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Revista M&T - Ed.243 - Maio 2020
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Cenário

A difícil primeira resposta

Ainda mensurando os impactos da Covid-19, fabricantes, distribuidoras, construtoras e locadoras relatam como o setor está enfrentando a crise sanitária no Brasil

Insegurança, receio e dúvida. Mas também confiança, atitude e determinação. Tais são os termos que denotam os variados sentimentos das empresas do setor frente à pandemia da Covid-19, que atinge – de maneira inédita – centenas de países ao redor do mundo, afetando profundamente o dia a dia das pessoas, as rotinas de trabalho e, certamente, as atividades econômicas.

A dimensão da paralisação repentina das atividades produtivas ainda é absolutamente incomensurável. Diferentemente de outras crises sanitárias do passado, que ocorreram pontualmente, em países específicos, a Covid-19 vem atingindo todos setores da economia global de forma ampla e rápida, o que tem levado as empresas a tomar medidas imediatas, que vêm se sucedendo conforme o avanço de propagação do vírus.

No Brasil, isso não é diferente. Até o início de abril, em plena quarentena, muitas fabricantes de equipamentos de construção já haviam lançado ações como aplicar o sistema de home office para suas áreas administrativas, de comunicação e de atendimento, que passaram a funcionar de forma remota, enquanto outras optaram por fechar as fábricas e antecipar as férias coletivas de seus quadros.

LOCKDOWN

É o caso da JCB, por exemplo, que suspendeu de forma temporária a produção de seus maquinários na fábrica de Sorocaba (SP). Segundo José Luis Gonçalves, presidente da empresa para Brasil e América Latina, a pausa na produção foi uma resposta inicial a uma situação de difícil mensuração, sem precedentes na história recente. “Essa pausa na produção, mantendo o suporte necessário para o mercado de máquinas, é uma delicada primeira resposta a uma situação difícil, no intuito de cuidar do interesse de colaboradores, distribuidores, clientes e da pró


Insegurança, receio e dúvida. Mas também confiança, atitude e determinação. Tais são os termos que denotam os variados sentimentos das empresas do setor frente à pandemia da Covid-19, que atinge – de maneira inédita – centenas de países ao redor do mundo, afetando profundamente o dia a dia das pessoas, as rotinas de trabalho e, certamente, as atividades econômicas.

A dimensão da paralisação repentina das atividades produtivas ainda é absolutamente incomensurável. Diferentemente de outras crises sanitárias do passado, que ocorreram pontualmente, em países específicos, a Covid-19 vem atingindo todos setores da economia global de forma ampla e rápida, o que tem levado as empresas a tomar medidas imediatas, que vêm se sucedendo conforme o avanço de propagação do vírus.

No Brasil, isso não é diferente. Até o início de abril, em plena quarentena, muitas fabricantes de equipamentos de construção já haviam lançado ações como aplicar o sistema de home office para suas áreas administrativas, de comunicação e de atendimento, que passaram a funcionar de forma remota, enquanto outras optaram por fechar as fábricas e antecipar as férias coletivas de seus quadros.

LOCKDOWN

É o caso da JCB, por exemplo, que suspendeu de forma temporária a produção de seus maquinários na fábrica de Sorocaba (SP). Segundo José Luis Gonçalves, presidente da empresa para Brasil e América Latina, a pausa na produção foi uma resposta inicial a uma situação de difícil mensuração, sem precedentes na história recente. “Essa pausa na produção, mantendo o suporte necessário para o mercado de máquinas, é uma delicada primeira resposta a uma situação difícil, no intuito de cuidar do interesse de colaboradores, distribuidores, clientes e da própria empresa”, afirma.

Apesar da paralisação da fábrica, as áreas de logística e distribuição de peças da JCB – assim como de outras empresas – permaneceram em operação, adotando o esquema de plantão. Trata-se de uma preocupação das fabricantes, no sentido de manter o fluxo de componentes para que os equipamentos atualmente em operação não parem.

Em todo o mundo, diversos fabricantes pausaram a produção por conta da pandemia

Até porque, considerados essenciais, os segmentos de construção e agrícola continuaram ativos durante o período de quarentena. Na JCB, ressalta Gonçalves, o setor de pós-venda seguiu em pleno funcionamento durante o período de isolamento social, de modo a garantir aos clientes a manutenção adequada e as peças necessárias aos equipamentos em campo. “Vamos garantir o suporte técnico e de peças para distribuidores e clientes”, diz ele. “Neste momento, além de preservar a saúde e a segurança de nossos colaboradores, a preocupação também é de prestar assistência aos nossos clientes.”

Na Komatsu, cujo ano fiscal terminou em março, com alta de 45% em relação a 2019, o impacto da situação ainda é incerto. Por precaução, a empresa também suspendeu as atividades de produção nas fábricas de Suzano e Arujá, ambas no interior paulista, antecipando as férias coletivas de seus funcionários para os dias 6 a 21 de abril. “O ano vinha muito promissor e ainda não temos como prever o comportamento do mercado no médio prazo”, comenta Luciano Rocha, gerente de construção da fabricante, ao site Notícias Agrícolas. “Mas já estamos antevendo atrasos nos investimentos de nossos clientes, embora segmentos essenciais como o setor agrícola devam seguir consumindo máquinas.”

De acordo com o gerente de marketing de produto da Komatsu, Ricardo Zurita, o setor agrícola certamente levará mais de tempo para sentir retração na demanda, até em função das safras. “Como o pessoal do agro diz, a chuva e o ciclo da planta não param”, ressalta. “Claro que também haverá uma redução na fabricação e aquisição de equipamentos para o setor, mas a parte de defensivos e adubos, por exemplo, tem se mantido.”

De fato, as fabricantes que atuam no setor agrícola também tiveram de reorganizar suas operações no país. Na John Deere, isso ocorreu especialmente no centro de distribuição de peças da companhia em Campinas (SP), que passou a atuar em regime de escalonamento para não interromper o atendimento e o fornecimento aos agricultores. “A finalidade dessa decisão foi de não interromper o apoio ao produtor agrícola neste momento crítico de colheita da safra atual e garantir disponibilidade de serviços aos clientes do segmento de construção”, informa a empresa em comunicado. “Esta medida se faz necessária uma vez que a produção de alimentos e a infraestrutura são consideradas como atividades essenciais à população.”

Efeitos na logística de peças e serviços trouxeram preocupação às distribuidoras

Para continuar atendendo aos produtores rurais, a AGCO também manteve integralmente as operações de seu centro de distribuição de peças em Jundiaí (SP), assim como em sua rede de concessionárias, mas adotando as medidas de segurança e proteção indicadas pelas autoridades de saúde pública. “É preciso manter ativa a cadeia produtiva do agronegócio, como atividade essencial que representa”, afirma a empresa.

Mas, conforme o tempo passou, os efeitos se alastraram. A ZF concedeu férias coletivas entre 1º e 12 de abril para cerca de 5 mil colaboradores no Brasil, mantendo apenas atividades essenciais. No período, o recebimento de suprimentos foi reduzido ao mínimo e a entrega de produtos a clientes só retomará o fluxo normal após o encerramento da paralisação.

O Grupo Volvo, por sua vez, decidiu suspender a produção por quatro semanas. A medida alcançou os 3,7 mil funcionários que trabalham no complexo fabril da marca em Curitiba (PR), onde são produzidos caminhões, ônibus, motores, caixas de câmbio e cabines. Na mesma linha, a Continental suspendeu até meados de abril as atividades produtivas e administrativas em suas quatro unidades brasileiras (Guarulhos, Itapevi, Ponta Grossa e Várzea Paulista) e a Pirelli anunciou a parada temporária de três unidades produtivas do Brasil e de sua fábrica na Argentina, enquanto a Metso adotou um protocolo rígido de segurança para manter-se operacional durante a pandemia.

EXPECTATIVAS

Nesse cenário, quaisquer projeções se tornam difíceis, se não impossíveis. Para buscar compreender o momento, o Núcleo Jovem da Sobratema antecipou-se e reuniu (online) representantes de fabricantes, locadoras e construtoras para compartilhar expectativas quanto ao impacto da Covid-19 no setor.

Um dos pontos debatidos foi a possível falta de peças, especialmente por conta de impactos na logística, atingida pelo fechamento temporário de distribuidores em cidades menores, assim como a escassez de insumos para dar continuidade às obras.

A questão tornou-se tão urgente que, segundo Eduardo Coli Júnior, gerente de key accounts da Sotreq, muitos clientes fizeram antecipação das compras, especialmente de componentes voltados para atividades essenciais, com o intuito de proteção de estoque. Em março, a empresa registrou um aquecimento nas vendas de peças, o que pode ter sido uma compra antecipada, que só seria feita nos próximos meses. “O impacto será maior daqui para frente, pois os clientes já compraram a peças”, comenta o executivo da Sotreq, que não prevê férias coletivas antecipadas. “Nossa visão é passar para o mercado que, mesmo com restrição, a vida continua.”

Segundo o gestor de frotas e equipamentos da Camargo Corrêa, Amadeu Martinelli, o setor vinha em um momento bom até março, mas depois já começou a sentir os impactos da pandemia, principalmente com dificuldades no transporte de materiais, mas também no que se refere ao enfrentamento da crise. “A cada hora muda a tomada de decisão e os órgãos competentes estão sendo contraditórios nas opiniões”, ele avalia. “Em um momento, os órgãos falam que irão parar uma obra de rodovia, já o governador diz que não é para parar, há uma série de incertezas e não podemos tomar decisões precipitadas.”

Esse é a mesma preocupação de Francisco Neto, gerente de equipamentos da Queiroz Galvão. Segundo ele, mesmo que o governo estadual decida continuar uma obra, os prefeitos podem paralisá-la em seus municípios. Além disso, muitos fornecedores de peças estão fechados, especialmente no interior do país. “Acredito que haverá postergação de aquisições [de máquinas] por conta do cenário que estamos vivendo, já que muitos clientes não sabem se haverá paralisação”, pondera. “De modo que vivemos momentos de incertezas na construção.”

Se as fabricantes e construtoras estão preocupadas com os potenciais desdobramentos econômicos da pandemia, o setor de rental já sente seus impactos desde a primeira hora. Para Alisson Daniel Gomes, diretor comercial da Escad Rental, a crise sanitária tem aspectos que a diferenciam de outras, pois “afeta diretamente os custos das empresas, que se veem sem produtividade efetiva em um curto espaço de tempo”.

Devolução de máquinas foi um dos efeitos imediatos sentidos no segmento de rental

No momento, diz ele, o maior receio do setor de rental é a inadimplência dos clientes, até por conta das obras paradas e das dificuldades em manter os trabalhos em um período de isolamento social, além do impacto da política nas decisões do que precisa ser feito para atenuar a crise. “Algumas empresas talvez estejam mais expostas em projetos e, por isso, precisam parar, mas as obras menos expostas continuam rodando sem problema”, comenta Daniel. “Ou seja, tudo passa a ser uma questão política à qual precisamos nos adaptar.”

Há ainda outro aspecto. De acordo com Leonardo Marcelino, gerente comercial da Mills Solaris, já no início do isolamento social, em meados de março, a empresa constatou uma devolução em massa de máquinas. “Além disso, nosso mercado é muito sensível ao dólar, ou seja, o valor elevado dessa moeda provavelmente afetará nossos negócios”, acrescenta o executivo.

Do lado dos contratantes, a percepção é a mesma, em sentido inverso. Segundo Martinelli, da Camargo Corrêa, houve um reflexo imediato quanto ao cancelamento de contratos de equipamentos locados nas obras, com um registro de 20% na retirada de maquinários. “As grandes locadoras, a princípio, estão mantendo os equipamentos nas obras, mas as menores estão achando melhor retirar os equipamentos, especialmente em obras de menor proporção”, sublinha. “Por outro lado, estamos firmando parcerias com as locadoras, que estão deixando os maquinários nas obras sem custo durante esse período.”

Ainda é difícil vislumbrar o que virá, mas alguns já arriscam projeções para o cenário pós-coronavírus. Para Daniel, por exemplo, ao contrário de outras crises, em que o setor da construção foi o primeiro a sentir e o último a se recuperar, dessa vez será o último a sentir os efeitos e o primeiro a se reerguer. “Não é possível saber se isso se dará em dois ou três meses, mas certamente vai passar”, diz ele. “Até porque os negócios já definidos tendem a se consolidar.”

No cenário mais crítico, com os clientes segurando os investimentos, a expectativa é de que tudo esteja normalizado até o final do ano. “Se for assim, teremos todo o segundo semestre para correr atrás dos prejuízos”, opina Marcelo Bracco, presidente da Manitou para o Brasil e a América Latina.

Saiba mais:
AGCO: www.agco.com.br
Camargo Corrêa: construtoracamargocorrea.com.br
Escad Rental: escad.com.br
JCB: www.jcb.com/pt-br
John Deere: www.deere.com.br
Komatsu: www.komatsu.com.br
Manitou Brasil: www.manitou.com/pt
Mills Solaris: www.mills.com.br
Queiroz Galvão: www.grupoqueirozgalvao.com.br
Sotreq: www.sotreq.com.br

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