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Revista M&T - Ed.208 - Dez/Jan 2017
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Caminhões

Sacode a poeira

Confiantes na retomada, players da indústria de veículos pesados trazem ao país tecnologias e ferramentas antes disponíveis somente em seus mercados de origem
Por Marcelo Januário (Editor)

As montadoras de caminhões pesados com presença no Brasil estão determinadas a deixar o biênio 2015-2016 para trás. Após amargar queda sobre queda na demanda de veículos – só em 2015, o recuo na categoria de pesados (o mais importante do país) foi de exorbitantes 60,6%, caindo para a casa de 70 mil unidades anuais, segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) –, alguns dos principais players da indústria renovam o arsenal de produtos e serviços disponibilizados pelas matrizes para brigar com mais força em um eventual cenário de retomada dos negócios.

É o caso da Scania, que entra 2017 reforçada com o lançamento do programa Serviços Conectados, mas também o da Mercedes-Benz, que promove seu novo câmbio PowerShift para extrapesados, ou ainda da Volvo Trucks, que nacionaliza a novíssima caixa I-Shift Crawler Gears e aperfeiçoa o sistema de gestão Dynafleet.

A Scania, inclusive, tem nova liderança para o mercado brasileiro. Com 21 anos de casa, o executivo Roberto Barral assumiu o cargo de diretor-geral das operações no B


As montadoras de caminhões pesados com presença no Brasil estão determinadas a deixar o biênio 2015-2016 para trás. Após amargar queda sobre queda na demanda de veículos – só em 2015, o recuo na categoria de pesados (o mais importante do país) foi de exorbitantes 60,6%, caindo para a casa de 70 mil unidades anuais, segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) –, alguns dos principais players da indústria renovam o arsenal de produtos e serviços disponibilizados pelas matrizes para brigar com mais força em um eventual cenário de retomada dos negócios.

É o caso da Scania, que entra 2017 reforçada com o lançamento do programa Serviços Conectados, mas também o da Mercedes-Benz, que promove seu novo câmbio PowerShift para extrapesados, ou ainda da Volvo Trucks, que nacionaliza a novíssima caixa I-Shift Crawler Gears e aperfeiçoa o sistema de gestão Dynafleet.

A Scania, inclusive, tem nova liderança para o mercado brasileiro. Com 21 anos de casa, o executivo Roberto Barral assumiu o cargo de diretor-geral das operações no Brasil em junho, mas foi apresentado à imprensa no final de outubro. “O momento econômico é desafiador, mas o Brasil sabe passar por isso. Não ficamos parados, pois eficiência é entender em profundidade o processo logístico, gerir as informações de forma mais inteligente e precisa”, disse Barral. “Com os Serviços Conectados, superamos a barreira da telemetria para oferecer uma alternativa completa ao transportador, que é beneficiado com a disponibilização dos dados do veículo, o uso inteligente dessas informações e consultoria customizada prestada pela rede de concessionárias, conforme as suas demandas de negócios e logística.”

ANÁLISE DE DADOS

Disponibilizado no dia 1º de janeiro, o novo recurso online promete “uso de dados alinhado à inteligência” para tornar a gestão mais “sustentável, eficiente e rentável”. Para isso, utiliza quatro ferramentas: planejamento de serviços, diagnóstico remoto, relatório de tendências (em um portal online) e gestor de frota. Lançado há cinco anos na Suécia, o sistema é composto por um módulo instalado no veículo – chamado Communicator –, que basicamente recolhe e envia os dados de desempenho (categorizado por parâmetros como marcha lenta, freadas, velocidade etc.), gerando um relatório periódico de tendências (semanal ou mensal) com os códigos de falhas. Assim, o dispositivo acompanha a frota em tempo real, controlando os fatores que mais impactam na rentabilidade, como consumo de combustível, desempenho do motorista e manutenção. “Pela integração de recursos que promove, esse serviço representa uma forma nova de fazer gestão de frota, agora conectada com o veículo”, diz Alex Barucco, gerente de conectividade da Scania Brasil. “Os dados sozinhos não fazem nada, por isso a proposta é atuar em parceria, ajudando na diminuição do consumo, de acidentes, desgastes, custos de manutenção e paradas indesejadas.”

Os veículos produzidos a partir de 2012 já saem de fábrica com a unidade eletrônica, que fica adormecida até a autorização do proprietário para envio das informações. Uma vez autorizado, o veículo passa a enviar dados automaticamente via satélite, por rede GPRS (Vivo), tanto para o sistema como para a central e o cliente. Já o Portal de Gestão de Frotas dá acesso ao posicionamento e à trajetória dos veículos, apresentando indicadores em tempo real e pontos de melhoria para orientar o motorista. “Não há interferência no veículo ou alertas ao condutor durante a operação, tudo é feito posteriormente com base nos dados coletados”, explica Barucco.

A partir daí, o serviço apresenta dois pacotes distintos: Análise e Desempenho. Sem custos, o primeiro é válido por dez anos e permite planejamento de serviços, acesso ao portal, diagnóstico remoto e processamento das informações, incluindo consultoria de análise do relatório de tendências. Se o usuário quiser ir mais fundo, pode contratar uma assinatura mensal do segundo, que traz funcionalidades adicionais customizadas. “Este pacote permite uma leitura mais completa sobre o estilo de condução, ajudando a identificar dados de operação de forma detalhada, tanto para informações operacionais dos veículos quanto individualmente, por motorista”, comenta Barucco, acrescentando um terceiro nível, que inclui o gestor de frota, um especialista colocado dentro da operação do cliente para coordenar as intervenções. “Nesse sentido, o serviço desenha a solução caso a caso, pois não há um padrão, a intervenção é de acordo com a necessidade.”

OFF-ROAD

Na Mercedes-Benz a mais recente novidade para o mercado brasileiro de extrapesados é a segunda geração do câmbio automatizado PowerShift G330-12K, de 12 marchas, que equipa os caminhões Axor 3344 e 4144, modelos que integram uma das principais famílias de pesados da marca.

Sem pedal de embreagem, o novo câmbio permite trocas de marchas mais precisas e foi desenvolvido especialmente para o segmento fora de estrada, incorporando um sensor de inclinação que identifica a situação do caminhão e seleciona a marcha mais adequada, de acordo com o ângulo. Em produção desde outubro, a tecnologia foi desenvolvida sem requerer mudanças no motor, na caixa de transmissão ou mesmo na curva de torque. “Não é apenas o câmbio, mas um casamento perfeito entre motor, caixa e eixos, resultando em um trem de força totalmente adequado ao fora de estrada”, atesta Ari de Carvalho, diretor de vendas e marketing de caminhões da Mercedes-Benz do Brasil.

A manopla do PowerShift está localizada num console rebatível junto ao apoio de braço do banco do motorista, sendo que o recurso pode ser operado no modo automático ou manual, dependendo da preferência do motorista. “Antes de chegar ao mercado, a tecnologia passou mais de um ano em testes, tanto em bancadas de prova como em operações de clientes de mineração, cana-de-açúcar e madeira”, diz Helio Ribeiro, engenheiro de marketing de produto para o segmento de extrapesados da Mercedes-Benz do Brasil.

Em três teclas exclusivas, o câmbio reúne funções inteligentes que prometem agregar maior desempenho, economia e conforto às operações. Acionada automaticamente, a tecla “Power Mode Off-Road” altera a parametrização do veículo de modo a trabalhar com altas rotações, imprimindo mais torque e potência e evitando a troca desnecessária de marchas. Esta função pode ser desabilitada no painel quando o veículo acessa rodovias. Nesta circunstância, entra em operação a função “EcoRoll”, que ajusta a faixa de velocidade para rotações mais baixas e coloca a transmissão do veículo em neutro quando não há demanda de torque, sem a intervenção do motorista.

Já a função “Manobra” propicia um controle mais preciso do veículo na movimentação em pátios e manobras em canteiros. “Com o novo software, parametrização e câmbio, o tempo de acoplagem diminui em 40%, conferindo maior segurança em subidas íngremes e elevando a produtividade”, comenta Ribeiro, acrescentando que a tecnologia também equipa o modelo 4844 8x4 da marca, mas com outra parametrização.

Além do câmbio automatizado, a Mercedes fez dez modificações nas duas versões do modelo Axor, desde o cavalo mecânico até o basculante. Com base em solicitações de clientes, a montadora posicionou os filtros e tomada de ar atrás da cabine, instalou espelho frontal no para-brisa para impedir ponto cego na dianteira e incorporou um “peito de aço” para proteção do cárter. Os modelos fora de estrada também ganharam novos bancos, que agora contam com 10 mm a mais na espessura de espuma, acabamento em vinil, recursos de regulagem expandidos e cintos de segurança integrados.

Com uma rede de 181 pontos de atendimento, a montadora também não descuida da manutenção, reforçando a atuação de seus “Serviços Dedicados”, um programa de atendimento pós-venda que – dentre outros – inclui três linhas de peças de reposição e o sistema de monitoramento Fleetboard, que leva a diagnose para as instalações do cliente. “Tão importante quanto a execução da manutenção é identificar as ocorrências, características de consumo e desgaste dos principais componentes”, afirma Silvio Renan, diretor de peças e serviços da Mercedes-Benz do Brasil. “A operação off-road é a que mais demanda dos conjuntos mecânicos e isso faz com que a questão de previsibilidade e controle seja ainda mais importante neste segmento.”

GESTÃO DE FROTAS

Assim como a Mercedes, a Volvo Trucks também aposta suas fichas na atualização tecnológica dos produtos oferecidos no Brasil, sem abrir mão do monitoramento das frotas. Apresentada na Suécia em maio (como M&T publicou em primeira mão na edição no 203), a caixa de câmbio eletrônica I-Shift Crawler Gears ganha versão nacional menos de um ano após seu lançamento.

Direcionada para a Linha F (modelos FH, FMX e FM), a sexta geração da caixa eletrônica conta com 12 marchas à frente e quatro à ré, gerenciando melhor a relação com o motor e proporcionando um maior aproveitamento da potência. Opcionalmente, o componente pode sair de fábrica com 13 ou 14 marchas. Segundo Álvaro Menoncin, gerente de engenharia de vendas da Volvo no Brasil, a I-Shift superreduzida abre possibilidades de transporte para os caminhões da linha F, permitindo operar com velocidades mais baixas em topografias adversas. “Na caixa reduzida de 13 marchas, a última marcha é em Overdrive, uma opção voltada principalmente para aplicações em rodovias com uma topografia mais acidentada ou de serra”, comenta.

Segundo a montadora, 100% dos caminhões FH já saem de fábrica equipados com a caixa, enquanto 99% dos veículos FM e FMX trazem a nova I-Shift. “Com suas mudanças e revoluções ao longo do tempo, a caixa I-Shift consegue entregar ao operador um bom desempenho, além de uma ótima eficiência energética”, diz Wilson Lirmann, novo presidente do Grupo Volvo na América Latina, que assumiu o posto em julho de 2016.

Além da caixa eletrônica, a empresa reforça a divulgação do Driver Coaching, novo recurso do sistema de gestão de frotas Dynafleet, lançado no país em 2015 e disponível nos caminhões que saem de fábrica com a central multimídia. Ao se contratar o Dynafleet, as empresas só precisam ativar os recursos da ferramenta, que orienta o motorista em tempo real com dicas de condução e possibilita ao gestor verificar se o condutor requer mais treinamento.

De acordo com Vanio Albino, instrutor de treinamento da Volvo Brasil, o recurso oferece instruções de como conduzir o caminhão, inclusive conferindo notas ao desempenho do motorista, que são apresentadas no display instalado no painel. “Com o Driver Coaching, podemos acompanhar como o motorista está conduzindo, verificando a média do consumo de combustível, o uso da caixa I-Shift, se o freio está sendo utilizado nos tempos corretos e qual o tempo de parada do condutor”, exemplifica. “Assim, abre-se a possibilidade de influenciar nos resultados, agindo nos comportamentos de condução identificados pela ferramenta.”

Avaliado de imediato, o relatório é enviado por meio do Drive ID, uma ferramenta de análise que integra o Dynafleet e permite a identificação individualizada do motorista. “A atualização é feita a cada um minuto e meio”, diz Albino. “E as informações oferecidas pelo Driver Coaching ao motorista durante a viagem também estão disponíveis no portal e no aplicativo do Dynafleet.”

De forma didática, as informações de desempenho dos condutores são apresentadas por meio de sinalizações: verde para uma operação correta, amarelo para atenção e vermelho para o que precisa mudar. “Quanto maior a integração da parte eletrônica do veiculo com o ser humano, mais fácil se torna gerenciar os custos da operação”, arremata Menoncin.

Montadoras têm boas perspectivas para o ano

Após fechar o ano com um resultado total em torno de 50 mil unidades, as montadoras de caminhões estão esperançosas para 2017. A Scania, por exemplo, projeta uma recuperação por volta de 15%. Com uma frota nacional de 115 mil veículos, a empresa espera um nível de desempenho distinto em cada segmento, além de manter o bom ritmo na demanda de serviços pós-venda. “De 2015 para 2016, o aumento na venda de peças foi de 7%”, diz Roberto Barral, diretor-geral das operações da Scania no Brasil, acrescentando que a empresa pretende expandir a rede de atendimento de 122 para 139 pontos até 2020. “Em 2016, houve um aumento de 11% na venda do nosso Programa de Manutenção Premium, fazendo com que os serviços avançassem para 26% de share no portfólio da marca.”

Na Mercedes-Benz, a expectativa é semelhante. De janeiro a setembro, a marca comercializou 3.306 unidades de veículos extrapesados (+10% sobre 2015), o que – segunda a empresa – garantiu um share de quase de 50% no segmento. Com isso, a frota de veículos OTR da marca chegou a 1.200 unidades no país. Agora, a Mercedes quer “surfar a onda do crescimento”, avançando mais 10% neste ano. “Estamos confiantes, pois tudo indica que a cana vai aumentar as atividades, além da construção, na qual temos uma demanda reprimida que deve voltar”, diz Ari de Carvalho, diretor de vendas e marketing caminhões da Mercedes-Benz do Brasil, ponderando que o processo será gradual. “Temos de pensar no passo a passo, até porque o mercado não tem condições de suprir uma demanda maior no momento, uma vez que todo mundo reduziu a estrutura para se adequar ao mercado. Mas esse até que seria um problema bom.” (Colaborou Melina Fogaça)

 

 

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