive, promovemos um debate sobre o assunto com a participação desta entidade.
Em termos de tecnologia, o Brasil se compara a outros países?
Sim. O produto brasileiro compete de igual com os modelos estrangeiros tanto em tecnologia quanto em segurança veicular. As duas linhas mestras da inovação são a segurança e a produtividade. Na primeira, a Anfir atua por intermédio de sua Comissão Técnica, integrada por representantes das empresas associadas e que prepara propostas que são encaminhadas ao Comitê Brasileiro de Implementos Rodoviários (ABNT/CB-39), da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Mantido pela Anfir, esse comitê é responsável pelo exame de qualquer tema ligado ao setor antes de ser enviado ao Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), que faz os estudos finais na Câmara Temática de Assuntos Veiculares (CTAV). Uma vez concluída essa parte, o material segue para o Contran (Conselho Nacional de Trânsito), que transforma os estudos em lei. O setor tem examinado diversas alternativas de produtos, pesquisando a utilização de novos materiais (como o alumínio) e novos formatos (como as alternativas mais ágeis para modelos basculantes utilizadas em operações urbanas de carga e descarga de materiais).
A Anfir defende a implantação de um Programa de Proteção ao Emprego (PPE) para o setor. Por quê?
No entender da entidade, a demissão de um funcionário qualificado afeta a economia de forma ampla e o setor em particular. Quando há menos pessoal empregado, o consumo cai e isso representa prejuízo para a indústria, porque todo o treinamento investido na capacitação daquele profissional é perdido. Além disso, a dispensa de funcionários capacitados afeta diretamente a qualidade e a produtividade da indústria. Por isso, a Anfir acredita que o PPE reduziria a evasão de pessoal treinado e experiente do setor, mas a decisão de aderir ou não cabe a cada empresa do segmento.
O que esperar da Anfir ainda na sua gestão?
A continuação do trabalho em favor do fortalecimento do mercado interno e da abertura de novas oportunidades para exportação. A Anfir cumprirá seu papel de entidade representativa de um dos mais importantes segmentos industriais brasileiros, responsável por mais da metade de toda movimentação física de mercadorias no território nacional.
Quais sãos as perspectivas atuais?
Em 2016, não haverá crescimento na indústria produtora de implementos rodoviários, mas também não sofreremos queda. Dessa forma, os emplacamentos de reboques e semirreboques deverão ser de aproximadamente 30 mil unidades, enquanto o segmento de carroceria sobre chassi será em torno de 58 mil produtos. Em janeiro, o mercado registrou dois de seus piores resultados históricos. No segmento de reboques e semirreboques foram emplacadas 1.615 unidades, ante 2.220 produtos no mesmo período do ano passado. Isso representa queda de 27,25% e o pior mês do setor desde 2004. No mercado de leves, de carroceria sobre chassi, o resultado é o pior desde janeiro de 2008, com 2.878 unidades contra 6.118 produtos no mesmo período do ano passado, o que representa redução de 52,96%. No total, a indústria de implementos rodoviários entregou no primeiro mês do ano 4.493 unidades, contra 8.338 registradas no mesmo período de 2015, com queda de 46,11% no desempenho.
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