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Revista M&T - Ed.264 - Junho 2022
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A ERA DAS MÁQUINAS

A construção da hidrelétrica das Três Gargantas

A construção se iniciou em 1992, envolta em grande polêmica devido ao seu imenso impacto ambiental
Por Norwil Veloso


As eclusas de cinco níveis em construção, no início dos anos 90

Construída no Rio Yang-tsé, o maior da China, a Usina Hidrelétrica das Três Gargantas tem como funções a prevenção de enchentes, a geração de energia e a melhoria do transporte fluvial.

A ideia original de uma grande barragem nesse local coube a Sun Yat-sen, em 1919. Em 1932, o governo nacionalista de Chiang Kai-shek iniciou os trabalhos preliminares, mas a ocupação japonesa em 1939 levou a um novo levantamento, o Plano de Otani, abortado após a derrota dos japoneses.

Em 1945, o Bureau of Reclamation dos Estados Unidos, com apoio da comissão do Vale do Tennessee, elaborou uma proposta para o projeto e enviou 54 engenheiros chineses para treinamento nos Estados Unidos. As explorações preliminares, ao lado de estudos econômicos e trabalhos de design, foram então iniciados, mas tiveram de ser interrompidos em 1947, dessa vez devido à Guerra Civil Chinesa.

A vitória dos comunistas reabriu a questão, chegando-se à solução definitiva após muita discussão e a despeito da postura dos Estados Unidos nos governos Carter e seguintes, contrária ao projeto, invocando razões ambientais e questões referentes a grandes obras.

A participação do Bureau of Reclamation foi encerrada em 1993, sob a alegação que não era consistente com os propósitos da entidade, enquanto as grandes empresas americanas (como Atkinson e Bechtel) se limitaram a serviços de consultoria, auditoria e supervisão da empreitada.

PROJETO

O projeto final compreendeu uma barragem de gravidade com altura de 181 m e comprimento de 2,331 m. O vertedouro é o maior do mundo em vazão, com 110.000 m3/s, similar à de Tucuruí.

Mesmo com a falta de apoio bancário, a Caterpillar vendeu US$ 15 milhões de equipamentos para o consórcio chinês responsável pela obra. Já a CS Johnson entregou quatro centra



As eclusas de cinco níveis em construção, no início dos anos 90

Construída no Rio Yang-tsé, o maior da China, a Usina Hidrelétrica das Três Gargantas tem como funções a prevenção de enchentes, a geração de energia e a melhoria do transporte fluvial.

A ideia original de uma grande barragem nesse local coube a Sun Yat-sen, em 1919. Em 1932, o governo nacionalista de Chiang Kai-shek iniciou os trabalhos preliminares, mas a ocupação japonesa em 1939 levou a um novo levantamento, o Plano de Otani, abortado após a derrota dos japoneses.

Em 1945, o Bureau of Reclamation dos Estados Unidos, com apoio da comissão do Vale do Tennessee, elaborou uma proposta para o projeto e enviou 54 engenheiros chineses para treinamento nos Estados Unidos. As explorações preliminares, ao lado de estudos econômicos e trabalhos de design, foram então iniciados, mas tiveram de ser interrompidos em 1947, dessa vez devido à Guerra Civil Chinesa.

A vitória dos comunistas reabriu a questão, chegando-se à solução definitiva após muita discussão e a despeito da postura dos Estados Unidos nos governos Carter e seguintes, contrária ao projeto, invocando razões ambientais e questões referentes a grandes obras.

A participação do Bureau of Reclamation foi encerrada em 1993, sob a alegação que não era consistente com os propósitos da entidade, enquanto as grandes empresas americanas (como Atkinson e Bechtel) se limitaram a serviços de consultoria, auditoria e supervisão da empreitada.

PROJETO

O projeto final compreendeu uma barragem de gravidade com altura de 181 m e comprimento de 2,331 m. O vertedouro é o maior do mundo em vazão, com 110.000 m3/s, similar à de Tucuruí.

Mesmo com a falta de apoio bancário, a Caterpillar vendeu US$ 15 milhões de equipamentos para o consórcio chinês responsável pela obra. Já a CS Johnson entregou quatro centrais dosadoras de concreto de grande porte e a ITT forneceu 48 bombas para poços profundos, utilizadas no sistema de elevação de embarcações.

Por sua vez, a Rotec Industries forneceu guindastes e transportadores de concreto, além de outros equipamentos, totalizando US$ 80 milhões em equipamentos.

Um dos grandes problemas a serem resolvidos no projeto era o da navegação, uma vez que a barragem fica no rio mais movimentado da Ásia, por onde passam cerca de 170 navios por dia. Para possibilitar esse transporte, foi projetada a maior eclusa do mundo, composta por cinco estágios de elevação, da base até o coroamento da barragem.

Esse processo leva cerca de 4 horas, um tempo aceitável para navios de carga, mas inviável para viagens de passageiros. Para resolver esse problema, criou-se um segundo sistema de elevação de barcos, formado por uma estrutura de concreto que utiliza um sistema de contrapesos e reduz o tempo para cerca de 40 minutos.

Os blocos de concreto são conectados por cabos à vala de aço, que carrega o navio e a água onde ele flutua. À medida que os contrapesos descem, vão elevando a vala e o navio até o topo. Esse sistema tem 113 m de altura e capacidade para elevar embarcações de até 3 mil toneladas, sendo o maior do mundo já construído.

CONSTRUÇÃO

A construção finalmente se iniciou em 1992, envolta em grande polêmica devido ao seu imenso impacto ambiental. O reservatório começou a encher em 2005 e, em 2006, foi construída a segunda represa provisória. Na mesma época, a eclusa e o primeiro grupo de geradores entraram em funcionamento.

Até o final de 2004, já haviam sido instaladas quatro turbinas, enquanto outras 22 foram instaladas até o final de 2009, atingindo a capacidade instalada de 18.200 MW, superior inclusive à de Itaipu (todavia, a hidrologia do Rio Paraná, mais favorável que a do Yang-tsé, faz com que a geração real de Itaipu seja maior).

Durante a construção, foi dada grande ênfase ao controle de qualidade, que compreendeu diversos níveis. Inicialmente, uma autoavaliação foi realizada pelas próprias construtoras, seguida por empresas de supervisão. Em seguida, uma empresa ligada à contratante verificava os resultados, cujas informações eram passadas para três centros técnicos e uma comissão de controle. Foram colocados quase 300 supervisores na atividade, em cobertura de 24 horas.


Esquema mostra dimensões e estruturas do elevador fluvial da hidrelétrica, o maior do mundo já construído

Havia ainda quatro auditorias chinesas de porte e empresas internacionais como Electricité de France, Bureau Veritas, Spie e Harza atuando no projeto.

Diversas empresas brasileiras também participaram, tendo em vista sua experiência em obras como Itaipu e Tucuruí. Entre elas, podem ser citadas a Sade-Vigesa, fornecedora de componentes para o consórcio GE Canadá-Siemens-Voith, responsável pelo suprimento de turbinas e geradores, e a GEC Alstom Mecânica Pesada, que produziu equipamentos para o consórcio ABB-GEC-Alstom. Parte das turbinas foi produzida no Brasil pela Voith (6 unidades) e pela Alstom (6 unidades), sendo que essas empresas também participam de um processo de transferência de tecnologia para produção de componentes na China.

Os financiamentos dos bancos americanos foram sistematicamente negados às empresas solicitantes, o que levou a um aumento da participação europeia no fornecimento, tanto dos equipamentos de construção quanto de instalação definitiva.

Participaram do projeto empresas do porte de Potain, Krupp Fordertechnik, Mannesmann Demag, Siemens, Baur, Mitsubishi, NKK, Terex, Asea Brown Boveri, Harza e outras, além das citadas.

PROBLEMAS

O lago da barragem se estende por 563 km ao longo do rio, com uma largura média pouco acima de 1,5 km. Durante a construção, mais de mil cidades e aldeias foram inundadas, com desalojamento total de 1,3 milhão de pessoas. Ademais, o reassentamento é um problema social que perdura até hoje.


Imagem mostra a construção da casa de força da barragem da hidrelétrica degravidade das Três Gargantas, uma incrível obra de engenharia com 181 metros de altura

Além disso, há questões ambientais que ainda estão sendo levantadas, referentes ao risco de terremotos devido à proximidade de duas falhas geológicas, a deslizamentos das margens devido ao movimento vertical das águas do lago ao longo do ano e ao aumento da poluição das águas devido à redução da velocidade da correnteza, que aumenta a precipitação de poluentes, já que são despejadas mais 1,25 bilhões de toneladas de esgotos por ano no leito do rio.

Como o rio é um fornecedor de água potável, esse também é um problema grave. Por outro lado, a barragem tornou possível o controle das enormes inundações que ocorriam a jusante na estação chuvosa, o que também era extremamente sério.

Leia na próxima edição:
O transporte de material escavado nos anos 70

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