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Revista M&T - Ed.142 - Dez/Jan 2011
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Perfil

Quando a invenção significa atendimento

Perfil com João Duarte Guimarães Filho

O professor de Física, concursado pelo Ministério da Educação e Cultura, decidiu ampliar horizontes e se formar em Engenharia Civil. Largou as salas de aula, onde lecionou entre 1957 e 1964, para trabalhar em empresas de geotecnia, em meados dos anos 1960, até formar a sua própria empresa, no início da década seguinte. Com conhecimentos em Física, associados à experiência em Engenharia, o empresário João Duarte Guimarães Filho, proprietário da Este Engenharia, detém 18 patentes depositadas no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) e não pretende parar de criar novas soluções antes dos 90 anos. Atualmente, ele tem 75.

Nesta entrevista, o empresário mostra que as invenções só têm sentido quando são completamente focadas no atendimento ao cliente.

M&T – Como foi o inicio das suas atividades como empresário?

Duarte: Não foi simples. Tanto eu quanto o Horst Ekschmidt, que fundou a empresa junto comigo, tínhamos certa experiência em geotecnia, mas precisamos criar novas metodologias. Eu tinha trabalhado em uma em


O professor de Física, concursado pelo Ministério da Educação e Cultura, decidiu ampliar horizontes e se formar em Engenharia Civil. Largou as salas de aula, onde lecionou entre 1957 e 1964, para trabalhar em empresas de geotecnia, em meados dos anos 1960, até formar a sua própria empresa, no início da década seguinte. Com conhecimentos em Física, associados à experiência em Engenharia, o empresário João Duarte Guimarães Filho, proprietário da Este Engenharia, detém 18 patentes depositadas no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) e não pretende parar de criar novas soluções antes dos 90 anos. Atualmente, ele tem 75.

Nesta entrevista, o empresário mostra que as invenções só têm sentido quando são completamente focadas no atendimento ao cliente.

M&T – Como foi o inicio das suas atividades como empresário?

Duarte: Não foi simples. Tanto eu quanto o Horst Ekschmidt, que fundou a empresa junto comigo, tínhamos certa experiência em geotecnia, mas precisamos criar novas metodologias. Eu tinha trabalhado em uma empresa suíça de geotecnia, onde era o engenheiro responsável por vedação de barragens. Depois, fui selecionado para ser geotécnico do sistema Cantareira, entre 1969 e 1970, contratado pela Comasp, que hoje é a Sabesp. Logo após, criamos a nossa própria empresa, ainda em 1970. Um antigo colega da Comasp, que na época estava à frente das primeiras obras da rodovia dos Imigrantes, nos chamou para uma missão delicada. Eles haviam planejado a execução dos túneis pelo método NATM (New Austrian Tunnelling Method), utilizando tirantes fixados com cartuchos de resina. Essa era uma técnica que tinha funcionado bem em outras obras em rocha sã no Canadá e nos Estados Unidos e, por isso, avaliaram que também seria útil na Serra do Mar. Mas não foi o caso. Os trechos de túneis da Imigrantes eram compostos por rochas de propriedades muito irregulares e o cartucho de resina não fazia o preenchimento necessário no tirante para garantir a ancoragem. Foi então que fizemos a primeira invenção e a depositamos no INPI com o nome de Sistema Brasileiro de Ancoragem. Trata-se de um sistema no qual se bombeia manual ou mecanicamente uma mistura de resina catalisada para preencher o espaço da perfuração. Minutos depois se introduz o tirante de aço, que fica inteiramente envolvido pela resina, dando a sustentação necessária para o teto e as paredes do túnel.

M&T – Mas essa não era uma tecnologia já desenvolvida internacionalmente?

Duarte: Não. Mas muitos pensaram que era, inclusive uma multinacional alemã, que entrou na justiça com um processo de contrafação da patente. Essa briga durou nove anos e perdemos em várias instâncias, até contratarmos o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) para realizar um estudo e mostrar tecnicamente que o nosso sistema nada tinha a ver com o que essa empresa e todas as outras usavam mundo afora. Apesar da vitória final, esse processo criou desgastes, inclusive a saída do Horst da sociedade da Este Engenharia.

M&T – Então, foi com essa vitória na justiça que o senhor passou a ser reconhecido como inventor de sistemas de geotecnia no Brasil?

Duarte: Na verdade, eu nunca me posicionei como inventor e nem gosto disso. Mas temos que nos resguardar de possíveis contratempos, como foi o caso da nossa primeira invenção patenteada. Se não patenteamos a nossa criação, podemos perdê-la e até sermos presos, como quase aconteceu comigo no episódio que contei anteriormente. No entanto, todas as nossas invenções tiveram o objetivo simples de atender a uma demanda de mercado ou de um cliente específico. Não inventamos para sermos inventores.

M&T – Mesmo sem ambicionar o título de inventor, o senhor tem algumas patentes no Brasil, não é mesmo?

Duarte: Sim, são 18. Todas elas são tecnologias criadas na mais pura coragem, em brigas de Davi contra Golias quando comparamos a Este Engenharia com concorrentes internacionais. Muitas dessas criações, porém, resolveram problemas de grande importância em obras brasileiras. Algumas das maiores torres de aerogeradores, por exemplo, estão girando em areias fofas fundeadas com nossas estacas Alluvial Anker. As primeiras contenções com solo grampeado (Soil Nailing) também foram nossa contribuição pioneira e não registramos patentes, nossas estacas Mixed in place – rotocrete melhoram solos moles e vedam poços profundos desde a década de 1980. Às vezes fico envergonhado quando falamos muito de patentes, mas reconheço que elas são necessárias. Afinal, um país só cresce com desenvolvimentos internos. Veja a China.

M&T – A China?

Duarte: Sim, a China. Eles vão ser a maior potência do mundo em pouquíssimo tempo. É incrível a disposição de criação que seu povo tem. Se não têm determinado sistema, eles criam ou copiam, investem nos seus profissionais para que alcancem o mais alto nível de desenvolvimento na engenharia. Estive na última feira Bauma China, em novembro, e fiquei surpreso com a audácia dos fabricantes de equipamentos de lá. Agora não tem mais empresa americana com grandes estandes na feira. Os estandes gigantescos são dos fabricantes chineses, que apresentam equipamentos de qualidade tecnológica e têm aperfeiçoado o pós-venda, que muitos julgavam ser a principal fraqueza dos dragões asiáticos.

M&T – Então, a China estaria na contramão de outros países do mundo, onde uma pesquisa da Unesco identificou a baixa da profissão de engenharia, classificando-a como pouco rentável e desestimulante?

Duarte: Primeiramente, eu discordo dessa pesquisa da Unesco, validando a minha verve polemista. A engenharia é uma conquista diária. Tudo que ela exige na prática desencadeia uma dificuldade de vencer obstáculos, o que é estimulante. Praticamente tudo que é feito pela mão do homem tem a mão do engenheiro. A profissão é estimulante e até apaixonante. Agora, a questão de pagar pouco é relativa. Quem é funcionário de uma empresa onde está aprendendo, não pode dizer que ganha pouco. A engenharia, como qualquer outra profissão, tem salários diversos, que variam de acordo com a competência e a experiência do profissional. No Brasil, particularmente, o que vemos é uma dependência de tecnologia internacional. Os nossos engenheiros precisam circular pelo mundo para aprender como se criam tecnologias e trazer a expertise para desenvolver novidades próprias. Novamente, cito a China como exemplo. Além disso, temos muitos cursos de mestrado que desenvolvem os nossos profissionais com um academismo excessivo. É claro que o conhecimento teórico é primordial, mas é preciso estabelecer uma ligação dele com a prática, algo que também depende do desenvolvimento econômico do país, que, naturalmente, promove o desenvolvimento tecnológico. E o Brasil está começando a viver essa fase, mas não podemos só exportar commodities. Precisamos da propriedade intelectual dos brasileiros.

M&T – Quais desenvolvimentos brasileiros podem ser destacados como exemplos?

Duarte: Vou falar das nossas criações. Temos um sistema de geodreno utilizado para consolidar solos moles que está na vanguarda tecnológica. Isto é uma “reinvenção” de técnicas alemãs da década de 1950. Também desenvolvemos a estaca de brita, a Vibropac, que é reconhecida como desenvolvimento brasileiro e já foi testada em grandes obras nacionais, como na avenida Jacu-Pessêgo, onde foram implantadas 1.100 estacas desse tipo. Desenvolvemos essa tecnologia com base em soluções adotadas internacionalmente. Outra criação foi o CGC (Compaction Grouting Column). Nos Estados Unidos, um sistema antigo, criado em 1934, já se baseava na injeção de argamassa no solo, com slump próximo de zero, para criar uma espécie de esfera para levantar o piso ou melhorar a qualidade do solo. Na década de 1950 esse sistema foi evoluindo e, em alguns anos, ele se transformou em colunas de injeção de argamassa para melhorar o solo por meio de redução do índice de vazio, conseguido com a sustentação de colunas contínuas. O que nós fizemos recentemente foi automatizar a subida da haste contínua, além de constituirmos colunas de melhor qualidade, capazes de consolidar solos moles sem a necessidade de remover o solo.

M&T – Essas foram as suas últimas invenções?

Duarte: Tenho 75 anos e não vou me aposentar antes dos 90. Enquanto eu estiver ativo, criarei soluções para atender demandas de mercado e dos nossos clientes. Temos uma tecnologia em desenvolvimento, chamada Consolidren. Ela chega a cravar 5 mil metros de geotêxtil de alta resistência por dia. Depois de cravar os invólucros, injeta-se cimento dentro dela, criando uma estaca para reforço de solo mole. Estamos aperfeiçoando esse sistema, que revela ser promissor pela agilidade.

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