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Revista M&T - Ed.229 - Novembro 2018
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Pavimentação

Tração e estabilidade

Produtividade das máquinas está atrelada à força, ritmo de deslocamento e capacidade de flutuação da mesa, sem abrir mão de planejamento e interação entre as equipes
Por Santelmo Camilo

O pavimento asfáltico das rodovias brasileiras tem vida útil estimada entre oito e doze anos. Isso na teoria, pois na prática os graves problemas estruturais começam a aparecer bem antes, em alguns casos já no primeiro ano após a conclusão da rodovia.

Essa realidade foi trazida à tona no estudo “Transporte Rodoviário: Por que os pavimentos das Rodovias do Brasil não duram?”, encomendado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).

Para essa pesquisa, foram avaliados o estado de conservação dos pavimentos nos últimos 13 anos, métodos e normas que regem as obras rodoviárias no Brasil e em outros países, além de resultados de auditorias realizadas por órgãos de controle e entrevistas com especialistas de diferentes setores. Os resultados deixam claro que o Brasil ainda utiliza metodologias ultrapassadas para o planejamento d


O pavimento asfáltico das rodovias brasileiras tem vida útil estimada entre oito e doze anos. Isso na teoria, pois na prática os graves problemas estruturais começam a aparecer bem antes, em alguns casos já no primeiro ano após a conclusão da rodovia.

Controle de nivelamento é indispensável para manter a regularidade do pavimento

Essa realidade foi trazida à tona no estudo “Transporte Rodoviário: Por que os pavimentos das Rodovias do Brasil não duram?”, encomendado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).

Para essa pesquisa, foram avaliados o estado de conservação dos pavimentos nos últimos 13 anos, métodos e normas que regem as obras rodoviárias no Brasil e em outros países, além de resultados de auditorias realizadas por órgãos de controle e entrevistas com especialistas de diferentes setores. Os resultados deixam claro que o Brasil ainda utiliza metodologias ultrapassadas para o planejamento de obras, abusando de técnicas deficitárias na execução, investindo pouco e reincidindo em falhas básicas no gerenciamento das obras, na fiscalização e na manutenção das pistas.

VERTENTE

O mais irônico nessa realidade é que o mercado brasileiro dispõe de uma oferta ampla de equipamentos com altíssima tecnologia, nacionais e importados, absolutamente apropriados para atender aos parâmetros técnicos necessários desse setor. Nesse sentido, a pavimentadora – também conhecida como vibroacabadora – é uma das vedetes para essa aplicação. A máquina é capaz de produzir uma camada superficial pré-compactada do pavimento, proporcionando estabilidade na camada asfáltica e uma textura homogênea, facilitando o processo posterior de compactação. Aliás, esse desempenho é fator crucial para se alcançar a qualidade final no pavimento.

Uma pavimentadora pode ser caracterizada por três conjuntos principais: o silo de material (responsável pelo recebimento da massa asfáltica produzida na usina de asfalto), a estrutura principal (onde se encontra o trem de força responsável pelo transporte da massa asfáltica até a mesa compactadora e seu deslocamento) e, por fim, a mesa compactadora (que faz o espalhamento e nivelamento da nova camada pavimentada). “A eficiência da máquina está atrelada à força de tração, velocidade de deslocamento e capacidade de flutuação da mesa compactadora, além de prover movimentos suaves”, explica Rodrigo Pereira, gerente de produtos e negócios da Bomag Marini Latin America, cujo portfólio inclui a Série VDA MAX, equipada com motor Cummins QSB4.5, Tier 3, sistema eletrônico de injeção e 130 hp de potência.  “Como item adicional, na mesa compactadora também é possível instalar o sistema automático de controle de nivelamento, indispensável para manter a regularidade do pavimento.”

Normalmente, esse sistema de nivelamento é composto por um sensor transversal e outro longitudinal. “O nivelamento transversal determina o percentual de inclinação da pista, também conhecido como Slope, podendo ser utilizado em combinação com o nivelamento longitudinal, que é responsável por executar a regularização longitudinal da pista”, descreve Pereira. “O importante é que ambos seguem os parâmetros pré-estabelecidos de projeto.”

Tração ao eixo dianteiro é essencial para manter constante a velocidade da máquina

Uma pavimentação de qualidade leva em conta vários fatores, desde as características e regulagens da pavimentadora até o treinamento dos técnicos envolvidos no planejamento de aplicação da massa asfáltica. Para aumentar a eficiência da pavimentadora, alguns pontos prévios precisam ser observados, mormente os relacionados ao tipo de pré-compactação realizado pela mesa alisadora (vibratório ou tamper), a eficiência do sistema de aquecimento da mesa e os tipos de sensores e material rodante utilizados.

De acordo com Paulo Roese, territory manager para o segmento de pavimentação da Caterpillar no Brasil, Paraguai e Uruguai, muitos problemas podem ser evitados com um planejamento adequado, já antes do início da pavimentação. “É prioritário criar sistemas eficientes de comunicação entre o pessoal da usina e a equipe de pavimentação, que deve ter conhecimento de possíveis mudanças de horário ou de formulação da mistura recomendada”, sugere. “A equipe também precisa se planejar com antecedência para ter um processo que assegure uma execução correta a todos os elementos do plano.”

TRAÇÃO

Tradicionalmente, a pavimentadora encosta no caminhão e o empurra. Então, o veículo bascula a caçamba e despeja o material no silo da máquina. Nesse processo, qualquer balanço causado por frenagem no trator da máquina pode interferir no trabalho da mesa, causando mudanças na espessura do pavimento. “Todas as paradas para troca de caminhão resultam em saliências, imperceptíveis a olho nu, mas que podem ser detectadas na rodovia a uma velocidade de 120 km/h”, explica Carlos Eduardo dos Santos, gerente de produto e aplicação da Dynapac. “Quando são utilizados veículos de transferência de asfalto, essas paradas não ocorrem.”

Isso porque, sem o uso desses veículos, o caminhão faz a descarga do material diretamente na pavimentadora. De acordo com Santos, isso normalmente provoca atrasos operacionais na atividade, além de gerar outros custos, com o caminhão preso à pavimentadora, quando poderia realizar mais viagens.

Pavimentadoras de pneus não devem ser classificadas como inferiores, diz especialista

Durante o carregamento da acabadora também é comum o caminhão movimentar-se em ré e bater nos roletes frontais da máquina. Nesse caso, toda a carga é transferida para a mesa da acabadora, na parte traseira, que sofre o impacto e consequentemente deixa marcas no pavimento. “A operação correta deve ser realizada com a acabadora movimentando-se e conectando-se ao caminhão, e não o oposto”, orienta Jandrei Goldschmidt, gerente de marketing da Ciber Equipamentos Rodoviários.

O sistema de tração tem pouca influência no trabalho. A parte dianteira da máquina tem a função de colocá-la para andar, pois é a mesa que faz o trabalho de pavimentação em si, tornando-se a parte mais crítica do conjunto. Segundo Santos, da Dynapac, a mesa determina o acabamento da massa asfáltica, a espessura e o nivelamento da pavimentação. “A tração é essencial para manter a velocidade constante da máquina, que não pode patinar”, diz.

Para ele, o mercado brasileiro mostra preferência por modelos com esteiras em estrutura de aço e sapatas revestidas de borracha, para contato com o solo. “Há modelos com esteiras com sapatas de aço sem cobertura emborrachada, mas são inviáveis pois acabam maltratando o solo que já teve a base preparada”, explica, adicionando que não vê aplicabilidade em esteiras sem revestimento de borracha.

Já no caso das esteiras com estrutura de borracha, o que ocorre mais em máquinas menores, o especialista observa que podem esticar e gerar problemas de tração, com as rodas patinando no lado interno das esteiras. “São modelos até com aplicabilidade no mercado, porém com parcela restrita de vendas”, avalia.

CORAÇÃO

A mesa de pavimentação é considerada o coração da pavimentadora. Goldschmidt, da Ciber, descreve como principais funções o perfilamento e o acabamento do material conforme as especificações pré-definidas. “Elas regulam as larguras, espessuras, inclinações e coroamento, obtendo uma pré-compactação adequada, conforme o sistema disponível”, explica.

Segundo ele, as pavimentadoras atuais possuem diferentes tecnologias de nivelamento, para as mais variadas aplicações. O sistema mecânico é utilizado para copiar uma referência, como cabo e base, entre outras, enquanto o sensor sônico copia uma referência, sem contato físico. “Devido às dimensões reduzidas, esse sistema é particularmente adequado para obras com espaço reduzido e para trabalhos que exigem a reprodução exata da referência”, detalha.

Shuttle buggy: disposição homogeneizada da massa, sem bolsões de asfalto frio

Por sua vez, o sensor de inclinação indica a inclinação transversal do greide, servindo de referência para o receptor, com nivelamento gerado por laser rotativo. Por fim, o programa Big MultiPlex Ski faz a medição da referência sem contato, com três sensores sônicos com comprimento variável da régua de 6,5 m a 13 m. “Com a tecnologia, podem ser atingidas elevadas densidades iniciais no pavimento, sem utilização de rolos compactadores”, garante Goldschmidt. “As mesas podem ser ajustadas com precisão milimétrica para trabalhos com larguras de pavimentação variáveis.”

Na Dynapac, a mesa das pavimentadoras traz um sistema de quatro tubos que provê ganhos ao equipamento. “Em pavimentos em curvas, normalmente exige-se uma correção e a abertura da mesa em um dos lados, já que a tendência é o deslocamento para fora da curva”, detalha Marcos Bueno, especialista de produtos da marca. “Com esse sistema de quatro tubos, é possível fazer o ajuste de maneira ágil, com rigidez e estabilidade.”

Por conta desse sistema, ele completa, a mesa não precisa ser muito alta, melhorando a visibilidade do compartimento dianteiro pelo operador, que pode averiguar se há material suficiente à frente. Outra vantagem destacada pelo especialista advém do sistema de sapatas mais largas, com 320 mm de largura.

Além dessa tecnologia, a solução chamada “Add Traction” para máquinas de rodas consegue identificar automaticamente o peso adicional de material à frente e transferir mais força de tração ao eixo dianteiro. “Isso evita a patinagem”, garante o especialista. Há ainda o “Truck Assist”, um sistema de luzes à frente do silo que indica ao caminhão o momento exato de parar, encostar ou descarregar, o instante em que a caçamba pode ser baixada e sair etc. “O operador pode acionar a sinalização luminosa para facilitar o trabalho, especialmente em horários noturnos e locais de difícil visibilidade”, ressalta.

RODANTE

Antes de escolher uma pavimentadora pelo material rodante, Roese, da Caterpillar, alerta que vários questionamentos devem ser respondidos: o trabalho é urbano ou rodoviário? É tapa buracos? A máquina pavimentará grandes larguras de asfalto? As camadas são espessas? Os caminhões possuem capacidade acima de 20 toneladas? Há rampas de inclinação elevada? Serão usados equipamentos de transferência de material?

De acordo com ele, somente com base nas respostas a essas perguntas é que será possível escolher entre um modelo de esteiras ou de rodas. Como se sabe, as pavimentadoras de rodas são indicadas para pavimentação urbana, em que precisam ser deslocadas entre diferentes trechos isolados para trabalhar. Segundo Santos, da Dynapac, esses modelos realmente possuem agilidade, porém são suscetíveis à patinagem. “Por isso, há certa resistência cultural em relação a eles. O cliente já sabe desse problema e evita adquirir”, afirma. “Mas empresas que precisam de agilidade em perímetros urbanos, tomando os cuidados com a limpeza à frente da máquina, optam pelos modelos de rodas.”

A máquina de pneus pode ser tracionada nas duas, quatro ou mesmo oito rodas. Todavia, as pavimentadoras de esteiras apresentam melhor aderência ao solo em relação aos modelos de pneus, embora não sejam tão apropriadas para situações em que, para pavimentar pontos isolados, seja preciso se deslocar por vias urbanas ou rodovias.

Nesse ponto, Goldschmidt, da Ciber, acrescenta que as máquinas de esteiras apresentam maior área de contato do material rodante, o que gera maior força de tração, podendo ser aplicadas em situações que demandam alta força, como em obras com grandes inclinações. “Devido a essa alta capacidade, permitem pavimentar em larguras maiores que as máquinas de pneus, além de obter uma pavimentação mais estável”, avalia. “Esses equipamentos são recomendados para as obras onde força de tração e estabilidade sejam fatores determinantes.”

O executivo concorda que as máquinas de pneus apresentam elevada velocidade de transporte e mobilidade para aplicação em obras contínuas e intermitentes, mas faz um contraponto. “Muitas vezes, as pavimentadoras de pneus são classificadas como inferiores, com resultados ruins ou de baixa qualidade em qualquer situação, o que não é correto”, assinala. “Na maioria das vezes, o equipamento é operado de forma incorreta e isso gera resultados ruins, decorrentes da operação e não do tipo de seu material rodante exclusivamente.”

TRANSFERÊNCIA

Mais que tendência, os veículos de transferência de asfalto – Shuttle Buggy – já são realidade em vários países. De acordo com José Rogério de Paula e Silva, diretor da Astec do Brasil, os veículos são abastecidos pelos caminhões e permanecem constantemente conjugados à pavimentadora, fazendo o suprimento de massa asfáltica de maneira homogênea e contínua.

Assim, funcionam como uma espécie de pulmão para a massa asfáltica, servindo ao armazenamento do material até a chegada de outro caminhão para descarregar. “A temperatura de deposição e disposição da massa torna-se homogeneizada, sem deixar pontos de bolsões de asfalto frio nem áreas onde ocorram potenciais futuras quebras e buracos no asfalto”, esclarece. “Dessa maneira, ajudam a aumentar a vida útil do pavimento.”

De acordo com o diretor, esses veículos geram três impactos principais: pavimentação contínua e com maior produtividade, otimização do uso dos equipamentos e possibilidade de se obter um estoque de massa asfáltica enquanto se trabalha na homogeneização na massa. “Algumas empresas já detectaram esses benefícios, mas ainda não puderam investir nesses equipamentos devido ao cenário difícil dos últimos anos”, reconhece. “Mas certamente ainda verão a necessidade de investir em soluções que aumentem a qualidade e produtividade. Hoje, as concessionárias que investem nesses equipamentos mensuram a qualidade e durabilidade do pavimento por parâmetros e procedimentos que só podem ser atendidos com a otimização tecnológica.”

Em concordância, Pereira, da Bomag Marini, observa que a utilização desses veículos no mercado brasileiro ainda é incipiente. “Possuímos consultas em aberto, porém, como são equipamentos recomendados para obras de grande porte, em que se requer o deslocamento de grandes volumes de massa e, principalmente, grandes larguras de pavimentação, as perspectivas de curto prazo ainda são pequenas”, encerra.

Saiba mais:

Astec do Brasil: www.astecdobrasil.com

Bomag Marini: bomagmarini.com.br

Caterpillar: www.cat.com/pt_BR

Ciber: www.ciber.com.br

Dynapac: www.dynapac.com

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