Imagine um futuro em que os caminhões parecidos com comboios articulados ou trens espaciais são movidos por energia gerada pela própria tração, mudam sua estrutura física conforme a carga transportada e não possuem condutor ao volante. Parece enredo de ficção científica, mas na verdade trata-se de um cenário traçado por um dos maiores especialistas mundiais em design de caminhões e que pode tornar-se realidade nos próximos 20 anos.
É em uma tela de realidade virtual com 5 por 7 metros na Suécia que o diretor de design da Volvo Trucks, Rikard Orell, projeta a concretização dessas tendências revolucionárias que mudarão completamente o que vimos até hoje no segmento. O Volvo Truck Concept 2030, concebido e liderado por ele, prevê mudanças radicais na forma, design e tecnologia dos equipamentos de transporte pesado de longa distância, incluindo desde a reinvenção completa dos equipamentos até a criação de pistas especiais chamadas “corredores verdes”.
Trabalhando com seus modelos em argila de tamanho real, softwares de 3D e até mesmo tradicionais esboços feitos à mão, Orell quer
Imagine um futuro em que os caminhões parecidos com comboios articulados ou trens espaciais são movidos por energia gerada pela própria tração, mudam sua estrutura física conforme a carga transportada e não possuem condutor ao volante. Parece enredo de ficção científica, mas na verdade trata-se de um cenário traçado por um dos maiores especialistas mundiais em design de caminhões e que pode tornar-se realidade nos próximos 20 anos.
É em uma tela de realidade virtual com 5 por 7 metros na Suécia que o diretor de design da Volvo Trucks, Rikard Orell, projeta a concretização dessas tendências revolucionárias que mudarão completamente o que vimos até hoje no segmento. O Volvo Truck Concept 2030, concebido e liderado por ele, prevê mudanças radicais na forma, design e tecnologia dos equipamentos de transporte pesado de longa distância, incluindo desde a reinvenção completa dos equipamentos até a criação de pistas especiais chamadas “corredores verdes”.
Trabalhando com seus modelos em argila de tamanho real, softwares de 3D e até mesmo tradicionais esboços feitos à mão, Orell quer superar o atraso histórico do design no setor de caminhões, imprimindo uma aceleração vertiginosa nesse processo. “Foi só nos últimos 10 anos que se começou a fazer perguntas e a contestar ideias no setor, com as poucas intervenções resumindo-se à cabine do motorista”, diz ele. “Agora, no entanto, a evolução será inevitável, completa e irreversível.”
Futuro Desejável
Responsável na Volvo Trucks Corporation pela visão e estratégias de design de longo prazo para o programa de veículos da marca, Orell estabelece uma “retroprevisão” desde 2030 para delinear o futuro dos equipamentos de transporte. Segundo ele, as linhas evolutivas de um futuro desejável (“back casting”) serão baseadas principalmente no modo como os materiais se comportam, ajudando a mitigar as mudanças climáticas, e no menor uso de combustíveis fósseis, buscando criar alternativas energéticas ao petróleo.
Nesse sentido, a primeira e clara tendência está na energia obtida pela tração, aumentando a eficiência por meio de novas técnicas de propulsão. Uma das maneiras de se obter isso, conforme apontam as pesquisas do designer escandinavo, é com a instalação de motores elétricos nas rodas. “O desenvolvimento passou para a parte traseira, para a superestrutura, pois na parte externa o potencial é limitado, uma vez que o desenvolvimento foi rápido e já não há muito que fazer”, opina.
Apesar dessa ressalva, o layout tende a ser extremamente diferente dos atuais veículos, com a ampliação do comprimento e o uso de várias linhas de eixos conduzidos por um caminhão líder. Isso imprimiria ao caminhão uma aparência de um “trem com rodas” ou mesmo um caramujo, algo “mais orgânico e integrado ao ambiente” (veja quadro na pág. 44). “Sabemos que o caminhão único não é tão eficiente quanto os sistemas em que só o primeiro dirige e puxa os demais”, justifica o especialista.
Tráfego Inteligente
Do ponto de vista do design, um dos fatores mais importantes para o futuro será a eficiência aerodinâmica, uma característica diretamente relacionada ao formato do caminhão. “Buscar maior eficiência sempre foi importante e será ainda mais no futuro”, ressalta o diretor.
Para aperfeiçoar o desempenho, o ar pode ser levado a flutuar sobre a estrutura, em uma visão espetacular de um veículo verdadeiramente mutante. “Quando a traseira não for utilizada, ela alterará automaticamente a forma”, prevê Orell. Uma variação dessa tecnologia é a adequação do formato do reboque, que pode moldar-se à própria carga e reduzir a resistência do ar em 25%. “Tudo isso é um conceito incipiente, ainda na fase de cálculos de aerodinâmica”, alerta o especialista.
Outros aspectos de relevo do caminhão do futuro incluem a utilização de tecnologia slide in e de infraestrutura integrada, além de detalhes como a substituição de retrovisores por câmeras e a diminuição da velocidade para entre 40 e 90 km/h. Nesse ponto, o uso de técnicas de realidade aumentada fará o deslocamento parecer mais rápido, afastando um tédio previsível dos tripulantes. O ganho na produtividade está no maior volume potencial transportado.
Já o objetivo do “corredor verde” rotas especialmente projetadas para o tráfego pesado – é reduzir o impacto ambiental ao passo que aumenta a eficiência e segurança das rodovias. Este projeto tem sido desenvolvido pelo setor de pesquisas da Volvo, o Intelligent Transport Solutions, uma iniciativa à qual o Truck Concept 2030 está ligado e que pretende integrar os diferentes tipos de transporte.
Autômato
Mas a parte mais polêmica fica reservada à condução do equipamento. De acordo com o diretor da Volvo, é quase certo que tais equipamentos prescindirão dos atuais condutores, que se tornarão “gestores” das plataformas do sistema, sem preocupações diretas com o volante ou mesmo com o caminho a percorrer.
Há, porém, questões de fundo moral por resolver. “Tecnicamente, o controle remoto é possível, mas seria socialmente aceitável?”, indaga-se ele. “Uma máquina de proporções gigantescas se movimentando sozinha no meio da cidade e nas rodovias pode não ser algo bem aceito mesmo no futuro.”
O que parece certo é que, com a crescente automação, o sistema assuma certas funções hoje atribuídas exclusivamente ao homem. “O veículo se autodirige e a pessoa cuida apenas do sistema”, diz Orell. “Com isso, o desafio será atrair jovens para renovar a profissão, por meio de ambientes diferenciados.”
O projetista se refere à possibilidade de inserção de cabines mais amplas e agradáveis, ambientes internos arejados e livres de interferências que incluam áreas de lazer na própria estrutura do caminhão, com espaços de relaxamento ou estudo, telas translúcidas interativas, salas de estar e outras possibilidades.
Tudo isso, segundo ele, ajudará a reinventar a própria profissão de condutor, atualmente claramente em crise no mundo todo. “A aplicação da tecnologia trará maior facilidade de operação, desvinculando o elemento humano da obrigação de controlar a máquina o tempo todo”, projeta. “Com isso, o condutor terá prazer em sua atividade, a segurança aumentará, os veículos serão mais sustentáveis e as próprias empresas se beneficiarão.”
A reinvenção da mobilidade
Exibido na Alemanha durante a feira MobiliTec 2012, o protótipo Innotruck (foto) se parece mais com uma nave espacial que com um caminhão, mas segundo seus inventores é resultado de uma “abordagem holística e radical da eletromobilidade”.
Híbrido de caminhão, jato, trem, ônibus e trailer, o projeto ‘Diesel Reloaded’ foi desenvolvido na Technische Universität München (TUM) para demonstrar como mudanças de paradigmas podem estimular a indústria, redefinindo o veículo como um sistema de informação integrada com uma arquitetura escalonável e modular.
Com sistemas computadorizados centralizados, células para armazenamento de energia solar e aplicações plug-and-play, a arquitetura do sistema permite integrações simplificadas e novas capacidades de comunicação entre veículos e entre veículos e infraestrutura, ajudando a aperfeiçoar os fluxos do tráfego e a aumentar a segurança, além de atuar na estabilização das redes de energia proveniente de fontes renováveis.
Repensando a interação homem-máquina, os pesquisadores sugerem um caminho que torne o veículo um “parceiro de mobilidade”, com dispositivos e controles que se adaptem não apenas às capacidades individuais do condutor e a seus comportamentos típicos, mas também mudando as próprias condições do tráfego e a relação do equipamento com o ambiente.
O filósofo tridimensional
Circulando pela Europa desde os anos 80, os projetos de “future trucks” desenvolvidos pelo designer industrial alemão Luigi Colani rompem totalmente com o convencional e também apontam caminhos para o segmento. Inspirado nas formas orgânicas da natureza, Colani introduziu o conceito de design biodinâmico, obtendo resultados que têm impressionado a indústria.
Em 2005, seu projeto em colaboração com Mercedes-Benz produziu um motor 150 hp mais potente e 30% mais econômico. Com a Siemmens, em 2007, o designer independente desenvolveu alterações radicais na cabine incluindo a substituição da direção por joystick e projetou outras inovações que resultaram em 50% de redução no consumo de combustível, exclusivamente por meio de mudanças aerodinâmicas exteriores, sem qualquer modificação no motor.
Ele também construiu veículos experimentais para marcas como Ferrari e Dodge, todos com princípios extremamente originais e excelentes soluções de produtividade e sustentabilidade. O único problema está no fato de que, no caso da Simmens, por exemplo, o veículo custou uma bagatela de US$ 1 milhão para ser desenvolvido, obstáculo que evidentemente ainda impede que tais projetos desde já se tornem padrões industriais.
Passando a impressão certa
Marcado pela maior severidade de uso e exigência estrutural dos equipamentos, o que se imagina é que a aparência seja a última coisa que importa no segmento de caminhões fora de estrada. Mas não é bem assim. Segundo Rikard Orell, a percepção que o usuário tem do equipamento também é muito importante para se conquistar mercados nos segmentos de construção pesada e mineração. “Acredito que nós atraímos tanto o coração quanto o cérebro das pessoas”, diz.
Um exemplo dessa necessidade é o Volvo FMX, um modelo especialmente voltado para tarefas vocacionais pesadas. Lançado em 2010, o FMX chegou ao mercado mundial como um símbolo da nova tendência visual da marca sueca. Apesar da estrutura reforçada, o desenho precisou ser aperfeiçoado para dar vida própria e desvencilhar o modelo de seu antecessor, o FM. A operação incluiu diversas mudanças de design, como a ampliação de 165 mm da parte frontal da cabine, imprimindo-lhe uma aparência mais robusta e resistente.
“Com o FMX, faltava passar a impressão certa. Ele não era levado a sério pelo mercado, pois parecia uma simples adaptação do modelo rodoviário”, explica Orell. “Por isso, fizemos ajustes para que fosse visto como um equipamento específico para a construção e mineração, comunicando claramente sua função e tornando os recursos mais visíveis.” O diretor, entretanto, ressalta que o design por si só não pode compensar todos os requisitos de utilização: “Não adianta nada parecer e não ter o desempenho esperado”, ele finaliza.
Design de produto é mais que estilo
Na Volvo, a natureza é uma fonte constante de metáforas para o setor de design. O modelo FH, por exemplo, foi inspirado na baleia Orca, animal que vive nas águas geladas do Mar do Norte. Além disso, o FH 16 possui uma paleta de cores inspirada no meio ambiente escandinavo, com um tom dourado-esverdeado que evoca o reflexo do sol nas agulhas dos pinheiros. “A cor muda conforme a incidência da luz, atuando sobre a psique”, diz o diretor de design Rikard Orell.
O modelo também ganhou linhas inclinadas para dar a ideia de movimento constante, faróis verticais, painéis trapezoidais e parabrisas maiores, para aumentar a visibilidade tanto de para fora como para dentro do veículo. “Nossa intenção é não seguir tendências, criando produtos sem referencial de tempo, com simplicidade e eficiência”, afirma o diretor. “Normalmente os fabricantes agregam elementos, mas nós tiramos para realçar o que já havia, resultando em uma aparência mais moderna para o caminhão.”
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