Como é de conhecimento geral, a drástica retração econômica no país deve-se a inúmeros fatores. Contudo, o principal nó a ser desatado ainda é a instável situação política, cujos reflexos são sentidos mais fortemente nos setores que dependem, justamente, de decisões de cunho político.
Dentre os mais onerados pelo momento turbulento está o segmento de construção de estradas, profundamente dependente de licitações de obras públicas para seu bom andamento. Não é por outro motivo que esta indústria enfrenta uma das maiores quedas na indústria brasileira, da ordem de 60% – ou até mais, em casos específicos. É aí que entra com força total o comércio exterior, atual protagonista nos reduzidos negócios das empresas instaladas no Brasil, que usam suas plantas como centro distribuidor para outros mercados da região e, muitas vezes, também para outros continentes.
É o caso da Volvo CE, que hoje tem seu ranking de vendas ainda liderado pelo Brasil, seguido por Chile, Colômbia, Panamá e México. Segundo Babliton Cardoso, que já foi responsável pelo desenvolvimento d
Como é de conhecimento geral, a drástica retração econômica no país deve-se a inúmeros fatores. Contudo, o principal nó a ser desatado ainda é a instável situação política, cujos reflexos são sentidos mais fortemente nos setores que dependem, justamente, de decisões de cunho político.
Dentre os mais onerados pelo momento turbulento está o segmento de construção de estradas, profundamente dependente de licitações de obras públicas para seu bom andamento. Não é por outro motivo que esta indústria enfrenta uma das maiores quedas na indústria brasileira, da ordem de 60% – ou até mais, em casos específicos. É aí que entra com força total o comércio exterior, atual protagonista nos reduzidos negócios das empresas instaladas no Brasil, que usam suas plantas como centro distribuidor para outros mercados da região e, muitas vezes, também para outros continentes.
É o caso da Volvo CE, que hoje tem seu ranking de vendas ainda liderado pelo Brasil, seguido por Chile, Colômbia, Panamá e México. Segundo Babliton Cardoso, que já foi responsável pelo desenvolvimento da área de roadbuilding para a América Latina da companhia sueca e atualmente é diretor comercial da SDLG Latin America, o resultado pífio nas vendas internas em 2015 foi em parte compensado pelos mercados externos. “O Peru cresceu bastante no último ano, assim como a Bolívia, e ambos suplantaram o México, que já foi o principal destino dos produtos fabricados aqui”, diz. “De fato, estes dois países surpreenderam pelo desempenho.”
E, a despeito da crise por aqui, a Volvo CE continua investindo em treinamento, que vem sendo seu bastião nas diferentes frentes de negócios em que atua. “No ano passado, tivemos em média 15 sessões de treinamento em nosso Road Institute, uma ou mais por mês”, pontua. “Muito além dos aspectos técnicos e operacionais, o objetivo é maximizar a produtividade e a rentabilidade dos nossos clientes.”
OTIMIZAÇÃO
De olho na otimização de resultados – e na expectativa por dias melhores, naturalmente –, a Volvo CE aproveitou a boa receptividade ao Road Institute para criar posteriormente o projeto “Pavimentando o Futuro”, em parceria com instituições de ensino brasileiras e, em um futuro próximo, também latino-americanas. A ideia é aproximar os futuros engenheiros do universo da construção de estradas que, como esclarece Cardoso, apesar do momento econômico turbulento, continua evoluindo em direção aos mais altos níveis de eficiência. “Isso implica diretamente em novas tecnologias, para as quais estamos nos antecipando na preparação desses profissionais, que serão os empresários do setor em médio e longo prazo”, pondera.
Muitas destas novas tecnologias, inclusive, foram apresentadas na M&T Expo 2015. A Volvo CE renovou sua linha, passando a contar com três produtos em cada categoria, sobre esteiras ou sobre rodas. Mas é no segmento sobre esteiras que se concentra a maior parte de suas vendas, à proporção de 70% nesta configuração, com 30% sobre pneus. E o motivo, Cardoso tem de pronto. “O Brasil tem apenas 12% de sua malha rodoviária asfaltada, constituindo uma imensa oportunidade para projetos de grande porte, que exigem maquinário com maior torque e capacidade de tração, assim como mesas mais amplas, necessidades atendidas plenamente pelos modelos sobre esteiras”, afirma.
Na mesma medida fluem os negócios na Atlas Copco. De acordo com Carlos Eduardo dos Santos, gerente de produto da companhia, a deficiência de estradas no Brasil configura um grande filão para as pavimentadoras. Mais do que isso, com um grande número de lotes de trechos rodoviários a serem licitados neste e nos próximos anos, a perspectiva de negócios – especialmente diante de um mercado ainda em queda livre – é alentadora. Somente para o Programa de Investimentos em Logística (PIL), que prevê melhorias em toda a malha de transportes – incluindo aí todos os modais – serão destinados quase R$ 200 bilhões nos próximos anos, dos quais mais de 30% para rodovias.
O maior atrativo da Atlas Copco, segundo o executivo, é o portfólio de produtos customizados, para o cliente obter maior produtividade do equipamento. “Estudamos meticulosamente a operação para oferecer o produto mais adequado”, ressalta. Na companhia, as pavimentadoras sobre esteiras também são as vedetes do negócio, com cerca de 80% das vendas.
Apesar de mais lentas, frisa Santos, essas máquinas “têm mais tração e aderência, importantes em áreas mais amplas”. Já as soluções sobre rodas, que respondem pelos demais 20%, “são mais rápidas, flexíveis e excelentes em condições urbanas”. Ambas as linhas oferecem diversos tamanhos de mesas, ao gosto do cliente, sendo que “a escolha é mais uma questão cultural do que de vantagem de uma ou de outra”.
Outro especialista que enxerga nisso um padrão cultural é Juliano Gewehr, especialista de produto e aplicação da Ciber, braço brasileiro do conglomerado alemão Wirtgen, que tem suas vendas fracionadas em 70% de equipamentos sobre esteiras e 30% sobre rodas. O executivo, por sua vez, atribui essa proporção não somente ao hábito, mas também ao aspecto financeiro, já que na composição de custos de uma obra as alimentadoras (máquinas que recebem o asfalto do caminhão e o transferem para a mesa) não estão contempladas. “Com isso, a demanda por tração é ainda maior, e os modelos sobre pneus acabam não dando conta”, afirma.
REDESENHO
Das principais fabricantes que atuam no segmento, a única que foge ao padrão brasileiro é a Ammann, fabricante suíça cujas vendas de pavimentadoras asfálticas se dividem em 20% sobre esteiras e 80% sobre rodas. Pata Marcelo Ritter, coordenador de vendas e marketing da subsidiária brasileira, isso se deve à “mantenabilidade da capacidade de tração dos equipamentos da marca, uma vez que toda nossa linha sobre rodas é ofertada em configuração 4x4 ou 6x6 e com rodado traseiro mais largo, de modo a promover melhor equilíbrio na distribuição de peso e, portanto, melhor desempenho final”.
Em comum, no entanto, neste momento de instabilidade política e econômica todas têm os olhos voltados para o mercado exterior. A própria Ammann, que atende a toda a América Latina com sua produção de Gravataí (RS), registrou linhas com mais de 60% de produtos exportados. “Ao contrário do Brasil, que apesar de tudo permanece sendo nosso maior mercado, outros países da região cresceram em 2015, como a Bolívia, com 6,5%, e Panamá, com 7%, além de Peru, República Dominicana e Nicarágua, todos na casa dos 5%”, posiciona.
Assim com o a Volvo CE, a empresa suíça também aposta em outras frentes, como a realização do 1º Ammann Asphalt Forum, evento que no final de março reuniu especialistas em pavimentação de diversos países na capital paulista. E, ainda, no redesenho de processos, buscando minimizar desperdícios e custos industriais, para poder investir no desenvolvimento de produtos e tecnologias. “Quando esta fase passar, estaremos prontos para responder às demandas do mercado”, diz Ritter. “Acreditamos que o Brasil oferece muitas oportunidades de negócios e que esta fase é apenas uma situação momentânea.”
A leitura pragmática de Ritter inclui ajustes técnicos e de pessoal, bem como a ampliação dos horizontes dos negócios. E tal visão é compartilhada por seus pares de mercado, como Santos, da Atlas Copco. “Todos esperavam uma retração, algo em torno de 20%, mas ninguém antecipou um valor acima de 50%”, diz ele. “Para nós, 2015 foi um ano de reformulação em todos os âmbitos do negócio, primordialmente de processos fabris e estratégias de mercado.”
Com isso, o mercado externo sem dúvida também ganhou vulto na companhia, que conta com países de todos os continentes como destinos de seus produtos finalizados em Sorocaba (SP). Mas, com um modelo de negócio descentralizado, com linhas específicas em cada planta, Santos afirma “não haver planos de tornar a unidade uma base exportadora”.
INCREMENTOS
Embora tenha visto suas vendas de máquinas rodoviárias despencarem 64% no mercado interno, a Ciber contornou a situação aumentando a relevância das exportações. Recentemente, a companhia registrou um acréscimo de 75% no faturamento, advindos de remessas para as nações que atende a partir de sua planta em Porto Alegre (RS). Ademais, enquanto a situação não clareia no país a empresa está investindo alto em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e tecnologias, o que, segundo Gewehr, tem assegurado a liderança no mercado interno. “Em 2015, aumentamos em 25% nossos aportes em P&D, o que, somado ao fortalecimento de nossa rede de distribuição, ao atendimento pós-venda e aos incrementos no portfólio, ajudou a manter cerca de 30% de participação das vendas nos segmentos de pavimentadoras, usinas de asfalto, fresadoras e recicladoras”, enfatiza.
A expectativa do executivo é de que, já a partir do segundo semestre, a indústria de equipamentos para construção de estradas comece lentamente a retomar fôlego, com o início de projetos rodoviários importantes no país – os mesmos que alimentam o combalido ânimo dos demais executivos ouvidos nesta reportagem.
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