Perto de encerrarmos a segunda década do século XXI, a questão que se impõe aos empreendedores de todas as áreas produtivas diz respeito ao caráter efetivamente transformador da inovação. Mais que isso, urge indagar-se até que ponto estamos dispostos a protagonizar esse processo, tão irreversível quanto necessário para o futuro da civilização pós-industrial.
Atualmente, fala-se muito sobre o quanto o Airbnb – o serviço online sem intermediários para aluguel de acomodações – está aos poucos se tornando a maior rede hoteleira do mundo, sem possuir um único quarto sequer. Porém, pouco se discute sobre a transformação de fundo que todo o sistema turístico está passando por causa disso e, de quebra, sobre o impacto na demanda das redes hoteleiras tradicionais.
E esse choque, diga-se, não é nada desprezível. Em 2014, o número de quartos disponíveis do Airbnb subiu de 300 mil em fevereiro para aproximadamente um milhão em dezembro. Ao mesmo tempo, alguns dos maiores grupos hoteleiros do mundo (como InterContinental, Hilton e Marriot, por exemplo) mantiveram-s
Perto de encerrarmos a segunda década do século XXI, a questão que se impõe aos empreendedores de todas as áreas produtivas diz respeito ao caráter efetivamente transformador da inovação. Mais que isso, urge indagar-se até que ponto estamos dispostos a protagonizar esse processo, tão irreversível quanto necessário para o futuro da civilização pós-industrial.
Atualmente, fala-se muito sobre o quanto o Airbnb – o serviço online sem intermediários para aluguel de acomodações – está aos poucos se tornando a maior rede hoteleira do mundo, sem possuir um único quarto sequer. Porém, pouco se discute sobre a transformação de fundo que todo o sistema turístico está passando por causa disso e, de quebra, sobre o impacto na demanda das redes hoteleiras tradicionais.
E esse choque, diga-se, não é nada desprezível. Em 2014, o número de quartos disponíveis do Airbnb subiu de 300 mil em fevereiro para aproximadamente um milhão em dezembro. Ao mesmo tempo, alguns dos maiores grupos hoteleiros do mundo (como InterContinental, Hilton e Marriot, por exemplo) mantiveram-se na faixa de 70 mil quartos disponíveis. Já em termos de reservas, em 2015 foram realizadas aproximadamente 80 milhões de solicitações via Airbnb, sendo que a previsão para 2016, segundo pesquisa da Barclays, era de 129 milhões de noites-quarto.
DUALIDADE
Assim, o Airbnb está confrontando diretamente a indústria hoteleira ao modificar de forma significativa a maneira como o turismo se desenvolve no mundo. Portanto, quando uma proposta nova chega para substituir uma que antes era dominante, inicia-se um novo ciclo de mercado, impactando toda a cadeia, desde os consumidores até os fornecedores. Trata-se da chamada “destruição criativa”, tal qual foi definida pelo economista austro-americano Joseph Alois Schumpeter (1883-1950), estabelecendo a ideia de que a criação de negócios inovadores invariavelmente destrói os demais. Logo, a inovação tem essa característica dual: renovadora para uns, destruidora para outros.
E que efeitos isso gera no ambiente produtivo? Muitas vezes, a força benigna da inovação tende a ser bloqueada tanto por um medo da “mudança desordenada”, como por certo corporativismo entre as partes impactadas. O medo da mudança desordenada acontece quando a sensação de controle se desfaz e as partes impactadas desenvolvem esse “temor” em relação ao novo. Ao mesmo tempo, as relações comerciais tradicionais, arduamente desenvolvidas durante anos, tendem a formar laços corporativos que, ao se verem ameaçados, geram um bloqueio à inovação.
Ou seja, a inovação realmente disruptiva exige disposição para enfrentar essas barreiras. E, note-se, não se trata apenas de evitar a aversão ao risco, mas sim de enfrentar tais receios e forças renitentes com determinação, adaptando-se a cada situação. Ignorar as mudanças e não se posicionar no novo contexto – ou seja, não ter coragem – pode gerar um efeito que enfraquece ou mesmo anula a inovação, deixando de gerar o resultado esperado. Todavia, além da quebra de continuidade, há outros pontos a considerar.
PARADIGMAS
De fato, essa questão torna-se cada vez mais importante e atual, indo além da “disruptura tecnológica inesperada”, como define Clayton M. Christensen, professor da Harvard Business School e uma das maiores autoridades no assunto. Afinal, a inovação – e os consequentes avanços tecnológicos e sociais trazidos por ela – é o motor que move as sociedades rumo ao progresso, trazendo aumento de produtividade às empresas e melhorando a qualidade de vida dos cidadãos. Grosso modo, a inovação pode ser definida como a exploração bem-sucedida de novas iniciativas empreendedoras. Ou seja, trata-se da transformação de ideias em negócios.
Contudo, existem várias possibilidades de inovar, incluindo novos produtos, processos, mercados, modelos de negócio, métodos organizacionais ou, até mesmo, fontes de recursos. Segundo o Manual de Oslo (editado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE), uma inovação é “a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um método de marketing, ou um método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas”.
Como se pode observar, o conceito é bastante amplo e não se limita ao estereótipo de inovação como algo necessariamente sofisticado, geralmente associado à NASA (a agência espacial norte-americana) ou aos grandes institutos globais de pesquisa.
Ao contrário, em uma observação atenta da definição, vê-se que a expressão “significativamente melhorado” pode incluir avanços incrementais, pequenos ajustes e materiais aprimorados, por exemplo. Em outras palavras, esses desenvolvimentos pontuais também são inovações, desde que tragam ganhos de produtividade e/ou melhorem o desempenho comercial do produto ou serviço.
CULTURA
Nesse contexto, um dos grandes desafios das organizações inovadoras é conseguir acompanhar a expectativa dos consumidores por produtos cada vez mais “inovadores”.
O caso do iPhone da Apple é clássico. Todos os anos, especialistas no setor especulam sobre as novidades do aparelho e acabam se decepcionando quando percebem que são apenas incrementais (uma câmera um pouco mais potente, um processador um pouco mais rápido etc.), colocando a capacidade de inovação da companhia em xeque.
No setor automobilístico ocorre o mesmo fenômeno. Forçadas a lançar novos modelos todos os anos, muitas vezes as montadoras fazem mudanças apenas “estéticas” em seus produtos, com mudanças realmente relevantes ocorrendo com frequência muito menor.
Nesse ponto, muitos podem argumentar que as inovações pontuais não trazem tantos impactos quanto as mais radicais. Essa crítica pode fazer sentido quando pensamos na imagem de uma organização inovadora e no prestígio gerado. É claro que um carro autônomo como o que está sendo desenvolvido pela Tesla chama muito mais atenção do que o modelo 2017 do Fiat Palio, por exemplo. E isso também serve para os protótipos de máquinas autônomas da Volvo, da Case, da Komatsu, da Hitachi e de outras fabricantes de equipamentos pesados para construção.
Porém, em todos esses casos trata-se de um portfólio de projetos que, simultaneamente, envolve tanto inovações incrementais (pontuais) quanto radicais (de longo prazo), consolidando uma cultura de inovação na qual os profissionais terão mais liberdade de arriscar e fazer as coisas de maneira diferente.
Afinal, no que se refere à inovação, o erro pode ser visto como aprendizado e não existe nada que seja mais ou menos importante. O desejável é que, seja qual for sua natureza, a inovação seja alcançada por meio de um processo estruturado e perene, com apoio e reconhecimento da alta liderança.
*Artigo elaborado pelo Grupo de Trabalho – Inovação, do Núcleo Jovem da Sobratema
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