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Revista M&T - Ed.149 - Agosto 2011
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Mão de Obra

Como enfrentar este gargalo nos canteiros

Especialistas do setor apontam que a solução para a escassez de mão de obra nos canteiros de construção não passa apenas pela capacitação de pessoal, mas também pelo maior aproveitamento de profissionais locais

As grandes obras de infraestrutura no Brasil poderão ter seu cronograma comprometido se o país não formar rapidamente um contingente de trabalhadores aptos a atender toda a demanda de serviços nos canteiros de obras. Comparada ao Estudo de Mercado promovido pela Sobratema, que prevê um consumo de cerca de 78 mil equipamentos para construção este ano no Brasil, a formação de mão de obra avança num ritmo menor que o volume de máquinas disponibilizadas nas grandes obras.

As carências, entretanto, não se resumem apenas aos operadores e aos mecânicos que cuidarão desses equipamentos. Elas se estendem a toda a cadeia da construção, passando por engenheiros, técnicos, pedreiros, serventes e outros profissionais. “O parque de máquinas está aumentando para atendimento a essas obras, mas faltará gente treinada nos canteiros”, alerta Wilson de Mello Júnior, diretor do


Especialistas do setor apontam que a solução para a escassez de mão de obra nos canteiros de construção não passa apenas pela capacitação de pessoal, mas também pelo maior aproveitamento de profissionais locais

As grandes obras de infraestrutura no Brasil poderão ter seu cronograma comprometido se o país não formar rapidamente um contingente de trabalhadores aptos a atender toda a demanda de serviços nos canteiros de obras. Comparada ao Estudo de Mercado promovido pela Sobratema, que prevê um consumo de cerca de 78 mil equipamentos para construção este ano no Brasil, a formação de mão de obra avança num ritmo menor que o volume de máquinas disponibilizadas nas grandes obras.

As carências, entretanto, não se resumem apenas aos operadores e aos mecânicos que cuidarão desses equipamentos. Elas se estendem a toda a cadeia da construção, passando por engenheiros, técnicos, pedreiros, serventes e outros profissionais. “O parque de máquinas está aumentando para atendimento a essas obras, mas faltará gente treinada nos canteiros”, alerta Wilson de Mello Júnior, diretor do Instituto Opus, órgão criado pela Sobratema para a capacitação de mão de obra na área de equipamentos.

Por conta dessa situação, as construtoras e demais empresas do setor decidiram correr contra o tempo no desenvolvimento de projetos próprios de capacitação. O assunto mereceu até mesmo um seminário com especialistas do setor no Congresso Sobratema, promovido durante a realização da feira M&T Peças e Serviços (veja matéria na pág. 10). Na opinião dos profissionais presentes, a solução para a escassez de mão de obra não poderá ser resolvida individualmente pelas empresas, mas apenas a partir de um esforço conjunto envolvendo construtoras, fabricantes de equipamentos e poder público.

Problemas estruturais

De acordo com Wilson, as soluções para o problema podem ser antecipadas, na medida em que várias empresas estão colocando em prática programas próprios para a capacitação dos profissionais. Os projetos contemplam desde a alfabetização e educação básica, até a utilização de recursos como o ensino a distância, as parcerias com universidades e o uso intensivo de simuladores para o treinamento de operadores.

Os problemas encontrados já estão comprometendo a expansão da carteira de contrato das construtoras e a rápida ativação dos canteiros de obras: entre os trabalhadores com nível de escolaridade médio, alguns podem ser classificados como analfabetos funcionais e muitos não sabem executar sequer as quatro operações básicas da Matemática. A contratação de profissionais com formação superior, por sua vez, esbarra na dificuldade de que boa parte dos candidatos nunca se deparou com uma situação prática de coordenar equipes em canteiros de obras.

Empresários e analistas temem que o “apagão” de mão de obra comprometa o crescimento sustentado da economia. De acordo com uma pesquisa realizada pela Sobratema, uma carteira de 9.550 obras de infraestrutura, previstas até 2016, exigirá investimentos de R$ 1,2 trilhão, recurso suficiente para manter o aquecimento da economia.

Novos operadores

Para atender a essa carteira de obras, as construtoras e locadoras de equipamentos estão investindo na expansão da frota de equipamentos para construção, cujo consumo deverá aumentar em 10% este ano. Isso significa que cerca de 78 mil novas máquinas pesadas, entre escavadeiras hidráulicas, pás carregadeiras, caminhões basculantes e rolos compactadores, deverão entrar em operação este ano, além do parque já em atividade.

“Quem está formando mão de obra qualificada para operar esses equipamentos”, indaga Wilson. Ele ressalta que, diante da demanda reprimida, as aquisições se destinam mais à expansão que à modernização da frota, o que significa que o ingresso de uma nova unidade em operação não representa a desativação de uma antiga.

Nesse cenário, calculando que as máquinas trabalhem em dois turnos de serviço, o especialista avalia que o setor precisaria formar cerca de 140 mil profissionais para a operação dessa frota adicional. Além disso, ele pondera que os novos modelos incorporam recursos de eletrônica embarcada, o que requer maior especialização dos operadores e mecânicos.

Para Ivan Montenegro, diretor de implantação de projetos da Vale, essa realidade – a sofisticação dos equipamentos, que exige profissionais mais qualificados – impõe outro desafio à capacitação da mão de obra. “O cenário combina escassez de mão de obra especializada com uma das menores taxas de desemprego dos últimos anos, ou seja, não encontramos profissionais no mercado”, ele sintetiza.

Redução de acidentes

Segundo estatísticas da agência norte-americana OSHA (Occupational Safety and Health Administration), mais de 90% dos acidentes ocorridos em canteiros de obras se deve a falha humana, por negligência ou por falta de conhecimento (veja quadro na pág 58). Como o cenário parece ser semelhante no Brasil, as empresas locais estão combatendo o problema com treinamento, conscientização e capacitação de seus colaboradores, o que também se reflete em maior qualificação no trabalho e em ganhos de produtividade.

Além das construtoras, locadoras e demais empresas que operam com frotas de equipamentos, a iniciativa envolve fabricantes e sua rede de concessionárias, que estão se mobilizando para atender seus clientes com serviços de capacitação do pessoal. Com isso, a criação de programas de treinamento internos ou a contratação de instituições terceirizadas, como o Instituto Opus, torna-se mais comuns no setor.

Muitos projetos internos envolvem parcerias com universidades ou entidades de ensino e, para suprir a carência em níveis hierárquicos mais elevados, as empresas desenvolvem programas de trainees e de estágios. “Possuímos diversos programas voltados para a formação de profissionais qualificados nos mercados onde a Vale atua com foco nos níveis técnico, operacional e de gestão”, completa Montenegro.

Lições de quem faz

Segundo Tim Whiteman, diretor do IPAF (Federação Internacional de Plataformas Aéreas), nos países da União Europeia se investe fortemente na capacitação do quadro de operários devido às altas penas impostas às empresas que desrespeitam as normas de segurança. “Na Europa, as multas relacionadas ao descumprimento de tais normas são muito altas, e torna-se mais barato investir em conscientização”, ele explica.

Vale ressaltar que a IPAF já iniciou operações no Brasil com vistas à capacitação de profissionais para operação de plataformas aéreas. Uma das primeiras iniciativas envolveu uma parceira com a locadora Mills para a implantação de um programa voltado ao treinamento dos profissionais dos clientes que locam equipamentos da empresa.

Na maioria dos casos, além de agregar qualidade ao trabalho do profissional, iniciativas desse tipo promovem a inclusão social. Segundo Antonio Cardilli, idealizador do Programa Acreditar, criado pela Construtora Norberto Odebrecht, para a capacitação de seus funcionários, cerca de 55% dos profissionais inscritos nesse projeto em 2006, quando ele começou a ser implantado, eram analfabetos. “Atualmente, não temos nenhuma pessoa analfabeta em nossos canteiros”, diz Cardilli, que atualmente responde pela área de Administração e Finanças da obra da usina hidrelétrica de Santo Antônio.

O programa, segundo ele, também fez com que a participação feminina nos canteiros de obra aumentasse consideravelmente. Enquanto a média nacional de mulheres operando máquinas em obras de infraestrutura é de apenas 2%, na construção da usina Santo Antônio, no rio Madeira (RO), ela chega a 10%.

Contratações locais

Após as recentes tensões sociais ocorridas nas obras da hidrelétrica de Jirau, também no Rio Madeira, o setor despertou para os cuidados necessários na contratação de profissionais em projetos dessa envergadura. Diante da escassez de mão de obra local, a opção por trazer funcionários de outras regiões do país mostrou-se desastrosa devido ao impacto que provocou sobre uma frágil estrutura urbana – trânsito, habitação etc.

Nesse cenário, a opção pela mão de obra local ganhou força no projeto da hidrelétrica de Santo Antônio, o que exigiu planejamento para a sua capacitação e conscientização. “Chegamos à região em 2006 e o cenário era de 70% de mão de obra importada. O intuito do programa era inverter essa situação, ou seja, ter o máximo de trabalhadores locais atuando no canteiro”, diz Cardilli.

Ele ressalta que os resultados já apareceram e, atualmente, dos 13.314 funcionários que trabalham na construção da usina, 79% são da própria região (veja quadro na pág. ao lado). “O serviço é quase todo feito por profissionais provenientes das cidades sob a área de influência da obra, o que elimina as tensões sociais.” As funções que exigem maior qualificação ou os cargos de confiança, como engenheiros, gerências e outros, ainda são ocupados por profissionais do quadro de pessoal das construtoras, deslocados de outros canteiros e regiões do país.

Concessionária investe na oferta de treinamento

Apoiar os clientes na capacitação de seus profissionais para a operação e manutenção dos equipamentos mobilizados na obra é uma estratégia que vem sendo adotada com sucesso por fabricantes de máquinas e seus distribuidores. A New Holland, por exemplo, criou um programa pelo qual disponibiliza um ônibus com todos os recursos audiovisuais e de informática para percorrer as operações dos clientes oferecendo cursos gratuitos a seus funcionários.

Mais recentemente, a distribuidora Brasif, que comercializa equipamentos da Case Construction, reestruturou sua área de serviços e a oferta de treinamento ganhou destaque no portfólio de soluções oferecidas. O serviço, apresentado pela concessionária durante a feira M&T Peças e Serviços, envolve uma van, equipada com monitor de TV e material didático para as aulas teóricas, que se desloca entre as operações dos clientes e se transforma em uma verdadeira sala de aula no campo.

Segundo Bruno Garcia, gerente geral de pós-vendas da distribuidora, a oferta de treinamento está sendo muito solicitada pelos clientes, o que motivou a criação desse serviço. “Não se trata de uma ação casada com o comissionamento e entrega das máquinas, mas sim de cursos contratados por clientes que querem reciclar seus funcionários na operação e manutenção dos equipamentos.” Em um ano, a distribuidora já treinou mais de 500 profissionais para os clientes, o que a motiva a planejar a ampliação da frota de vans destinadas e esse serviço.

Nível de emprego cresce nos canteiros

Segundo pesquisa do Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo (Sinicesp), o nível de emprego nos canteiros de obras em grandes projetos de infraestrutura está aumentando na região mais industrializada do país. Após uma queda das contratações no final do ano passado, algo cíclico devido ao período de chuvas, a curva inverteu e, nos últimos 12 meses, as empresas do setor ampliaram as contratações em 4,67%, com a abertura de 3.808 novos postos de trabalho.

Na avaliação do sindicato das construtoras paulistas, as contratações devem aumentar ainda mais até o final do ano, devido ao volume de obras em licitação ou com início previsto nesse período. Em julho deste ano, a pesquisa do Sinicesp contabilizou que as empresas estão gerando mais de 85 mil empregados em obras pesadas no estado de São Paulo.

 

 

 

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