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Revista M&T - Ed.298 - Outubro 2025
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INFRAESTRUTURA

O equilíbrio da matriz energética nacional

Mesmo com o avanço de fontes alternativas, as usinas hidrelétricas permanecem essenciais pela flexibilidade, confiabilidade e capacidade de oferecer serviços à sociedade
Por Redação

Foto: ENERCONS


Em um cenário de diversificação crescente das fontes energéticas, a hidroeletricidade segue como base da matriz elétrica brasileira. Atualmente, as usinas hidrelétricas (UHEs) ainda respondem por quase a metade da capacidade instalada do país, o que demonstra sua relevância na geração de energia para transportes, indústria e uso doméstico.

Hidrelétricas somam aproximadamente 103,2 GW em grandes usinas, 5,9 GW em PCHs e 0,87 GW em CGHs. Foto: Caio Coronel/Agência Brasil


De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o sistema – incluindo Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs) – representa exatos 51,72% da matriz elétri


Foto: ENERCONS


Em um cenário de diversificação crescente das fontes energéticas, a hidroeletricidade segue como base da matriz elétrica brasileira. Atualmente, as usinas hidrelétricas (UHEs) ainda respondem por quase a metade da capacidade instalada do país, o que demonstra sua relevância na geração de energia para transportes, indústria e uso doméstico.

Hidrelétricas somam aproximadamente 103,2 GW em grandes usinas, 5,9 GW em PCHs e 0,87 GW em CGHs. Foto: Caio Coronel/Agência Brasil


De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o sistema – incluindo Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs) – representa exatos 51,72% da matriz elétrica em operação.

“Todavia, ainda existe um potencial significativo não explorado, principalmente na Região Norte”, afirma o órgão.

“O Brasil já aproveitou parte expressiva de seu potencial hidroelétrico, mas cerca de 1/3 do total ainda pode ser desenvolvido, especialmente com novas abordagens em projetos mais sustentáveis e integrados ao meio ambiente.”

Em âmbito global, o Brasil se destaca por contar com uma das matrizes elétricas mais limpas e renováveis do mundo, comenta Charles Lenzi, presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Limpa (Abragel), em grande parte devido à expressiva participação da geração hidrelétrica.

“No ano 2000, a fonte hidrelétrica representava 89,3% da capacidade instalada nacional”, diz ele.


Charles Lenzi, da Abragel: país conta com uma das matrizes
elétricas mais limpas e renováveis do mundo. Foto: ABRAGEL


PARTICIPAÇÃO

Com o passar dos anos, o cenário foi se transformando com a entrada das fontes renováveis intermitentes.

De acordo com informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o país desenvolveu fontes representativas como – pela ordem de participação – mini e microgeração distribuída (17,6%), eólica (14%), térmica (9,6%), solar centralizada (7,1%), biomassa (6,4%) e nuclear (0,8%).

“Apesar dessa diversificação, a energia hidrelétrica mantém sua relevância, desempenhando um papel central”, avalia Lenzi.

“Além de limpa e renovável, possui uma característica essencial que é o fato de não ser intermitente.”

Diferentemente das fontes solar e eólica, que dependem diretamente das condições naturais, a hidrelétrica oferece geração contínua e despachável, podendo ser acionada rapidamente para atender à demanda.

“Isso se deve aos reservatórios, que funcionam como baterias naturais”, complementa o executivo da Abragel.

Segundo ele, o país conta atualmente com 1.427 centrais hidrelétricas, distribuídas em 219 UHEs (com capacidade acima de 30 MW), 506 PCHs (com potência entre 5 MW e 30 MW) e 702 CGHs (com potência até 5 MW).

Em termos de usinas, o ranking das maiores hidrelétricas brasileiras é liderado por Itaipu (PR), com 14.000 MW, responsável por 8,7% da energia consumida nacionalmente.

Depois vem Belo Monte (PA) (11.233 MW), São Luíz do Tapajós (PA) (8.381 MW), Tucuruí (TO) (8.370 MW) e Santo Antônio (RO) (3.300 MW).

Esse Top 5 responde por cerca de 70% da energia consumida no Brasil, que conta ainda com a participação das UHEs de Ilha Solteira (SP) (3.444 MW), Jirau (RO) (3.300 MW), Xingó (AL-SE) (3.162 MW), Paulo Afonso IV (BA) (2.462 MW) e Jatobá (PA) (2.338 MW).

Em capacidade instalada, as hidrelétricas somam aproximadamente 103,2 GW em grandes usinas, 5,9 GW em PCHs e 0,87 GW em CGHs, perfazendo mais da metade da capacidade instalada no país.

Para garantir energia constante, a água armazenada é usada em períodos de seca ou mesmo quando a produção das fontes alternativas diminui, garantindo a estabilidade do sistema.

“A geração hidrelétrica é limpa, com baixas emissões de gases”, observa André Luiz Heberle, diretor técnico da Lindner Engenharia.

“Quando feitas com responsabilidade socioambiental, as usinas também ajudam a desenvolver as regiões onde estão instaladas, gerando empregos, melhorando a infraestrutura e contribuindo com tributos.”

MIX ENERGÉTICO

O Brasil dispõe de um amplo potencial de recursos naturais para a geração de energia elétrica.

O desafio, todavia, é definir a combinação mais adequada dessas fontes, de modo a garantir não apenas uma matriz limpa e renovável, mas também confiável, segura e com preços competitivos.

Atualmente, a expansão da matriz ocorre de forma desequilibrada, aponta Lenzi, fortemente apoiada em fontes intermitentes, que vêm recebendo mais incentivos e subsídios.

“Esse movimento gera sinais econômicos distorcidos, acrescenta custos adicionais ao sistema e impõe um enorme desafio à manutenção de uma operação estável e segura”, considera.

Segundo ele, ao mesmo tempo em que convivemos com abundância de energia em determinados períodos do dia, em outros temos a necessidade de acionar a geração termelétrica, por exemplo, justamente em razão da intermitência das renováveis.

Para Lenzi, isso torna imprescindível o planejamento de médio e longo prazo, capaz de definir uma configuração que priorize – além da modicidade tarifária – a segurança e a confiabilidade do fornecimento.

“Nesse contexto, as hidrelétricas assumem um papel insubstituível”, acentua.

“É impossível conceber um sistema elétrico sustentável sem as características de flexibilidade operacional e de serviços ancilares (geração, transmissão, distribuição e comercialização) que apenas essa fonte é capaz de oferecer, ainda mais em um país com tamanho potencial a ser explorado.”

De acordo com Alessandra Torres, presidente da Associação Brasileira de PCHs e CGHs (Abrapch), a energia eólica e a energia solar não substituem as fontes firmes, mas as complementam.


Alessandra Torres, da Abrapch: pontos de conexão para novos
empreendimentos são um fator crítico no país. Foto: ABRAPCH


Para ela, é indispensável contar com uma base firme e renovável, como as hidrelétricas, até mesmo para ampliar a participação das fontes intermitentes.

“Um fator crítico é a questão dos pontos de conexão para novos empreendimentos, um problema que atinge não apenas as hidrelétricas, mas todas as fontes”, afirma.

No campo das oportunidades, o ONS já sinalizou a necessidade de energia firme e de potência para fazer frente ao aumento da demanda nos próximos anos.

Nesse sentido, há diversos projetos prontos para implantação, mas que ainda precisam ser viabilizados, destaca a especialista, inclusive para atender setores de alta demanda, como data centers, que exigem fornecimento constante.

“Eólicas e solares não conseguem atender esses setores”, observa Alessandra Torres, destacando que é preciso fortalecer a base do sistema para expandir a geração de forma mais equilibrada.

“Essa necessidade não é futura, mas absolutamente atual”, adiciona.

PARALISAÇÃO

De acordo com Heberle, da Lindner, a construção de grandes hidrelétricas enfrenta uma série de obstáculos no país, que têm deixado muitos projetos parados.

Para começar, ficou mais difícil e demorado obter licenças ambientais, especialmente em regiões onde o impacto sobre a natureza e as comunidades é maior.

“Além disso, há uma mobilização crescente por parte das populações locais e movimentos sociais, que exigem consultas, compensações e garantias que, na prática, são difíceis de atender”, ele salienta.

Outra questão relevante é de ordem financeira. Afinal, investir em hidrelétricas de grande porte significa assumir custos altíssimos e ainda ter de esperar muitos anos para obter o retorno, o que acaba afastando interessados.

O próprio planejamento do setor elétrico também mudou – hoje, a prioridade é diversificar e descentralizar a produção, dando espaço para usinas menores, que têm menos impactos ambientais e são mais bem recebidas pela sociedade, “levando a geração de energia para perto do consumidor sem necessidade de grandes linhas de transmissão”.


André Luiz Heberle, da Lindner: desafios ambientais, sociais, financeiros
e estratégicos resultam em obras paradas. Foto: LINDNER


Por fim, as mudanças no clima, que tornam o regime de chuvas cada vez mais imprevisível, somadas às incertezas nas regras do setor e à necessidade de construir grandes linhas de transmissão em áreas remotas, fazem com que muitos investidores prefiram aguardar antes de colocar projetos grandiosos em andamento.

“Em resumo, essa soma de desafios ambientais, sociais, financeiros e estratégicos explica porque os grandes projetos hidrelétricos estão parados há tanto tempo no Brasil”, frisa Heberle.

ATRIBUTOS

Para os especialistas, esses projetos precisam sair do papel por vários motivos.

Embora gerem seus próprios impactos, as hidrelétricas se destacam por oferecer benefícios ambientais relevantes, principalmente quando comparadas às alternativas baseadas em combustíveis fósseis ou biomassa.

Heberle acentua que as UHEs produzem energia limpa e renovável, com baixas emissões de gases, especialmente depois que a usina já está em funcionamento, já que a maior parte das emissões ocorre na etapa inicial de construção e formação do reservatório.

“Isso é fundamental para ajudar o país a cumprir as metas climáticas e reduzir a pegada de carbono do setor elétrico”, sublinha o especialista.

Ranking das hidrelétricas é liderado por Itaipu, com 14.000 MWe responsável
por 8,7% da energia consumida no país. Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil


De forma objetiva, Lenzi aponta que as hidrelétricas reúnem um conjunto de atributos que as tornam insubstituíveis para o setor elétrico brasileiro.

“Isso inclui a geração de energia mais barata, limpa e renovável, com características técnicas fundamentais para a operação do sistema elétrico, ou seja, com flexibilidade operativa, serviços ancilares, despachabilidade, segurança e confiabilidade”, ressalta.

Além disso, ele prossegue, são ativos com vida útil superior a 100 anos e que, por serem bens da União, retornam para a sociedade ao final do período de autorização ou concessão.

“Também contam com uma cadeia produtiva 100% nacional, gerando empregos e renda dentro do país”, defende.

“Por tudo isso, são fundamentais para complementar a geração intermitente e possibilitar a expansão das fontes alternativas, evitando uma maior dependência da geração termelétrica.”

Outra vantagem – quiçá uma das mais relevantes aos olhos da população – é ser a fonte de geração elétrica com o menor custo final para os consumidores.

Estudo elaborado pela consultoria VoltRobotics demonstra que, quando considerados os custos totais (diretos e indiretos), a geração hidrelétrica apresenta valor significativamente inferior em comparação a outras fontes.

“Na prática, isso se traduz em tarifas mais acessíveis para a população”, pontua Lenzi.

Outro aspecto importante, lembrado por Heberle, está no uso da água, que passa pelas turbinas, movimenta a geração de energia e retorna ao rio sem alterações físico-químicas.

Assim, a mesma água pode ser utilizada para abastecimento de cidades, irrigação de plantações e atividades de lazer, além de permitir o controle de enchentes e manter o fluxo dos rios, o que – ao menos em tese – beneficia os ecossistemas locais.

“A construção de barragens em um rio gera segurança contra as enchentes que degradam as áreas próximas ao rio”, acrescenta Heberle.

“Além disso, as barragens atuam como filtros flutuantes do lixo trazido pelos rios, sendo que os materiais flutuantes são removidos das grades e destinados aos devidos fins para cada tipo de resíduo”, finaliza.


Saiba mais:

Abragel: abragel.org.br
Abrach: abrapch.org.br
Aneel: www.gov.br/aneel/pt-br
Lindner: www.lindnerengenharia.com.br

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