Foto: CASE CE
Na engenharia de máquinas pesadas, poucos debates são tão recorrentes quanto a comparação entre transmissões hidrostáticas e powershift em carregadeiras.
A questão vai além de uma mera escolha técnica, pois se trata de definir qual “filosofia de projeto” proporciona maior eficiência, robustez e retorno sobre o investimento, considerando diferentes cenários de aplicação.
De um lado, a transmissão hidrostática conquista espaço especialmente em compactos, valorizada pela suavidade de operação, controle preciso e economia em ciclos curtos. De outro, a powershift mantém a reputação de força bruta e confiabilidade em trabalhos intensos e contínuos.
Tecnicamente, a diferença consiste em como é feita a transferência da potência mecânica do motor para os eixos.
Foto: CASE CE
Na engenharia de máquinas pesadas, poucos debates são tão recorrentes quanto a comparação entre transmissões hidrostáticas e powershift em carregadeiras.
A questão vai além de uma mera escolha técnica, pois se trata de definir qual “filosofia de projeto” proporciona maior eficiência, robustez e retorno sobre o investimento, considerando diferentes cenários de aplicação.
De um lado, a transmissão hidrostática conquista espaço especialmente em compactos, valorizada pela suavidade de operação, controle preciso e economia em ciclos curtos. De outro, a powershift mantém a reputação de força bruta e confiabilidade em trabalhos intensos e contínuos.
Tecnicamente, a diferença consiste em como é feita a transferência da potência mecânica do motor para os eixos.
Em linhas gerais, a versão hidrostática utiliza um sistema composto por bombas e motores hidráulicos, enquanto a powershift inclui um conversor de torque para realizar essa função.
Para entender melhor esses dois sistemas, a Revista M&T ouviu alguns dos principais especialistas da indústria. Embora não exista uma visão única – pois cada marca enxerga caminhos distintos –, todos apontam para um futuro em que a tecnologia embarcada exercerá papel decisivo.
No limite, a escolha entre hidrostática e powershift recai menos sobre a transmissão em si e mais sobre o tipo de aplicação em que a carregadeira será utilizada.
Obras urbanas e de ciclos curtos, por exemplo, favorecem a hidrostática, enquanto mineração e grandes movimentações ainda exigem a powershift.
Todavia, o que se desenha para os próximos anos é uma convivência entre esses dois sistemas, que evoluem em paralelo, cada vez mais apoiados por eletrônica embarcada, telemetria e, já despontando no horizonte, soluções elétricas e híbridas.
Ou seja, em um mercado no qual é contínua a busca por produtividade com menor custo e impacto ambiental reduzido, a “transmissão certa” deve aliar a tecnologia à realidade do cliente, seja pelo caminho da suavidade precisa ou da força inabalável.
PRIORIDADES
Nos mercados internacionais, a transmissão hidrostática é aplicada em larga escala em carregadeiras compactas por garantir maior precisão em manobras e eficiência em ciclos de curta distância, o que garante sua atratividade.
A Case CE, por exemplo, mantém a powershift como padrão do portfólio oferecido no país.
“No Brasil, a Case tem apostado exclusivamente na powershift mesmo para máquinas de menor porte, pois o cliente valoriza robustez, durabilidade e simplicidade de manutenção acima de tudo”, explica Marcelo Rohr, especialista de marketing de produto da marca.
“Em nossas pesquisas, constatamos que a prioridade do cliente brasileiro é contar com uma máquina confiável, que opere por longos turnos e demande baixa intervenção técnica.”
Em operações severas como mineração, portos, pedreiras e terraplenagem, Rohr considera o uso dessa solução inquestionável, levando em conta o TCO (custo total de propriedade) mais competitivo e a manutenção mais simples, que – segundo ele – se traduzem em maior previsibilidade para o cliente.
“A demanda por carregadeiras de médio e grande porte continuará forte, especialmente nos setores de agronegócio, infraestrutura e mineração”, diz ele.
“Nessas aplicações, a powershift continuará sendo a transmissão mais adequada, até pelo equilíbrio entre desempenho e TCO.”
A Caterpillar, por sua vez, adota uma postura mais comedida sobre o assunto. “
A hidrostática é imbatível em ambientes urbanos, até por oferecer suavidade nas manobras, ciclos rápidos e consumo reduzido”, explana o especialista de produto Leandro Amaral.
Segundo ele, a adoção crescente dessa solução em carregadeiras de menor porte se deve à eficiência em ambientes restritos, menor consumo e facilidade de operação, o que aumenta a produtividade e reduz custos.
“Também garante maior precisão, sendo ideal para áreas confinadas e operações leves”, completa.
Já para trabalhos em mineração, grandes movimentações e terrenos acidentados, a powershift segue liderando, diz ele, principalmente porque o torque constante e a durabilidade são diferenciais para quem não pode correr riscos de máquina parada.
“A escolha da transmissão influencia diretamente no desempenho, consumo e manutenção”, comenta.
“E a hidrostática tende a ser mais econômica em operações leves, enquanto a powershift é mais vantajosa em cenários de alta demanda.”
OPERAÇÃO
Para o gerente de vendas da Develon, Leandro Yokoti, a escolha da transmissão deve considerar o tipo de operação no qual a carregadeira é aplicada.
“A powershift é ideal para maior velocidade e longas distâncias, enquanto a hidrostática se destaca pelo controle e manobras”, explica.
Segundo os especialistas, a escolha da transmissão deve considerar o tipo de operação no qual a carregadeira é aplicada. Foto: DEVELON
A adoção crescente da hidrostática em máquinas menores ocorre por vantagens como economia de combustível em ciclos curtos, conforto para o operador e menor fadiga, ele prossegue.
“Em operações como carregamento de caminhões, movimentação de materiais em distâncias curtas ou nivelamento de terrenos, a necessidade não é a velocidade, mas sim a agilidade e a eficiência nos ciclos”, exemplifica Yokoti.
Já a powershift segue insubstituível em ambientes de alto rendimento contínuo, como pedreiras e grandes pátios de estocagem.
“As engrenagens powershift oferecem maior força e torque, ideais para solos duros, inclinados ou carregamentos pesados”, diz o gerente, destacando que o cenário atual favorece a adoção de carregadeiras de menor porte, especialmente em contextos urbanos e de infraestrutura, por entregarem “versatilidade, eficiência operacional e adequação a espaços confinados”.
“Embora as máquinas de maior porte ainda desempenhem um papel crucial em projetos de grande escala, a tendência é que as máquinas menores ganhem cada vez mais destaque no mercado brasileiro”, observa.
Contudo, o especialista de marketing de produto da John Deere, Tony Belizario, coloca a powershift em posição de vantagem.
“Esse sistema pode apresentar desgaste até 17% menor que outras transmissões, graças à robustez dos conjuntos de engrenagens e menor vulnerabilidade a contaminações”, comenta.
“Os reparos também tendem a ser mais simples, já que é possível substituir individualmente os pacotes de engrenagens.”
Já as transmissões hidrostáticas, embora ofereçam rapidez em modelos compactos, exigem maior especialização na manutenção e, além disso, têm custos iniciais mais altos, completa o especialista.
Critérios como consumo, eficiência, manutenção e custos entram na equação de seletividade. Foto: JOHN DEERE
Quando apresentam problemas, acentua Belizario, geralmente é preciso reparar a bomba inteira, o que eleva consideravelmente os custos.
“Como tem mais componentes no trem de força, o risco de um reparo mais complexo e caro é bem maior nesse tipo de transmissão, especialmente em casos de contaminação generalizada”, delineia.
PORTE
Nas carregadeiras da Komatsu, a transmissão hidrostática também é utilizada basicamente em modelos de menor porte – e a powershift nos grandes.
O engenheiro de vendas da empresa, Fernando Dávila, destaca que a hidrostática oferece agilidade, resposta rápida e controle variável de velocidade aos compactos, além de recursos inteligentes como desligamento automático do motor acima de 13 km/h, reduzindo assim o consumo.
Já a powershift, segundo ele, continua predominante a partir da classe WA380-6, voltada para aplicações severas.
“A decisão entre os sistemas deve considerar não só o porte da máquina, mas também o suporte de pós-venda e a credibilidade do fabricante”, apregoa.
Pela robustez e confiabilidade, o uso de transmissõespowershift é mais comum em modelos de porte maior. Foto: KOMATSU
De acordo com Dávila, as transmissões hidrostáticas da Komatsu possuem recursos que adequam o equipamento para cada tipo de cenário enfrentado, mas nem todos os modelos disponíveis no mercado possuem sistemas com tantos recursos.
“Da mesma forma, o sistema Powershift da marca possui recursos que adequam o equipamento à aplicação, mas existem outros que não possuem tantas possibilidades, dependendo do fabricante”, garante.
Por sua vez, o supervisor de vendas para soluções de movimentação de terra da Liebherr, Julio Ramos, acentua que a transmissão powershift pode apresentar desempenho superior em operações com longos deslocamentos, especialmente em termos de velocidade e resposta contínua.
“Ainda assim, mesmo nesses casos a hidrostática mantém vantagem em economia de combustível, embora mais modesta, em torno de 10%”, compara.
Transmissões hidrostáticas oferecem recursos que adequam o equipamento para cada tipo de cenário. Foto: LIEBHERR
O especialista observa ainda que esse tipo de operação não representa a maioria dos cenários típicos de uso de carregadeiras, que geralmente envolvem ciclos curtos, manobras frequentes e alta demanda por precisão.
Nessas condições, a transmissão hidrostática demonstra maior predominância, com os benefícios já mencionados.
“Apesar de envolver componentes diferentes da powershift, a hidrostática possui menor complexidade mecânica e um número significativamente menor de partes móveis”, comenta.
“Isso se traduz em menor desgaste, menos intervenções corretivas e manutenção mais simples e ágil, o que, na prática, representa menor custo de manutenção”, crava Ramos.
Para ele, o custo de aquisição entre os dois sistemas é relativamente similar, o que reforça ainda mais a vantagem da hidrostática quando se considera a eficiência energética superior, com redução de consumo, além da maior facilidade de manutenção.
Na perspectiva do supervisor, o mercado brasileiro tem seguido a tendência global de eficiência operacional e redução de emissões, o que favorece equipamentos com menor consumo e maior produtividade, como ocorre com as carregadeiras de transmissão hidrostática.
“A expectativa é que, nos próximos anos, o mercado continue priorizando soluções que entreguem melhor desempenho energético, menor custo operacional e maior versatilidade, independentemente do porte do equipamento”, diz ele.
DIAGNÓSTICO
Na New Holland Construction, a avaliação é que os clientes buscam robustez, durabilidade e simplicidade, qualidades essas que permitem enfrentar desde aplicações severas até operações de uso contínuo.
“Por isso, as carregadeiras da marca são oferecidas com transmissão powershift, que consideramos a mais adequada para as condições brasileiras”, posiciona Rafael Barbosa, gerente de produto para o segmento de construção da CNH na América Latina, que afirma ouvir de perto as necessidades das pessoas que investem as máquinas e as operam.
“A proposta é ser reconhecido pela confiabilidade, facilidade de manutenção e excelente custo total de propriedade.”
Tendência mundial de “zero emission” vem direcionando os clientes para projetos com menor consumo e maior produtividade. Foto: NEW HOLLAND CONSTRUCTION
O especialista de marketing de produto da New Holland Construction, Rogério Almeida, destaca que, embora a hidrostática proporcione vantagens em operações específicas em âmbito global (como em ambientes urbanos, agrícolas ou de infraestrutura leve), a powershift é capaz de garantir que não haja surpresas em operações de médio a grande porte.
“Essa confiabilidade é determinante para o sucesso da obra”, sugere Almeida, destacando a suavidade e a facilidade de operação desse conceito.
A marca também vê um crescimento significativo na demanda de carregadeiras compactas, especialmente em obras urbanas e agronegócio.
“Ainda assim, os modelos médios e grandes permanecem fundamentais para o país”, observa Almeida.
“A aposta é de um portfólio balanceado, todo equipado com powershift para operar em qualquer segmento.”
Na perspectiva da Sany, tanto a hidrostática quanto a powershift podem apresentar pontos negativos, capazes de impactar diretamente na produtividade e no custo de propriedade, especialmente se a escolha for baseada somente em preço ou preferência de marca, sem se analisar os critérios de aplicação, operação e mesmo localização da obra.
“Em termos de custos, a hidrostática é mais vantajosa em operações leves e urbanas, onde o consumo e a manutenção compensam o investimento inicial”, frisa Vladimir de Rafael Machado Filho, gerente nacional de produto da marca.
“Já a powershift é ideal para os trabalhos pesados e contínuos, nos quais a robustez e a produtividade são fatores decisivos.”
Experts recomendam basear a escolha em critérios fundamentados de aplicação, operação e localização da obra. Foto: SANY
Para Machado, o sistema powershift tem manutenção mais previsível e acessível, enquanto a versão hidrostática exige cuidado e especialização da mão de obra.
“Além disso, as carregadeiras com transmissão hidrostática são mais caras em comparação às máquinas equivalentes, por terem componentes mais sofisticados”, reforça.
Na visão de Saulo Costa de Toledo Junior, engenheiro de produto para carregadeiras da XCMG, embora os modelos com transmissão hidrostática apresentem um investimento inicial mais alto, há compensação advinda da economia de combustível e do menor desgaste de pneus e freios.
Já a powershift é mais acessível na compra e tem uma manutenção mais tradicional, conhecida pela maioria das oficinas.
Por outro lado, tende a gastar mais em ciclos curtos de trabalho.
Cada tecnologia uma tem seu próprio equilíbrio de custos, dependendo da realidade do cliente e seu ciclo de trabalho. Foto: XCMG
“Ou seja, cada uma tem seu próprio equilíbrio de custos, dependendo da realidade do cliente”, pondera.
Junior defende que a escolha seja condicionada ao ciclo de trabalho.
“Com a hidrostática, o cliente ganha em precisão, conforto e economia. Já com a powershift, terá mais produção por hora em operações pesadas e contínuas, garantindo retorno no custo total quando a prioridade for movimentar grandes volumes em menos tempo”, arremata o especialista.
Saiba mais:
Case CE: www.casece.com/pt-br/southamerica
Caterpillar: www.caterpillar.com/pt
Develon: https://la.develon-ce.com/pt
John Deere: www.deere.com.br/pt
Komatsu: www.komatsu.com.br
Liebherr: www.liebherr.com/pt-br
New Holland Construction: https://construction.newholland.com/pt-br
Sany: https://sanydobrasil.com
XCMG: www.xcmg-america.com
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