Seja ao disparar os custos de matérias-primas, reduzir sua oferta ou mesmo prejudicar a logística global, a pandemia afetou inúmeros setores, sem falar nas irreparáveis perdas humanas. No Brasil, os efeitos da crise sanitária intensificaram-se com a valorização das principais moedas globais, que impactam atividades fundamentadas em produtos com preços diretamente atrelados ao câmbio, como é o caso do mercado de rental, que trabalha fortemente com equipamentos importados – ou, ao menos, com grande parte de suas matérias-primas vindas do exterior.
Resultado direto dessa conjuntura é a elevação dos preços das máquinas ligadas às atividades das locadoras, que, pelas estimativas de Eurimilson Daniel, presidente da Escad Rental, registraram aumentos entre 30% e 40% desde o início da pandemia, no caso específico de soluções da Linha Amarela. “Já os preços de locação subiram cerca de 2
Seja ao disparar os custos de matérias-primas, reduzir sua oferta ou mesmo prejudicar a logística global, a pandemia afetou inúmeros setores, sem falar nas irreparáveis perdas humanas. No Brasil, os efeitos da crise sanitária intensificaram-se com a valorização das principais moedas globais, que impactam atividades fundamentadas em produtos com preços diretamente atrelados ao câmbio, como é o caso do mercado de rental, que trabalha fortemente com equipamentos importados – ou, ao menos, com grande parte de suas matérias-primas vindas do exterior.
Resultado direto dessa conjuntura é a elevação dos preços das máquinas ligadas às atividades das locadoras, que, pelas estimativas de Eurimilson Daniel, presidente da Escad Rental, registraram aumentos entre 30% e 40% desde o início da pandemia, no caso específico de soluções da Linha Amarela. “Já os preços de locação subiram cerca de 20%”, compara o executivo.
Dependendo dos critérios de gestão, ele observa, o compromisso com o investimento em equipamentos – seja direto ou intermediado por instituições financeiras – consome de 20% a 40% da receita das locadoras. À folha salarial, com os devidos encargos, cabe uma participação de 20% a 27%. “Já o custo de manutenção na compra de peças de reposição não deve superar 12% da receita”, especifica Daniel, que também é vice-presidente da Sobratema. “Acima disso, é sinal de alto índice de manutenção.”
Todavia, Daniel inclui dentre os fatores que impactam esses índices não apenas a elevação do câmbio e dos custos de equipamentos e peças, mas a própria disponibilidade dos bens. Ou, mais exatamente, sua ‘menor’ disponibilidade. No caso da Escad, por exemplo, em abril a empresa ainda estava recebendo máquinas compradas no 3º trimestre do ano passado. “É desafiador comprar uma máquina que vai demorar mais de 60 dias para chegar, até porque não se sabe qual será a demanda por ela no momento da chegada”, pondera. “Mas os custos financeiros também impactam nossos resultados, e já subiram este ano.”
Pressões de clientes complicam ainda mais a situação. “Há quem esteja retomando projetos que foram paralisados e quer praticar os preços vigentes nos estágios iniciais do projeto, e mesmo quem queira uma redução nesses preços”, relata Daniel. “E, como segue havendo reajustes no preço do aço, os preços dos equipamentos também devem seguir se elevando.”
Como seria de se esperar, a situação atinge mais duramente as locadoras de menor porte, observa Flávio Figueiredo Filho, presidente da Apelmat (Associação Paulista dos Empreiteiros e Locadores de Máquinas de Terraplanagem, Ar Comprimido, Hidráulico e Equipamentos de Construção) e do Selemat (Sindicato das Empresas Locadoras de Equipamentos e Máquinas de Terraplanagem do Estado de São Paulo).
Política rigorosa de gestão tem permitido a aquisição de novos equipamentos
Aliás, como destaca Figueiredo, essas empresas estão sujeitas a fatores adicionais de competitividade, incluindo os próprios fabricantes, que ensaiam maior participação no mercado de rental (leia Box), ou as grandes locadoras, que recebem aportes de capital provenientes de fundos de investimentos. “Concedidos com juros bem inferiores aos que normalmente são praticados, esse capital permite volumes maiores de compras, reduzindo ainda mais os custos dos equipamentos”, diz. “Sem o capital proveniente dos fundos, mesmo algumas grandes locadoras não suportariam esse investimento.”
INVESTIMENTO
Para acompanhar os custos, os preços da locação deveriam estar cerca de 50% acima do que é praticado atualmente, estima Marcello Mari, diretor comercial da Locar, que atua com guindastes e plataformas no mercado do rental. “Nossos equipamentos e insumos são 90% importados”, destaca.
Atualmente, diz ele, já é possível observar uma “leve reação” nos preços, sendo que a Locar tem conseguido melhora em seus resultados operacionais, ainda que tímida. Isso se deve principalmente a uma rigorosa política de gestão, que tem permitido inclusive a compra de novos equipamentos. “Devemos ser uma das poucas empresas do país que estão conseguindo investir”, frisa Mari.
Outra dessas empresas é a Armac, que atua com Linha Amarela, tratores agrícolas, plataformas e empilhadeiras, dentre outros itens. “Neste ano, nosso planejamento inclui a aquisição de cerca de 1,1 mil equipamentos, que elevarão nosso parque para cerca de 3 mil unidades”, afirma o diretor comercial Rafael Kuhl.
Participação do rental nos negócios dos fabricantes chegou a 27% no ano passado
O executivo credita a elevação dos custos dos equipamentos ao fato de os fabricantes, talvez prevendo uma queda mais acentuada na demanda, terem se mostrado despreparados para atender a um mercado que se manteve aquecido. “Talvez especificidades estratégicas justifiquem que o repasse para os preços não seja imediato”, diz Kuhl. “Mas temos conseguido praticar preços que permitam investir em novos equipamentos. O 1º quadrimestre foi positivo e estou otimista para o restante do ano.”
PERSPECTIVAS
Por falar nisso, as perspectivas de avanço no volume de negócios no decorrer de 2021 também são apontadas por outras locadoras. Mari, por exemplo, projeta um incremento de aproximadamente 30% na receita anual da Locar, relativamente a 2020. Em grande parte, a previsão se baseia na evolução dos negócios em setores como infraestrutura, gás e energia. “Também estamos retomando negócios com estaleiros, que haviam parado”, especifica.
Na Linha Amarela, prevê Daniel, da Escad, o mercado do rental deve registrar um incremento de 25% a 30% na comparação com 2020. Segundo ele, as locadoras paulatinamente ampliam sua participação nos negócios dos fabricantes, chegando a 27% no ano passado. “Tivemos um pico de 28% em 2010, depois houve queda para 15% até por volta de 2017, quando retomamos crescimento gradativo”, conta.
Realidade de mercado faz locação se tornar mais atraente para os dealers
O especialista visualiza espaço para as mais diversas propostas, tanto para locadoras com milhares de equipamentos como frotas de equipamentos de menor porte (que, inclusive, vêm se expandindo por meio de redes de franquias), assim como para quem busca nichos menos ocupados, como a locação de máquinas mais pesadas. “É mais fácil locar uma retroescavadeira de 20 t, mas a locação de uma máquina de 50 t é mais rentável”, pondera Daniel.
A percepção de horizonte mais favorável para o rental é referendada por Figueiredo, da Apelmat, que aposta na expansão dos negócios em diversos mercados, como construção, agro, mineração e obras decorrentes das concessões de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. “Relativamente à compra, equipamentos locados têm várias vantagens, permitindo inclusive a alternativa – potencialmente muito interessante – de locação com a mão de obra”, destaca.
Figueiredo projeta expansão até mesmo na demanda por locação de caminhões. Também nesse caso, com a contrapartida de elevação dos preços. “A evolução dos custos é assustadora em todos os sentidos”, ressalta o dirigente.
CONCORRÊNCIA
Revendedores que também locam equipamentos não constituem exatamente uma novidade no Brasil. A Bauko, por exemplo, há tempos atua nessas duas vertentes do mercado, contando com máquinas da Komatsu e de outras marcas. A mesma coisa acontece com a Sotreq, dealer da Caterpillar.
Mas, agora, a presença dos dealers vem se expandindo. O grupo Veneza, por exemplo, que distribui equipamentos de construção e agrícolas da John Deere, além de caminhões, ônibus e automóveis, deve lançar ainda neste ano um projeto de rental. De acordo com o diretor de operações Assis Tavares, o projeto tem foco no “aprofundamento de parcerias com locadoras que já são clientes, fortalecimento do mercado dos seminovos e consolidação da oferta de produtos e serviços”.
As iniciativas de rental priorizarão ações conjuntas com as locadoras, explica, em que a Veneza fornecerá máquinas suplementares. “Já há algum tempo recebíamos solicitações para participar de projetos desse gênero”, diz Tavares. “Na atual realidade de mercado, começam a tornar-se mais interessantes.”
Distribuidoras evitam disputar espaço com clientes da área de locação
Segundo ele, o rental fortalecerá a presença do grupo no mercado dos seminovos, para o qual os equipamentos serão redirecionados quando retornarem das locadoras. “Já comercializamos seminovos, mas tínhamos dificuldades para fortalecer o parque de equipamentos com o qual atuamos nesse mercado”, diz o diretor. “E esse mercado deve fortalecer-se, até porque os equipamentos tornam-se cada dia mais tecnológicos, com maior valor agregado. Portanto, alguns clientes podem ter dificuldade para adquirir equipamentos novos.”
O novo negócio, observa Tavares, reforça o posicionamento do grupo como ‘one stop shop’, passando a oferecer compra ou locação de equipamentos, peças e serviços. “É um projeto do grupo, não apenas do distribuidor de equipamentos”, acentua.
Já a Bauko, que disponibiliza equipamentos de construção da Komatsu, empilhadeiras da Toyota e soluções para asfalto da Bomag Marini, atua desde os anos 1990 simultaneamente com comercialização e locação. Segundo o diretor comercial Renato Duarte, a presença nesse segundo mercado serve, entre outras coisas, para fortalecer as marcas com os quais a empresa trabalha, garantindo sua presença em projetos nos quais talvez não estivessem apenas com a venda ou com a locação isoladamente.
Um exemplo disso, diz ele, foi a construção das usinas de Santo Antônio e Jirau, obras em que a empresa colocou máquinas tanto via venda como via locação, nesse caso essencialmente nos períodos de pico. “Esse modelo de negócios permite oferecer uma solução completa, com máquinas novas, peças, mão de obra e rental”, destaca Duarte. “O braço da locação também é interessante para empresas que têm mais dificuldades para tratar com diversos fornecedores, além de ajudar a inserir a marca em setores nos quais um locador sozinho talvez tivesse mais dificuldades.”
A Bauko garante que evita disputar espaço com clientes locadoras. “Já deixamos de participar de projetos nos quais vimos que poderíamos concorrer com elas”, conta o gerente comercial Carlos Forghieri, destacando que o rental responde por menos de 10% do faturamento da empresa.
Para o presidente da Escad, esses potenciais projetos de locação buscam resultados mais focados no produto, relegando a um plano secundário os que envolvam aspectos como oferta de mão de obra e gestão de frotas. “Apesar de haver revendedores atuando há mais tempo com locação, ainda não temos muitos parâmetros para avaliar como será essa nova concorrência”, pondera Daniel. “Se atuarem com os melhores parâmetros de rentabilidade, preços e custos, será ótimo.”
Saiba mais:
Apelmat: www.apelmat.org.br
Armac Locação: https://armac.com.br
Bauko: www.bauko.com.br
Escad Rental: https://escad.com.br
Locar: www.locar.com.br
Sobratema: www.sobratema.org.br
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