Revista M&T - Ed.243 - Maio 2020
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Cenário

Setor reage a choque inédito

A pandemia pegou de surpresa as atividades produtivas do setor, afetando a produção de máquinas e equipamentos ao redor do mundo, mas também despertando solidariedade

Indubitavelmente, nada parecido afetou tanto a indústria de máquinas e equipamentos pesados desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando muitas fabricantes tiveram de interromper a produção para reforçar os esforços bélicos de ambos os lados do conflito. Mas, de maneira abrupta, a pandemia de Covid-19 foi capaz disso. E em uma escala inimaginável até então.

Desde o dia 11 de março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia e o consequente estado de emergência global, operações em todos os continentes foram paralisadas, uma após a outra, conforme o avanço da doença foi deixando seu rastro de fatalidades em quase duas centenas de países.

Segundo a consultoria GlobalData, o choque econômico da pandemia deve provocar uma contração de 1,4% na produção mundial da construção em 2020. Já estimativa da consultoria Off-Highway Research


Indubitavelmente, nada parecido afetou tanto a indústria de máquinas e equipamentos pesados desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando muitas fabricantes tiveram de interromper a produção para reforçar os esforços bélicos de ambos os lados do conflito. Mas, de maneira abrupta, a pandemia de Covid-19 foi capaz disso. E em uma escala inimaginável até então.

Desde o dia 11 de março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia e o consequente estado de emergência global, operações em todos os continentes foram paralisadas, uma após a outra, conforme o avanço da doença foi deixando seu rastro de fatalidades em quase duas centenas de países.

Segundo a consultoria GlobalData, o choque econômico da pandemia deve provocar uma contração de 1,4% na produção mundial da construção em 2020. Já estimativa da consultoria Off-Highway Research aponta que o fechamento de fábricas e as medidas de isolamento social adotadas ao redor do mundo custarão à indústria uma perda de 43 mil máquinas neste ano, o que equivale a 4% do total produzido em 2019, que foi de cerca de 1 milhão de unidades. Com o impacto na produção, a consultoria prevê dificuldades para a indústria adaptar a demanda no segundo semestre.

Na Europa – onde há aproximadamente 1,2 mil empresas do setor, que geram 300 mil empregos diretos e faturam € 40 bilhões –, 62% das fábricas estavam fechadas ou com a produção significativamente afetada em meados de abril. “Isso ocorre devido às paradas nas obras, cancelamentos de novos projetos, restrições de viagens e quebra na cadeia de produção por indisponibilidade de componentes”, explica Juan Manuel Altstadt, vice-presidente da Sobratema e diretor regional da Herrenknecht.

Segundo ele, a previsão para o ano é que 32% dessas empresas percam mais de 30% da produção, 40% entre 10% e 30%, 11% até 10% e apenas 3% passarão sem impacto pela crise. “Isso mesmo havendo um orçamento de € 2,7 trilhões destinado a apoiar empresas e trabalhadores a sair da crise”, comenta.

IMPACTOS

Já no início da propagação, a JCB anunciou a interrupção – inicialmente por duas semanas – de suas nove unidades fabris localizadas no Reino Unido, tendo em vista a redução da demanda em mercados-chave para a marca. Antes disso, a fábrica da empresa em Pudong, na China, já havia cessado a produção em fevereiro, quando a pandemia ganhou maiores proporções. Em abril, a empresa ainda avaliava se estenderia o lockdown às unidades na América do Norte.

Pandemia levou ao fechamento de diversas unidades produtivas ao redor do mundo

Na mesma direção, a CNH Industrial suspendeu as operações de quatro unidades na Itália, um dos países mais afetados na Europa. Temporariamente, a companhia parou a produção das fábricas para ajustar algumas linhas e abrir mais espaço entre os trabalhadores. A Manitowoc também informou planos de suspensão temporária das atividades de fabricação nas instalações de produção em todo o mundo, o que também ocorreu com a Vermeer, que anunciou uma programação de paradas semanais intermitentes em suas unidades nos Estados Unidos para equilibrar a procura mais baixa por equipamentos.

Em sequência, a Haulotte anunciou o fechamento de três fábricas na França, a Komatsu interrompeu a produção de unidades no Brasil, Índia e Europa, a Terex fechou quatro fábricas da Genie nos EUA, a Hitachi parou a produção na Índia e na Rússia, a Manitou pausou suas atividades industriais na Itália e na Índia, a BKT interrompeu as unidades de produção na Índia e a Paccar suspendeu a produção em todo o mundo, ao passo que a Metso enfrentou restrições em países como Índia, Peru e África do Sul. Além disso, empresas como Caterpillar, Link-Belt, Yale e Liebherr liberaram o trabalho remoto a seus profissionais, mas mantiveram as áreas produtivas abertas, com precauções sanitárias extraordinárias.
No final de abril, todavia, muitas fabricantes já anunciavam a retomada gradual das atividades, no Brasil e no exterior, enquanto outras também se empenhavam na produção de equipamentos médicos e hospitalares.

ENFRENTAMENTO

Aliás, se a pandemia trouxe preocupações, também teve o efeito de mobilizar o setor em ações de enfrentamento da crise. A CNH Industrial, por exemplo, realizou ações como doação de máscaras e equipamentos de proteção individual (EPIs) para unidades hospitalares, cestas básicas e refeições para hospitais públicos, asilos e caminhoneiros, além de ceder geradores de energia para governos no Brasil e na Argentina.

Até o fechamento desta edição, empresas como Simecs, Randon e Marcopolo promoveram iniciativas de prevenção e doaram conjuntamente R$ 3 milhões para aquisição de equipamentos para a rede hospitalar, a mineradora Hydro doou R$ 5 milhões para apoiar a instalação de quatro hospitais de campanha no Pará e o Instituto Votorantim direcionou apoio financeiro de R$ 50 milhões para compra de kits para testes, respiradores e outros equipamentos. Ainda como esforços imediatos, a Mercedes-Benz, a Genie e a Liebherr ajudaram na produção de ventiladores mecânicos e componentes de respiradores para UTIs, enquanto a Hyva entregou verbas e 2,8 mil máscaras à comunidade no Sul do país, a Librelato distribuiu mil cestas básicas na região de Criciúma (SC) e a DAF Caminhões fez doações para o sistema público de saúde e auxiliou na confecção de máscaras para a população de Ponta Grossa (PR).

No que tange às construtoras, a Cyrela deu suporte a instituições como Fiocruz, Santa Casa, Hospital Santa Marcelina e Comunitas; a Incorporadora Pride contratou familiares de funcionários que perderam a renda para produzir máscaras a serem entregues nos canteiros; a Barbosa Mello promoveu ações dirigidas de prevenção e isolamento, ações de higienização e investimentos no sistema hospitalar; a Exto distribuiu máscaras, refeições e fraldas descartáveis solicitadas pela população e a Andrade Gutierrez abriu seleção de fornecedores de iniciativas de combate para aplicar em suas obras e escritórios.

No âmbito institucional, diversas entidades setoriais se manifestaram em relação aos efeitos da pandemia. Em nome de seus associados, incluindo a Sobratema, a Brasinfra (Associação Brasileira dos Sindicatos e Associações de Classe da Infraestrutura) encaminhou documento ao governo federal expressando preocupação com as paralisações das obras. “Solicitamos que os impactos sejam debatidos e contemplados dentre as medidas de proteção econômica que serão adotadas pelo governo federal, com a implementação de ações para a continuidade, permanência e retomada das obras paradas e investimentos em novos projetos, nos moldes do que outras nações estão fazendo”, diz o documento, que lista medidas de resguardo ao setor.

Na mesma linha, o Sinicon (Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada) propôs um programa de retomada de obras públicas custeado por um esquema financeiro garantido por multas aplicadas às empresas atingidas pela Lava-Jato, utilizando os créditos futuros para levantar financiamento destinado às obras paradas, ao passo que a Alec (Associação Brasileira dos Locadores de Equipamentos e de Bens Móveis) encaminhou comunicado aos representantes governamentais com o objetivo de alertar que o setor de locação de equipamentos é essencial à população. Também a Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base) elaborou um documento cobrando providências para blindar as receitas das concessionárias rodoviárias, ao lado de eventual relaxamento de obrigações contratuais.

Outras entidades deflagraram ações pontuais, como o SindusCon/SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), que lançou um guia orientativo com atualização permanente para sistematizar todas as informações relevantes para o setor da construção, e a Anfir (Associação Nacional Fabricantes de Implementos Rodoviários), que criou um plantão online para tratar dos impactos da Covid-19 no setor de transporte de cargas, além de promover ações como a distribuição de refeições aos caminhoneiros, realizada em parceria com a TruckPad, plataforma que permite a geolocalização de profissionais da estrada.

Mesmo prevendo dificuldades, comitê europeu mantém otimismo

No início do ano, o Committee for European Construction Equipment (CECE) previa uma retração no mercado de máquinas em todo o mundo de até -10%, mas a partir de meados de março, com a crise sanitária, qualquer projeção se tornou impossível.

Riccardo Viaggi, do CECE: crise sanitária ameaça andamento das obras

Segundo a consultoria GlobalData, a indústria da construção da Europa Ocidental pode contrair -5,1% em 2020, enquanto no leste europeu a queda pode chegar a -1,4% neste ano. Antevendo um impacto também na indústria de equipamentos de construção, o relatório anual da entidade destaca que a pandemia pode trazer problemas relacionados aos clientes, como interrupção de obras e cancelamento de projetos. “Como antes da crise havia uma demanda sólida por máquinas e muitos projetos foram paralisados, mas não cancelados, o CECE está otimista quanto à possibilidade de a indústria se recuperar assim que o vírus for derrotado”, afirma o secretário geral do CECE, Riccardo Viaggi.

AEM pede estratégia nacional para revitalizar o setor nos EUA

Em declaração divulgada pela associação, o presidente da AEM (Association of Equipment Manufacturers), Dennis Slater, conclamou o Governo Federal norte-americano a tomar medidas imediatas para apoiar os fabricantes de equipamentos, protegendo seus 2,8 milhões de empregos. “Ante o aumento dos custos de fabricação e o crescente déficit de competências da indústria, sem falar do impacto devastador da pandemia da Covid-19 nas comunidades de todo o país, é imperativo que nossos representantes mobilizem toda a força do governo federal para apoiar o setor manufatureiro”, afirmou Slater, que anunciou ainda mudanças no Plano Estratégico da entidade, com redução nas despesas e alterações no cronograma.

Dennis Slater, da AEM (de boné): pressão por medidas para apoiar a indústria de máquinas

Em seu comunicado, a entidade sugeriu a criação de um instituto nacional para servir de centro para todos os programas federais de produção e coordenar suas agências, além do estabelecimento de um Chief Manufacturing Officer – que seria responsável pelo desenvolvimento e execução da estratégia nacional de produção – e formação de um conselho nacional do setor, para prestar aconselhamento não-partidário à presidência e assegurar a competitividade global da indústria transformadora dos EUA.

Saiba mais:
AEM: www.aem.org
CECE: www.cece.eu
Sobratema: www.sobratema.org.br

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