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Revista M&T - Ed.187 - Fevereiro 2015
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Plataformas

Ciclo ou saturação?

Especialistas comentam os possíveis motivos para a freada abrupta do segmento, traçando perspectivas para o mercado brasileiro nos próximos anos

Após um período de sólido avanço – que colocou o país como um dos principais hot spots internacionais para estes equipamentos –, é a primeira vez que o setor de plataformas de trabalho aéreo (PTA) não cresce no Brasil. Até pelo contrário. Em 2014, foram comercializadas 5.950 máquinas, contra 7.900 do ano anterior (queda de quase 25%, de acordo com o Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos). Como sempre, todas importadas.

Antes disso, o mercado vinha crescendo a taxas altas, de 30% em média. Isso se mantinha pelo menos desde 2006, quando as plataformas começaram a popularizar-se no mercado brasileiro. Tal histórico recente fez com que a freada abrupta do setor se tornasse ainda mais alarmante do que em outros nichos, apesar de muitas áreas da indústria terem apresentado desempenho aquém do esperado em 2014. Esta reportagem de M&T elenca alguns argumentos para ajudar a entender o que travou o crescimento do setor, projetando as expectativas dos players para os próximos anos.

ANO ATÍPICO


Após um período de sólido avanço – que colocou o país como um dos principais hot spots internacionais para estes equipamentos –, é a primeira vez que o setor de plataformas de trabalho aéreo (PTA) não cresce no Brasil. Até pelo contrário. Em 2014, foram comercializadas 5.950 máquinas, contra 7.900 do ano anterior (queda de quase 25%, de acordo com o Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos). Como sempre, todas importadas.

Antes disso, o mercado vinha crescendo a taxas altas, de 30% em média. Isso se mantinha pelo menos desde 2006, quando as plataformas começaram a popularizar-se no mercado brasileiro. Tal histórico recente fez com que a freada abrupta do setor se tornasse ainda mais alarmante do que em outros nichos, apesar de muitas áreas da indústria terem apresentado desempenho aquém do esperado em 2014. Esta reportagem de M&T elenca alguns argumentos para ajudar a entender o que travou o crescimento do setor, projetando as expectativas dos players para os próximos anos.

ANO ATÍPICO

De saída, não há motivos para desespero. De fato, segundo Paulo Esteves, diretor da Solaris, “olhando para o futuro, não há qualquer preocupação com o potencial desse negócio”. Isso porque, segundo o executivo, 2014 realmente foi um ano atípico para o setor, sendo que a retração no volume de vendas se deu – ao menos em parte – pela realização da Copa do Mundo e as Eleições, dois eventos que imobilizaram o setor produtivo. No caso das Eleições, houve o acréscimo de uma considerável incerteza política, que represou investimentos programados. “Depois, surgiram as denúncias de corrupção na Petrobras, empresa que lidera boa parte dos investimentos”, diz Esteves. “E ainda houve os projetos da Vale – outra âncora do mercado – que foram paralisados.”

Adicionalmente, a situação econômica também estagnou outros setores importantes para a demanda de plataformas aéreas, constituídos por shopping centers, galpões logísticos e prédios comerciais. Segundo Esteves, só na parte de shoppings, vários novos empreendimentos foram adiados, devido ao não cumprimento da taxa de ocupação prevista em outras obras recém-inauguradas. “Juntando isso ao aumento da taxa de câmbio (lembrando que todas as plataformas comercializadas no Brasil são importadas), fica fácil enxergar que o cenário econômico realmente não foi bom”, avalia.

Mas, na visão de Esteves, o fator que talvez tenha pesado mais foi o receio com a possibilidade de mudança na taxa de importação pelo ex-tarifário, em 2013. Isso acabou não ocorrendo, mas muitos fabricantes – alarmados com o possível aumento – teriam importado mais máquinas do que o necessário, inflando artificialmente os números daquele ano e, inversamente, aliviando um pouco o tétrico cenário vivido em 2014.

No lado do consumidor, leiam-se locadores de equipamentos, que são responsáveis por mais de 90% desse mercado, também houve um aumento representativo de competitividade, com o surgimento de empresas menores para atendimentos regionais.

Acontece que essas empresas trabalham com taxas de lucro distintas, o que também lhes permite operar com preços diferenciados de locação. Isso, na avaliação de Esteves, mexeu profundamente no mercado, reduzindo os valores da locação em aproximadamente 15%. “Hoje, esses valores não suportam uma operação saudável. Sabemos que o mercado irá se acomodar, mas enquanto isso não acontece, haverá um excesso pontual de máquinas”, afirma. “Ou seja, em 2012 e 2013 houve mais compras do que era necessário, sendo que parte desse parque ficou para ser usada em 2014, o que também explica o menor volume de vendas de máquinas novas.”

O executivo acredita que o mercado se apresentará mais estável em 2015, com um volume de importação muito semelhante ao de 2014, recuperando-se na sequência. “Para os próximos anos, a tendência é de crescimento, mesmo porque temos um mercado inteiro para desenvolver no Brasil, o que só reforça as projeções positivas para as empresas bem profissionalizadas nesse negócio”, diz Esteves.

ESTRATÉGIAS

Na Mills Rental, outro player com forte atuação no setor, também é válida a avaliação de que o cenário econômico não foi favorável, assim como a interferência da Copa do Mundo e das Eleições nos negócios.

Para driblar momentos pouco favoráveis como agora, a empresa aposta na diversificação de nichos, uma estratégia (apelidada de “spot”) que inclui o avanço em contratos de locação mais curtos. “São contratos com menos de 28 dias, algo que demanda uma estrutura de atendimento bem pulverizada como a nossa, com mais de 30 filiais”, diz Gabriel Esteves, diretor da empresa. Segundo ele, atualmente o modelo já representa mais de 15% dos negócios.

Manter uma variedade de opções na frota é outra estratégia importante na operação da Mills Rental, o que permite à empresa atender a diferentes tipos de locações com custo operacional mais adequado. “Avaliamos que, nos últimos dois anos, o mercado continua a demandar os mesmos tipos de equipamentos, com uma procura mais pontual por booms (plataformas com grande alcance horizontal e vertical) e mais frequente para tesouras”, diz Gabriel Esteves. “E, para 2015, temos uma estratégia de pulverização maior, ampliando a nossa presença nacional e eventualmente mudando um pouco o range.”

Questionada sobre o desempenho do setor de locação de plataformas aéreas, a empresa – que é controlada pelo Grupo Mills Estruturas e Serviços de Engenharia e tem capital aberto na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) – não se pronunciou, justificando via assessoria de imprensa que “adota as melhores práticas de Governança Corporativa e, por isso, não comenta o desempenho de suas ações na Bolsa de Valores”.

FABRICANTES

Gerente de vendas da Genie (marca de plataformas do grupo Terex), Luis Nunes pondera que em todo o mundo é comum que esse mercado sofra flutuações, com longos períodos de crescimento e outros mais breves de estagnação. “Globalmente, esse segmento cresce por cinco ou seis anos, até inflar, entrando em um período de adequação, como o que vivemos aqui em 2014”, diz ele. “Mas esse ciclo também ocorre nos EUA, com a diferença de que aqui temos uma frota de 30 mil equipamentos em operação, enquanto lá são quase 800 mil.”

Segundo ele, o resultado negativo não está ligado somente à antecipação de compras por conta da possiblidade de mudança no imposto de importação, pois isso é algo que pode ocorrer todos os anos. “No entanto, a tendência da alta no dólar pode ter influenciado, apesar de que não houve, ao menos por parte da Genie, qualquer antecipação de compra”, atesta.

Assim como a Genie, a JLG também não antecipou compras em 2013. Como ressalta Márcio Cardoso, vice-presidente de vendas e aftermarket da empresa para a América do Sul, o resultado financeiro da empresa para o ano fiscal (que foi de setembro de 2012 ao mesmo mês de 2013) foi superior ao do período anterior. “Todavia, o volume de vendas foi 15% menor”, revela. “Ou seja, conseguimos ter crescimento do lucro líquido porque melhoramos as nossas operações, com efetividade de importação, ajustes financeiros para controlar custos e outras ações, mas não porque o mercado cresceu”.

Como os demais, o executivo acredita que o mercado em 2015 será semelhante ao do ano passado. A avaliação tem por base a constatação de que, no caso da Genie, a principal demanda por plataformas aéreas advém do setor de infraestrutura, cujos prognósticos não são animadores. “Em média, as plataformas entram nas grandes obras depois de sete meses do seu início e, pelo o que temos acompanhado, os governos (tanto federal como estaduais) começariam a trabalhar nos grandes investimentos no início de 2015”, interpõe. “Ou seja, sabemos que até o fechamento do nosso ano fiscal, em setembro, nada de relevante acontecerá para aumentar a demanda.”

AVALANCHE

Como contraponto crítico é possível especular que – como sugeriu Esteves, da Solaris – as expectativas talvez tenham sido exageradas frente ao empuxo obtido nos últimos anos. Tanto que, na avaliação de Marcelo Bracco – que até dezembro de 2014 ocupou a direção geral da Haulotte e agora tem o mesmo cargo na Socage (leia Box na pág. 46) –, o ano de 2013 é que foi realmente atípico, com mais de 2 mil máquinas acima do obtido em 2014. “Naquele ano, surgiram muitos locadores, enquanto os que já existiam compraram muitas máquinas e os fabricantes importaram mais... Enfim, ouve uma avalanche de plataformas que acabou excedendo o volume necessário para o mercado em 2014”, diz ele. “Mas não é uma saturação definitiva e avaliamos que até 2016 a demanda por novas máquinas volte a crescer.”

Socage aposta em plataformas sobre caminhão

Novo diretor da Socage, o executivo Marcelo Bracco tem o desafio de desenvolver no país um novo conceito de plataformas aéreas: montadas sobre caminhão. Segundo ele, trata-se de um equipamento promissor, mais versátil para acesso em centros urbanos. “Boa parte da demanda por plataformas é para trabalhos curtos, o que exige deslocamento rápido, algo que as plataformas sobre caminhão podem fazer autonomamente, diferentemente das plataformas tradicionais, que precisam ser transportadas por outros caminhões”, diz ele. “Por isso, acreditamos que há um espaço para esse tipo de demanda, que não substitui as tradicionais, mas as complementa.”

 

 

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