Revista M&T - Ed.168 - Maio 2013
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Gestão

Cultura da excelência

Sob o conceito de "operação enxuta", a carioca Mills Rental propõe novos padrões de gestão e segurança no segmento de locação de equipamentos de acesso

Há cerca de cinco anos, ao iniciar um choque de gestão que acabaria por atingir toda sua estrutura corporativa, a Mills Rental literalmente se recriou para o mercado brasileiro de locação de equipamentos de acesso e elevação. Para um de seus principais produtos, as plataformas de trabalho aéreo, os tempos eram propícios e desafiadores com uma expansão sem precedentes na demanda nacional. Isso forçou a empresa a organizar-se melhor para crescer de forma sólida no novo cenário, no qual o Brasil passou a figurar como hot spot consolidado para esse tipo de máquina.

Para o leitor ter uma ideia desse crescimento vertiginoso, no período a divisão de locação do Grupo Mills expandiu sua presença de três unidades para 25 no país, sendo que seis delas foram inauguradas nos últimos meses. Por outro lado, só no primeiro bimestre deste ano, a empresa incorporou 1.600 novos equipamentos, que são divididos de forma equilibrada entre as marcas JLG e Genie, além da inclusão ainda incipiente da canadense Skyjack. Por uma questão de estratégia a empresa possui ações negociadas em bolsa –, a Mills Rental


Há cerca de cinco anos, ao iniciar um choque de gestão que acabaria por atingir toda sua estrutura corporativa, a Mills Rental literalmente se recriou para o mercado brasileiro de locação de equipamentos de acesso e elevação. Para um de seus principais produtos, as plataformas de trabalho aéreo, os tempos eram propícios e desafiadores com uma expansão sem precedentes na demanda nacional. Isso forçou a empresa a organizar-se melhor para crescer de forma sólida no novo cenário, no qual o Brasil passou a figurar como hot spot consolidado para esse tipo de máquina.

Para o leitor ter uma ideia desse crescimento vertiginoso, no período a divisão de locação do Grupo Mills expandiu sua presença de três unidades para 25 no país, sendo que seis delas foram inauguradas nos últimos meses. Por outro lado, só no primeiro bimestre deste ano, a empresa incorporou 1.600 novos equipamentos, que são divididos de forma equilibrada entre as marcas JLG e Genie, além da inclusão ainda incipiente da canadense Skyjack. Por uma questão de estratégia a empresa possui ações negociadas em bolsa –, a Mills Rental não revela o tamanho total de sua frota de equipamentos, que também inclui manipuladores telescópicos e possui um alto índice de mobilização entre 70% e 75%.

ENXUGAMENTO

Culminando o processo de reposicionamento, há um ano a Mills Rental adotou um conceito oriental de organização que, dentre outros objetivos, propõe-se a reduzir e eliminar o tempo de trabalho não-produtivo, de forma a potencializar a atuação de seus atuais 400 profissionais. “A partir de um estudo das atividades, por exemplo, eliminamos movimentos desnecessários e reduzimos de 3,5 km para 1,3 a distância que o profissional percorre no trabalho”, explica Sérgio Kariya, diretor da Mills Rental. “Com isso, reduzimos em 60% os movimentos desnecessários e poupamos cerca de duas horas nessas funções, agregando maior valor à produtividade, à empresa e aos nossos clientes.”

O denominado lean concept (conceito enxuto, em tradução livre) tem inspiração no Toyota Production System (TPS), uma filosofia orgânica de produção surgida no Japão do pós-guerra e que prevê a implantação verticalizada de sistemas de controle de qualidade total. Nessa linha, a Mills Rental estabeleceu uma estratégia inovadora para padronizar os processos e reduzir oito diferentes tipos de desperdícios, desde o pedido até a entrega dos equipamentos ao cliente. Além de tempo perdido, a lista inclui excessos de produção, processos, transportes, estoques, retrabalho, movimentação e operação.

Em termos práticos, a estratégia fundamenta-se em mobilizar as gerências em aspectos como disponibilidade, agilidade, confiabilidade e segurança do equipamento (leia Box na pág. 45). E, em um espaço de tempo relativamente curto, os resultados da implantação dessas técnicas proativas de atuação já são consideráveis, tendo em vista o maior desafio e propósito do projeto: transformar continuamente a postura das pessoas no ambiente de trabalho. “Trata-se de um processo de mudança da cultura que, quando começa, não pode mais parar”, enfatiza Kariya. “Além de obter custos menores, almejamos um melhor aproveitamento dos equipamentos de acesso, redução de compras de emergência e aprimoramento da gestão de peças de reposição.”

MUDANÇAS

Inicialmente, o conceito foi aplicado nos setores administrativo, de vendas e de operações de campo, mas com os significativos resultados já obtidos ele deve ser estendido para toda a estrutura no médio prazo. “Com uma visão mais clara dos processos internos, registramos uma economia de 35% nos custos desses três setores no último ano”, contabiliza Marcelo Massaharu Yamane, gerente técnico e de operações da Mills Rental. “Do pedido à entrega, reduzimos o trabalho em 62% e ganhamos cerca de 1 hora e 25 minutos por mês, aspectos que obviamente se refletem em melhores resultados, maior organização e potencial para crescer ainda mais.”

Para isso, foram realizadas muitas mudanças. A empresa centralizou as vendas internas, passou a monitorar o tempo de resposta, aumentou o controle de processos, demanda e preços, reduziu pessoal e serviços, aperfeiçoou a manutenção e refez o layout das instalações, incluindo a organização espacial das filiais.

Com a centralização dos processos, todos os pedidos passaram a ser atendidos por uma única área do setor administrativo. Em vendas, que tiveram um incremento de 57% de produtividade, foi implantado um sistema mais eficiente de gestão, incluindo monitoramento, controle de descontos e redução da dependência de representações externas. Também foram centralizadas todas as chamadas técnicas e operacionais de clientes no país e, para aperfeiçoar as operações de campo, foi criado um sistema móvel para gerenciar as ordens de serviço técnicas.

A empresa implantou ainda uma central 0800 e passou a monitorar a quantidade de chamadas e de propostas emitidas diariamente, diminuindo o tempo de resposta ao cliente. “O lean permitiu a geração de relatórios diários com a quantidade de chamadas e o tempo de atendimento”, diz Yamane. “Todas as ordens de serviços agora chegam em tempo real e são mapeadas integralmente.”

Em termos logísticos, os ajustes finos impactaram até mesmo nas viagens e estadias de representantes, que também foram centralizados e tiveram seus custos reduzidos em 30% desde o início do programa. Essas mudanças pontuais, que visam a envolver a produção como um todo, certamente fazem a diferença na qualidade dos serviços e resultados da empresa, que se alinha de forma pioneira no país a bem-sucedidas experiências de sistemas just in time desenvolvidas em outros países.

“Nos próximos anos, a cultura de excelência no setor de aluguel de equipamentos de acesso será uma tendência predominante”, avalia Kariya. “Nesse sentido, nos preparamos para oferecer soluções cada vez mais inteligentes e de alta qualidade aos nossos clientes, com a garantia de envolvimento integral de cada setor e cada funcionário em nossa empresa como agentes de mudança.”

Projeto com a Vale capacita lideranças

Premiada pelo IAPA (International Awards for Powered Access) como melhor empresa de locação em 2012, a Mills Rental foi novamente indicada neste ano pelo desenvolvimento de uma proposta inovadora de treinamento para trabalho em altura. Desde março de 2012, a empresa vem realizando treinamentos de lideranças supervisores, encarregados e engenheiros em seis canteiros de mineração da Vale em Minas Gerais e no Espírito Santo.

No ano passado, foram treinados 171 profissionais, sendo que a meta para este ano é qualificar mais 350 líderes da mineradora, que vinha registrando aumento no índice de incidentes com as máquinas, até por conta da expressiva expansão da frota. Segundo a Mills Rental, o objetivo do projeto é prover conhecimento total sobre o equipamento, estimular o comprometimento e aprimorar a capacidade de orientação, multiplicando o conhecimento e as práticas de segurança. “Os líderes da obra devem desenvolver a percepção de perigo que envolve o uso em grandes alturas e, portanto, receber o mesmo treinamento que os operadores, com objetivo de evitar situações de risco e identificar os perigos inerentes à operação”, frisa Sérgio Kariya, diretor da Mills Rental.

Com índice de satisfação de 98%, o número de ocorrências tem decrescido em proporção inversa ao aumento no número de máquinas. “O incidentes com plataformas caíram mais de cinco vezes no período”, revela Ivan Montenegro de Menezes, diretor de projetos da Vale. Mesmo que o projeto de on-site leadership enfrente diferentes dificuldades, como o agressivo ambiente de operação, as atividades críticas e o aumento exponencial no uso dos equipamentos, o principal desafio continua sendo mudar o comportamento das pessoas. “É uma ilusão achar que se está livre de riscos”, pondera Montenegro. “E mudar esse comportamento requer uma ênfase nas atitudes, pois é muito difícil mudar a cabeça das pessoas, principalmente quando elas têm mais experiência.”

Venda de seminovos cresce na empresa

Em 2012, a divisão de locação da Mills cresceu aproximadamente 50,8% em relação ao ano anterior, obtendo lucros da ordem de R$ 141,2 milhões. A divisão também bateu seu recorde anual de receitas líquidas, que atingiram R$ 253,5 milhões, índice 44,5% acima do obtido em 2011. Um fato interessante é que, em meio a esse forte ritmo de crescimento e à nova realidade do setor de equipamentos de acesso, a divisão Rental assiste a um aumento expressivo na comercialização de máquinas seminovas. “Com o aumento da média de idade de nossa frota, a venda de seminovos tende a crescer e tornar-se um meio importante de financiamento para a renovação do nosso parque de máquinas, de modo a manter essa média baixa e, consequente, reduzir os custos de manutenção”, avalia Ramon Vazquez, CEO da Mills.

 

 

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