Criada em 1951, a Empresa Industrial Técnica S.A. (EIT) tem a engenharia no seu DNA. Quase sexagenária, ela estampa no currículo a participação em projetos como a construção da rodovia Transamazônica e do gasoduto Bolívia-Brasil. Atualmente, com uma carteira de contratos diversificada, a empresa marca presença em obras de rodovias, da ferrovia Transnordestina e até mesmo da Refinaria do Nordeste (Renest), que a Petrobras está instalando em Pernambuco.
Para prover os recursos necessários à concretização dessas obras, a construtora conta com o apoio da Superintendência de Equipamentos (Supeq), responsável por toda a política da EIT nessa área. A divisão é liderada pelo engenheiro mecânico José Demes Diógenes, há 35 anos na empresa e nosso entrevistado nessa edição.
M&T – Quais as principais obras em execução atualmente pela EIT?
José Demes Diógenes – Atuamos sozinhos e em consórcio com outras empresas. No segundo caso, podemos citar as obras no Ceará para contenção do rio Maranguapinho, em parceria com a PB Engenharia, e para a construção da barragem de Fig
Criada em 1951, a Empresa Industrial Técnica S.A. (EIT) tem a engenharia no seu DNA. Quase sexagenária, ela estampa no currículo a participação em projetos como a construção da rodovia Transamazônica e do gasoduto Bolívia-Brasil. Atualmente, com uma carteira de contratos diversificada, a empresa marca presença em obras de rodovias, da ferrovia Transnordestina e até mesmo da Refinaria do Nordeste (Renest), que a Petrobras está instalando em Pernambuco.
Para prover os recursos necessários à concretização dessas obras, a construtora conta com o apoio da Superintendência de Equipamentos (Supeq), responsável por toda a política da EIT nessa área. A divisão é liderada pelo engenheiro mecânico José Demes Diógenes, há 35 anos na empresa e nosso entrevistado nessa edição.
M&T – Quais as principais obras em execução atualmente pela EIT?
José Demes Diógenes – Atuamos sozinhos e em consórcio com outras empresas. No segundo caso, podemos citar as obras no Ceará para contenção do rio Maranguapinho, em parceria com a PB Engenharia, e para a construção da barragem de Figueiredo, com a Galvão Engenharia, que permitirá a criação de um reservatório de cerca de 500 milhões de m3 de água. Outra barragem importante em execução é a do rio Gameleira. Ainda no Nordeste, participamos da transposição do rio São Francisco, em consórcio com a Delta Engenharia, e da construção de um trecho de 246 km da ferrovia Transnordestina, já em sua fase final. No Pará, atuamos na BR-262 e num trecho de 60 km de rodovias, área em que temos uma participação destacada também na duplicação da CE-40, no estado do Ceará. Também merece destaque o nosso contrato para a construção do centro administrativo da refinaria do Nordeste (Renest), em parceria com a Engevix, e a obra de dragagem do porto de Santos, em São Paulo.
M&T – As parcerias parecem fazer parte da filosofia da empresa, não é mesmo?
Diógenes – Sim. São empresas com tradição em engenharia e com as quais, muitas vezes, trabalhamos ainda na fase de projeto. Depois de realizada a concorrência, há uma procura por sinergias que beneficiem o cliente final e o trabalho em campo.
M&T – Como a área de equipamentos da empresa se organiza para atender contratos em vários estados, cujas obras têm perfis tão diferenciados?
Diógenes – A Superintendência de Equipamentos (Supeq) organiza a distribuição dos equipamentos em conjunto com o gestor de cada obra, dimensionando a frota que será usada nos canteiros, seja ela própria ou terceirizada. Critérios como o tempo de uso da máquina e a distância da obra são considerados na avaliação dos prós e dos contras da locação, assim como a capacidade do mercado local em oferecer os equipamentos que necessitamos e de nos atender de forma adequada. Nas regiões Sul e Sudeste, por exemplo, essa é uma opção mais frequente, mas há obras como a da rodovia BR-262, no Pará, em que 95% da frota mobilizada é própria devido às limitações de oferta do mercado local.
M&T – A estrutura da área de equipamentos é centralizada?
Diógenes – Sim, mas com flexibilidade. Temos uma estrutura de oficina central em Fortaleza, que na verdade cuida mais de reparos gerais, uma vez que nossas obras possuem sua própria estrutura de oficina, com torno, prensa, comboios de lubrificação e outras ferramentas de manutenção. Além disso, operamos com cinco caminhões oficina, que funcionam como estruturas móveis no atendimento a obras cuja frota fica muito distribuída na frente de operações. É o caso da ferrovia Transnordestina, onde atuamos em trechos longos e que precisam de apoio pontual, ocupando dois desses caminhões oficinas, que são equipados com grupo-gerador, torno mecânico e demais ferramentas. Nas obras de curta duração, dependendo da complexidade, também lançamos mão desse recurso. É uma alternativa que adotamos há cerca de 20 anos e que foi aperfeiçoada, principalmente nos quesitos de segurança e de controle ambiental.
M&T – Como funciona o sistema de gestão da manutenção?
Diógenes – Adotamos um sistema de gerência para o controle das operações, no qual lançamos as informações vitais que pautam os ciclos de revisão, a cada 250 horas de trabalho, em média. É claro que as revisões de maior porte, quando os equipamentos atingem cerca de 2 mil horas, por exemplo, são extremamente detalhadas e envolvem a desmontagem de praticamente todos os principais componentes da máquina.
M&T – Nesse processo, os cuidados ambientais e com segurança aumentaram muito, não é mesmo?
Diógenes – Sim e a EIT vem atendendo a esses requerimentos, inclusive por meio de certificações obtidas pela empresa. Adotamos um rigoroso controle na destinação final dos materiais descartados nas oficinas, como filtros, baterias, óleo lubrificante e outros, que são recolhidos com a ajuda de empresas especializadas, além de investirmos na conscientização e treinamento das equipes de operação e manutenção.
M&T – Voltando à questão de equipamentos, a locação é uma opção interessante para a EIT?
Diógenes – Com certeza. Nos últimos anos, em função do pico de obras em nossa carteira de contratos, chegamos a operar com cerca de 50% dos equipamentos locados no total da frota mobilizada. Hoje, esse percentual oscila entre 30% e 35% e o que influencia nesse critério é a disponibilidade de locação no mercado local e o tipo de obra, entre outros fatores. O maior volume de locação se concentra em equipamentos como escavadeiras hidráulicas, motoniveladoras, tratores, rolos compactadores e caminhões basculantes. Há uma tendência de adotarmos a locação com maior intensidade, porque existe uma oferta razoável no mercado e a política de preços tem se mantido estável nos últimos anos.
M&T – Essa disponibilidade abrange todos os tipos de equipamentos ou há restrições em alguns casos, como o de guindastes ou outras famílias de máquinas?
Diógenes – Usamos muito pouco os guindastes, pois nossa demanda se concentra na área de terraplenagem. Um segmento onde há falta de equipamentos é o de caminhões-tanque. Há demanda por esses equipamentos, mas a oferta não a acompanha, como pudemos observar na obra da ferrovia Transnordestina. Temos visto, inclusive, a adaptação de caminhões convencionais, que estão sendo convertidos em caminhões-tanque. Acredito que essa situação irá se estabilizar em breve, pois os locadores são dinâmicos em identificar demandas.
M&T – Quais são os critérios observados pela EIT na locação dos equipamentos?
Diógenes – Consideramos muito a idade da frota, o preço do serviço e o suporte técnico oferecido pelo locador. Na maioria das vezes, esse último quesito tem sido assumido por nós. Nos centros urbanos e locais com maior infraestrutura, os locadores têm uma oferta completa, mas onde não existe essa possibilidade, preferimos gerenciar o suporte técnico aos equipamentos locados para não ficarmos expostos a problemas que possam comprometer nossa produtividade no campo.
M&T – Como o senhor observa a evolução dos prestadores de serviços nessa área?
Diógenes – Há uma tendência irrevogável de terceirização de serviços especializados e a área de extração de rocha deve servir de exemplo para outros segmentos da construção civil. A pavimentação em si também tem sido terceirizada e temos bons parceiros nessa área, sendo que um deles dispõe de uma infraestrutura razoável, com frota de 22 usinas de asfalto. Para parceiros como esse, podemos entregar parte da execução da obra, ganhando em produtividade e qualidade, pois a especialização dessas empresas em determinadas tarefas resulta em ganhos de eficiência. Com o amadurecimento dos mercados de locação e terceirização, avalio que futuramente uma construtora como a EIT poderá operar com uma infraestrutura mínima, composta basicamente por equipamentos de terraplenagem e pavimentação, que representarão de 30% a 35% da frota total mobilizada.
M&T – Em relação à frota própria, qual é o critério adotado para a escolha dos fornecedores?
Diógenes – A escolha é pautada pela necessidade da obra, com a participação ativa da área operacional, a partir de uma descrição técnica dos equipamentos demandados. A eficiência no serviço de pós-venda pesa muito na escolha do fornecedor, assim como a sua credibilidade. Feita as especificações, elas seguem para a área financeira, que sempre tem mais de uma opção de fornecedor e, assim, pode determinar aquele que melhor atende às nossas necessidades. Tivemos aquisições recentes, das quais se destaca a compra de 76 caminhões, além de escavadeiras hidráulicas, motoniveladoras e tratores de esteiras.
M&T – Um fator a se analisar nessa área é a presença de um conteúdo eletrônico cada vez maior nesses equipamentos. Como essa questão impacta a operação e manutenção das máquinas?
Diógenes – Essa é uma questão séria, pois ficamos praticamente uma década e meia sem a contratação de grandes obras, o que reduziu a formação de mão-de-obra tanto na área de operação de equipamentos como na sua manutenção. Os distribuidores autorizados das grandes marcas têm se esforçado para suprir essa carência com a oferta de treinamento. No nosso caso, tomamos a iniciativa de procurar parceiros como o SESI, em Pernambuco, para estruturar treinamentos específicos para o nosso pessoal. Também montamos uma estrutura de caminhões-escola, com unidades que percorrem as obras oferecendo cursos aos operadores e mecânicos. Essa é uma preocupação generalizada entre as construtoras, pois a eficiência na operação afeta diretamente a produtividade dos equipamentos. As motoniveladoras, que exigem uma atenção especial pela dificuldade de operação, são um exemplo disso. De uma forma geral, observamos que a produtividade dos equipamentos antigos é, paradoxalmente, maior que a dos modelos mais novos.
M&T – Com a experiência de quem vivenciou o ciclo das grandes obras da década de 1970, qual a diferença entre aquele momento e o atual na gestão dos equipamentos?
Diógenes – Naquela época não tínhamos uma série de facilidades disponíveis atualmente, como a oferta de locação, por exemplo. Ninguém locava nada e as construtoras operavam apenas com frota própria. Há de se ressaltar que a facilidade de compra era muito grande e os custos de operação eram bem menores. Hoje, dispomos de avançados recursos de comunicação e de apoio logístico, embora a formação dos engenheiros precise ser melhorada.
M&T – Ilustre melhor como a logística evoluiu nesse período.
Diógenes – Tenho uma história significativa, que aconteceu em 1977, em uma obra no interior da Bahia. Sua logística era tão complexa que os embarques mais urgentes só aconteciam por avião. Fora isso, tínhamos as entregas programadas a cada 10 dias. Lembro-me bem que o caminhão com o suprimento chegava no canteiro aos domingos e ficávamos ansiosos para confirmar o recebimento das peças, senão os equipamentos ficariam paralisados. Tínhamos também que manter um estoque significativo. Hoje, mesmo os canteiros mais distantes dos grandes centros urbanos são atingidos em até 48 horas. Além disso, as comunicações avançaram muito, otimizando os serviços e facilitando a interação entre a área de equipamentos e o gestor da obra.
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