Revista M&T - Ed.200 - Abril 2016
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Treinamento

Interface avançada

Simuladores invadem o setor da construção como alternativa mais rápida e econômica para capacitar operadores e minimizar os riscos de acidentes nos canteiros de obras
Por Luciana Duarte

Capacitar operadores sempre foi uma necessidade recorrente para o setor da construção, mas recentemente – com o ritmo cada vez mais acelerado nos canteiros de obras – o tema ganhou um peso ainda maior na lista de prioridades das médias e grandes empresas. E, nos últimos anos, o assunto ganhou uma nova dimensão com o desenvolvimento da realidade virtual, uma tendência que têm levado o setor a, por exemplo, investir na aquisição de simuladores para qualificar a mão de obra e garantir mais segurança aos operadores de máquinas pesadas da Linha Amarela. “Mais do que modernos e eficientes, os simuladores reduzem significativamente os custos envolvidos na preparação dos operadores”, garante Bernardo Uliana, engenheiro de aplicação do Grupo Tracbel, especializado na distribuição, pós venda e prestação de serviços em máquinas e equipamentos pesados das marcas Volvo CE, Clark, Massey Ferguson, Tigercat, Precision Husky e SP Maskiner, além de pneus industriais Michelin. “É um investimento que dá retorno e capacita o operador com recursos de última geração”, complementa.


Capacitar operadores sempre foi uma necessidade recorrente para o setor da construção, mas recentemente – com o ritmo cada vez mais acelerado nos canteiros de obras – o tema ganhou um peso ainda maior na lista de prioridades das médias e grandes empresas. E, nos últimos anos, o assunto ganhou uma nova dimensão com o desenvolvimento da realidade virtual, uma tendência que têm levado o setor a, por exemplo, investir na aquisição de simuladores para qualificar a mão de obra e garantir mais segurança aos operadores de máquinas pesadas da Linha Amarela. “Mais do que modernos e eficientes, os simuladores reduzem significativamente os custos envolvidos na preparação dos operadores”, garante Bernardo Uliana, engenheiro de aplicação do Grupo Tracbel, especializado na distribuição, pós venda e prestação de serviços em máquinas e equipamentos pesados das marcas Volvo CE, Clark, Massey Ferguson, Tigercat, Precision Husky e SP Maskiner, além de pneus industriais Michelin. “É um investimento que dá retorno e capacita o operador com recursos de última geração”, complementa.

Disposta a reduzir drasticamente os problemas crônicos de seus clientes e ainda atender à Norma Reguladora no 12 (NR-12) do Ministério do Trabalho, a empresa investiu pesado em um projeto pioneiro de capacitação de pessoas em canteiros de obras de todo o país. Em uma parceria com a empresa sueca Oryx Simulations, há três anos a Tracbel destinou cerca de 550 mil reais ao primeiro projeto de formação avançada com simuladores. E, em razão da demanda crescente, a empresa também deu início à comercialização de simuladores da marca em todo o Brasil.

Dotado de sistema gráfico 3D de alta resolução e uma plataforma de movimentos elétricos, o equipamento foi inicialmente deslocado até o campo de operação de clientes da marca Volvo CE. Os resultados positivos do projeto-piloto levaram a empresa a promover novos ciclos de investimentos. Recentemente, o grupo investiu 5 milhões de reais para ampliar o projeto, passando a disponibilizar aos clientes dois modelos de simuladores de caminhões articulados, quatro de escavadeiras, dois de carregadeiras e outros dois de basculantes. “Já capacitamos mais de 1.500 operadores desde o primeiro piloto desse projeto”, comenta Uliana. “Apesar da crise, o ano passado foi excelente, pois muitas empresas decidiram investir em treinamento. A desaceleração no setor favoreceu a capacitação de seus operadores.”

Atualmente, dez simuladores da Tracbel percorrem o território brasileiro instalados em trailers, caminhonetes e contêineres. A ideia é aprimorar a formação técnica com noções básicas de direção, sinalização e manobras, representando situações “reais” que acelerem o aprendizado do operador. “O programa de capacitação dos operadores contempla módulos de 40 horas entre aulas teóricas e práticas, com carga horária de oito horas por dia nos cinco dias úteis da semana”, resume o engenheiro.

Na visão de Uliana, a adoção dos simuladores nos canteiros de obras é essencial para capacitar com segurança um operador. E o que antes era apenas uma tendência internacional já é uma realidade local. O executivo enfatiza que, atualmente, não há mais como uma pessoa entrar em um equipamento pesado e manuseá-lo corretamente sem antes receber treinamento em um simulador. “O simulador permite que os operadores pratiquem e corrijam suas falhas”, frisa. “Assim, essa ferramenta de treinamento é essencial não só para a produtividade, mas também para garantir a segurança.”

HABILIDADES

E a prática vem se popularizando rapidamente nos canteiros brasileiros, até por conta dos benefícios que representa na ponta do lápis. No Grupo Odebrecht, por exemplo, o custo de um treinamento tradicional individual – incluindo equipamento, recursos e logística – antes girava em torno de 45,6 mil reais. “Com a adoção dos simuladores, conseguimos realizar o mesmo treinamento investindo apenas 17 mil reais, em uma economia de 62%”, calcula Edivaldo Pereira de Freitas, gerente de treinamento da construtora.

A Odebrecht, inclusive, é um exemplo de que a prática veio para ficar. Entre 2009 e 2015, a empresa investiu 1,9 milhão de reais em capacitação de pessoas. De um total de 1.389 trabalhadores treinados com simulação, cerca de 890 são operadores, 262 auxiliares de movimentação de carga, 114 engenheiros e encarregados, 65 técnicos de segurança, 32 instrutores e 26 mecânicos. Atualmente, o grupo possui um simulador de caminhão basculante da marca Oryx, um de guindaste de torre da Simlog e um de trator de esteiras da Caterpillar.

Há ainda um simulador de pá carregadeira de rodas, outro de caminhão articulado e mais sete de escavadeira de esteiras, todos da marca Volvo CE. “O simulador é um recurso de treinamento que permite que todos os operadores sejam submetidos ao mesmo aprendizado prático. Neste ambiente, eles podem cometer erros sem que haja a ocorrência de acidentes reais ou o aumento dos custos operacionais, além de desenvolver suas habilidades motoras e a percepção dos riscos”, avalia Freitas. “Mas esta ferramenta não se limita apenas à formação de novos operadores, pois as aplicações desse recurso são infinitas. É um investimento que deve ser observado por todos aqueles que prezam pela segurança e produtividade.”

De fato, uma das principais vantagens do simulador é oferecer ao operador a possibilidade de pilotar em uma base de comando similar à das máquinas reais. Sem qualquer conhecimento prévio, o trainee consegue obter domínio completo do equipamento a partir do uso do simulador (um compósito de aparelhagens e softwares, com interação via telas e óculos especiais), desenvolvendo habilidades de movimentos, coordenação motora e intimidade com os computadores de bordo, mas também conhecimentos de mecânica e física, dentre outros.

Mas para sua efetivação, o uso de simuladores exige a quebra de alguns paradigmas. Segundo Freitas, a filosofia de trabalho da Odebrecht favorece a busca por soluções baseadas em novas tecnologias que possam ajudar no aumento da produtividade aliado à segurança na aplicação dos equipamentos. “Considerando as constantes reclamações nas obras sobre a falta de profissionais qualificados, a AFEq (Apoio Funcional de Equipamentos da Odebrecht) tem buscado alternativas radicais”, destaca o executivo. “E uma das soluções encontradas foi justamente a utilização dos simuladores de realidade virtual.”

EFICÁCIA

Sempre apontada pelos clientes, a persistente carência de mão de obra para operar equipamentos foi um fator fundamental para a John Deere desenvolver simuladores de equipamentos florestais e de construção. Segundo Roberto Marques, líder da divisão de Construção e Florestal da John Deere Brasil, esse tipo de ferramenta traz como principal vantagem o aprofundamento dos conceitos operacionais em menos tempo. “O uso de  simuladores realmente auxilia no preparo e aperfeiçoamento de operadores, permitindo que os instrutores possam orientá-los em cada detalhe da operação, mas também assegurando economia de combustível e garantindo que o operador seja preparado para obter níveis razoáveis de controle da máquina mais rapidamente”.

Atualmente, a John Deere disponibiliza oito versões de simuladores de equipamentos como escavadeiras, pás carregadeiras, tratores de esteiras, retroescavadeiras e motoniveladoras, além de uma plataforma denominada “Universal Platform Motion”, que simula os movimentos e as reações físicas da máquina durante a operação. Esta plataforma, como explica Marques, aumenta a sensação de realidade, uma vez que o operador em treinamento sente as vibrações, as irregularidades do terreno e mesmo a resistência do solo à penetração da caçamba ou da lâmina. “A decisão da John Deere em desenvolver simuladores foi justamente para oferecer ferramentas aos nossos clientes que possam auxiliá-los no preparo mais rápido e eficiente dos operadores”, completa.

A Terex é fabricante que se mostra atenta ao uso de simuladores. Nos últimos dois anos, a empresa já investiu mais de 500 milhões de reais no desenvolvimento próprio dessas ferramentas. Entre os modelos criados estão simuladores desde guindastes Rough Terrain e até pontes rolantes Demag. “Os simuladores estão em fases distintas de implementação no mercado”, afirma a empresa. “O primeiro foi lançado em 2014 e o segundo, na M&T Expo, finalizando a fase de testes em dezembro de 2015, com início dos primeiros treinamentos agora em fevereiro.”

Aliás, o simulador de pontes rolantes já é utilizado desde 2014 na qualificação de operadores em indústrias. Além de estar disponível de forma itinerante nas Unidades de Treinamento Móvel da marca, o que garante atendimento aos clientes sem necessidade de deslocamento dos operadores até a fábrica. “Acreditamos na qualificação dos operadores para que seus equipamentos sejam utilizados de forma mais segura e eficaz. Para os nossos clientes a oferta dos simuladores reduz custos com deslocamento de profissionais”, afirma a empresa.

NEGÓCIO

Para o engenheiro Fábio Passokowski, gerente comercial da Oryx Simulations, que fornece simuladores para a Terex, Volvo CE e Komatsu, entre outras marcas, o investimento realizado neste tipo de equipamento é fundamental para as empresas. Isso porque, além de capacitar novos operadores na função e qualificar a mão de obra existente, os simuladores reduzem significativamente o número de acidentes nos canteiros de obras. “As grandes empresas, como mostra o exemplo da própria Odebrecht, comprovam na prática que o investimento dá retorno”, destaca.

Apesar disso, a freada do setor impõe alguns desafios. Considerando que a maioria dos simuladores é fabricada fora do Brasil, a alta do dólar preocupa fornecedores das marcas e representantes de simuladores. Tanto que, como ressalta Passokowski, a partir de abril a Oryx decidiu não manter mais um escritório no Brasil, tornando-se mais uma vítima da crise econômica que assola o país.

O que é uma pena e uma perda para o setor. Uma das maiores fabricantes desse tipo de solução, a Oryx Simulations tem fábrica em Umeå, cidade localizada a 600 km de Estocolmo, na Suécia. Na mesma região de origem da Oryx estão estabelecidas as fábricas da Komatsu Forest e das cabines de caminhões da Volvo CE.

A empresa já vendeu mais de 500 simuladores de equipamentos em todo o mundo, sendo que aproximadamente 10% foram comercializados na América Latina, como revela o executivo.

Passokowski acresce que os simuladores são produzidos em parceria como a Algoryx Simulation, fabricante do “software motor” do simulador, a base sobre a qual se desenvolve todo o equipamento. “Muitos desenvolvedores de simuladores compram este motor de outras empresas”, reitera. “Temos a vantagem de o motor e o software do simulador serem feitos por nós.”

CONFIGURAÇÃO

De modo geral, diz ele, os simuladores podem apresentar três tipos de configurações, incluindo “laptop” (com preço final no Brasil em torno de 95 mil reais), “série 500” (350 mil reais) e “com cabine” (não inferior a 1 milhão de reais).

Segundo Passokowski, a “série 500” inclui os modelos mais vendidos (cerca de 80% da demanda), geralmente dotados de plataforma de movimento e peso médio de 300 kg. “São modelos facilmente transportáveis e com a melhor relação custo-benefício”, garante. “Além disso, basta ligar em uma tomada e começar a utilizá-lo.”

Também equipados com plataforma de movimento, os modelos “com cabine” têm produção mais limitada. “Sua configuração final e preço são estabelecidos de acordo com as necessidades técnicas do cliente”, conclui o especialista.

Simulador não é videogame

O diferencial do simulador está no modo como seu software é criado. “Em um simulador, cada movimento do volante ou pedal desencadeia uma reação, fazendo com que se tenha o efeito de molas, amortecedores, pneus, deflexões de materiais, mudança de centro de gravidade etc.”, explica Fábio Passokowski, gerente comercial da Oryx.

 

 

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