Revista M&T - Ed.152 - Novembro 2011
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Perfil

O jovem que reinventa a BMC diariamente

As 34 anos, Felipe Cavalieri, CEO da BMC, comanda uma operação que deve fechar o ano com faturamento bruto de R$ 800 milhões. Parte assumida da geração Y (do final dela, ao menos), ele avalia que a garra típica da idade e a ausência de receios presentes em executivos mais velhos – que passaram por períodos políticos e econômicos complicados são dois componentes que pesaram a favor do sucesso da BMC. “Mas o conservadorismo também tem a sua parcela de contribuição”, como ele avalia. No seu caso, a bagagem vem de dentro de casa, onde compõe a quarta geração de engenheiros, sendo o avô Newton Cavalieri (ativo e lúcido aos 95 anos) a principal referência. Nesta entrevista, ele avalia quais decisões proporcionaram o sucesso da BMC em menos de 10 anos de atuação e revela detalhes da sociedade com a Hyundai na construção da fábrica brasileira da multinacional coreana.

M&T: Como definir a BMC?

Felipe Cavalieri: Avalio que fomos a primeira empresa a quebrar o status quo entre os grandes distribuidores. Havia um grupo determinado de fabri


As 34 anos, Felipe Cavalieri, CEO da BMC, comanda uma operação que deve fechar o ano com faturamento bruto de R$ 800 milhões. Parte assumida da geração Y (do final dela, ao menos), ele avalia que a garra típica da idade e a ausência de receios presentes em executivos mais velhos – que passaram por períodos políticos e econômicos complicados são dois componentes que pesaram a favor do sucesso da BMC. “Mas o conservadorismo também tem a sua parcela de contribuição”, como ele avalia. No seu caso, a bagagem vem de dentro de casa, onde compõe a quarta geração de engenheiros, sendo o avô Newton Cavalieri (ativo e lúcido aos 95 anos) a principal referência. Nesta entrevista, ele avalia quais decisões proporcionaram o sucesso da BMC em menos de 10 anos de atuação e revela detalhes da sociedade com a Hyundai na construção da fábrica brasileira da multinacional coreana.

M&T: Como definir a BMC?

Felipe Cavalieri: Avalio que fomos a primeira empresa a quebrar o status quo entre os grandes distribuidores. Havia um grupo determinado de fabricantes e seus distribuidores quando entramos no mercado. Depois disso, vieram outros distribuidores e o mercado continua evoluindo, agora com uma nova leva de entrantes. A diferença é que não vejo um modelo definido nos entrantes. Nós somos uma empresa de inovação, que investe no relacionamento dia a dia com o cliente. Em 2011, por exemplo, vamos ter um forte crescimento, alcançando 30% e prevemos 40% para 2012. Comercializamos 2,6 mil máquinas neste ano. Isso porque não ficamos na zona de conforto. A BMC é uma empresa dinâmica e temos um processo de reinvenção, com uma equipe motivada para essa empreitada. Em janeiro e fevereiro anunciaremos uma nova reinvenção, que não posso - por motivos óbvios - relatar agora.

M&T – De que forma a motivação que você apresenta nesta entrevista é passada para as áreas de negócios e operações da empresa?

Felipe Cavalieri: Recentemente, fizemos a compra de 20% das ações da BMC que pertenciam a outro investidor e agora temos 100% da empresa. É um sinal extremamente importante para os 500 colaboradores de que acreditamos no negócio. Outro sinal dessa reinvenção é que participamos (os dirigentes)  ativamente nas operações. A BMC é uma empresa com faturamento de R$ 800 milhões e os sócios aparecem, vão a campo, “amassam barro”. Visitamos cientes, fornecedores, temos uma postura ativa. Nossa experiência vem de mercados diferentes. O Cristiano (um dos sócios) veio da área de locação e eu tenho a experiência de ter trabalhado em grandes empresas de construção. Temos laços fortes com esses mercados e uma cultura de entendimento de como eles funcionam.

M&T: A experiência no mercado de locação deve ajudar em 2012? Há expectativa que esse mercado cresça?

Felipe Cavalieri: Sim, deve crescer em 2012, mas novos modelos serão testados. Teremos a entrada de grandes grupos, que estão experimentando retração nos seus mercados base, caso da Europa e Estados Unidos. Eles querem entrar num mercado (o brasileiro) que se regionalizou muito nos últimos anos. Vemos pequenas e médias empresas ocupando espaços em regiões não atendidas por grandes players. Houve uma pulverização e uma regionalização. Esses players internacionais vêm com uma estrutura profissional e grande disponibilidade de máquinas.  Como isso vai se equalizar não sabemos, pois elas trazem um modelo diferente do exterior e encontram, por exemplo, o Brasil com falta de mão-de-obra especializada. Estamos curiosos para saber o que vai acontecer. Fusões para ganhar tamanho ou, em alguns casos, continua-se uma administração mais familiar? Nos Estados Unidos o que se viu no passado foi exatamente a fusão de grupos, da mesma forma que o mercado europeu. O mercado como um todo se reinventou.

M&T: Esse perfil de pulverização e regionalização também acontece entre construtoras e mineradoras, por exemplo?

Felipe Cavalieri: Sim. Temos um contato intenso com as associações de classe e observamos, na prática, essa mudança. Às vezes visitamos uma pedreira, passa-se um tempo e voltamos. O cenário encontrado parece ser de outra empresa. Há várias empresas surgindo, mesmo tendo que atender uma legislação ambiental restritiva.

M&T: E como se atende esse mercado pulverizado, que demanda uma estrutura grande?

Felipe Cavalieri: Nós desenhamos um modelo de atendimento desde 2003, quando iniciamos a parceria com a Hyundai. Então criamos uma rede nacional e com capilaridade. Em 2007 nós já tínhamos uma cobertura nacional, que foi sendo feita passo a passo. Esse tipo de processo não acontece da noite para o dia e acredito que será um dos principais desafios dos cerca de 20 novos entrantes no mercado brasileiro de equipamentos.  Isso envolve capacitação de mão-de-obra, disponibilidade de peças, suporte ao produto em nível nacional e uma operação mais eficiente. Levamos quatro anos para montar isso com muito trabalho. É um desafio e tanto para quem chegou agora, ainda mais com a mão-de-obra reduzida.

M&T: Falamos bastante de mão-de-obra. Como a BMC atrai e retém talentos?

Felipe Cavalieri: Temos um comitê de recursos humanos na empresa. Avaliamos que a remuneração tem um papel importante como incentivo. Mas ela tem um prazo de validade. O aumento salarial cai no esquecimento no mês seguinte. O que temos que dar são condições e benefícios para que o colaborador permaneça na empresa. Às vezes perde-se um funcionário que vale por seis, porque ele quer ganhar 10. Dai contrata-se um que vale 5 e paga-se 8. Ora, o que devemos fazer? Simples: dar condições para que o colaborador que vale 6 e quer ganhar 10 - de fato - chegue a valer 10.

M&T: Está difícil contratar?

Felipe Cavalieri: Depende do nível profissional. Não vemos um gargalo em nível gerencial e mesmo em diretoria. Há, no entanto, uma escassez de nível técnico. Nós estamos vivendo isso em Itatiaia, onde a fábrica da Hyundai está sendo construída e onde teremos um centro de capacitação que demanda mão-de-obra qualificada. O que observamos é que uma camada da população jovem não quer entrar no mercado técnico e precisamos desse profissional. E bem formado. Para resolver o problema as empresas locais, caso da Peugeot, MAN, Citroen, Votorantim e Michelin, para citar algumas, montaram um grupo, incentivado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), exatamente para criar condições de desenvolvimento de mão-de-obra regional e qualificada. E a BMC faz parte desse grupo porque não podemos simplesmente trazer gente de fora. A região tem que perceber que a nossa presença é benéfica.

M&T: E a construção da fábrica, como está o cronograma?

Felipe Cavalieri: Estamos a 15 dias de encerrar a terraplenagem (a entrevista foi feita na primeira quinzena de dezembro de 2010). Temos 90% do projeto detalhado, processo feito pela Minerbo Fuchs. A partir de agora, abriremos a concorrência para a construção da fábrica, por meio de um contrato turn key. Estamos seguindo rigorosamente um cronograma coreano, o que significa que não haverá atrasos. Em outubro ou novembro de 2012, a fábrica estará ativa. Na metade de 2012 o centro de distribuição (CD), que hoje fica em Santana de Parnaíba, migra para Itatiaia. Até lá as primeiras máquinas passam a ser produzidas, com uma linha de produção que inclui escavadeiras, pás-carregadeiras e retroescavadeiras.

M&T: A fábrica é o ápice do relacionamento com os coreanos. Como tem sido essa experiência?

Felipe Cavalieri: Acho que daria para escrever um livro. Antes estávamos mais distantes geograficamente, mas hoje estamos do lado, em função da construção da fábrica. Existem grandes desafios nesse relacionamento multicultural: de comunicação, linguagem corporal, hierarquia e relacionamento. Hoje entendemos porque somos sócios da Hyundai. Os papéis são claros e eles confiam em nós, eles têm a experiência de produzir com eficiência e nós conhecemos o mercado brasileiro e temos uma estrutura de suporte.

M&T: Eles são os únicos parceiros da BMC?

Felipe Cavalieri: Não. A Hyundai representa 65% dos nossos negócios, mas temos outros parceiros, como a Zoomlion, na área de equipamentos de concreto, pois são um dos maiores fabricantes no mundo. Outro parceiro é a Daemo, na área de rompedores. A XCMG, no segmento de rolos compactadores e de motoniveladoras, é outro parceiro. Assim como a Shantui em tratores de esteira e a Merlo na área de manipuladores telescópicos. O que eles têm em comum? São os grandes players das suas áreas. Desde 2006 partimos para a China em busca de parceiros, quando não se fazia isso, de forma que tivemos uma oportunidade única de amarrar grandes parcerias.

M&T: Mudando de assunto: você é de uma geração jovem nesse mercado. Como convive com outros executivos mais maduros?

Felipe Cavalieri: Eu e o Cristiano temos 34 anos e nossa diretoria tem, em média, 50. É um desafio, porque trabalhamos no ritmo dos 30 e poucos anos. Acho que estou no final da geração Y, não é? Isso se reflete na empresa, que é ágil e inovadora, mas também conservadora. Adotamos SAP e seguimos padrões internacionais de governança corporativa. Somos empreendedores. Há espaço para crescer, coisa que a geração mais jovem  que não tem o pé atrás de quem viveu as várias crises do Brasil - pode utilizar a favor.

M&T: Para finalizar, sabemos que você tem a engenharia em seu DNA. Nos conte um pouco sobre?

Felipe Cavalieri: Sim. Sou a quarta geração de engenheiros na família, com um exemplo destacado que é o meu avô, Newton Cavalieri, ativo e lúcido aos 95 anos.

 

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