Revista M&T - Ed.125 - Junho 2009
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Internacional

Novos players acirram a competição no mercado

Pressionados pela queda nas vendas em seus países de origem, fabricantes estrangeiros descobrem o potencial do mercado brasileiro

Diferentemente da situação vivida pela indústria brasileira, os fabricantes de equipamentos para construção dos demais países do mundo enfrentam uma turbulência sem precedentes na história, com quedas superiores a 30% no ritmo das atividades desde 2006. “Trata-se da maior crise que já presenciei em mais de 30 anos de experiência no setor”, afirma o britânico David Phillips, diretor de instituto Off-Highway Research, especializado em pesquisas no mercado internacional de equipamentos.

Segundo levantamentos da sua empresa, o volume de negócios no mercado mundial de máquinas para construção diminuiu de US$ 100 bilhões por ano, em 2006, para cerca de US$ 87 bilhões, em 2008. Este ano, a previsão é que as vendas no setor totalizem aproximadamente US$ 68 bilhões, contabilizando uma queda de 28% no mercado norte-americano e de 32% na Europa em relação a 2008.

Como a crise tem origem no mercado financeiro, Phillips destaca que a redução das atividades se deve mais à falta de crédito que à paralisação do setor de construção. “Cerca de 80% das vendas da indústria de máquinas depende de financiamento e, em janeiro deste ano, apenas 5% dos contratos


Diferentemente da situação vivida pela indústria brasileira, os fabricantes de equipamentos para construção dos demais países do mundo enfrentam uma turbulência sem precedentes na história, com quedas superiores a 30% no ritmo das atividades desde 2006. “Trata-se da maior crise que já presenciei em mais de 30 anos de experiência no setor”, afirma o britânico David Phillips, diretor de instituto Off-Highway Research, especializado em pesquisas no mercado internacional de equipamentos.

Segundo levantamentos da sua empresa, o volume de negócios no mercado mundial de máquinas para construção diminuiu de US$ 100 bilhões por ano, em 2006, para cerca de US$ 87 bilhões, em 2008. Este ano, a previsão é que as vendas no setor totalizem aproximadamente US$ 68 bilhões, contabilizando uma queda de 28% no mercado norte-americano e de 32% na Europa em relação a 2008.

Como a crise tem origem no mercado financeiro, Phillips destaca que a redução das atividades se deve mais à falta de crédito que à paralisação do setor de construção. “Cerca de 80% das vendas da indústria de máquinas depende de financiamento e, em janeiro deste ano, apenas 5% dos contratos fechados contaram com linhas de crédito.” Com um estoque excedente de equipamentos no mercado e a ausência de financiamentos, os fabricantes se deparam com uma situação complexa, na qual as promoções se mostram infrutíferas na geração de novos negócios.

De acordo com Israel Celli, vice-presidente de vendas e marketing da Case Construction na Europa, a queda nas vendas atinge índices dramáticos em países como a Espanha (redução de 85%) e não faz distinção quanto aos tipos de equipamentos, abrangendo tanto os modelos de escavação de solos como os usados em obras rodoviárias, os guindastes e outros. Mesmo assim, ele acredita que o pior já passou e vislumbra uma luz no fim do túnel. “Na Polônia e demais países do leste europeu há uma grande demanda por obras de infraestrutura e esse será o caminho para a nossa retomada no continente.”

Avanço chinês

Menos traumática é a situação enfrentada pelos fabricantes chineses, que após um crescimento nas vendas de 26%, em 2008, tiveram que se contentar com uma expansão de “apenas” 5% nos negócios em 2009. Mesmo assim, como estão operando abaixo da capacidade instalada, eles aceleram os planos de internacionalização que permeiam o projeto de expansão da economia chinesa. “A China não vai se contentar em ser apenas o maior mercado consumidor de equipamentos de construção; ela se prepara para se tornar também o maior fornecedor mundial desse setor nos próximos cinco anos”, avalia Phillips.

Os reflexos dessa estratégia já se fazem sentir no Brasil e os primeiros sinais de internacionalização da indústria chinesa de equipamentos puderam ser observados na M&T Expo 2009. Dos 205 expositores internacionais presentes na feira sem operações no país, nada menos que 126 eram provenientes da China. Além dos grandes fabricantes do setor, como XCMG, Sany, Zoomlion e LiuGong, que já contavam com seus equipamentos operando em terras tupiniquins, o evento registrou a presença de inúmeras novas marcas, bem como de fornecedores de peças e acessórios.

Tradicionais fabricantes de pás carregadeiras, alguns competidores chineses optaram naturalmente pelo foco nesse tipo de equipamento em sua estratégia de “desbravamento” do mercado. Afinal, apenas os dois maiores produtores dessa linha de máquinas do país, a LongGong e LiuGong, totalizam uma capacidade instalada de 60.000 unidades/ ano, o suficiente para atender toda a demanda europeia por dois anos, segundo avaliações do Off-Highway Research.

Estreia da LiuGong e Sany

Essa estratégia foi a adotada pela LiuGong, uma das primeiras a chegar ao Brasil, ainda em 2008. Após consolidar sua presença no segmento de carregadeiras de rodas, a empresa se lança agora na disputa de outros mercados, com lançamentos de escavadeiras hidráulicas, retroescavadeiras, motoniveladoras, rolos compactadores, miniescavadeiras e minicarregadeiras. “Nos primeiros quatro meses deste ano, nosso modelo 835, de 11 t de peso, figurou como líder em vendas no segmento de carregadeiras em São Paulo”, comemora John Martin, diretor da Soma Tratores, distribuidora da marca no estado.

De acordo com Li Yi, diretor da Liu- Gong para a América do Sul, o próximo objetivo é conquistar a liderança também no segmento de retroescavadeiras, que a empresa começa a disputar no Brasil a partir dos lançamentos realizados na M&T Expo 2009. Para isso, ele ressalta a estrutura montada pela fabricante no país para suporte aos distribuidores, que inclui a formação de estoque de peças de reposição e a presença de técnicos chineses para treinamento de pós-vendas.

Mesma estratégia vem sendo adotada pela Sany, que acaba de nomear distribuidores nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e região Centro- Oeste. “Operamos no Brasil há quase dois anos, sendo que os primeiros meses foram dedicados a um estudo do mercado e as negociações começaram efetivamente a partir de agosto de 2008, com o atendimento dos clientes diretamente por parte da fábrica da China”, explica Marco Antonio Campion, gerente de contas da Sany do Brasil.

Segundo ele, o objetivo é competir em todos os segmentos nos quais a empresa atua, como os de equipamentos de movimentação de solos (escavadeiras hidráulicas, motoniveladoras e outros), de guindastes, máquinas para obras rodoviárias (rolos compactadores e pavimentadoras), perfuratrizes para execução de fundações, bombas de concreto e reach stackers, entre outros. “A empresa já tinha uma atuação consolidada em outros países da América do Sul e, como um dos maiores fabricantes chineses do setor, ela não poderia deixar o Brasil fora de sua estratégia de internacionalização”, pondera o executivo.

Com sotaque brasileiro

Outro fato marcante registrado na M&T Expo 2009 foi a estreia no Brasil da chinesa SDLG, fabricante que tem 70% de seu controle acionário em poder da Volvo Construction Equipment. O destaque, no caso, não se deve ao país de origem da empresa, mas sim à forma com a qual ela se apresentou ao mercado e a sua estratégia de negócio. Diferentemente de seus compatriotas, a empresa iniciou as atividades com toda a estrutura de operação já montada, com a rede de dealers constituida e com uma diretoria composta por profissionais brasileiros, atendendo os clientes em bom português.

A fabricante debutou no mercado com a oferta de quatro modelos de pás carregadeiras, de 6,7 a 17 t de peso. A proposta, de acordo com Afrânio Chueire, gerente de negócios para a América Latina, é competir em segmentos que demandam máquinas mais simples, que não são atendidos completamente no Brasil, segundo sua opinião. “Um exemplo são as empresas de pequeno porte e consumidores de equipamentos usados, que acabam se contentando com modelos defasados e sem qualquer segurança para suas operações.”

Nesse ponto, a SDLG se destaca também pela ousadia de não maquiar sua estratégia de competir no preço e na oferta de equipamentos com menor conteúdo tecnológico, uma característica comum a muitos fabricantes chineses. “Denominamos essa categoria de máquinas de simple tech, pois elas apresentam tecnologia mais simples, mas adequada em termos de baixo consumo de combustível, segurança e confiabilidade”, afirma Chueire.

Aproveitando a sinergia com as operações da Volvo, a empresa já começa a atuar no Brasil com uma rede de distribuidores constituída. Os dealers da fabricante sueca abriram novas bandeiras para os serviços de vendas e suporte técnico aos equipamentos chineses, totalizando dez pontos de vendas no país. Chueire espera encerrar 2009 com uma participação de 10% nos negócios realizados no segmento de carregadeiras, para então planejar a importação de outras linhas de equipamentos da marca.

Experiência coreana

O fato é que a chegada dos competidores chineses marca um estágio de maior maturidade do mercado brasileiro de equipamentos para construção. “Nem sempre o mais barato é a melhor solução, pois o que vale é o custo por metro cúbico produzido, mas, do ponto de vista dos usuários, essa análise só pode ser concluída em um ambiente de livre concorrência”, pondera Afonso Mamede, presidente da Sobratema.

Agnaldo Lopes, gerente geral de vendas e marketing da Komatsu, segue a mesma linha de raciocínio. “Há espaço para todos no mercado e, além do mais, na maioria das vezes atuamos em segmentos diferentes”, ele afirma. O britânico David Phillips ressalta a dependência da indústria chinesa em relação a fabricantes norte-americanos e europeus no fornecimento de peças de maior conteúdo tecnológico, como motores e sistemas hidráulicos, o que poderia constituir um ponto de fragilidade. Mesmo assim, ele alerta que a provável baixa qualidade dos produtos chineses constitui um mito. “O mercado não pode desdenhar da capacidade de evolução desse povo.”

Nesse ponto, as comparações com os fabricantes coreanos são inevitáveis e ilustram o que pode suceder após esse movimento das empresas chinesas. Um pouco antes dessa movimentação, o mercado brasileiro de equipamentos para construção foi sacudido pela concorrência da indústria sul-coreana, que estabeleceu um novo patamar de competição no setor. Após essa experiência, duas grandes empresas da Coreia do Sul se estabeleceram no Brasil e consolidaram suas posições no mercado: a Doosan e Hyundai.

Vale ressaltar que, apenas em 2008, a Hyundai comercializou cerca de mil unidades de equipamentos no Brasil e se consolidou entre as principais fornecedoras no segmento de escavadeiras hidráulicas, com uma participação de 25% desse mercado. A informação é de Felipe Cavalieri, diretor geral da Brasil Máquinas de Construção (BMC), que representa a marca no Brasil. “Nosso próximo passo envolve o início da importação de retroescavadeiras da marca, a partir do fim do ano, para as quais já temos pedidos em carteira”, diz ele.

O sucesso da iniciativa motivou a empresa a ampliar sua atuação, assumindo a representação de três fabricantes chineses em linhas de equipamentos que não concorrem com a Hyundai: a XCMG, a Zoomlion e Shantui. Com isso, ela incorporou ao seu portfólio os rolos compactadores da primeira, os equipamentos de bombeamento de concreto da segunda e os tratores de esteira da última, todos expostos ao mercado durante a M&T Expo 2009.

Espanhóis e italianos

Mas não são apenas os chineses e coreanos que estão atentos ao mercado brasileiro. “Desde 1997 trazemos nossos equipamentos para o Brasil e a intenção é implantar uma base local para o atendimento dos clientes desse mercado”, diz Joan Herrero, diretor geral da espanhola Llamada, que também contou com estande na M&T Expo 2009. Nesse espaço, a empresa expôs a perfuratriz P-140/TT, que tem capacidade para executar estacas tipo hélice contínua com até 26,5 m de comprimento e 1 m de diâmetro sem a necessidade de uso de prolongamentos.

A fabricante italiana Caradina também compareceu ao evento com sua linha de equipamentos para obras de fundações. Apesar do potencial do mercado brasileiro, o diretor Enrico Marchetti ressalta a dificuldade imposta pela elevada tarifa de importação vigente no país. Mesmo assim, o pavilhão italiano contou com mais de uma dezena de expositores, como a própria Caradina, a Faresin, Cangini Benne, Ciancaleoni, Geax, Cobo SPA e Cosben, entre outras.

“O Brasil está na mira das empresas italianas, que buscam novas parcerias e distribuidores aqui para, quando a atual turbulência econômica passar, já possam contar com uma base de clientes no país”, afirma Emilio Pelizon, analista do ICE (Instituto Italiano para o Comércio Exterior). Segundo ele, atualmente os principais mercados externos para a indústria italiana de equipamentos de construção são a França, Rússia e Estados Unidos, seguidos pelos Emirados Árabes e Romênia.

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