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Revista M&T - Ed.83 - Jun/Jul 2004
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ENTREVISTA

Os paradigmas da grande mineração

Vicente Bernardes, gerente geral da CVRD em Itabira, e os dois gerentes de manutenção, Luiz Antônio Vasconcelos e José Fernando de Andrade, relatam os desafios cotidianos em uma operação ininterrupta que envolve a movimentação anual de 170 milhões de toneladas.

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) ainda tem em Itabira, cidade onde foi criada há sessenta e dois anos atrás, uma de suas principais operações. Um dos vértices do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, Itabira é hoje um Complexo Minerador delimitado pelas minas do Cauê e de Conceição, com programa de movimentação em 2004 de cerca de 170 milhões de toneladas para produção de 43 milhões de toneladas de minério de ferro.

A operação é ininterrupta (24 horas por dia, 365 dias por ano) e envolve 4500 pessoas (entre funcionários da própria Vale e prestadores de serviço), revezando-se em quatro turnos, em até 15 frentes simultâneas de trabalho. A frota mobilizada inclui 51 caminhões fora-de-estrada, com capacidades variando entre 190 e 278 toneladas curtas, 29 equipamentos de grande porte para perfuração e carregamento, 65 equipamentos de terraplenagem, nove guindastes e cerca de 50 máquinas auxiliares, além de 230 veículos. Para movimentar essa frota, a Vale, que é a maior consumidora de diesel do hemisfério Sul, consome 6,5 milhões de litros de diesel por mês e uma média de 100 mil litros de óleo lubrificante - sendo 33 mil somente nos caminhões.

O gerenciamento dessa operação está a cargo de Vicente Bernardes, experiente engenheiro de minas da Companhia Vale do Rio Doce, com apoio, na área de equipamentos, de dois gerentes de manutenção, Luiz Antônio Vasconcelos (caminhões off-road) e José Fernando de Andrade (equipamentos de p


Vicente Bernardes, gerente geral da CVRD em Itabira, e os dois gerentes de manutenção, Luiz Antônio Vasconcelos e José Fernando de Andrade, relatam os desafios cotidianos em uma operação ininterrupta que envolve a movimentação anual de 170 milhões de toneladas.

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) ainda tem em Itabira, cidade onde foi criada há sessenta e dois anos atrás, uma de suas principais operações. Um dos vértices do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, Itabira é hoje um Complexo Minerador delimitado pelas minas do Cauê e de Conceição, com programa de movimentação em 2004 de cerca de 170 milhões de toneladas para produção de 43 milhões de toneladas de minério de ferro.

A operação é ininterrupta (24 horas por dia, 365 dias por ano) e envolve 4500 pessoas (entre funcionários da própria Vale e prestadores de serviço), revezando-se em quatro turnos, em até 15 frentes simultâneas de trabalho. A frota mobilizada inclui 51 caminhões fora-de-estrada, com capacidades variando entre 190 e 278 toneladas curtas, 29 equipamentos de grande porte para perfuração e carregamento, 65 equipamentos de terraplenagem, nove guindastes e cerca de 50 máquinas auxiliares, além de 230 veículos. Para movimentar essa frota, a Vale, que é a maior consumidora de diesel do hemisfério Sul, consome 6,5 milhões de litros de diesel por mês e uma média de 100 mil litros de óleo lubrificante - sendo 33 mil somente nos caminhões.

O gerenciamento dessa operação está a cargo de Vicente Bernardes, experiente engenheiro de minas da Companhia Vale do Rio Doce, com apoio, na área de equipamentos, de dois gerentes de manutenção, Luiz Antônio Vasconcelos (caminhões off-road) e José Fernando de Andrade (equipamentos de perfuração, carregamento e terraplenagem).

Nesta entrevista exclusiva à revista M&T - Manutenção & Tecnologia, os três demonstram que, a despeito do porte dos equipamentos, os profissionais da área de mineração enfrentam paradigmas e desafios bastante similares a de seus pares na construção.

Há em comum, por exemplo, o problema da qualificação da mão-de-obra e da terceirização de serviços, o compromisso ambiental, e a necessidade de controles rígidos e de um maior suporte por parte dos dealers. Vicente Bernardes, que recentemente assumiu a vice-presidência da Sobratema, como representante da área de mineração, acredita que há várias oportunidades de parceria entre a Sobratema, a CVRD e outras mineradoras, principalmente na área de treinamento de pessoal.

Revista M&T: O mercado de minério de ferro mantém-se aquecido, em função principalmente da grande demanda da China. Qual o ritmo atual e as prioridades da área operacional nas minas do Complexo Itabira?

Vicente Bernardes: Em função de algumas melhorias operacionais, conseguimos manter um ritmo de crescimento da produção, saltando de um patamar, que era de 39,0 milhões de toneladas de produto há três anos atrás, para 43 milhões de toneladas no final do ano passado. A prioridade no momento é manter e até ampliar a produção, com a retirada de estéril para a liberação de novas frentes de lavra.

Revista M&T: Essa operação se desenvolve em várias frentes de atuação, não é? Quantas e como são essas frentes?

Vicente Bernardes: Atualmente temos 30 frentes de trabalho em Itabira, sendo que até 15 podem atuar simultaneamente. E claro que isso vai depender da qualidade (composição do minério) em cada frente de lavra. Nós temos um sistema de pilha de homogeneização para alimentar as usinas de concentração que não pode ter variação de qualidade na alimentação, uma vez que o minério deve atender especificações pré-determinadas, e pelo fato de termos equipamentos sensíveis no processo.

Revista M&T: Quais são as prioridades no dia-a-dia, no que diz respeito ao gerenciamento de um empreendimento deste porte?

Vicente Bernardes: Veja bem: a nossa primeira prioridade é a segurança. Não há como se falar em produção se não houver segurança, trabalho e saúde ocupacional. Esse é um princípio da Vale do Rio Doce. Temos hoje um programa habilitado em oferecer exames médicos a todos os funcionários que prestam serviço no complexo, incluindo os contratados junto às empreiteiras. Não só o efetivo da Vale, mas também os que vem de fora passam por um controle periódico. Temos aqui 28 técnicos em segurança, 4 engenheiros, equipe de enfermagem, 2 ambulatórios funcionando 24 horas por dia (um para Cauê e outro para Conceição), além de três médicos.

Revista M&T: Como é feito o processo de admissão destes profissionais? Existe algum tipo de convênio com escolas técnicas?

Vicente Bernardes: Procuramos valorizar o pessoal interno e se não houver disponibilidade abrimos concurso externo. Nós temos uma área de treinamento que faz o trabalho em duas partes: job rotation e on the job. Também procuramos manter o treinamento efetivo de cada área, porque a reciclagem específica das áreas é extremamente importante. Por exemplo, um operador de escavadeira, que pode passar a operar uma pá carregadeira, precisa aprender outros conceitos. Então, procuramos fazer esse rodízio nas áreas, sempre instruindo os operadores com novas informações.

Revista M&T: o treinamento é sempre feito pelo pessoal da própria Vale?
Vicente Bernardes: Quando você precisa implantar novos sistemas, mais modernos e que exigem conhecimento específico, fazemos treinamentos com instrutores externos. Hoje em dia, os próprios dealers oferecem apoio nesse sentido. Desde a época em que era estatal a Vale sempre investiu muito no desenvolvimento de pessoas. Continuou com a mesma filosofia após a privatização. Temos convênios com universidades e já estabelecemos contratos com a própria Sobratema, através do Instituto Opus. Enfim, temos o serviço de treinamento interno e também o prestado por empresas contratadas.

Revista M&T: Um caso concreto foi o curso ministrado pelo Instituto Opus junto ao pessoal da área de guindastes da Vale, inclusive alguns trainées recrutados no Senai. Qual foi a avaliação de vocês em relação a esse curso?

José Fernando de Andrade: Foi extremamente positivo. Nós tínhamos alguns operadores de guindastes já antigos na empresa, com alguns vícios de operação e sem conceitos de padronização de treinamento. Algumas pessoas se aposentaram e nós tivemos que renovar o quadro. E você não encontra um profissional como esse perfil no mercado. E necessária uma pré-qualificação em eletrônica e outros conceitos. Então escolhemos o Instituto Opus para fazer esse treinamento, não só dos novos operadores, mas também dos que já atuavam na empresa. Percebemos rapidamente os ganhos do treinamento. A demanda por guindastes aumentou muito em função das obras para melhorias da operação. Em termos de segurança, está muito mais confiável. Hoje, esses trainées já trabalham regularmente com serviços delicados.

Revista M&T: Com relação à Sobratema, como o trabalho da entidade pode contribuir para a Vale do Rio Doce e o que a área de mineração pode oferecer à Sobratema?

Vicente Bernardes: O trabalho da Sobratema sempre foi mais direcionado à construção civil, de maneira geral, incluindo equipamentos e materiais para esse segmento. Nessa área, o trabalho é muito bom, visto que a entidade concede treinamentos bem planejados. Há também, hoje, algum trabalho na mineração, que queremos consolidar e ampliar. È necessário fazer exatamente esse trabalho de aproximação, que será bom para a mineração e para a Sobratema. A Sobratema possui uma experiência que contribuirá para essa aproximação, que virá futuramente. Por enquanto, é só o começo.

Revista M&T: Com relação à manutenção, quantos equipamentos estão envolvidos na operação de Itabira? Qual o consumo de lubrificantes e diesel que envolve uma operação desse porte?

Luiz Vasconcelos: Nós operamos em Itabira com uma frota de 51 caminhões fora-de-estrada, com capacidades variadas, que vão desde 190 toneladas curtas até 278 toneladas curtas. Temos alguns equipamentos auxiliares, responsáveis pelo abatimento da poeira em suspensão. São 7 caminhões-tanque usados para aspersão de água, com capacidade de 100 mil litros cada. Estamos inserindo um oitavo tanque. Com relação ao combustível, Itabira gasta em torno de 6,5 milhões de litros de diesel por mês com todos os equipamentos. Individualmente, a Vale do Rio Doce é a maior consumidora de Diesel do hemisfério Sul. No caso de lubrificantes, Itabira gasta uma média de 100 mil litros de óleo hidráulico e lubrificante, sendo cerca de 33 mil só para caminhões.

José Fernando de Andrade: Nós temos também sete perfuratrizes, 15 escavadeiras, sete pás-carregadeiras de grande porte. Especificamente para terraplenagem temos em torno de 65 equipamentos (tratores de esteira, motoniveladoras, retroescavadeiras, tratores de pneus, e pás-mecânicas de pequeno porte). Fazemos também a operação e manutenção de nove guindastes e mais de 50 máquinas auxiliares (empilhadeiras e outras máquinas que dão apoio tanto nas usinas quanto nas minas). Minha área também responde pela manutenção de mais 230 equipamentos que vão desde pick-ups até caminhões rodoviários (que não são fora-de estrada). Além disso, fazemos a manutenção das instalações industriais e das pontes rolantes de nossas oficinas.

Revista M&T: por que há essa divisão interna na manutenção entre caminhões fora-de-estrada e os demais equipamentos. Os caminhões merecem uma atenção especial?

Luiz Vasconcelos: A dinâmica é completamente diferente. A frota de caminhões tem uma relação muito direta com a operação, assim como a de escavadeiras e de perfuratrizes. Eu tenho que ter uma disponibilidade alta de equipamentos para carregamento. O atendimento de campo tem que ser eficiente, assim como o plano de manutenção (com tempos de parada muito curtos). Nossa capacidade de produção é limitada pela disponibilidade de transporte, fato comum em mineração de ferro. Se um caminhão desses para, de repente, e eu não tenho outro para repor, eu perco parte da minha capacidade de movimentação. Se uma escavadeira para nós remanejamos de uma outra frente de lavra pois já faz parte do plano trabalhar com mais de uma frente simultaneamente. Já quando um caminhão para não há outro meio de transportar minério ao britador ou estéril ao depósito e eu deixo de produzir instantaneamente. Trata-se de uma demanda maior. A taxa de utilização de um caminhão é de cerca de 90%. Sempre tentamos maximizar a produção sem prejudicar os planos de manutenção. Em média, cada caminhão trabalha 20 horas por dia (600 horas/mês) e produz entre 450 e 500 toneladas por hora.

Revista M&T: Qual é a vida útil de um caminhão como esse?

Luiz Vasconcelos: No caso do caminhão, temos que levar em conta, separadamente, cada um dos seus componentes. Um motor precisa de reforma a cada 15.000 horas trabalhadas, em média. Ele custa cerca de R$ 3,5 milhões quando novo, o que inviabiliza a troca. Mas também um motor aguenta até três, no máximo, quatro reformas, somando uma vida útil de cerca de 60 mil horas. Porém, quando um equipamento chega em 50 mil horas nós já começamos a ficar atentos, pelo fato de que um caminhão com esse tempo de horas rodadas já tem 10 anos de vida útil. Então começamos a procurar algo mais novo e produtivo no mercado.

Revista M&T: Como é feita a carga na lavra?

José Fernando de Andrade: E feita por escavadeiras e carregadeiras de grande porte. Temos escavadeiras desde 9,2 metros cúbicos de caçamba (P&H 2100) até 33 metros cúbicos ( Komatsu PC 8000 que carrega 80 toneladas por caçambada), essa última tem peso operacional de 800 toneladas. Quanto às carregadeiras, temos duas Caterpillar 994 (com capacidade de 33 toneladas e peso operacional de 173 toneladas), temos 5 LeTourneau (capacitadas em 45 toneladas e com peso de 200 toneladas). Para criar e manter toda esta infra- estrutura para os caminhões, carregadeiras e escavadeiras usamos retroescavadeiras Caterpillar, Liebherr, Komatsu, tratores de esteira Caterpillar (D8, D10, Dll), Komatsu (D 275), pás carregadeiras Volvo e Caterpillar, motoniveladoras Caterpillar (16G e 24H — maior do mundo), tratores de pneus Caterpillar (834 e 854), etc.

Revista M&T: A frota de equipamentos é bastante diversificada. Qual a estrutura de suporte e a disponibilidade requerida na operação?

José Fernando de Andrade: A minha área possui um efetivo de 180 empregados da Vale e mais 260 contratados. A nossa equipe está dividida em 7 supervisões e nós mantemos um quadro técnicos para dar suporte aos supervisores. E também há três engenheiros trabalhando com eles. Eu também tenho técnicos em eletrônica especialistas em Bucyrus. Nem sempre um dealer pode te atender no momento que você precisa. A disponibilidade da nossa frota de carregamento é de 80%. Para as perfuratrizes a demanda está mais alta, então sobe um pouco mais. E em terraplanagem também está em torno de 80%. Enquanto os veículos têm uma faixa de uso de 90%. Os equipamentos de carga rodam cerca de 500 horas/mês. As máquinas de terraplanagem, em torno de 400 horas/mês.

Revista M&T: E os planos de manutenção que vocês fazem são baseados em horas?

Luiz Vasconcelos: Basicamente sim. Sobretudo os que dizem respeito à manutenção preventiva, que é a etapa mais importante. A partir dela, teremos os parâmetros de manutenção bem delineados, aí podemos estabelecer eventuais paradas de máquina.

Revista M&T: E como vocês conseguem amarrar os planos de manutenção dos fabricantes, sendo que muitas vezes eles não coincidem?
José Fernando de Andrade: Nós temos um trabalho de gerenciamento de sistemas. Elaboramos planos de manutenção de acordo com o manual do fabricante e de acordo com o nosso histórico. Trabalhamos com a manutenção preventiva e também com a análise preditiva. Temos um programa chamado SISMAN. A base dele é a mesma, você tem a inspeção no campo, gera a ordem de serviço. Mas também trabalha com ordens geradas pelo computador por hora trabalhada, com planos padrão de 125, 250, 500 e 1.000 horas.

José Fernando de Andrade: Com as escavadeiras, além dos planos de horas, também levamos em conta o tempo em que ficam em campo. Se trabalham durante muito tempo numa frente, fazemos vistorias para ver se algum problema no contato elétrico. Os equipamentos de carga rodam cerca de 500 horas/mês. As máquinas de terraplanagem, em torno de 400 horas/mês.

Revista M&T: Quais serviços são passíveis de terceirização e quais têm de ser próprios?

Vicente Bernardes: Em relação aos serviços terceirizados, eles só são contratados quando estão fora da nossa atividade fim. Terceirizamos atividades de transporte leve, vigilância, restaurante, limpeza, alguns trabalhos de engenharia e obras. Na área de manutenção, por exemplo, o trabalho de usinagem das oficinas é terceirizado. Recuperação de algum subconjunto, caldeiraria, também. Agora, para as outras atividades, preferimos usar o nosso pessoal.

José Fernando de Andrade: A manutenção das máquinas de terraplanagem, que estão locadas na gerência de infraestrutura, é terceirizada. Agora o planejamento e a inspeção são feitos por funcionários da Vale do Rio Doce. Somente a execução nós terceirizamos. Já a manutenção das carregadeiras, escavadeiras e perfuratrizes é toda feita pela Vale.

Revista M&T: Como é o relacionamento com os fornecedores no que diz respeito a critérios de serviços?
José Fernando de Andrade: Nós temos sistemas variados, porque nem sempre você encontra um fornecedor com porte, disponibilidade de peças e pessoal para assistência técnica de que a Vale necessita. A Sotreq, por exemplo, é um dealer muito grande, por isso mantém uma loja de peças com estoque próprio dentro do nosso site. Além disso, mantém um efetivo de técnicos prestando todo suporte necessário aos equipamentos e outros serviços especiais. Outros fornecedores mantêm peças aqui na empresa armazenadas em contêineres, bem como profissionais para atendimento técnico. Porém, a maior parte do trabalho é feita por nós mesmo, incluindo inspeção, planejamento, programação. Toda a estratégia da manutenção é elaborada pela Vale do Rio Doce.

Revista M&T: Existe alguma expectativa em relação aos fornecedores que ainda não foi atingida e que vocês desejam ter disponibilizada?

Luiz Vasconcelos: Um dos entraves provocado por essa falta de entendimento é o fato de eu ter que ficar acumulando conjuntos reserva, inclusive de grande porte, dentro da empresa - o que nos atrapalha em termos de logística - sem gozar do conhecimento técnico exigido para usá-las quando houver necessidade. O fabricante é quem deve prestar essa assistência, a fim de diminuir o nosso custo de propriedade, porque conhece o parque de máquinas e as necessidades de reposição. Ele deve ter maior controle sobre os equipamentos que vende aos clientes e, numa eventual necessidade, fornecer, por exemplo, motores à base de troca, serviços rápidos e de qualidade, peças de prontidão. Percebemos que alguns fornecedores ou têm insegurança ou estão satisfeitos com o que acontece. E aquela velha estória de sempre “Se eu estou satisfeito com o meu botequim, porque vou transformá-lo num supermercado”. Só que isso nos prejudica demais.

José Fernando de Andrade: Há uma carência em termos de preparação dos técnicos, algo que poderia ser melhor. Há cerca de dois anos solicitamos uma mudança nesse sentido junto aos fornecedores e o pessoal ainda não acordou. Eles ainda não levaram em conta que esse core business pertence a eles e não a nós. O nosso negócio é a mineração. Eles continuam despejando equipamentos e tecnologias dentro do nosso parque e esquecem do suporte para a manutenção. Essa é uma queixa antiga e que, infelizmente, ainda não foi sanada. Eu sei que caso haja um problema emergencial nós temos que dar o primeiro atendimento. No entanto, o que diz respeito a reformas, fornecimento de um subconjunto reserva ou coisa parecida é vocação do fornecedor. E ele quem fabrica e que deve fornecer toda a logística para sanar qualquer problema.

Luiz Vasconcelos: Eu já ouvi da boca de muitos fabricantes, que treinamento é um papel a ser exercido pelo usuário e não pelo fabricante. Enquanto eles continuarem pensando assim, vão acabar ficando fora do mercado. Eu não posso ter uma formiguinha atrasando o passo de uma manada inteira de elefantes. Então, nós acabamos optando por fornecedores de equipamentos que não dispõe somente de máquinas produtivas, mas que trazem consigo toda uma base de suporte para não abandonar o cliente no pós-venda.

José Fernando de Andrade: Nesse sentido, temos a impressão de que a mineração, sobretudo a de grande porte, está à margem quando o assunto é suporte dos equipamentos. Diferente, por exemplo, da construção — cujos fornecedores se concentram no mercado nacional —, a mineração pesada adquire tecnologia importada, e acaba pagando o preço dessa falta de integração. E muito difícil você sensibilizar os grandes fornecedores de que não adianta fabricar uma máquina maravilhosa em termos de engenharia se ela não atende as necessidades do usuário.

Revista M&T: Qual é o tipo de controle usado para monitorar a operação?

Vicente Bernardes: Na área de usina, temos como parâmetro o rendimento operacional de plantas, o índice de recuperação metalúrgica do minério a ser beneficiado. Na lavra, temos — além dos índices de disponibilidade dos equipamentos e sua utilização — que nos preocupar principalmente com o aspecto ambiental, levando em conta índices de poeira e o controle de efluentes industriais.

Revista M&T: Quais os procedimentos para minimizar o impacto de uma operação desse porte nas corri unidades vizinhas. Aqui em Itabira, algumas frentes estão praticamente dentro da cidade.

Vicente Bernardes: Por existir essa grande aproximação com a cidade, temos que ter um controle preciso de todo o processo, com dados monitorados periodicamente pela FEAM - Fundação Estadual de Meio Ambiente. Temos também uma grande preocupação em minimizar ruído e vibração quando do desmonte de rocha. Tanto que, em alguns casos, fazemos o desmonte até mecanicamente, com tratores, sem utilizar explosivos. Também procuramos atender, sempre que possível, as necessidades da comunidade em obras de infraestrutura.

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