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Revista M&T - Ed.163 - Novembro 2012
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Tendências

O caminhão do futuro

Núcleo de design da Volvo Trucks propõe ideias que podem transformar o segmento de veículos pesados de transporte de longa distância nas próximas duas décadas
Por Marcelo Januário (Editor)

Imagine um futuro em que os caminhões parecidos com comboios articulados ou trens espaciais são movidos por energia gerada pela própria tração, mudam sua estrutura física conforme a carga transportada e não possuem condutor ao volante. Parece enredo de ficção científica, mas na verdade trata-se de um cenário traçado por um dos maiores especialistas mundiais em design de caminhões e que pode tornar-se realidade nos próximos 20 anos.

É em uma tela de realidade virtual com 5 por 7 metros na Suécia que o diretor de design da Volvo Trucks, Rikard Orell, projeta a concretização dessas tendências revolucionárias que mudarão completamente o que vimos até hoje no segmento. O Volvo Truck Concept 2030, concebido e liderado por ele, prevê mudanças radicais na forma, design e tecnologia dos equipamentos de transporte pesado de longa distância, incluindo desde a reinvenção completa dos equipamentos até a criação de pistas especiais chamadas “corredores verdes”.

Trabalhando com seus modelos em argila de tamanho real, softwares de 3D e até mesmo tradicionais esboços feitos à mão, Orell quer


Imagine um futuro em que os caminhões parecidos com comboios articulados ou trens espaciais são movidos por energia gerada pela própria tração, mudam sua estrutura física conforme a carga transportada e não possuem condutor ao volante. Parece enredo de ficção científica, mas na verdade trata-se de um cenário traçado por um dos maiores especialistas mundiais em design de caminhões e que pode tornar-se realidade nos próximos 20 anos.

É em uma tela de realidade virtual com 5 por 7 metros na Suécia que o diretor de design da Volvo Trucks, Rikard Orell, projeta a concretização dessas tendências revolucionárias que mudarão completamente o que vimos até hoje no segmento. O Volvo Truck Concept 2030, concebido e liderado por ele, prevê mudanças radicais na forma, design e tecnologia dos equipamentos de transporte pesado de longa distância, incluindo desde a reinvenção completa dos equipamentos até a criação de pistas especiais chamadas “corredores verdes”.

Trabalhando com seus modelos em argila de tamanho real, softwares de 3D e até mesmo tradicionais esboços feitos à mão, Orell quer superar o atraso histórico do design no setor de caminhões, imprimindo uma aceleração vertiginosa nesse processo. “Foi só nos últimos 10 anos que se começou a fazer perguntas e a contestar ideias no setor, com as poucas intervenções resumindo-se à cabine do motorista”, diz ele. “Agora, no entanto, a evolução será inevitável, completa e irreversível.”

Futuro Desejável

Responsável na Volvo Trucks Corporation pela visão e estratégias de design de longo prazo para o programa de veículos da marca, Orell estabelece uma “retroprevisão” desde 2030 para delinear o futuro dos equipamentos de transporte. Segundo ele, as linhas evolutivas de um futuro desejável (“back casting”) serão baseadas principalmente no modo como os materiais se comportam, ajudando a mitigar as mudanças climáticas, e no menor uso de combustíveis fósseis, buscando criar alternativas energéticas ao petróleo.

Nesse sentido, a primeira e clara tendência está na energia obtida pela tração, aumentando a eficiência por meio de novas técnicas de propulsão. Uma das maneiras de se obter isso, conforme apontam as pesquisas do designer escandinavo, é com a instalação de motores elétricos nas rodas.  “O desenvolvimento passou para a parte traseira, para a superestrutura, pois na parte externa o potencial é limitado, uma vez que o desenvolvimento foi rápido e já não há muito que fazer”, opina.

Apesar dessa ressalva, o layout tende a ser extremamente diferente dos atuais veículos, com a ampliação do comprimento e o uso de várias linhas de eixos conduzidos por um caminhão líder. Isso imprimiria ao caminhão uma aparência de um “trem com rodas” ou mesmo um caramujo, algo “mais orgânico e integrado ao ambiente” (veja quadro na pág. 44). “Sabemos que o caminhão único não é tão eficiente quanto os sistemas em que só o primeiro dirige e puxa os demais”, justifica o especialista.

Tráfego Inteligente

Do ponto de vista do design, um dos fatores mais importantes para o futuro será a eficiência aerodinâmica, uma característica diretamente relacionada ao formato do caminhão. “Buscar maior eficiência sempre foi importante e será ainda mais no futuro”, ressalta o diretor.

Para aperfeiçoar o desempenho, o ar pode ser levado a flutuar sobre a estrutura, em uma visão espetacular de um veículo verdadeiramente mutante. “Quando a traseira não for utilizada, ela alterará automaticamente a forma”, prevê Orell. Uma variação dessa tecnologia é a adequação do formato do reboque, que pode moldar-se à própria carga e reduzir a resistência do ar em 25%. “Tudo isso é um conceito incipiente, ainda na fase de cálculos de aerodinâmica”, alerta o especialista.

Outros aspectos de relevo do caminhão do futuro incluem a utilização de tecnologia slide in e de infraestrutura integrada, além de detalhes como a substituição de retrovisores por câmeras e a diminuição da velocidade para entre 40 e 90 km/h. Nesse ponto, o uso de técnicas de realidade aumentada fará o deslocamento parecer mais rápido, afastando um tédio previsível dos tripulantes. O ganho na produtividade está no maior volume potencial transportado.

Já o objetivo do “corredor verde” rotas especialmente projetadas para o tráfego pesado – é reduzir o impacto ambiental ao passo que aumenta a eficiência e segurança das rodovias. Este projeto tem sido desenvolvido pelo setor de pesquisas da Volvo, o Intelligent Transport Solutions, uma iniciativa à qual o Truck Concept 2030 está ligado e que pretende integrar os diferentes tipos de transporte.

Autômato

Mas a parte mais polêmica fica reservada à condução do equipamento. De acordo com o diretor da Volvo, é quase certo que tais equipamentos prescindirão dos atuais condutores, que se tornarão “gestores” das plataformas do sistema, sem preocupações diretas com o volante ou mesmo com o caminho a percorrer.

Há, porém, questões de fundo moral por resolver. “Tecnicamente, o controle remoto é possível, mas seria socialmente aceitável?”, indaga-se ele. “Uma máquina de proporções gigantescas se movimentando sozinha no meio da cidade e nas rodovias pode não ser algo bem aceito mesmo no futuro.”

O que parece certo é que, com a crescente automação, o sistema assuma certas funções hoje atribuídas exclusivamente ao homem. “O veículo se autodirige e a pessoa cuida apenas do sistema”, diz Orell. “Com isso, o desafio será atrair jovens para renovar a profissão, por meio de ambientes diferenciados.”

O projetista se refere à possibilidade de inserção de cabines mais amplas e agradáveis, ambientes internos arejados e livres de interferências que incluam áreas de lazer na própria estrutura do caminhão, com espaços de relaxamento ou estudo, telas translúcidas interativas, salas de estar e outras possibilidades.

Tudo isso, segundo ele, ajudará a reinventar a própria profissão de condutor, atualmente claramente em crise no mundo todo. “A aplicação da tecnologia trará maior facilidade de operação, desvinculando o elemento humano da obrigação de controlar a máquina o tempo todo”, projeta. “Com isso, o condutor terá prazer em sua atividade, a segurança aumentará, os veículos serão mais sustentáveis e as próprias empresas se beneficiarão.”

A reinvenção da mobilidade

Exibido na Alemanha durante a feira MobiliTec 2012, o protótipo Innotruck (foto) se parece mais com uma nave espacial que com um caminhão, mas segundo seus inventores é resultado de uma “abordagem holística e radical da eletromobilidade”.

Híbrido de caminhão, jato, trem, ônibus e trailer, o projeto ‘Diesel Reloaded’ foi desenvolvido na Technische Universität München (TUM) para demonstrar como mudanças de paradigmas podem estimular a indústria, redefinindo o veículo como um sistema de informação integrada com uma arquitetura escalonável e modular.

Com sistemas computadorizados centralizados, células para armazenamento de energia solar e aplicações plug-and-play, a arquitetura do sistema permite integrações simplificadas e novas capacidades de comunicação entre veículos e entre veículos e infraestrutura, ajudando a aperfeiçoar os fluxos do tráfego e a aumentar a segurança, além de atuar na estabilização das redes de energia proveniente de fontes renováveis.

Repensando a interação homem-máquina, os pesquisadores sugerem um caminho que torne o veículo um “parceiro de mobilidade”, com dispositivos e controles que se adaptem não apenas às capacidades individuais do condutor e a seus comportamentos típicos, mas também mudando as próprias condições do tráfego e a relação do equipamento com o ambiente.

O filósofo tridimensional

Circulando pela Europa desde os anos 80, os projetos de “future trucks” desenvolvidos pelo designer industrial alemão Luigi Colani rompem totalmente com o convencional e também apontam caminhos para o segmento. Inspirado nas formas orgânicas da natureza, Colani introduziu o conceito de design biodinâmico, obtendo resultados que têm impressionado a indústria.

Em 2005, seu projeto em colaboração com Mercedes-Benz produziu um motor 150 hp mais potente e 30% mais econômico. Com a Siemmens, em 2007, o designer independente desenvolveu alterações radicais na cabine incluindo a substituição da direção por joystick e projetou outras inovações que resultaram em 50% de redução no consumo de combustível, exclusivamente por meio de mudanças aerodinâmicas exteriores, sem qualquer modificação no motor.

Ele também construiu veículos experimentais para marcas como Ferrari e Dodge, todos com princípios extremamente originais e excelentes soluções de produtividade e sustentabilidade. O único problema está no fato de que, no caso da Simmens, por exemplo, o veículo custou uma bagatela de US$ 1 milhão para ser desenvolvido, obstáculo que evidentemente ainda impede que tais projetos desde já se tornem padrões industriais.

Passando a impressão certa

Marcado pela maior severidade de uso e exigência estrutural dos equipamentos, o que se imagina é que a aparência seja a última coisa que importa no segmento de caminhões fora de estrada. Mas não é bem assim. Segundo Rikard Orell, a percepção que o usuário tem do equipamento também é muito importante para se conquistar mercados nos segmentos de construção pesada e mineração. “Acredito que nós atraímos tanto o coração quanto o cérebro das pessoas”, diz.

Um exemplo dessa necessidade é o Volvo FMX, um modelo especialmente voltado para tarefas vocacionais pesadas. Lançado em 2010, o FMX chegou ao mercado mundial como um símbolo da nova tendência visual da marca sueca. Apesar da estrutura reforçada, o desenho precisou ser aperfeiçoado para dar vida própria e desvencilhar o modelo de seu antecessor, o FM. A operação incluiu diversas mudanças de design, como a ampliação de 165 mm da parte frontal da cabine, imprimindo-lhe uma aparência mais robusta e resistente.

“Com o FMX, faltava passar a impressão certa. Ele não era levado a sério pelo mercado, pois parecia uma simples adaptação do modelo rodoviário”, explica Orell. “Por isso, fizemos ajustes para que fosse visto como um equipamento específico para a construção e mineração, comunicando claramente sua função e tornando os recursos mais visíveis.” O diretor, entretanto, ressalta que o design por si só não pode compensar todos os requisitos de utilização: “Não adianta nada parecer e não ter o desempenho esperado”, ele finaliza.

Design de produto é mais que estilo

Na Volvo, a natureza é uma fonte constante de metáforas para o setor de design. O modelo FH, por exemplo, foi inspirado na baleia Orca, animal que vive nas águas geladas do Mar do Norte. Além disso, o FH 16 possui uma paleta de cores inspirada no meio ambiente escandinavo, com um tom dourado-esverdeado que evoca o reflexo do sol nas agulhas dos pinheiros. “A cor muda conforme a incidência da luz, atuando sobre a psique”, diz o diretor de design Rikard Orell.

O modelo também ganhou linhas inclinadas para dar a ideia de movimento constante, faróis verticais, painéis trapezoidais e parabrisas maiores, para aumentar a visibilidade tanto de para fora como para dentro do veículo. “Nossa intenção é não seguir tendências, criando produtos sem referencial de tempo, com simplicidade e eficiência”, afirma o diretor. “Normalmente os fabricantes agregam elementos, mas nós tiramos para realçar o que já havia, resultando em uma aparência mais moderna para o caminhão.”

 

 

 

 

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