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Revista M&T - Ed.206 - Outubro 2016
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Treinamento

Segurança como valor

Mobilizando fabricantes e entidades, setor de equipamentos para construção prioriza tecnologias e treinamentos para garantir a segurança operacional no manuseio das máquinas
Por Luciana Duarte

Nos últimos anos, a oferta de tecnologias embarcadas e qualificação operacional tornou-se um dos principais diferenciais para quem quer obter (ou manter) um lugar ao sol no concorrido mercado de equipamentos para construção. Fator chave para amortização do consumo de combustíveis fósseis, redução do impacto ambiental e aumento da produtividade, o avanço da tecnologia também teve um impacto significativo na capacitação de operadores e na segurança, áreas cada vez mais embasadas em sistemas tão complexos quanto confiáveis, capazes de minimizar as ocorrências de acidentes e falhas humanas nas obras de construção pesada.

Em tal contexto, não tardou para que muitas fabricantes e entidades associadas do setor sentissem a pressão da sociedade por investimentos diretos nessas áreas, aliando o desenvolvimento de soluções técnicas a novos serviços, programas e iniciativas que garantam que o fator humano caminhe pari passu com as máquinas. Até porque, em termos de tecnologia, o avanço tem sido realmente espetacular.

A Manitowoc é um bom exemplo disso. Reconhecida


Nos últimos anos, a oferta de tecnologias embarcadas e qualificação operacional tornou-se um dos principais diferenciais para quem quer obter (ou manter) um lugar ao sol no concorrido mercado de equipamentos para construção. Fator chave para amortização do consumo de combustíveis fósseis, redução do impacto ambiental e aumento da produtividade, o avanço da tecnologia também teve um impacto significativo na capacitação de operadores e na segurança, áreas cada vez mais embasadas em sistemas tão complexos quanto confiáveis, capazes de minimizar as ocorrências de acidentes e falhas humanas nas obras de construção pesada.

Em tal contexto, não tardou para que muitas fabricantes e entidades associadas do setor sentissem a pressão da sociedade por investimentos diretos nessas áreas, aliando o desenvolvimento de soluções técnicas a novos serviços, programas e iniciativas que garantam que o fator humano caminhe pari passu com as máquinas. Até porque, em termos de tecnologia, o avanço tem sido realmente espetacular.

A Manitowoc é um bom exemplo disso. Reconhecida como marca inovadora no segmento de guindastes, a empresa sediada no estado norte-americano de Wisconsin encara a segurança como prioridade em suas atividades. No âmbito tecnológico, um dos recursos mais avançados implantados recentemente pela empresa atende pelo nome de CCS (Crane Computer System) – ou sistema de controle informatizado de guindaste.

Segundo Leandro Nilo de Moura, gerente de marketing na empresa, o sistema permite que o operador visualize cada etapa do trabalho em uma tela, o que permite configurar a máquina de modo a assegurar condições perfeitas de operação. “Essa tecnologia segue padrões internacionais e, independentemente do tipo de guindaste, oferece facilidades para que o operador aprenda a manusear a máquina de maneira mais segura, resultando também em maior eficiência”, destaca.

O executivo explica que o sistema permite personalizações, incluindo a sensibilidade dos controles. Dessa forma, o operador sente-se confortável com os instrumentos, mantendo o foco na operação. “Este sistema tornou-se tão importante que todos os modelos de guindastes lançados pela marca nos últimos anos já vêm de fábrica com ele embarcado”, enfatiza Moura.

Como ocorre nas demais áreas, a união de esforços também viabiliza o avanço da indústria nesse quesito. Para oferecer avançadas tecnologias em robótica e ferramentas mais eficientes para o planejamento de operações, a Manitowoc atua como consultora em um importante projeto de pesquisa tocado pela National Science Foundation (NSF), agência governamental independente dos EUA.

O projeto envolve outras entidades norte-americanas como a Associação dos Fabricantes de Equipamentos (AEM), o grupo de companhias da High Industries, a Universidade de Illinois Urbana-Champaign e a Universidade da Pensilvânia, que no momento desenvolve um novo mecanismo CPS (Cyber-Physical System, ou Sistema Ciber-Físico, integrando computação, networking e processos) para equipamentos de construção. No médio prazo, a expectativa da Manitowoc neste projeto é tornar viável o uso de tecnologias avançadas de computação como forma de superar o risco de instabilidade, colisões e sobrecarga estrutural dos guindastes, por exemplo.

CICLO FECHADO

Como se vê, a tecnologia avançada já é realidade no setor. Na outra ponta, a oferta de cursos posteriores à entrega técnica do produto tem sido um passo cada vez mais recorrente nas estratégias das empresas. Quem vai utilizar uma solução da Manitowoc, por exemplo, precisa obrigatoriamente realizar um curso e receber certificado antes de ligar o equipamento. “É um ciclo fechado operador-máquina-manutenção, que garante tanto a capacidade do operador como o funcionamento correto da máquina”, diz Moura, complementando que os cursos podem incluir o uso de simuladores e as próprias máquinas, tanto na sede da fabricante como nas instalações dos usuários.

A escolha do local fica a critério do cliente. “O importante é disseminar o conhecimento e, para isso, disponibilizamos materiais ilustrativos que facilitam a assimilação de novas tecnologias”, frisa o especialista. “Diversos programas de computador, como 3DLiftPlan e CraniMax, são usados para apoiar o processo de planejamento e apoiar a segurança.”

E a tendência se alastra. Nos últimos anos, a igualmente norte-americana Terex Corporation incorporou uma extensa lista de recursos em seus equipamentos, que exigiram treinamentos específicos para operar os produtos. “Nosso simulador Simulift de operação de guindastes ajuda o instrutor a ministrar treinamento de alto nível, acompanhando o progresso dos alunos individualmente e economizando tempo e dinheiro”, garante Ricardo Beilke Neto, gerente de serviços da Terex para a América Latina. “Além de ensinar a trabalhar com mais segurança, eficiência e economia, é possível adequá-lo às características de cada tipo de equipamento. Tudo isso ajuda a reduzir os custos operacionais e de manutenção.”

Boa parte dos cursos da Terex é focada em manutenção e diagnóstico. Dividida por linhas de produtos, a carga horária média gira em torno de 40 horas. Os treinamentos mais solicitados são para modelos RT (Rough Terrain) e AT (All Terrain). “Os cursos focados em operação e segurança passam por aspectos físicos e matemáticos básicos relacionados ao uso de guindastes e elevação de carga, indo até conceitos mais sofisticados, imprescindíveis à atividade”, destaca Neto.

GANHOS REAIS

Do outro lado do Atlântico também há exemplos ilustrativos de como tecnologia e treinamento se completam. Com foco em segurança operacional e ergonomia, a alemã Liebherr busca oferecer tecnologias aliadas ao conforto e segurança do operador. Dentre os recursos que a marca desenvolveu em anos recentes estão sensores, protetores, válvulas de segurança e limitadores de velocidade.

A recém-lançada linha de manipuladores de materiais, por exemplo, utiliza válvulas de segurança montadas no cilindro hidráulico da lança. Assim como nas escavadeiras, em caso de ruptura das mangueiras a tecnologia impede que o implemento caia abruptamente, enquanto o sensor de limite do braço impede que a garra atinja a cabine de operação. “Oferecemos os dispositivos de segurança obrigatórios, determinados pelas normas internacionais vigentes, principalmente a EN 13000, além de novidades tecnológicas que, dentro do seu conceito, criam uma vantagem adicional ao produto”, destaca Cesar Schmidt, gerente comercial da empresa.

Outra novidade recente é o sistema VarioBase para guindastes, que reforça o posicionamento da marca no segmento. A tecnologia permite que as patolas sejam abertas em raios diferentes e, dependendo da abertura, uma tabela de carga específica é criada automaticamente pelo sistema de controle computadorizado Liccon. “Assim, o operador pode trabalhar com toda a segurança em aberturas parciais ou assimétricas das patolas, obtendo ganhos reais na capacidade de carga”, enfatiza Schmidt.

Como na Manitowoc, na Liebherr o foco na inovação está aliado à capacitação, que se tornou uma preocupação permanente no desenvolvimento das linhas de equipamentos e na atuação da marca. No Centro de Treinamento (CET) de Guaratinguetá (SP), por exemplo, a segurança operacional está inserida no conteúdo programático de todos os treinamentos oferecido em oito salas equipadas com materiais de ponta e simuladores de última geração.

O objetivo, como destaca o gerente, é ensinar teoria e prática aos operadores, demonstrando como os recursos devem ser utilizados para garantir segurança à operação. “Oferecemos uma estrutura profissional com todos os recursos tecnológicos necessários para assegurar um excelente aproveitamento do conteúdo dos programas”, comenta Schmidt. “Além de simuladores, o CET dispõe de um guindaste específico para utilização nos cursos, viabilizando a oferta de vários tipos de treinamentos práticos, que abrangem os mecanismos de segurança contidos em cada sistema das máquinas, sejam mecânicos, hidráulicos ou eletroeletrônicos.”

CUSTO X INVESTIMENTO

Pelo viés dos fabricantes, o caminho está dado. Contudo, o assunto é tão central que merece maior mobilização do setor. Até porque, como enfatiza o consultor Wilson de Mello Jr., os diversos treinamentos oferecidos por fabricantes e dealers são importantes, mas “ainda não atendem plenamente à necessidade do mercado”.

Normalmente, ele argumenta, os cursos abrangem tipos específicos de equipamentos, sendo que, em alguns casos, podem-se encontrar cursos mais genéricos de manutenção. “Nesse sentido, a primeira medida recomendável seria a padronização dos conteúdos programáticos e cargas horárias, de modo a garantir uma uniformidade na formação dos profissionais”, recomenda Mello. “Além disso, organismos internacionais realizam cursos de formação com duração de 80 a 240 horas, enquanto no Brasil temos cursos de 8 horas. É impossível formar um profissional de forma adequada em tão curto espaço de tempo.”

Não obstante, Mello defende que a responsabilidade de capacitação é do próprio profissional, e não do empregador. “Não posso delegar ao empregador a evolução de minha carreira”, sentencia. Opinião contrária é expressa por Antonio Barbosa, diretor da seção brasileira da Federação Internacional de Plataformas Aéreas (IPAF), que imputa aos fabricantes e dealers a responsabilidade de investir em treinamento e capacitação de seus operadores, visando a garantir segurança, produtividade e retorno do investimento. “O tempo e os recursos gastos com treinamento devem ser encarados como um investimento no futuro, ao garantir que as pessoas estão aptas a operar com segurança e com o mínimo de risco, trazendo inclusive melhor produtividade ao serviço”, destaca.

A mesma opinião é compartilhada por Salete Marisa Argenton, gerente da Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte). Ela vê um sério problema na falta de uma cultura de desenvolvimento dos profissionais, em especial no transporte. A persistência de uma visão de que qualificar pessoas é custo e não investimento retrai a participação dos profissionais nos treinamentos. “Quando o empresário percebe os resultados reais de retorno financeiro e valor agregado, a participação e o interesse nos programas de desenvolvimento aumentam significativamente”, destaca.

Nessa linha, o especialista da IPAF lamenta o fato de que o treinamento ainda seja visto como custo e não como investimento. Para ele, em termos organizacionais, o conceito do que é caro ou barato baseia-se em suposições, e não em dados reais. Assim, a divulgação de informações e métricas que demostrem os ganhos obtidos com treinamento adequado pode mudar essa visão, como ele sugere. “Pesquisas acadêmicas e medições realizadas por algumas empresas revelam que um operador bem treinado pode gerar redução de até 20% nos custos de manutenção, enquanto o aumento de produtividade pode chegar a 25%”, exemplifica.

Sem falar que uma única máquina quebrada pode parar uma operação inteira. Além disso, o custo para consertar uma máquina quebrada pelas mãos de um operador inábil é superior ao valor do investimento em treinamento. “Ainda não temos o cuidado necessário na hora de selecionar os operadores”, crava Mello. “O profissional que opera a escavadeira, por exemplo, tem de ter características pessoais adequadas, como a capacidade de executar dois movimentos simultâneos (carregar e girar).”

COMPORTAMENTOS

Na missão de contribuir com o mercado, Mello lembra que a Sobratema – em parceria com a Abendi – recentemente desenvolveu um processo próprio para certificação de operadores de equipamentos. “Este processo define os conteúdos dos cursos, a carga horária e os critérios de avaliação dos profissionais”, afirma ele, que já foi diretor de certificação e desenvolvimento humano da entidade.

A Fabet, por sua vez, também desenvolve treinamentos especializados para motoristas que transportam cargas secas, líquidas, perigosas e indivisíveis, passageiros, distribuição urbana, resíduos, terra e rocha, dentre outras. Segundo a especialista, a metodologia leva em conta pressupostos andragógicos (aprendizado de adultos), incluindo instrutores especializados e laboratórios de alta tecnologia. As atividades práticas podem ser desenvolvidas em equipamentos reais, cedidos em parcerias com montadoras como Mercedes-Benz, Scania e MAN. “Mais que simular, é necessário preparar os motoristas nas condições reais de operação. Aprender na prática é a regra clássica para os melhores resultados, quando o desafio é mudar comportamentos e reduzir custos operacionais no setor do transporte”, diz Argenton. “Contratar pessoas preparadas é uma medida inteligente que os empresários do setor precisam ter.”

A IPAF, por sua vez, desenvolve um treinamento à distância (E-Learning) que já é utilizado nos Estados Unidos e em vários países da Europa. Sem abrir mão das atividades práticas, Barbosa revela que em breve o programa estará disponível também para o mercado brasileiro. “O treinamento a distância refere-se apenas à parte teórica e não dispensa, em qualquer hipótese, que o operador tenha de ir a um centro homologado para fazer o teste prático, que é parte fundamental e indispensável para concluir o treinamento”, finaliza.

Qualificação garante oportunidades

Diretor da Federação Internacional de Plataformas Aéreas (IPAF) no Brasil, Antonio Barbosa destaca que muitas empresas já têm como regra admitir apenas colaboradores que possuam treinamento em operação, dentro dos conceitos estabelecidos pelas principais normas técnicas do setor. Segundo ele, a tendência é de que isso se consolide no país. “Esta exigência vem crescendo a cada ano e acreditamos que, em pouco tempo, somente profissionais com qualificação adequada terão espaço neste mercado de trabalho”, prevê. “É importante dizer que os profissionais qualificados não serão mais caros, porém serão aqueles que terão as melhores oportunidades.”

 

 

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