Em 1972, o primeiro relatório do Clube de Roma alertava para a característica insustentável do crescimento global, com risco de esgotamento de matérias-primas e colapso do sistema econômico. Quase meio século mais tarde, os recursos minerais são cada vez mais explorados, como mostra reportagem da jornalista francesa Béatrice Madeline para o jornal Le Monde.
Evidentemente, o crescimento demográfico gera forte demanda. Afinal, para abrigar, equipar e transportar os 9,7 bilhões de pessoas que o planeta deverá ter em 2050 (em um aumento de 47% em comparação a 2007, segundo as projeções das Nações Unidas), isso não poderia mesmo ser diferente. “Atualmente, é necessário extrair do solo mais matéria-prima do que a humanidade já extraiu desde suas origens”, diz relatório da Aliança Nacional de Coordenação de Pesquisas Energéticas, publicado em 2015 na França.
Mas não é só a demografia. Outro aspecto importante no quadro atual é a vertente de “crescimento verde”, que tende a estimular um menor consumo de petróleo e carbono, por exemplo, mas também deve levar a
Em 1972, o primeiro relatório do Clube de Roma alertava para a característica insustentável do crescimento global, com risco de esgotamento de matérias-primas e colapso do sistema econômico. Quase meio século mais tarde, os recursos minerais são cada vez mais explorados, como mostra reportagem da jornalista francesa Béatrice Madeline para o jornal Le Monde.
Evidentemente, o crescimento demográfico gera forte demanda. Afinal, para abrigar, equipar e transportar os 9,7 bilhões de pessoas que o planeta deverá ter em 2050 (em um aumento de 47% em comparação a 2007, segundo as projeções das Nações Unidas), isso não poderia mesmo ser diferente. “Atualmente, é necessário extrair do solo mais matéria-prima do que a humanidade já extraiu desde suas origens”, diz relatório da Aliança Nacional de Coordenação de Pesquisas Energéticas, publicado em 2015 na França.
Mas não é só a demografia. Outro aspecto importante no quadro atual é a vertente de “crescimento verde”, que tende a estimular um menor consumo de petróleo e carbono, por exemplo, mas também deve levar a uma maior utilização de metais. “Para fornecer 1 kWh de energia elétrica por meio de uma usina eólica, é necessário utilizar dez vezes mais concreto e aço e 20 vezes mais cobre e alumínio do que uma central de carbono o faria”, diz Dominique Guyonnet, diretor da Escola Nacional de Geociências Aplicadas (ENAG, do acrônimo em francês).
Isso também vale para as tecnologias híbridas e elétricas – cada vez mais comuns em todos os setores, inclusive na indústria de equipamentos para construção e mineração –, soluções que não consomem combustíveis fósseis, porém utilizam baterias de íon-lítio. Pelas previsões do presidente da fabricante de veículos elétricos Tesla, Elon Musk, em 2020 sairão de sua fábrica em Nevada mais baterias do que foi produzido no mundo todo em 2013. “A questão é se conseguiremos fazer frente a essa demanda futura”, questiona-se Philippe Bideau, especialista da McKinsey e um dos organizadores do Fórum Mundial de Materiais (WMF, da sigla em inglês).
Diversos estudos científicos vêm tentando responder à questão. E as conclusões apontam que a pressão sobre as matérias-primas minerais crescerá nos próximos anos, mas sem trazer risco real de esgotamento no longo prazo, com exceção do cobre, talvez o caso mais crítico. “Em nenhuma hipótese faltarão materiais na Terra”, comenta Bideau. “Mas temos de superar uma série de dificuldades, como o acesso a esses materiais, pois as operações de exploração são cada vez mais complexas e caras, e mesmo no que diz respeito aos riscos geológicos e de disponibilidade”.
A dependência do mercado chinês – que garante mais de 20% da produção mundial de 33 diferentes tipos de minérios e 90% dos materiais extraídos em terra raras – também é particularmente crítica. Contudo, Philippe Chalmin, professor de história econômica em Dauphine e presidente fundador da Cyclope, instituto europeu de pesquisas sobre matérias-primas, coloca outra questão: “Os metais que dispomos atualmente não são necessariamente os que precisaremos dentro de 15 anos, pois a evolução tecnológica pode gerar novas necessidades e diminuir outras para determinados metais”, diz. “E começar a explorar uma nova demanda requer ao menos uma década de desenvolvimento.”
SUSTENTABILIDADE
As preocupações ambientais também estão trazendo novos desafios, alguns quase impossíveis de superar. A sociedade de exploração mineral canadense Tasman Metals, por exemplo, explorava desde 2009 um importante depósito de zircônio e de metais raros em Norra Karr, na região central da Suécia. Mas a permissão de exploração foi retirada em 2016 pela Corte Suprema do país, por razões ambientais.
Nesse cenário, as indústrias já tentam reduzir sua dependência desses recursos. É aqui que a inovação e a tecnologia entram em cena. O centro de pesquisa e desenvolvimento da Yazaki Corporation, por exemplo, tem realizado estudos sobre o uso de metais em veículos automotores. Os engenheiros chegaram à conclusão de que 80% do cobre utilizado nas fiações podem ser substituídos por alumínio. Reciclável ao infinito, o alumínio permite reduzir o uso de carbono não apenas na fabricação, mas também no uso. E, ao reduzir a demanda de cobre (atualmente, são consumidas por esta indústria 800 kton por ano), a tecnologia evita a abertura de novas minas.
Aliás, a reciclagem também está na ordem do dia. Contudo, quando o custo de minérios se torna mais baixo, como agora, é mais barato comprar o mineral novo do que reciclar. Em 2012, para ficar em um único exemplo, o grupo químico Solvay lançou um programa de reciclagem das partículas utilizadas em lâmpadas fluorescentes. Ao mostrar-se não rentável, a atividade foi cancelada em 2015.
NECESSIDADES
Porém, mesmo que a reciclagem se torne economicamente viável, não será suficiente para responder às necessidades, devido aos desperdícios inevitáveis, mas também porque a demanda de bens de consumo não para de crescer. Os especialistas do Escritório de Pesquisas Geológicas e Minerais da França (BRGM) lembram que, a despeito da crise econômica, o consumo de cobre cru cresceu em média 2,87% por ano no último meio século, quadruplicando. O aço, por sua vez, desde 1990 teve sua exploração aumentada em 3,62% ao ano, em média. Quanto ao lítio, a demanda dobrou em apenas 10 anos, entre 2003 e 2013, e deve continuar no mesmo ritmo por muitos anos.
Como vimos, este crescimento deve-se não apenas à demografia, mas também ao progresso e evolução tecnológica. As construções atuais contêm mais metais que as de outrora, incluindo fiações elétricas, canalizações em cobre, acessórios cromados, calhas em zinco, peças em aço ou latão, carpintaria em alumínio, dutos de antimônio, pinturas de dióxido de titânio, iluminação à base de tungstênio e terras raras, por exemplo. Por tudo isso, é imperativo expandir a reciclagem, mas a exploração mineral continuará indispensável, como concluem os especialistas. A menos que o planeta pare sua evolução, o que – diga-se – não só é inviável, como francamente indesejável.
*Este texto reproduz informações do dossiê “La ruée sur les métaux”, publicada no jornal Le Monde em 13 de setembro de 2016, pp. 6-7. Tradução e adaptação: MJ
Indústria da mineração tem diminuição recorde de óbitos nos ESTADOS UNIDOS
Os Estados Unidos registraram o menor número anual de óbitos na indústria da mineração em toda a sua história. Com mais de 13 mil minas, o país teve apenas 24 fatalidades entre outubro de 2015 e setembro de 2016, informa a Administração de Segurança e Saúde na Mineração dos Estados Unidos (MSHA, em inglês). Em relação a 2013, o percentual de mortes já caiu 30%. “É ótimo ver o progresso da indústria em direção ao objetivo de fatalidades zero e 50% de redução nas taxas de ferimentos projetado para 2020”, comemora David L. Kanagy, diretor da Sociedade para Mineração, Metalurgia e Exploração (SME).
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