A adoção de forma conjunta de práticas ambientais, sociais e governança dentro das empresas ganhou força nos últimos anos, embora o conceito exista há mais de uma década sob a sigla ESG, que vinculou a rentabilidade dos negócios com a sustentabilidade empresarial.
Com isso, estabeleceu-se uma nova forma de se avaliar o desempenho corporativo das empresas. Inicialmente, foram os agentes do mercado (leiam-se investidores e financiadores) os primeiros a exigir a prática. Hoje, o espectro de quem observa – e cobra – a adoção do conceito nas organizações é bem maior, e já envolve clientes e consumidores. Na área da construção, a inserção da agenda ESG também é vista como indispensável.
E não poderia ser diferente, pois o setor é um dos maiores consumidores de recursos naturais dentre todas as atividades produtivas e engloba um contingente expressivo de colabo
A adoção de forma conjunta de práticas ambientais, sociais e governança dentro das empresas ganhou força nos últimos anos, embora o conceito exista há mais de uma década sob a sigla ESG, que vinculou a rentabilidade dos negócios com a sustentabilidade empresarial.
Com isso, estabeleceu-se uma nova forma de se avaliar o desempenho corporativo das empresas. Inicialmente, foram os agentes do mercado (leiam-se investidores e financiadores) os primeiros a exigir a prática. Hoje, o espectro de quem observa – e cobra – a adoção do conceito nas organizações é bem maior, e já envolve clientes e consumidores. Na área da construção, a inserção da agenda ESG também é vista como indispensável.
E não poderia ser diferente, pois o setor é um dos maiores consumidores de recursos naturais dentre todas as atividades produtivas e engloba um contingente expressivo de colaboradores de estratos sociais mais vulneráveis, sem falar que a governança se tornou um ponto crítico para a reputação das empresas no segmento.
Segundo Ana Claudia Gomes, presidente da Comissão de Responsabilidade Social da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), cabe às entidades atuar “para inspirar as empresas a adotar práticas inovadoras e diferenciadas” relacionadas ao ESG.
Ana Claudia Gomes, do CBIC: alinhamento de conceitos
As empresas maiores, ela ressalta, estão mais avançadas na implantação do conceito, mas as médias e pequenas, que representam 90% da indústria da construção civil, precisam de auxílio no desenvolvimento da prática.
“Acima de tudo, queremos mostrar a pequenos e médios empresários que já existem iniciativas previstas na agenda ESG cuja evolução eles precisam tangibilizar, evidenciar, medir e acompanhar”, afirma. “Esse é o nosso grande desafio daqui para a frente. Alinhar os conceitos e entendimento com os empresários do setor sobre o que trata essa agenda e sua importância para os negócios.”
Para ela, é preciso deixar claro que o ESG prepara a organização para o futuro: “Esse é o tipo de empresa que o consumidor espera e o tipo de indústria que a sociedade tanto quer”, sublinha.
MINDSET
A expectativa da CBIC é que, à medida que as pautas sociais e ambientais avancem, a agenda comece a ter um papel mais relevante na contabilidade das construtoras, fazendo com que enxerguem valores importantes na adoção das práticas.
“O que a CBIC quer é inspirar a empresa a refletir sobre o processo produtivo e a qualidade do produto que entrega, como vai ser consumido, o valor que agrega ao consumidor, à sociedade, ao meio ambiente, acionistas, fornecedores etc.”, ressalta Ana Claudia Gomes. “É uma mudança na maneira de pensar do empreendedor, de pensar o próprio negócio.”
Registre-se que as empresas tradicionais do setor da construção, principalmente, já desenvolviam práticas hoje reunidas sob a sigla ESG. A OEC, por exemplo, havia adotado em 2009 – quando ainda se chamava Odebrecht – o Programa Acreditar, focado na capacitação de mão de obra, que acabou sendo difundido por vários canteiros da construtora. Segundo a empresa, o projeto capacitou mais de 95 mil pessoas.
Posteriormente, a construtora apostou em outras iniciativas alinhadas ao conceito ESG, como uma campanha de diversidade e inclusão instituída no ano passado que, entre outras metas, visa colocar 30% de mulheres em cargos de liderança e 20% no quadro total da empresa (hoje, são 11%) até o fim de 2024. Além disso, nos processos seletivos de emprego a área de pessoal da construtora tem orientação de chamar, no mínimo, 50% de mulheres na fase de entrevistas.
De acordo com Ludmila Lavigne, diretora do departamento de Pessoas, Planejamento e Organização da OEC, o objetivo desse trabalho é trazer luz a uma questão cada vez mais presente na sociedade. “A proposta é conscientizar as pessoas de que fazemos parte de um mundo em constante evolução e que avançar na diversidade e inclusão não é mais uma questão de escolha”, aponta.
Ludmila Lavigne, da OEC: ESG não é mais uma questão de escolha
“Faz parte da agenda empresarial e traz resultados tangíveis e intangíveis, na medida em que promove a diversidade de pensamentos e aumenta a qualidade das decisões, além de garantir um ambiente de boa convivência e respeito, garantindo os direitos humanos e, em última análise, contribuindo para o crescimento da empresa.”
FERRAMENTAS
A OEC também vem adotando ferramentas para entender, quantificar e gerenciar as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) em suas operações. As ações nesse campo têm obtido bons resultados no reúso de efluentes e no reaproveitamento e reciclagem de resíduos sólidos, por exemplo. Dados da empresa apontam redução de 44% das emissões ligadas à destinação final de rejeitos em aterros ou estações de tratamentos de efluentes produzidos pela construtora.
A empresa realiza ainda inventário de suas fontes emissoras de GEE em todos os projetos há mais de uma década. De acordo com Cauê Borges Maia, responsável pela área, “há metas em todas as obras para que possamos melhorar nossos índices e reduzir ainda mais as emissões”.
Na parte de governança, a OEC possui um programa de integridade baseado em padrões e práticas reconhecidos internacionalmente. Foi instituído na companhia o Comitê de Estratégia, Pessoas e ESG, que produz relatórios frequentes sobre essas áreas.
Para a construtora, o setor de construção pesada merece uma atenção especial quando se fala de ações ESG. Por sua natureza intrínseca, as atividades do segmento normalmente geram impactos ao meio ambiente e às comunidades do entorno dos projetos. “Além disso, as obras ocorrem por meio de contratos com o poder público, aumentando ainda mais o interesse da população e a necessidade de transparência”, comenta.
Outra empresa de construção tradicional que tem se alinhado às práticas de ESG é a Camargo Corrêa Infra. Em 2017, a companhia estabeleceu pilares de transparência, excelência e inovação, dentro de conceitos de integridade, governança e responsabilidade socioambiental.
Novas exigências levam empresas a modificar seus estatutos para contemplar as pautas ESG
A construtora crê que a adoção do conceito reduz riscos nos projetos de engenharia, no cronograma de obras e nos custos decorrentes, mitigando impactos e gerando economia. Em um projeto recente de construção de uma linha de transmissão com 740 km de extensão, duas subestações com 500 kV cada e a mobilização de 4 mil colaboradores, entre Minas Gerais e São Paulo, a Camargo Corrêa Infra fez uso de rigorosos padrões de gestão ambiental.
Além de diminuir o consumo de água, de energia e de produção de resíduos, a construtora obteve redução de 60% da supressão vegetal prevista para a implantação do empreendimento, ação reconhecida pelos órgãos ambientais.
Na prática, a medida melhorou a interação com as comunidades do entorno do projeto, minimizando interferências sociais. A companhia afirma que, antes de iniciar qualquer obra, realiza um diagnóstico social e ambiental do local, dentro do plano de atuar sob a premissa de desenvolvimento sustentável, um dos pilares centrais do ESG.
BOLSA
Buscando atender à expectativa cada vez maior do mercado no que se refere à sustentabilidade empresarial, a Bolsa de Valores do Brasil (B3) mantém um conjunto de índices que englobam as questões relacionadas ao ESG.
O objetivo é fazer com que as empresas façam a aderência ao conceito. As construtoras listadas na B3 costumam agregar essas práticas como forma de ganhar reputação e credibilidade no mercado – e, claro, interesse dos investidores por suas ações. As atividades realizadas são, inclusive, apresentadas regularmente por algumas dessas empresas em seus balanços.
Listada no Novo Mercado, o mais alto nível de governança corporativa da B3, a Construtora Tenda é um exemplo, tendo estabelecido seu ponto de partida no tema ESG no último trimestre de 2020. O conceito é agrupado em três pilares: inclusão social, respeito ao cliente e ao colaborador e compromisso com a ética e a governança.
Tenda é uma das construtoras que já criaram políticas internas voltadas ao tema
Com foco em habitação popular, a empresa afirma que praticamente todos os colaboradores envolvidos na construção de seus empreendimentos são empregados diretamente pela companhia, o que favorece a implementação da abordagem industrial à construção, diferencial competitivo da empresa – e que dá pontos dentro das práticas ESG por trazer maior segurança e controle de riscos às obras. A empresa também mantém um Comitê de Ética coordenado por seu diretor-presidente.
Já a construtora e incorporadora Eztec, que tem foco em empreendimentos residenciais de médio e alto padrão, divulgou no final de abril seu primeiro relatório operacional de ESG. Na ocasião, a empresa acabara de aprovar em assembleia algumas adequações de seu estatuto, buscando justamente contemplar as novas exigências de governança corporativa do Novo Mercado da B3. A companhia já havia instalado em fevereiro o seu Comitê de Environmental, Social and Governance.
Nesse relatório de ESG, destacam-se alguns aspectos práticos adotados pela empresa. No campo da ética, a política anticorrupção estabelece regras para prevenir, detectar e mitigar atos de corrupção e outras condutas em desacordo com os princípios e valores da companhia, prevendo a inserção de cláusula anticorrupção nos contratos.
Os princípios da construção sustentável da companhia, item mais disseminado no setor atualmente, se baseiam no uso de materiais renováveis e recicláveis. A gestão de materiais e resíduos é tema central para a companhia, já que representa um dos principais impactos ambientais da construção civil.
PERPETUIDADE
De acordo com o relatório de ESG, a Eztec faz o completo gerenciamento de materiais e resíduos, compreendendo as etapas de geração, segregação, acondicionamento, identificação, coleta, transporte, armazenamento, tratamento e destinação final, priorizando a reciclagem.
ESG reduz riscos nos projetos de engenharia, no cronograma de obras e nos custos decorrentes
Em 2021, a construtora gerou 21.988 toneladas de resíduos. Os maiores volumes foram de entulho (16.701 toneladas), madeira (1.732 toneladas) e gesso (1.438 toneladas). Esses e os demais resíduos foram destinados para recicladoras ou áreas de triagem e transbordo, para o devido beneficiamento, segundo relato da companhia.
Em 2021, 97% dos resíduos dos canteiros de obras passíveis de beneficiamento (que somam mais de 40.000 m³) tiveram tratamento para novo destino de consumo.
Na apresentação dos resultados da companhia no primeiro trimestre deste ano, o presidente do conselho da Eztec, Flávio Ernesto Zarzur, comentou o passo importante dado pela companhia no que tange às práticas ESG. De certa forma, resume o que se passa na indústria da construção, o qual o conceito definitivamente já começou a ser assimilado.
Zarzur, da Eztec: assimilação de nova cultura
“Estamos criando um pouco mais, passando a cultura da Eztec para todos os nossos colaboradores. Não é que nós estamos passando, estamos entendendo, marcando essa cultura”, disse ele. “O fundamental do que estamos fazendo agora é a perpetuidade da empresa.”
Saiba mais:
CBIC: https://cbic.org.br
Camargo Corrêa Infra: https://camargocorreainfra.com
Eztec: www.eztec.com.br
OEC: www.oec-eng.com
Tenda: www.tenda.co
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