Em setembro deste ano, o Brasil será sede do Congresso Mundial de Manutenção, organizado pela Associação Brasileira de Manutenção e Gestão de Ativos (Abraman) na cidade do Rio de Janeiro. Ao fomentar a discussão sobre as melhores práticas de manutenção aplicadas nos mais diversos setores produtivos em todo o mundo, o evento fornecerá um termômetro para medir a evolução dessa atividade na indústria brasileira. Entre os assuntos abordados pelos profissionais do Brasil e do exterior, a engenharia da confiabilidade certamente despontará como um dos temas mais atuais nessa área, que vem contribuindo para a melhoria na gestão dos ativos industriais.
Nessa edição, o gerente de projetos do Metrô do Rio de Janeiro, Pedro Augusto Cardoso da Silva, que também é diretor da Abraman, detalha o conceito de engenharia da confiabilidade e destaca que sua aplicação não se restringe apenas a segmentos de ponta da indústria, como usinas nucleares e fábricas de aviões, mas a todas as atividades produtivas. Formado em Engenharia Elétrica e Análise de Sistemas, com MBA em Gerência de Projetos pela Faculdad
Em setembro deste ano, o Brasil será sede do Congresso Mundial de Manutenção, organizado pela Associação Brasileira de Manutenção e Gestão de Ativos (Abraman) na cidade do Rio de Janeiro. Ao fomentar a discussão sobre as melhores práticas de manutenção aplicadas nos mais diversos setores produtivos em todo o mundo, o evento fornecerá um termômetro para medir a evolução dessa atividade na indústria brasileira. Entre os assuntos abordados pelos profissionais do Brasil e do exterior, a engenharia da confiabilidade certamente despontará como um dos temas mais atuais nessa área, que vem contribuindo para a melhoria na gestão dos ativos industriais.
Nessa edição, o gerente de projetos do Metrô do Rio de Janeiro, Pedro Augusto Cardoso da Silva, que também é diretor da Abraman, detalha o conceito de engenharia da confiabilidade e destaca que sua aplicação não se restringe apenas a segmentos de ponta da indústria, como usinas nucleares e fábricas de aviões, mas a todas as atividades produtivas. Formado em Engenharia Elétrica e Análise de Sistemas, com MBA em Gerência de Projetos pela Faculdade Getúlio Vargas, o especialista atua há 28 anos na área de manutenção e também vem aplicando essas novas métricas na gestão dos ativos do Metrô do Rio.
M&T – A indústria sempre esteve na vanguarda no que tange às melhores práticas de manutenção, transformando-se em exemplo a ser seguido pelos profissionais que lidam com equipamentos móveis de construção e mineração. Atualmente, como essa atividade está posicionada dentro das corporações e quais diretrizes ela deverá seguir nos próximos anos?
Pedro Augusto Cardoso da Silva – O conceito de manutenção mudou muito ultimamente e se expandiu também para as áreas produtivas. No passado, podemos dizer que a área de manutenção recebia o equipamento escolhido pela produção e, a partir daí, trabalhava para manter os seus melhores níveis operacionais. Hoje, o processo é bem diferente. O conceito da manutenção agora abarca desde o projeto de um sistema produtivo, passando pela implantação dos equipamentos, sua operação e até o ponto de descarte desses ativos. Todos os procedimentos são balizados por uma série de critérios, inclusive os ambientais. Nesse sentido, a Abraman tem se esforçado para que os profissionais brasileiros atinjam perfil de classe mundial. A tradução para o português do PAS 55, que é uma norma internacional de gerenciamento de ativos fixos, figura como uma ação voltada para esse objetivo.
M&T – Isso significa que a manutenção não fica hierarquicamente abaixo da produção?
Cardoso da Silva – Não necessariamente, embora ainda persista um clima de disputa entre esses dois departamentos. Podemos dizer que sempre houve um processo de negociação entre a produção e a manutenção no momento de parada da máquina, que sempre impacta na atividade da empresa. Hoje em dia, porém, com a melhoria das técnicas de manutenção, como as ações preditivas, que antecipam os problemas da máquina e reduzem sua indisponibilidade, o nível de conflito diminuiu muito. No Metrô do Rio de Janeiro, por exemplo, evoluímos na manutenção preventiva e preditiva aplicando técnicas da engenharia da confiabilidade e o resultado foi um melhor relacionamento com a área de produção. Isso é importante, pois, afinal, o intuito das duas áreas é um só: fazer o equipamento produzir o máximo possível. Com isso, hoje não realizamos mais a desmontagem completa de um trem para manutenção, como ocorria anteriormente e implicava sua paralisação por meses. Agora trabalhamos com paradas preventivas e preditivas programadas, cujas intervenções não são invasivas como as que ocorriam nas manutenções corretivas do passado.
M&T – Explique melhor o que é engenharia da confiabilidade e os benefícios que ela proporciona?
Cardoso da Silva – Confiabilidade é a probabilidade de um item desempenhar satisfatoriamente a função requerida em condições de operação estabelecidas por um período de tempo pré-determinado. Assim, a partir do registro dos tempos de vida e de outros resultados da máquina como os componentes mais propensos a falha por desgaste, a lubrificação e outras variáveis – a engenharia da confiabilidade se baseia no ajuste de diferentes modelos estatísticos, resultando em informações que servem como subsídios para a tomada de decisão. Esses dados são colhidos por análise qualitativa (a identificação do que aconteceu, quando e sua gravidade) ou quantitativa (quantas falhas ocorreram no mesmo local e quantas vezes foram pelo mesmo motivo). Em suma, com o estudo do ciclo de vida dos equipamentos, o engenheiro consegue descrever o sistema de produção atribuindo um grau de confiabilidade para cada um dos blocos de manutenção. Assim, esse profissional identifica quais são os sistemas, subsistemas ou equipamentos críticos naquele processo e, a partir daí, traça estratégias para aumentar a confiabilidade da linha de produção.
M&T – Então, trata-se de uma questão estatística, na qual a estratégia é baseada em resultados anteriores?
Cardoso da Silva – Exatamente, é pura matemática. Por isso é fundamental que o gestor de manutenção conheça como o equipamento ou sistema se comporta para que possa ampliar o seu tempo sem falha. Isso se faz com a análise do histórico operacional do equipamento e, nesse processo, quanto mais dados for possível obter, melhor será o plano de engenharia da confiabilidade, que poderá prever até redundâncias em caso de necessidade. O avião ilustra bem essa situação. Ele sempre tem uma quantidade de turbinas acima do necessário e essa redundância eleva o nível de confiabilidade do voo. As bombas de drenagem do Metrô do Rio também atuam com tripla redundância, uma estratégia traçada a partir da identificação das principais falhas históricas do sistema e de como fazer para diminuí-las. Dessa forma, se uma bomba falhar, a redundância viabilizará a operação ininterrupta do sistema.
M&T – Qual o prazo ideal para que a análise possa resultar em um plano de confiabilidade eficiente? Isso requer um ano ou mais?
Cardoso da Silva – Uma base de dados de muitos anos é sempre bem-vinda, mas, atualmente, com histórico de seis meses de operação do equipamento já é possível fazer os cálculos para aplicação eficiente da engenharia da confiabilidade. O fundamental, nesse caso, é que as informações colhidas sejam corretas, confiáveis.
M&T – Em qual estágio o Brasil está na aplicação da engenharia da confiabilidade quando comparado com países mais desenvolvidos?
Cardoso da Silva – Em alguns setores, como os de aviação e energia nuclear, estamos no mesmo estágio evolutivo que qualquer outro país do mundo. Entre os dias 10 e 14 de setembro, poderemos confirmar essa percepção durante o Global Forum, o congresso mundial do setor, que este ano será organizado no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro. Esse evento será uma ótima oportunidade para uma nova avaliação do que está sendo feito em outros países em termos da engenharia da confiabilidade.
M&T – É possível mensurar o quanto conceitos de eficiência, como a engenharia da confiabilidade, contribuem para a melhoria do processo produtivo e dos custos de manutenção?
Cardoso da Silva – Para se ter uma ideia, a indústria norte-americana gasta US$ 300 bilhões por ano com a manutenção de seus ativos e sabe-se que 80% desse montante são aplicados para corrigir falhas inesperadas, ou seja, as intervenções corretivas. No Brasil, o investimento em manutenção de produtos é estimado em cerca de R$ 130 bilhões por ano e o destino da maior parte desse recurso não é diferente. Isso nos mostra que é preciso investir cada vez mais em previsibilidade, algo que passa, necessariamente, pela engenharia da confiabilidade. Para isso, reforço, o grande mote na gestão eficiente dos ativos de produção é o estabelecimento de regras a partir da especificação dos equipamentos a serem adquiridos, outro tema que envolve a engenharia da confiabilidade.
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