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Revista M&T - Ed.70 - Abr/Mai 2002
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GUINDASTES

Do mestre ao aprendiz

Existem deficiências, mas também enormes potencialidades no quadro de operadores, que podem ser desenvolvidas com o apoio do Instituto Opus.

Pouca gente conhece tão bem a psicologia dos operadores de guindastes quanto o engenheiro Carlos Gabos, com experiência de vinte anos em treinamento de pessoal, inclusive pelo Instituto Opus, da Sobratema, onde ministrou cursos, até assumir, há poucos meses atrás, a gerência operacional da Tomé Engenharia e Transportes, uma das maiores transportadoras e locadoras de guindastes do país, onde atuam 128 funcionários, entre operadores e ajudantes, somente na área de guindastes, Gabos sabe, pela sua vivência, que há deficiências sérias na formação escolar e profissional dos operadores e que muitos não sabem sequer ler e fazer "as quatro operações".
Mas ele sabe, também, que existem enormes potencialidades a serem desenvolvidas entre os todos os operadores brasileiros, principalmente com o know-how e suporte de um


Existem deficiências, mas também enormes potencialidades no quadro de operadores, que podem ser desenvolvidas com o apoio do Instituto Opus.

Pouca gente conhece tão bem a psicologia dos operadores de guindastes quanto o engenheiro Carlos Gabos, com experiência de vinte anos em treinamento de pessoal, inclusive pelo Instituto Opus, da Sobratema, onde ministrou cursos, até assumir, há poucos meses atrás, a gerência operacional da Tomé Engenharia e Transportes, uma das maiores transportadoras e locadoras de guindastes do país, onde atuam 128 funcionários, entre operadores e ajudantes, somente na área de guindastes, Gabos sabe, pela sua vivência, que há deficiências sérias na formação escolar e profissional dos operadores e que muitos não sabem sequer ler e fazer "as quatro operações".
Mas ele sabe, também, que existem enormes potencialidades a serem desenvolvidas entre os todos os operadores brasileiros, principalmente com o know-how e suporte de um programa do nível hoje oferecido pelo Instituto Opus.
" Ninguém se torna operador de guindastes por acaso ou só por querer sê-lo. Existe um perfil dos operadores experientes que serve de modelo para o sucesso do aprendiz, explica Gabos. "Eles se caracterizam por uma inteligência acima da média que, aliada a uma atenção super aguçada, faz com que tomem decisões rápidas. Também é preciso que os operadores tenham uma ótima visão espacial, o que não se ensina a ninguém. Além de muita concentração na carga em movimento e antecipação a todos os perigos, como o de alguém ultrapassar as áreas delimitadas para a operação", completa. A falta dessas qualidades- inteligência, atenção e visão espacial -faz com que muitos aprendizes parem no meio do caminho ou, por falta de interesse, fiquem limitados ao que Gabos chama de "operação tipo escavadeira com clam shell".
Com procedimentos de segurança reproduzidos e bem menos complexos”. O filtro da aptidão dos aspirantes, uma vez habilitados para uma operação assistida, são operadores mais antigos. Para justificar essa condição de melhores avalistas, Gabos cunhou uma expressão: “O operador experiente tem o guindaste nas veias”. Com esse operador experiente, o aprendiz, na qualidade de ajudante formado, deve permanecer, no mínimo, 3 anos ou 5.000 horas. Nesse período, ele “vai limpar e lubrificar maquinas, amarrar cabo de carga, saber encontrar o centro de gravidade da carga e o tipo adequado de cabo, além de fazer levantamentos de baixo risco, com assistência do profissional experiente”, relata Gabos.
Há, segundo ele, uma imensa gratificação nesse rito de passagem do conhecimento dos mais experientes para os mais novos. “Foi assim que os operadores hoje que aprendeu com outro que, por sua vez, aprendeu com um operador americano ou alemão há mais de 30 anos atras”. Há inclusive uma troca importante entre os dois, complementa Gabos, porque o aprender já tem a teoria necessária para atender os procedimentos de segurança. Com isso, o mais velho acaba percebendo que nem tudo que sabe, na pratica, é correto” Hoje, a idade dos operadores mais antigos varia entre 50 e 65 anos e, explica Gabos, “ao contrário do que acontece em outras profissões, eles continuam em plena atividade, mesmo porque é uma área carente de profissionais qualificados. Os experientes contam apenas com sua experiência, para identificar e resolver problemas das máquinas. Há também um certo sentimento de posse desses que são os titulares dos guindastes. “Em férias ou mesmo de folga eles passam a “sua” máquina para outro operador e, quando voltam ao trabalho, conferem tudo e verificam se está tudo como foi entregue. Aquela máquina não só o instrumento do seu trabalho: eles se julgam “donos” dela.
Ao se formar no instituto Opus, depois dos 3 anos ou 5.000 horas compulsórios como ajudante, o aprendiz volta ao Instituto e passa por uma avaliação teórica e prática, testes psicotécnicos e exames de acuidade visual e auditiva, recebendo, se aprovado, a sua carteira de operador pleno, com ela, adquirindo o direito de operar o "seu próprio guindaste". Habilitado, o agora novo operador transita de equipamentos leves para médios e, destes, para pesados. Cumpridos esses novos estágios, ele pode se tornar um mestre e, por fim, um supervisor de guindastes. "Com o advento do Instituto Opus, rompemos aquele velho processo mecânico de transmissão de conceitos (que muitas vezes embute vícios profissionais) de geração para geração. Agora, há um processo gradativo de aprendizado e formação, em níveis escalonados", diz Carlos Gabos, lembrando que, no início da formação, já se exige do candidato um certo nível de desempenho.
"Se ele não souber o mínimo necessário - ler, escrever e fazer as quatro operações, por exemplo - não se pode ensinar nada a ele, ainda que ele queira, pois é preciso que ele entenda conceitos contidos em manuais, dados de uma tabela de carga e, mesmo, os indicadores de um computador de bordo". No Instituto Opus, da Sobratema, o candidato a aprendiz deve ter o segundo grau completo para poder iniciar o seu curso de formação, composto de três semanas de teoria e outras três de aulas práticas, num total de 240 horas. "O fundamental é que ele aprenda os procedimentos básicos de segurança e entenda a razão de seguir tais procedimentos. E para isso, eu tenho que falar de física, de matemática, de porcentagem, ainda que com exemplos práticos e fáceis de entender."
"Quando a carga está sendo içada, por exemplo, toda essa responsabilidade está nas mãos do operador, que é o depositário de toda a tecnologia disponível na máquina e que geralmente está sozinho nessa hora", diz Gabos, lembrando que o levantamento de um produto acabado é sempre o gargalo da operação. "Se o içamento não for feito corretamente, pode comprometer o cronograma de produção do cliente, como no caso de se levantar o vaso de uma refinaria", exemplifica. Por isso, é importante diferenciar as tecnologias disponíveis em cada tipo de guindaste. Nos telescópicos, cujo tempo de montagem para operação é bastante reduzido em relação aos treliçados, a lança é mais pesada e como esse peso está a favor da carga, quanto mais pesada a lança, menor a capacidade de içamento. A evolução caminhou para a redução desse peso, explica Gabos, mas teve de incluir, no projeto da máquina, sistemas de sensores para que operador pudesse programar a capacidade do guindaste com uma lança mais leve. Entre esses sistemas estão o monitoramento eletrônico, que mede o peso da carga e o raio, através de sensores de pressão e de comprimento, e os que monitoram a rigidez do solo e indicam se este solo está cedendo, através de sensores de pressão em cada patola. "Tudo isso passa a ser área de competência do operador".

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