Revista M&T - Ed.253 - Maio 2021
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Entrevista

Carlos Caicedo

"A pandemia acelerou a automação"
Por Redação

Mesmo em um momento desafiador e de dificuldades aparentes, a fabricante sueca Epiroc – especialista em soluções de escavação de rocha e mineração subterrânea, surgida de uma divisão da Atlas Copco em 2018 – mantém seu plano de investimentos em tecnologias sustentáveis em âmbito global.

Com presença em 150 países e receitas de SEK 36 bilhões (cerca de € 3,5 bilhões) em 2020, a empresa já nasceu compromissada com vetores como automação, digitalização e eletrificação, vislumbrando nessas tendências o futuro da tecnologia na mineração e na infraestrutura.

No Brasil, a Epiroc é liderada pelo gerente geral Carlos Caicedo, que vê o mercado ainda se recuperando dos efeitos da pandemia, o que – segundo ele – vem ocorrendo desde a segunda metade do ano passado, com destaque para as áreas de serviços, em especial no setor de minera&cced


Mesmo em um momento desafiador e de dificuldades aparentes, a fabricante sueca Epiroc – especialista em soluções de escavação de rocha e mineração subterrânea, surgida de uma divisão da Atlas Copco em 2018 – mantém seu plano de investimentos em tecnologias sustentáveis em âmbito global.

Com presença em 150 países e receitas de SEK 36 bilhões (cerca de € 3,5 bilhões) em 2020, a empresa já nasceu compromissada com vetores como automação, digitalização e eletrificação, vislumbrando nessas tendências o futuro da tecnologia na mineração e na infraestrutura.

No Brasil, a Epiroc é liderada pelo gerente geral Carlos Caicedo, que vê o mercado ainda se recuperando dos efeitos da pandemia, o que – segundo ele – vem ocorrendo desde a segunda metade do ano passado, com destaque para as áreas de serviços, em especial no setor de mineração.
Bacharel em engenharia mecânica pela Universidad de Los Andes, na Colômbia, o executivo acumula diversas especializações, com destaque para o IMP (International Management Program) e TIO (Training for International Operation), ambos da SSE (Stockholm School of Economics) e promovidos por um consórcio de empresas multinacionais, voltados à formação de executivos nas maiores economias do mundo.

Ao longo de sua trajetória profissional, Caicedo exerceu diversos cargos de liderança com abrangência internacional, notoriamente em subsidiárias do Grupo Atlas Copco, tendo encabeçado as operações em mineração da marca na Colômbia e, posteriormente, no México, até chegar ao Brasil em 2017. A partir de então, passou a liderar a transição para a nova marca, estabelecida oficialmente no ano seguinte.

Nesta entrevista exclusiva à Revista M&T, o experiente profissional discorre sobre a situação da mineração latino-americana durante a pandemia, além de apontar tendências tecnológicas e traçar perspectivas de mercado, dentre outros assuntos. “Investimos nas áreas que acreditamos ser o futuro – já bastante presente – da mineração: automação, digitalização e eletrificação”, diz ele. Acompanhe.

Mesmo com recuperação, incerteza trazida pela pandemia permanece, diz executivo

  • Até que ponto a crise sanitária afetou os resultados em 2020?

A pandemia afetou significativamente os negócios em 2020, mas conseguimos adaptar nossa forma de trabalhar, reduzir custos, priorizar a inovação, mostrar resiliência em nossa lucratividade e entregar um resultado sólido. Fizemos isso priorizando a saúde e a segurança, dando suporte aos nossos clientes nessa situação única e desafiadora.

  • Como o mercado se comporta atualmente?

A demanda se recuperou na segunda metade do ano, tanto que os pedidos globais recebidos no 4º trimestre foram de SEK 9,3 bilhões, correspondendo a 13% de crescimento orgânico em comparação ao ano anterior. No último trimestre, chegaram a SEK 9,8 bilhões, com aumento orgânico de 6%. A área de serviços teve um desempenho particularmente bom, com crescimento de 13% na receita. Isso, em combinação com a redução de custos, contribuiu para melhorar a margem operacional, com forte contribuição da área de ferramentas e acessórios. Ao longo do ano, a área de serviços mostrou resiliência, o que suportou a melhora da margem operacional para 20,4%. Assim, fechamos o ano com um sólido fluxo de caixa de SEK 7 bilhões.

  • Em geral, a mineração reagiu bem à crise?

No final de 2020, a demanda permaneceu basicamente no mesmo nível do 3º trimestre. Com poucas exceções, as operações continuaram em atividade. Obtivemos crescimento de pedidos em todos os negócios, com o melhor resultado em equipamentos e serviços. Nossas soluções de automação, digitalização e eletrificação estão em alta demanda e, cada vez mais, conectamos equipamentos a elas. Esperamos que a demanda, tanto por novos equipamentos quanto no mercado de reposição, permaneça estável no curto prazo. No entanto, a incerteza permanece em relação à covid-19 e restrições relacionadas.

  • Nesse quadro, quais são as expectativas para o mercado latino-americano?

Os mercados na região estão em linha com a demanda mundial e com a gestão das grandes mineradoras multinacionais e suas políticas globais. Todos foram impactados por desafios relacionados à segurança dos trabalhadores durante as fases mais intensas da pandemia. Mas, como grandes produtores de minérios, esses países têm vivenciado uma compensação propiciada pela tendência de alta das commodities. Além disso, na medida em que nossas soluções de automação permitem que operadores individuais comandem vários equipamentos a partir da segurança de uma sala de controle, o impacto da pandemia acelerou a percepção das vantagens desse tipo de tecnologia e sua adoção, um dos focos de investimento da Epiroc nos últimos anos.

  • Isso significa que a inovação tende a se acelerar no setor?

Certamente. Os clientes estão demonstrando maior interesse pelas soluções digitais voltadas para aumento da produtividade, por exemplo, tornando as operações mais inteligentes, bem como por equipamentos de mineração subterrânea elétricos a bateria. Isso está ligado a vantagens como redução das emissões, menos ruído e vibrações, além de redução do custo total das operações. Esse é o futuro da mineração subterrânea e do tunelamento.

  • Quais foram os avanços mais recentes nessa direção?

Nos últimos anos, a Epiroc estendeu a autonomia de suas baterias por meio de um design de alta densidade, combinado com um sistema de regeneração de energia. Além do acionamento elétrico, o projeto dos equipamentos movidos a bateria também traz inovações em mecânica, hidráulica, segurança, ergonomia, sustentabilidade e automação. A complexidade e o consumo desses sistemas são reduzidos, aumentando a segurança e permitindo que os operadores trabalhem com maior qualidade e, portanto, produtividade. Também tornamos a troca das baterias mais rápida e simplificada. No caso de carregadeiras e caminhões, essa operação pode ser feita de dez a 15 minutos, dependendo do layout da estação de carga e do ferramental disponível, pois diferentes soluções podem ser sugeridas e implementadas, de acordo com a realidade de cada aplicação.

  • Como isso pode mudar o perfil das operações?

Um equipamento elétrico a bateria permite que mineradoras reduzam despesas em diversos níveis, como custos do diesel e ventilação subterrânea, por exemplo, na medida em que o calor gerado por motores elétricos é bem menor e não existe a necessidade de remover gases. Isso permite alcançar profundidades cada vez maiores, o que normalmente não é possível com o equipamento diesel convencional. Porém, a empresa também tem sido pioneira em soluções de automação e operação remota, que contribuem igualmente para a utilização mais racional de recursos e aumento da segurança.

  • Pode citar um exemplo disso?

Recentemente, a Epiroc alcançou um recorde (registrado no Guinness World Records) ao realizar uma operação de perfuração inteiramente por controle remoto, operando uma perfuratriz no Texas a partir de Estocolmo, ou seja, a mais de 8 mil km de distância. Esse tipo de recurso amplia as possibilidades em relação à mão de obra, pois não é mais necessário que a equipe tenha disponibilidade de viagens e estadias prolongadas nos locais de perfuração.

Para Caicedo, automação, digitalização e eletrificação ditam o futuro da mineração

  • A operação autônoma pode dominar o setor no curto prazo?

Com vários projetos em desenvolvimento no mundo, a Epiroc já vem transformando a operação autônoma a grandes distâncias em realidade. Nossos sistemas de automação se integram na solução “6th Sense” (Sexto Sentido, em tradução literal do inglês), que se propõe a otimizar a cadeia de valor dos usuários, oferecendo soluções de interoperabilidade que conectam automação e sistemas de gerenciamento de informações para liberar todo o potencial de ganhos na produção, a custos operacionais mais baixos. Outro destaque na frente de digitalização é o exclusivo sistema “Mobilaris Hybrid Positioning”, utilizado para monitoramento remoto de posição e outras aplicações avançadas, como otimização do tráfego na mina e gerenciamento do fluxo de material.

  • Como esse sistema funciona?

Essa inovação baseia-se na fusão de sensores de ponta, inteligência artificial e matemática avançada, permitindo controlar a posição de um veículo com precisão de 5 a 10 m, sem qualquer infraestrutura dedicada. Também não requer hardware especializado e pode ser acessada em um tablet padrão. Com a futura implantação de redes 5G, tecnologias como essa apresentarão desempenho e integração ainda maiores. E isso será complementado pela recente aquisição, ainda em processo de aprovações regulatórias, da MineRP, desenvolvedora de softwares para integração de operações em mineração.

  • Quais novidades a empresa trouxe para a região em 2020?

Mesmo com os desafios, ampliamos a família de rompedores hidráulicos embarcados, específicos para túneis, com novas faixas de pesos operacionais e veículos portadores. Também foi ampliada a linha de tesouras demolidoras, com os novos modelos CB 5500 e CB 7500, projetados para veículos portadores na classe de 50 a 85 t de peso. Fizemos ainda o lançamento do “Hatcon”, um dispositivo de monitoramento remoto para rompedores e cortadores de tambor que controla a localização e o horário de operação. Outras novidades incluem as novas coroas tricônicas “Epsilon Premium” para perfuração, que utilizam rolamentos aerostáticos, a segunda geração da perfuratriz diamantada “Diamec Smart 6M” para sondagem subterrânea e o equipamento “DH350”, para perfuração de poços profundos. Outro lançamento foi a nova geração do “Minetruck MT65”, considerado o caminhão subterrâneo com maior capacidade de carga útil do mundo e, por fim, a plataforma “World of Epiroc”, um desenvolvimento digital acessível via web que permite ver aplicações de clientes e interagir com as diferentes soluções fornecidas.

Soluções como o dispositivo de monitoramento remoto “Hatcon” estão entre as novidades da marca

  • Quais projetos já estão no pipeline de novos produtos?

Em parceria com a Orica, iniciamos o comissionamento do protótipo do 1º sistema semiautomatizado do mundo para aplicação de explosivos. Batizado de “Avatel”, essa inovação passará por um extenso programa de testes para estar disponível já no final de 2021. Lançamos ainda o “Office TeleRemote”, nova solução para operação remota de perfuratrizes a céu aberto, que permite acessar e operar várias perfuratrizes a partir de um centro de controle dentro do escritório.

  • Também há novidades no setor de serviços?

Sim, o grande destaque recente foi o lançamento da solução “BaaS – Batteries as a Service” (Baterias como Serviço). Por meio dela, a Epiroc assume a propriedade das baterias e cuida de sua substituição e atualização, conforme necessário, o que significa que o local de trabalho fica livre de emissões e de preocupações, podendo se concentrar no aumento de produtividade.

Saiba mais:
Epiroc: www.epiroc.com/pt-br

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