Revista M&T - Ed.247 - Setembro 2020
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Rental

À espera de um novo boom

Menos impactado pela pandemia, setor de locação vê perspectivas razoáveis de avanço nos próximos anos, com a consolidação do compartilhamento e remodelagem do mercado
Por Antonio Santomauro

Apesar das incertezas, as perspectivas para o mercado brasileiro de locação de máquinas e equipamentos são razoavelmente otimistas. Como não poderia deixar de ocorrer, o setor de rental também foi prejudicado pela pandemia. Contudo, se cotejados com o cenário imaginado no início da crise sanitária, seus prejuízos parecem menos profundos, havendo até quem relate expansão dos negócios na primeira metade deste ano, na comparação com o mesmo período de 2019.

Por outro lado, a maioria dos locadores concorda que a acentuada valorização do dólar, cuja cotação até meados de agosto elevou-se em cerca de 35%, dificultará novos investimentos em equipamentos, em boa parte importados ou com preços atrelados à moeda norte-americana. No balanço, de maneira quase unânime os locadores vislumbram um cenário de recuperação de seus respectivos negócios, como mostra a


Apesar das incertezas, as perspectivas para o mercado brasileiro de locação de máquinas e equipamentos são razoavelmente otimistas. Como não poderia deixar de ocorrer, o setor de rental também foi prejudicado pela pandemia. Contudo, se cotejados com o cenário imaginado no início da crise sanitária, seus prejuízos parecem menos profundos, havendo até quem relate expansão dos negócios na primeira metade deste ano, na comparação com o mesmo período de 2019.

Por outro lado, a maioria dos locadores concorda que a acentuada valorização do dólar, cuja cotação até meados de agosto elevou-se em cerca de 35%, dificultará novos investimentos em equipamentos, em boa parte importados ou com preços atrelados à moeda norte-americana. No balanço, de maneira quase unânime os locadores vislumbram um cenário de recuperação de seus respectivos negócios, como mostra a presente reportagem, que aborda especialmente os segmentos de locação de equipamentos pesados, leves e de elevação.

PESADOS

Começando pelos pesados, a pandemia não impediu o mercado de rental focado na Linha Amarela de obter, na primeira metade do ano, um desempenho superior ao do mesmo período de 2019, como ressalta Eurimilson João Daniel, vice-presidente da Sobratema e secretário da Analoc (Associação Brasileira dos Sindicatos e Associações Representantes dos Locadores de Máquinas, Equipamentos e Ferramentas). “Nesse período, houve um crescimento de 20%”, relata o especialista, que também é diretor da Escad Rental.

Crescimento em meio à pandemia renova as expectativas do rental no Brasil

A construção civil, lembra Daniel, não foi incluída entre as atividades paralisadas durante a pandemia. Mesmo que em ritmo mais lento, as obras de infraestrutura e de manutenção urbana prosseguiram, como ocorreu nos segmentos de rodovias, ferrovias e saneamento, por exemplo.
Outros fatores também contribuíram para esse cenário de maior resiliência. Para Daniel, é o caso da redução da Selic, em seu nível histórico mais baixo (2% a.a), o que estimula o consumo, assim como a previsão de novas concessões e a aprovação da nova lei do saneamento, entre outros, que devem impulsionar a demanda por máquinas da Linha Amarela. “Esperamos o boom desse mercado para 2021 e 2022”, ele projeta.

Na Ouro Verde – cuja frota locada atual soma cerca de 8 mil equipamentos, entre máquinas pesadas e agrícolas, caminhões e implementos, além de 16 mil automóveis destinados ao mercado corporativo –, o atribulado ano pode terminar até com algum crescimento, comparativamente a 2019, como projeta Marluz Cariani, head comercial da empresa. “No primeiro semestre, até batemos nossa meta”, comenta o executivo. “Agora, mesmo com o cenário mais incerto, não projetamos queda de negócios no ano e aposto até mesmo em um crescimento de cerca de 5%.”

Inicialmente, observa Cariani, a meta para o ano era de um crescimento mais expressivo, de ao menos 20% (comparativamente a 2019). E, no primeiro trimestre, os indicativos mostravam que essa meta era bem factível. Com a chegada do coronavírus, o cenário mudou, mas os efeitos no setor mostraram-se menos catastróficos do que a princípio se imaginou. “Houve uma parada em projetos ligados ao governo e em obras industriais”, ele relata. “Mas o transporte de carga, o setor agro e serviços como saneamento, eletricidade e telecom não reduziram sua demanda. Pelo contrário, até cresceram.”

Setor florestal está entre as atividades que vêm ajudando a manter o ritmo nas locações

Tanto que, em junho, a Ouro Verde investiu significativos R$ 100 milhões na compra de novos equipamentos. “Fizemos um contrato de 470 equipamentos – como guinchos e caminhões-pipa – para manutenção e gestão de estradas”, descreve Cariani. “Também assinamos contrato com uma empresa da região Norte, para o fornecimento de escavadeiras, motoniveladoras, rolos compactadores e outros equipamentos destinados à manutenção de estradas de terra.”

Ao menos em tese, investimentos como esse estão mais difíceis de ocorrer atualmente, principalmente pelo elevado valor atingido pelo dólar. Nesse ponto, Daniel, da Sobratema, reconhece a dificuldade anteposta, mas acredita que não durará muito tempo. “Talvez nos próximos meses seja mais difícil investir, mas também é preciso considerar que os financiamentos da indústria estão se tornando mais atrativos”, ele pondera. “Com o aquecimento previsto para o próximo ano, será necessário investir em novas máquinas.”

De acordo com Daniel, a maioria das construtoras já vê na locação uma modalidade de aquisição de equipamentos mais vantajosa que a compra, pois propicia, entre outros benefícios, a redução de riscos e a eliminação da necessidade de uma equipe própria de manutenção, bem como de um local para armazenar as máquinas. “Atualmente, a compra acontece somente em caso de máquinas muito específicas, que não estão disponíveis em locadoras”, diz ele.

Apesar disso, ainda está difícil estabelecer prazos de locação mais longos com as construtoras, como ressalta Cariani, da Ouro Verde. “Mas em vários setores a cultura do compartilhamento vem estimulando a locação”, observa. “E com a pandemia, muitas empresas estão repensando seus modelos de negócios, o que favorecerá a locação.”

ELEVAÇÃO

Principal usuária de equipamentos para elevação de pessoas e cargas – que emprega especialmente na manutenção de instalações e operacionalização de linhas de produção –, a indústria refreou de forma significativa sua demanda por plataformas aéreas após a chegada da covid-19.

Aos poucos, o uso tem sido retomado e não apenas para projetos de manutenção adiados, mas também para ações inicialmente programadas para o final deste ano ou para o início de 2021, que foram antecipadas. “Percebemos um aquecimento na demanda”, relata Daniel Brugioni, diretor comercial e de marketing da Mills Solaris, uma das principais locadoras de plataformas de trabalho aéreo do país. “Na construção civil, a queda nos negócios foi menor que na indústria.”

Mesmo nesse quadro, a empresa – e o mercado de locação de plataformas como um todo – talvez não consiga ainda recuperar a movimentação comercial registrada no primeiro trimestre, quando obteve um volume de negócios cerca de 10% superior ao do mesmo período de 2019. “Já percebemos uma retomada, porém ainda em um nível de 10% a 15% inferior ao do primeiro trimestre”, posiciona Brugioni. “Mas a demanda segue ascendente.”

No segmento de içamento, siderurgia e mineração compensaram o hiato na indústria de transformação

O mercado já começa a se reaquecer também para as locadoras de guindastes, e em mercados relevantes para os seus negócios. “No segundo semestre, mercados como mineração, siderurgia, papel & celulose, infraestrutura, energia e óleo & gás devem retomar a demanda por guindastes”, cita Marcello Augusto Mari, diretor comercial da Locar, que atua com guindastes móveis e plataformas, entre outros equipamentos. “Isso deve melhorar o resultado em relação ao primeiro semestre, quando registramos redução de 30% em relação ao mesmo período de 2019. Mas, no total do ano, ainda devemos ter uma leve retração.”

De acordo com Mari, muitas empresas adiaram as ações de manutenção em suas plantas em virtude das restrições impostas pela pandemia. Em contrapartida, setores como siderurgia e mineração aproveitaram o momento para antecipar essas intervenções, justamente por estarem com as estruturas – total ou parcialmente – paralisadas. Segundo ele, a pandemia também gerou a necessidade de algumas renegociações contratuais, em itens como prazos e preços. “Mas foram coisas pontuais”, sublinha. “Graças a uma rigorosa política de gestão financeira, não apuramos uma inadimplência significativa.”

Do mesmo modo, Brugioni afirma que também na Mills Solaris houve pedidos de renegociação por parte de clientes, principalmente os que trabalham com prazos maiores de locação e ficaram com as máquinas paradas. No que se refere à inadimplência, o executivo diz que os índices chegaram a dobrar nos momentos iniciais da pandemia. “Agora, a inadimplência já voltou ao normal”, conta. “E não temos mais clientes com máquinas paradas.”

Com o dólar muito acima de R$ 5,00, Brugioni avalia que nos próximos dois anos será difícil pensar em grandes investimentos em plataformas.

“Esse setor sofreu muito a partir de 2014, mas conseguiu praticar uma recuperação consistente dos preços nos últimos anos, chegando a patamares quase normais de precificação e utilização de seus equipamentos”, ele pondera. “Mas, na atual conjuntura, é difícil pensar em repassar investimentos para os preços.”

Reformas domiciliares levaram a um rearranjo no foco comercial no varejo da linha leve

Já a Locar, mesmo em um período de redução da demanda – e de conjuntura cambial pouco favorável a investimentos em equipamentos – afirma ter conseguido alocar R$ 10 milhões na aquisição de novos guindastes e plataformas de trabalho aéreo no primeiro semestre. “Para serem mais competitivas no cenário pós-pandemia, as empresas deverão ser mais ágeis e mais tecnológicas”, avalia Mari.

LINHA LEVE

Mesmo sem atingir os 22% de crescimento inicialmente previsto, a Casa do Construtor – franquia que atua no varejo de equipamentos para reformas e autoconstrução – manteve uma curva interessante no primeiro semestre. “Com a pandemia, baixamos a meta de crescimento para 10%, mas tudo leva a crer que iremos superá-la”, diz Expedito Eloel Arena, fundador e diretor da empresa. “No primeiro semestre, crescemos 7%, comparativamente ao mesmo período de 2019.”

Já em julho, relata Arena, a Casa do Construtor registrou um ritmo ‘praticamente normal’ nos negócios. Isso foi possível porque, se houve uma diminuição da quantidade de profissionais de obras na clientela, aumentou a presença de pessoas que, obrigadas a passar mais tempo em casa, aproveitaram para realizar reformas e melhorias em suas residências.

Em decorrência, houve um rearranjo no mix comercial da empresa, que registrou aumento na locação de equipamentos para limpeza, jardinagem e serviços domésticos, subindo de 2% para 5% de participação no total de locações. Além disso, a demanda por equipamentos para obras profissionais também se recuperou. “Em um primeiro momento, isso parou”, admite Arena. “Mas logo muitas lojas que precisariam ficar fechadas – assim como hotéis e escolas – começaram a ser reformadas.”

E a boa surpresa permitiu até mesmo a manutenção do cronograma de expansão da rede do grupo, que atualmente conta com cerca de 300 unidades espalhadas pelo país. “Abriremos trinta lojas ainda neste ano”, garante o executivo.

Setor de alimentos garantedesempenho de soluções industriais

Por ter na indústria alimentícia um cliente relevante, a SomaFlux foi outra empresa de locação que conseguiu amenizar os efeitos econômicos da pandemia. “Essa indústria não parou, em alguns casos até expandiu-se”, justifica José Bastos, diretor de operações da empresa, fundada há apenas dois anos. “Tínhamos grandes planos para este ano, dobrando faturamento e equipe. Não atingiremos essas metas, mas teremos um crescimento expressivo.”

Indústria alimentícia tem impulsionado a locação de bombas de vácuo e sopradores

Além de compressores, a SomaFlux atualmente privilegia a locação de bombas de vácuo e sopradores de ar, equipamentos que a indústria alimentícia utiliza em diferentes processos – como armazenamento, embalagem e transporte –, mas que também são fundamentais para sistemas de transporte pneumático e produção de cimento, entre outras aplicações. “Comparativamente à locação de compressores, as bombas de vácuo e os sopradores de ar constituem um nicho menos disputado, de maior valor agregado”, explica Bastos.

Segundo ele, é possível mostrar-se otimista quanto ao futuro desse mercado. “Em 2021, podemos ter um crescimento econômico superior ao que muitos imaginam hoje”, projeta o diretor da SomaFlux, que recentemente passou a oferecer também um modelo de locação batizado de ‘PagueFlux’, no qual os clientes pagam uma taxa básica por um consumo previamente definido. “Em caso de consumo superior, os valores adicionais são proporcionais”, ele acrescenta.

Saiba mais:
Casa do Construtor: www.casadoconstrutor.com.br
Escad Rental: escad.com.br
Locar: www.locar.com.br
Mills Solaris: www.mills.com.br
Ouro Verde: www.ouroverde.net.br
SomaFlux: www.somaflux.com.br

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