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Revista M&T - Ed.81 - Fev/Mar 2004
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ENTREVISTA

Afonso Mamede: o usuário fala mais alto

Eleito presidente da Sobratema para o biênio 2004/2005, Afonso Mamede, responsável pela área de equipamentos da Construtora Norberto Odebrecht (CNO), fala nesta entrevista para a revista M&T- Manutenção & Tecnologia - das principais ações que pretende colocar em prática durante sua gestão, com base em sua experiência profissional de mais de 30 anos no segmento de equipamentos.


Revista M&T- Pela sua experiência pessoal na CNO, quais são os grandes desafios atuais na gestão de uma frota de equipamentos?

Mamede: Hoje, o desafio é a qualificação da mão-de-obra para operar e manter corretamente os equipamentos. Eles foram se sofisticando sem a contrapartida dos operadores e mantenedores. Nos grandes centros como São Paulo, ainda é possível encontrar mão-de- obra um pouco melhor, mas que também não atende adequadamente aos novos equipamentos. No interior, é praticamente impossível. Esta é uma dificuldade que só tende a crescer pois, a cada três ou quatro anos, os equipamentos ganham novos dispositivos eletrônicos para melhorar sua eficiência e produtividade.

Revista M&T: Os cursos de treinamento do Instituto Opus da Sobratema já estão bastante difundidos entre grandes empresas como a Companhia Vale do Rio Doce e a Petrobrás. Por que as construtoras, em sua maioria, ainda não “compraram “a ideia?

Mamede: O Opus passou por dois anos muito difíceis. Foi em 2002 e 2003, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso e o primeiro, de Luís Inácio Lula da Silva e empresa nenhuma treina um funcionário para ficar parado. Agora, o Opus está retomando seu papel e ganhando espaço. Estamos desenvolvendo cursos para o Exército, para empresas que operam na Bacia de Campos, para empresas de Mineração, para a VCE (Volvo Construction Eq


Eleito presidente da Sobratema para o biênio 2004/2005, Afonso Mamede, responsável pela área de equipamentos da Construtora Norberto Odebrecht (CNO), fala nesta entrevista para a revista M&T- Manutenção & Tecnologia - das principais ações que pretende colocar em prática durante sua gestão, com base em sua experiência profissional de mais de 30 anos no segmento de equipamentos.


Revista M&T- Pela sua experiência pessoal na CNO, quais são os grandes desafios atuais na gestão de uma frota de equipamentos?

Mamede: Hoje, o desafio é a qualificação da mão-de-obra para operar e manter corretamente os equipamentos. Eles foram se sofisticando sem a contrapartida dos operadores e mantenedores. Nos grandes centros como São Paulo, ainda é possível encontrar mão-de- obra um pouco melhor, mas que também não atende adequadamente aos novos equipamentos. No interior, é praticamente impossível. Esta é uma dificuldade que só tende a crescer pois, a cada três ou quatro anos, os equipamentos ganham novos dispositivos eletrônicos para melhorar sua eficiência e produtividade.

Revista M&T: Os cursos de treinamento do Instituto Opus da Sobratema já estão bastante difundidos entre grandes empresas como a Companhia Vale do Rio Doce e a Petrobrás. Por que as construtoras, em sua maioria, ainda não “compraram “a ideia?

Mamede: O Opus passou por dois anos muito difíceis. Foi em 2002 e 2003, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso e o primeiro, de Luís Inácio Lula da Silva e empresa nenhuma treina um funcionário para ficar parado. Agora, o Opus está retomando seu papel e ganhando espaço. Estamos desenvolvendo cursos para o Exército, para empresas que operam na Bacia de Campos, para empresas de Mineração, para a VCE (Volvo Construction Equipment) e ainda temos convênio com a Scania. Na Odebrecht, temos planos de iniciar esse trabalho com um grupo de jovens.

Revista M&T: De qualquer modo ainda falta uma maior conscientização do setor em relação à qualificação de pessoal?

Mamede: Sim, ainda falta. A área de guindastes é a mais conscientizada, basicamente em função do risco de acidentes e impacto que eles provocam. Quando se trata do operador de uma carregadeira ou de uma escavadeira, o foco é na melhoria da produtividade. Como já disse, o “stop and go” na área de construção é um fator que dificulta a formação de pessoal. Não havendo segurança de trabalho por um tempo razoável, normalmente não se investe em treinamento. Outro problema é que os operadores mais velhos ao serem treinados têm maior dificuldade de interagir com os sistemas eletrônicos que atualmente equipam a maioria dos equipamentos. A solução tem sido treinar jovens a partir dos 20 anos e colocá-los no banco de reserva da obra para, aos poucos, ir substituindo os antigos. Este é mais um modelo que o Instituto Opus tem disponibilizado aos usuários.

"A compra da máquina não é a única opção de mercado. Só compramos, se o mercado não oferecer ou para regulá-lo, quando o preço estiver muito alto".

Revista M&T: No passado, grande parte da frota nacional estava concentrada nas grandes construtoras, que profissionalizaram sua gestão e manutenção. Hoje, essa mesma frota está pulverizada em centenas de empresas. Como garantir que essa conquista prevaleça sobre o improviso?

Mamede: Você tem razão: o gerente de equipamentos das construtoras cuidava da manutenção e controlava máquinas que trabalhavam até vinte anos. As empresas tinham uma equipe técnica de encarregados, operadores e mecânicos que conheciam e acompanhavam os equipamentos em seu dia-a-dia e de obra em obra. Era também uma época de equipamentos importados e tínhamos muita dificuldade com as peças de reposição. Hoje é diferente. A indústria nacional supre a maioria dos equipamentos de pequeno e médio porte e, com isso, surgiu uma infinidade de empresas menores que passaram a disponibilizar esses equipamentos no mercado, diminuindo a necessidade de investimentos pelas grandes empreiteiras. Nestas empresas não costuma haver uma estrutura central e a manutenção de equipamentos é feita no campo, por encarregados de produção ou manutenção nem sempre preparados para isso. O Instituto Opus também está desenvolvendo cursos para encarregados, mas o mercado ainda não comprou essa necessidade.

Revista M&T: A cultura e know how de manutenção desenvolvidos no passado pelas grandes empresas podem ser repassados às pequenas e médias?

Mamede: Tivemos que nos adaptar aos novos tempos. A cultura anterior já não serve para o novo. Na CBPO, por exemplo, quando comecei, se fazia além da manutenção preventiva como troca de óleo e filtro, a revisão periódica dos conjuntos fechados. Acada cinco, dez, quinze ou vinte mil horas, os planos de manutenção indicavam peças e conjuntos que deveriam ser desmontados para exame independentemente do seu estado de funcionamento. Hoje a prática é outra. A tendência é utilizar a máquina em sua vida útil e revendê-la ao final, gastando-se o mínimo possível com manutenção.

“Os equipamentos se sofisticaram muito sem a contrapartida dos operadores e mantenedores.”

Revista M&T-’ A missão institucional da Sobratema é a de disseminar o conhecimento entre os profissionais de equipamentos. Preferencialmente, onde deve ser gerado esse conhecimento? Nos fóruns promovidos pela entidade ou individualmente pela experiência dos usuários e pela tecnologia desenvolvida pelos fabricantes?

Mamede: O conhecimento inicia-se na tecnologia desenvolvida pelos fabricantes, é assimilado pelo usuário e disseminado através de fóruns, revistas, seminários, etc. Na Sobratema, o foco é o de estabelecer a troca de informações, experiências e soluções, de forma que um possa ajudar ao outro. Embora poucas, ainda encontramos empresas que se preocupam em restringir informações, acreditando que isso lhes acrescenta diferencial em um mercado competitivo. Na verdade, hoje, fazer manutenção de equipamento não é diferencial competitivo, é uma necessidade de todos. Diferencial é operar bem o equipamento de forma a obter sua produção total. Esconder quem é o fornecedor de tal ou qual peça não significa nada. O importante é compartilhar as experiências.

Revista M&T: Qual o seu conceito de frota estratégica (própria) hoje, diante da grande oferta de máquinas através de leasing direto da fábrica, rental ou contratação de terceiros?

Mamede: Hoje a compra não é a única opção de mercado para se dispor de um equipamento. Só devemos investir em duas situações: se o mercado não oferecer ou se os preços de locação ou subcontratação estiverem abusivos. Existem frotas que são pequenas para o mercado brasileiro. Neste caso, qualquer aumento na demanda implica num aumento de preço. Na Odebrecht, por exemplo, atuamos com o mercado. Há cerca de um ano atrás, cotamos equipamentos para projetos futuros e recebemos um preço que foi o dobro do que praticávamos. Neste caso, optamos pela utilização de nosso parque.

Revista M&T: Como dimensionar hoje a estrutura mínima de manutenção para dar suporte a uma obra? O que deve ser assumido pela construtora e o que pode ser obtido por meio de parcerias com dealers e fornecedores?

Mamede: É preciso saber onde fica a obra e que tipo de serviços a região oferece. Na UHE Capim Branco I, que estamos executando, temos uma estrutura pequena para fazer as manutenções de rotina, enquanto intervenções maiores - na bomba, no motor - são terceirizadas. Não é o caso de uma obra na Amazônia, que certamente irá requerer um suporte maior. O dimensionamento é feito em função do local da obra. Temos obras em Angola, onde é necessário um suporte completo. É comum, nessas situações, levar os prestadores de serviço para dentro do canteiro.

Revista M&T: Quais controles não devem faltar ao gerente de frota para uma gestão eficiente?

Mamede: E importantíssimo controlar a produtividade do equipamento. Muitos deles já trazem incorporados softwares que realizam essa tarefa. Outros pontos importantes são o controle da manutenção e dos custos do equipamento.

Revista M&T: O que fazer com os equipamentos uma vez concluída a obra. Qual a melhor alternativa na desmobilização?

Mamede: O equipamento é adquirido para uma vida útil estimada que pode ocorrer em várias obras ou especificamente em uma só. Após esse planejamento, ele deve ser vendido. Quando se termina a obra, deve ser feito um balanço que indique, já no canteiro, os equipamentos em fim de vida útil que serão vendidos.

Revista M&T: Você costuma dizer que “máquina boa é máquina nova”. Como você vê o crescimento da oferta de máquinas usadas nos próprios dealers?

Mamede: Isto é verdade: “máquina boa é máquina nova”. Mas, como toda regra, tem exceção, há casos em que, sendo a utilização por um período curto, a solução é o equipamento usado. Eu diria que o mais sensato é avaliar a relação custo-benefício. Em Angola tivemos um exemplo típico em uma obra, cuja duração de 18 meses não compensava o investimento em um equipamento novo. Outro caso foi no Equador, onde também compramos usados para uma obra de 12 meses, com um custo 60% menor.

Revista M&T: O roubo de equipamentos tem se acentuado nos últimos anos. Como você lida com esse problema?

Mamede: Quando se aluga uma máquina, a primeira providência deve ser a de pedir um documento de propriedade do equipamento. Como tem havido muito roubo, é importante a solicitação da nota fiscal de aquisição. Na Odebrecht, além das máquinas terem seguro, não temos tido problemas de roubo porque, em geral, nossas obras são em canteiros fechados. Quando o canteiro é aberto, caso de estradas por exemplo, confinamos os equipamentos ao final do dia.

“A cultura anterior já não atende. Na CBPO, quando comecei, se fazia manutenção preventiva com troca de componentes a intervalos regulares.”

Revista M&T: Você já anunciou as Câmaras Setoriais como uma das novidades que pretende implantar na Sobratema. Qual o objetivo dessas câmaras e como elas funcionarão?

Mamede: O objetivo principal com a criação das Câmaras Setoriais na Sobratema é o de conhecer o setor. Isso significa, num primeiro momento, cadastrar a frota de equipamentos dos associados e, a partir daí, agrupar os usuários afins para discutir problemas e soluções. Não há ainda uma definição de quais seriam essas Câmaras Setoriais, mas é claro que cada uma estará voltada para o conjunto de características de cada máquina. E evidente que caberá ao associado da Sobratema definir o momento oportuno de criar estas câmaras. Estamos colocando o assunto para o associado. Já tivemos uma primeira reunião com nove empresas, onde cada uma colocou sua opinião. No início, devemos abrir uma ou duas câmaras e depois iremos evoluindo para as demais.

Revista M&T: O que deve ser revisto durante sua gestão na tradicional programação de congresso e seminários da Sobratema?

Mamede: Devemos rever o congresso anual. Já tivemos congresso com 700 participantes e outros com menor número. Trataremos desse assunto com muita atenção, por ser um evento importante principalmente nos anos em que não ocorre a M&T Expo. Além dele, estaremos organizando seminários, em função das necessidades dos nossos associados. São eles que darão a palavra final.

Revista M&T: A M&T EXPO já está consolidada como a grande vitrine do setor. Quais os seus planos em relação à próxima edição do evento, em 2005? Quais os avanços possíveis?

Mamede: Já estamos tratando da próxima feira. Temos uma expectativa bastante positiva e estamos em negociações finais para que ela aconteça em maio de 2006. Essa data no primeiro semestre do ano atende a várias solicitações que recebemos dos usuários.

Revista M&T: Como um dos fundadores da Sobratema há 15 anos atrás, qual a sua principal motivação para assumir hoje o desafio de um novo mandato à frente da entidade?

Mamede: O desafio é a sensibilização do associado para que, juntos, possamos criar a sinergia necessária à superação das dificuldades comuns. Operação eficaz, manutenção correta, prestadores de serviços identificados e peças e componentes disponíveis são ferramentas de que todos necessitamos. E é a boa utilização dessas ferramentas que diferenciará cada empresa.

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