Revista M&T - Ed.20 - Nov/Dez 1993
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SOBRATEMA

VI SEMINÁRIO SOBRATEMA

A SOBRATEMA fechou a sua programação de eventos em 1993 com o VI Seminário, realizado nas dependências da Caterpillar, em Piracicaba, interior de São Paulo. Foram três palestrantes: o jornalista de economia Celso Ming e os engenheiros Walter De Castro e Afonso Celso Mamede. Manutenção & Tecnologia acompanhou o evento e conta o que aconteceu em mais uma promoção de sucesso da SOBRATEMA.

Um painel de atualidade política e econômica e ainda a importância da informatização e a troca de experiências em manutenção de máquinas foram os assuntos do VI Seminário SOBRATEMA, realizado nos dias 21 e 22 de outubro, em Piracicaba. O programa de palestras foi desenvolvido pelo jornalista e comentarista econômico Celso Ming (política e economia), pelo engenheiro Walter De Castro (informatização) e pelo engenheiro Afonso Celso Mamede, gerente de equipamentos da CBPO e diretor de comunicações da SOBRATEMA.

O evento, realizado pela SOBRATEMA e com patrocín


A SOBRATEMA fechou a sua programação de eventos em 1993 com o VI Seminário, realizado nas dependências da Caterpillar, em Piracicaba, interior de São Paulo. Foram três palestrantes: o jornalista de economia Celso Ming e os engenheiros Walter De Castro e Afonso Celso Mamede. Manutenção & Tecnologia acompanhou o evento e conta o que aconteceu em mais uma promoção de sucesso da SOBRATEMA.

Um painel de atualidade política e econômica e ainda a importância da informatização e a troca de experiências em manutenção de máquinas foram os assuntos do VI Seminário SOBRATEMA, realizado nos dias 21 e 22 de outubro, em Piracicaba. O programa de palestras foi desenvolvido pelo jornalista e comentarista econômico Celso Ming (política e economia), pelo engenheiro Walter De Castro (informatização) e pelo engenheiro Afonso Celso Mamede, gerente de equipamentos da CBPO e diretor de comunicações da SOBRATEMA.

O evento, realizado pela SOBRATEMA e com patrocínio da Caterpillar, reuniu dezenas de associados da entidade, das mais diversas regiões do País. Em clima de cordialidade, os participantes uniram o útil ao agradável, dividindo as palestras com uma descontraída reunião social, bem ao gosto dos objetivos que orientaram a criação da SOBRATEMA. “O objetivo básico foi a troca de experiências e informações em um ambiente de calor humano entre homens que estão interligados pela atividade", observou o engenheiro Afonso Celso Mamede. após sua palestra, que encerrou o seminário. O encontro começou na noite de quinta-feira, com um coquetel seguido de jantar.
O seminário, propriamente dito, o- correu no dia seguinte, no auditório do SESC de Piracicaba.
Na abertura, Roberto Ferreira, secretário-executivo da SOBRATEMA, deu as boas-vindas aos participantes, enfatizando que "esta audiência, em bom número, atesta, o sucesso da SOBRATEMA". Falando em nome da Caterpillar, Francisco Paschoal, diretor comercial da patrocinadora, referiu-se ao encontro como "uma excelente oportunidade para rever amigos e discutir assuntos relevantes sobre equipamentos e novas técnicas de manutenção".
Cenário Político
A primeira palestra do dia despertou muito interesse e avivou as discussões em torno do cenário político que se avizinha com as eleições gerais previstas para 1994. Naquela oportunidade, serão escolhidos Presidente, governadores, 2/3 do senado, deputados federais e estaduais. "Estamos em um momento crucial, mas vejo boas perspectivas para sairmos do fundo do poço”, observou o analista.
Celso Ming lembrou que o reordenamento das empresas em busca da competitividade está valorizando as atividades técnicas, como a manutenção, que vinham perdendo terreno - nos últimos anos de crise - para o setor financeiro.

“Com a escalada da inflação, os setores financeiros trabalhavam como bancos. Hoje foi recuperado o conceito de lucro operacional, através do aumento de desempenho e redução de custos”, indicou.
“Hoje, se existe crise, ela não está no setor privado”, resumiu o jornalista ao iniciar um panorama da crise econômica, que se agravou a partir de 1982, durante a ortodoxia de Delfim Neto e se ampliou nos planos Cruzado, Verão, Bresser, Collor 1 e Collor 2. Para Celso Ming, a crise se divide, hoje, em dois setores. Um é a crise do financiamento do setor público, ás voltas com o crônico déficit de orçamento. O outro é a falta de financiamento para o desenvolvimento.
Nesse quadro, um dos problemas mais graves do País, hoje, seria a sonegação de impostos. “Para cada cruzeiro arrecadado, existe 1,2 que não o é”, exemplificou Celso Ming. Além disso, 40% da atividade econômica estaria funcionando na clandestinidade, na chamada economia informal. Sem conseguir arrecadar, o governo se vê amarrado pela realidade: 98% do orçamento está comprometido com despesas que não podem mais ser comprimidas ou adiadas e 60% se referem às despesas com funcionalismo. O buraco hoje, indicou, é de US$ 25 bilhões, que possivelmente serão cobertos das formas tradicionais como emissão de moeda (inflação), calote e aumento de impostos. “No Brasil se costuma achar que inflação é quando os preços sobem. Isso é como estar em um trem e achar que a paisagem é que se move. Na verdade, na inflação o dinheiro é que perde o valor”.
O analista comentou também o efeito perverso dos sucessivos planos, “que alteraram as regras no meio do jogo, gerando instabilidade e perda de credibilidade". Para depois concluir que, hoje, o principal entrave Dara a solução do problema econômico é a questão política, que tem uma chance de ser resolvida a partir da revisão constitucional e das eleições de 1994. “As questões do Estado devem ser resolvidas, em sua maior parte, pela revisão constitucional”, alertou. Em discussão estarão questões delicadas e importantes como aposentadoria e previdência, impostos, saúde, ensino, privatização e abertura ao capital estrangeiro. No mesmo cenário de mudanças desencadeado a partir do processo de "impeachment" do presidente Collor, a partir da descoberta do esquema PC, a questão ética ganha novo rumo com o escândalo do orçamento no Congresso.
Apesar de todos os problemas, Celso Ming acha que as condições parecem boas para uma virada na situação a partir do ano que vem. Para ele, a atual equipe econômica se mostra firme no propósito de não reeditar “as mágicas do passado”. Mas admite a necessidade de uma medida mais dura como a adoção de uma âncora cambial, que classificou de “quebra-galho” provisório. “Pela primeira vez existe uma consciência dos problemas”.
Para o jornalista, políticos de todas as tendências temem a hiperinflação. E previu a polarização da campanha presidencial, em torno do tema, entre três tendências: o PT de Lula, que surge com 25% das intenções de voto hoje; a direita, onde começa a despontar a estrela do senador Jarbas Passarinho, presidente da CPI do Orçamento; e o centro com Fernando Henrique, Ciro Gomes ou Tasso Jereissati. “Qualquer coisa que venha, a solução não será muito diferente”, concluiu.
Para ele, o Brasil terá de acompanhar a tendência mundial de organização em blocos econômicos, seguindo os modelos do Mercado Comum Europeu e outros. O fim do protecionismo estatal será benéfico às empresas. “As empresas estão redescobrindo que o meio mais prático de estabelecer preço é a oferta e procura”. E deixou uma mensagem otimista: “acho que mesmo se cairmos, na pior hipótese, em uma hiperinflação, estamos prestes a dar um pulo do gato para uma nova sociedade. Pior, agora, é não acontecer nada”, encerrou Celso Ming, responsável por um dos mais respeitáveis cadernos de economia e serviços do País.
Informática
A importância da informatização no auxílio à manutenção e as dificuldades de implantação de um sistema informatizado foram os temas do engenheiro Walter De Castro Barros, especialista no assunto e diretor da Translog Consultoria e Engenharia de Sistemas. Responsável por artigo publicado na edição de julho/agosto da revista Manutenção & Tecnologia. De Castro ampliou suas considerações nos aspectos práticos da decisão. “Nossa ideia foi falar dessa zona cinzenta, dos riscos e problemas existentes na implantação”, explicou Walter De Castro. “A palestra pôde alertar para os problemas que o interessado vai encontrar e quais as vantagens”.
Por que informatizar? “Informação é a palavra-chave em manutenção”, responde o engenheiro. Segundo ele, com ela se consegue massa de dados, tempo de processamento, resposta em tempo hábil, informações em tempo real, monitoramento e menor custo. Os produtos gerados por um sistema bem implantado são os mais úteis e diversos. Como exemplo: planilha de manutenção, programa de manutenção, controle de serviços pendentes, administração de O.S., administração de mão-de-obra, estatística de defeitos, análise de tendências, estatística de peças, estatística de controle (disponibilidade, ferramentas, literaturas), análises, dimensionamento do quadro de pessoal e dimensionamento de oficinas.
Em um alerta, Walter De Castro lembrou que a fase mais crítica é a instalação. “O gerente de manutenção, em princípio o maior interessado no sucesso do sistema, tem de ser um líder natural da equipe, responsável pela implantação. Desde o início do projeto deve assumir o papel de treinador de uma equipe formada para ser vencedora”, observou.
Ao mesmo tempo, comentou que é preciso saber incentivar e premiar o grupo. “O gerente é o único responsável pelo resultado final do projeto, mas deve saber repartir tarefas, delegando-as a pessoas capazes e lhes dando a autonomia necessária". E embora tenha a responsabilidade pelo resultado, “a conquista do sucesso é da equipe e isto deve ser reconhecido e recompensado pelo gerente”.
“A falta de objetivos empresariais com estratégias de longo prazo sobre o que, quando e onde informatizar, a cultura desatualizada de recursos humanos, o medo do desconhecido e a restrição às inovações têm sido os principais obstáculos à implantação de sistemas informatizados”, observou Walter De Castro.
A inexistência de uma cultura em informática e a imagem distorcida de que "informática é um problema”, devido a experiências negativas do passado ou uso do processamento de dados por vaidade gerencial ou item promocional voltado para planilhas e agendas eletrônicas ou, ainda, contabilidade e folha de pagamentos, podem surgir como obstáculos naturais à implantação do projeto.
Em outras empresas, comentou, o problema é o isolamento do CPD, tratado como “monstro sagrado". Na fase de implantação tem ainda importância decisiva a formação da equipe de desenvolvimento e a definição e especificações do projeto. “Recursos materiais como CPU, unidades de armazenamento de dados, terminais, redes, "softs", impressoras, instalações físicas e outros, por si só, já representam um investimento vultoso que assusta o empresário. Se não planejados adequadamente geram desperdícios que podem atingir valores desastrosos”, apontou.
Por fim, Walter De Castro deu conselhos sobre como convencer a alta administração da empresa a investir na informática para a manutenção. “A informática é um produto novo no ambiente empresarial e como tal deve ser vendido", recomenda. O resumo da estratégia de convencimento é o seguinte:
- faça um portfólio do produto, descrevendo o que o sistema fará, como será a coleta e entrada de identifique o “público-alvo”; as pessoas da administração que devem ser trabalhadas e promova ideias compatíveis com a cultura da empresa, como segurança, qualidade e modernização;
- busque aliados na administração e faça de um deles “o pai da ideia”;
- descreva os benefícios do sistema, dando ênfase ao aumento da disponibilidade de equipamentos, redução dos custos de manutenção, redução de custos de estoques e administrativos, velocidade nas respostas e decisões técnicas;
- não deixe de mostrar os riscos de um sistema mal adequado e mal implantado; identifique possíveis despesas inesperadas, mas mostre como será o gerenciamento de implantação para redução de riscos;
- mostre confiança, determinação e entusiasmo;
- mostre, claramente, o custo de implantação e como vai ser controlado, solicite autonomia e recursos necessários, negocie. Saiba ceder, sem prejudicar a integridade do projeto, para conseguir o fundamental e comprometa-se com o resultado.
Alerta
A palestra de encerramento do VI Seminário, a cargo do engenheiro Afonso Mamede, da CBPO, versou sobre o tema “Gerência de equipamentos: faça o mínimo e obtenha o máximo”, e soou como um alerta para todos os que trabalham com manutenção. A mensagem pode ser resumida assim: manutenção é importante, mas deve estar integrada aos objetivos da empresa.
Mamede pediu a ajuda dos profissionais presentes para traçar um quadro da evolução dos trabalhos de manutenção desde os tempos do “Milagre Econômico", dos anos 70 até hoje. Naquela época, grandes obras pediam grandes máquinas.

Equipamentos de grande porte eram o sonho dos frotistas; grandes empresas optavam por fazer a própria manutenção. "Tempo era ouro e o objetivo era fazer o equipamento rodar 24 horas por dia". No panorama nacional havia em- pregos, bons salários, não havia AIDS e, no futebol, o Brasil era tricampeão.
A segunda parte da história começou no início dos anos 80, "quando a coisa começou a ficar feia”. A crise econômica começava a se instalar no País. O Governo cortou investimentos e, assim, acabaram-se as grandes obras. A internacionalização surge como alternativa. Mas a alta disponibilidade de equipamentos - advinda da ociosidade -, provoca a reviravolta no mercado: a manutenção começa a perder sofisticação; já não existe a necessidade de uso intensivo dos equipamentos.
Na segunda metade dos anos 80, as empresas estão se adaptando. O quadro geral é marcado pela pulverização de obras e surge a necessidade de investimentos em equipamentos menores, mais adequados ao novo perfil das pequenas obras. O custo horário dos equipamentos precisa tornar-se mais barato face à concorrência, acirrada. Grandes empresas começam a se desfazer de suas frotas. Aumenta, no mercado, a oferta de serviços de manutenção.
Pequenas e médias empresas começam a oferecer qualidade, prazo e preços, ou seja, mais e mais serviços, cada vez mais rápidos e baratos.
Nessa fase inicia-se o questionamento da administração de manutenção. Conclusão: manutenção é atividade-meio. “Não há manutenção sem empresa: o que mantém a empresa viva são as vendas e são elas que sustentam a manutenção”, indica Mamede.
Em qualquer atividade seja ela mineração, construção civil, indústria, agricultura, a manutenção precisa servir à atividade-fim da empresa que é ter clientes satisfeitos. “É fundamental não perder a visão do todo e evitar as disputas internas", alertou.

Para finalizar, Afonso Mamede deu uma visão das tendências atuais da manutenção, onde a gerência de manutenção começa a se transformar em gerência de equipamentos, que tem seus objetivos orientados por princípios básicos:
- dimensionar equipamentos adequados à produção com qualidade e a preços menores;
- fazer o estudo de custo/benefício para estabelecer se o equipamento dimensionado deve ser próprio;
- o importante é a disponibilidade e não a posse;
- em caso de equipamento próprio, definir-se entre a manutenção própria e manutenção de terceiros;
- equipamento pode ser alugado/subcontratado/terceirizado.
Nos anos 90, com mercado local reduzido a sua expressão mais simples, as empresas buscam alternativas. “A interação dos mercados interno e externo passa a ser uma boa solução. Pequenas empresas se consorciam com em- presas estrangeiras para competir no mercado exterior. No plano científico da manutenção, o desafio, hoje, é a atualização dos profissionais em face das novidades que surgem com a eletrônica em- barcada que acompanha os novos lançamentos.", disse, ao encerrar.
“O nosso objetivo foi despertar o setor para a realidade das tendências atuais”, explicou depois, Mamede, satisfeito com os resultados do VI Seminário SOBRATEMA.
“Acho que a gente vem avançando. Este evento é uma evolução. Isto que estamos falando não é novidade lá fora. Os objetivos básicos de troca de experiências e informações, além do calor humano, estão sendo alcançados pela SOBRATEMA", finalizou.

Fernando Barbosa, especial para M&T.

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