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Revista M&T - Ed.196 - Novembro 2015
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Mineração

Cultura da competitividade

Em época de desafios, as principais mineradoras brasileiras apostam em melhorias de processos e tecnologias avançadas para aumentar a produtividade de suas operações
Por Melina Fogaça

Assim como ocorre nas demais esferas produtivas da economia nacional, as palavras mais pronunciadas no segmento de mineração na atualidade são cautela, planejamento e, principalmente, criação de alternativas para superar o conturbado momento do país.

E não poderia mesmo ser diferente com o fim do ciclo das commodities. Dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) revelam uma queda significativa no valor da produção mineral brasileira. Em 2011, no ápice do avanço da produção, o montante chegava a 53 bilhões de dólares, já este ano a estimativa é de 38 bilhões de dólares, dois bilhões abaixo do registrado em 2014.

Isso sem falar no setor de agregados, como areia e brita, que atendem a demandas significativas da sociedade, especialmente na construção de casas e edifícios, mas também nas indústrias de saneamento, construção de rodovias e modais de transporte. E, com a projeção de retração da construção civil de 5,5%, os resultados do segmento de agregados serão igualmente afetados em 2015.

Evidentemente, os problemas no setor são preocupantes


Assim como ocorre nas demais esferas produtivas da economia nacional, as palavras mais pronunciadas no segmento de mineração na atualidade são cautela, planejamento e, principalmente, criação de alternativas para superar o conturbado momento do país.

E não poderia mesmo ser diferente com o fim do ciclo das commodities. Dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) revelam uma queda significativa no valor da produção mineral brasileira. Em 2011, no ápice do avanço da produção, o montante chegava a 53 bilhões de dólares, já este ano a estimativa é de 38 bilhões de dólares, dois bilhões abaixo do registrado em 2014.

Isso sem falar no setor de agregados, como areia e brita, que atendem a demandas significativas da sociedade, especialmente na construção de casas e edifícios, mas também nas indústrias de saneamento, construção de rodovias e modais de transporte. E, com a projeção de retração da construção civil de 5,5%, os resultados do segmento de agregados serão igualmente afetados em 2015.

Evidentemente, os problemas no setor são preocupantes para o país, um importante player global de commodities minerais e que tem nessa atividade um dos pilares de sua sustentação econômica. De acordo com o Ibram, nos últimos dez anos o setor de minérios e concentrados foi responsável pela agregação de 232 bilhões de dólares ao conjunto das reservas cambiais brasileiras.

Os investimentos no setor mineral também são significativos, inclusive atraindo os maiores aportes privados realizados no país. De acordo com a mais recente apuração realizada pelo instituto, os investimentos no período de 2014 a 2018 serão de 53,6 bilhões de dólares, com os estados de Minas Gerais e Pará concentrando os maiores percentuais, com 41,8% e 21,93%, respectivamente. A previsão contempla o período de cinco anos e, frente ao cenário atual, parece bastante promissora.

DIFERENCIAL

Ou seja, é preciso superar o momento de instabilidade do mercado e queda no preço das commodities para chegar com força a um cenário mais positivo. Para tanto, o enfoque das mineradoras deixou de ser o mero aumento da capacidade extrativa para concentrar-se em ganhos globais de produtividade, aliados à redução de custos operacionais.

Segundo Galvão Maia, diretor comercial da Astec do Brasil, o foco atual das empresas de mineração realmente é tornar os ativos mais rentáveis. “Daqui pra frente, acredito que haverá um trabalho forte das mineradoras não tanto em aumentar a produção, mas em produzir mais com menos custos”, comenta o executivo. “E isso irá provocar uma demanda por equipamentos mais eficientes.”

O diretor-presidente do Ibram, José Fernando Coura, corrobora que a busca pela inovação deve tornar-se “uma das principais alternativas para uma retomada mais forte das atividades de extração mineral no país”. Compartilhando da mesma opinião, o presidente e CEO da Vale, Murilo Ferreira, enfatiza que as empresas precisam investir em automação e tecnologia, pois sem esse investimento a competição futura com outras potências na exploração minerária, como a China e a Austrália, tende a ser bem complicada. “É necessário criar uma cultura de competitividade no país”, vaticina o executivo. “Entre 2005 a 2011, o comércio exterior cresceu 7% e, agora, ficará abaixo dos 2%, ou seja, tem menos gente querendo comprar, tornando a disputa muito mais acirrada. Por isso, as empresas precisam abrir os olhos em relação à tecnologia, como um diferencial categórico.”

Como se vê, o desafio em relação ao desenvolvimento da competitividade brasileira torna-se cada vez maior. E alguns dados ilustram isso. Segundo o ranking anual de competitividade do Fórum Econômico Mundial, o país perdeu 18 posições desde o ano passado, caindo para a 75ª colocação. De acordo como o Relatório Global de Competitividade, divulgado em setembro, fatores políticos relacionados à corrupção e a própria situação macroeconômica contribuíram para o resultado desabonador.

Na atual posição, o Brasil aparece com a menor competitividade entre os Brics, o outrora festejado grupo de países emergentes formado ainda por China (28ª posição no ranking), Rússia (45ª), África do Sul (49ª) e Índia (55ª).

Para Ferreira, enquanto o Brasil segue discutindo à exaustão o novo marco regulatório da mineração, que já se arrasta por anos, os principais competidores do país, como China e Austrália, realizam reestruturações. “Após o colapso dos preços das commodities, esses países fizeram mecanismos de ajustes, enquanto nós ainda estamos um plano atrás, achando que tudo vai ser resolvido com o aumento de alíquotas”, dispara. “É preciso entender que trabalhamos em um universo de competição, que exige maior agilidade em diversas áreas, como em licenciamentos ambientais, por exemplo.”

INOVAÇÃO

Para tornar-se mais competitiva, a Vale, por exemplo, aposta suas fichas no maior projeto de mineração no mundo para a produção de minério de ferro, o S11D, localizado na Serra Sul de Carajás, no Pará. O projeto contará com automação completa, com a expectativa de uma produção anual da ordem de 90 milhões de toneladas do mineral. A nova mina está programada para iniciar suas operações no segundo semestre de 2016.

Segundo o executivo da empresa, o Projeto Ferro Carajás apresenta uma inovação tecnológica importante, pois substitui o método de lavra convencional pelo sistema Truckless, que – como diz o nome – consiste na lavra do minério sem o uso de caminhões fora de estrada, que são substituídos por correias transportadoras em um trecho de 9 km acima da floresta. “Desse modo, os veículos são substituídos por equipamentos e máquinas modulares, visando ao ganho de produtividade”, diz Ferreira.

Já a Samarco também vem investindo em ganhos de produtividade, dando destaque especial à sustentabilidade. De acordo com o Relatório Anual de Sustentabilidade da empresa, em 2014 a mineradora investiu 120 milhões de reais em programas e projetos ambientais, incluindo 31,5 milhões de reais em investimentos na 4ª planta de pelotização (P4P), localizada em Germano (MG).

Aliás, segundo Ricardo Vescovi, diretor-presidente da Samarco, o projeto P4P “contribuiu para o aumento da capacidade de produção da empresa, assim como para o desenvolvimento econômico e social das regiões próximas às operações da mineradora”. Após a inauguração do projeto, em 2014, a empresa de fato aumentou o volume de produção em 37%, obtendo 30,5 milhões de toneladas por ano. “Apesar do cenário adverso no país, a empresa está trabalhando com sua capacidade máxima e segue crescendo”, pontua André Fahel, engenheiro especializado da Samarco, acrescentando que – entre 2011 e 2014 – o percentual de contratações de trabalhadores locais no projeto foi de 55%, em um total de 17.633 profissionais mobilizados.

CUSTOS

Outra mineradora que aumentou a produtividade a partir de melhorias nas praticas de extração foi a canadense Jaguar Mining, que opera no Brasil por meio de três empresas: a Mineração Serras do Oeste (MSOL), a Mineração Turmalina (MTL) e a MCT Mineração.

Segundo informações do Ibram, a empresa registrou no terceiro trimestre deste ano um aumento de 12,8% na produção de ouro, obtendo 25.235 onças (cada onça equivale a 28,3 g) do metal nobre na mina Turmalina e no complexo Caeté, ambos em Minas Gerais, ante 22.374 no mesmo período de 2014. Do total de ouro produzido no trimestre, a mina Turmalina respondeu por 13.994 onças, uma alta de 23% em relação ao mesmo período do ano passado, quando a mineradora produziu 11.336 onças. A mineradora possui ainda a mina de ouro Paciência, também em Minas Gerais, o projeto Gurupi, no Maranhão, e o projeto greenfield Pedra Branca, no Ceará. “Continuamos a progredir na reestruturação da companhia, melhorando o teor e focando em uma produção mais lucrativa com melhorias nas praticas de mineração e comerciais”, diz George Bee, presidente e CEO da Jaguar. “Esperamos que o aperfeiçoamento operacional nos leve a reduções contínuas no custo de produção por onça.”

A redução de custos contribuiu significativamente para o resultado da empresa em Minas Gerais. Para produzir 25.235 onças no terceiro trimestre, a mineradora processou 223 mil toneladas de minério, com teor médio de 3,9 gramas por tonelada e recuperação de 90%. No terceiro trimestre, a empresa realizou trabalhos de exploração e pesquisa e campanhas de sondagem em uma área de 9.094 metros nas duas minas, contra 6.239 metros no terceiro trimestre de 2014.

Novo código segue gerando polêmicas

Um dos impasses que travam a produção do setor minerário brasileiro diz respeito ao Novo Código de Mineração, que visa a atualizar o marco regulatório vigente desde 1967 e ainda não foi finalizado. Na versão mais recente do relatório da Comissão Especial que trata do assunto, elaborada em setembro, foram incluídos mais dois artigos, o 119 e o 136, que vêm gerando conflitos entre os grupos divergentes.

Segundo o deputado Leonardo Quintão, responsável pelo texto, o artigo 119 causou polêmica entre os ambientalistas, pois determina que toda ação com potencial de criar impedimentos à atividade de mineração dependerá de prévia aceitação da Agência Nacional de Mineração, a ser criada pelo novo código e que funcionará como agência reguladora do setor.  Segundo ele, os críticos avaliam que o dispositivo abre brechas para bloquear políticas de proteção das comunidades afetadas pelas atividades, impedindo seu desenvolvimento em casos que entrem em conflito com os interesses das mineradoras. “Já o artigo 136 causa polêmica por permitir que as atividades de mineração se desenvolvam em unidades de conservação, bastando que o Ibama conceda o licenciamento ambiental do empreendimento”, comenta Quintão.

Para Olavo Machado Junior, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), é imprescindível agilizar os processos que envolvam causas ambientais, pois a morosidade neste quesito obsta o desenvolvimento do setor. “Devido à burocracia, tudo é muito lento e o resultado é que muitas licenças estão paradas”, critica. “O empresário quer empreender, mas não pode devido a esses impasses. É preciso agilizar a causa ambiental, sem prejudicar o meio ambiente nem o setor.”

Samarco recebe certificação em gestão de ativos

A Samarco tornou-se a primeira mineradora do Brasil a implantar e certificar seu sistema de gestão de ativos físicos. O reconhecimento foi obtido após auditoria realizada pela empresa Assetsman, que tem como base a norma internacional BSI PAS-55: 2008, que define os requisitos mínimos para uma gestão de ativos otimizada. “Gerenciamos continuamente os ativos físicos a fim de garantir um equilíbrio entre custo, risco e desempenho”, explica Sergio Mileipe, gerente de manutenção da Samarco. “O resultado é obtido por meio da coordenação entre os processos de aquisição, projeto, operação, manutenção, reforma e descarte, que buscam compreender o efeito de suas ações ao longo do ciclo de vida dos ativos.”

 

 

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