Revista M&T - Ed.273 - Maio 2023
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EQUIPAMENTO

Trator a biometano chega ao campo brasileiro

New Holland Agriculture vende o 1º trator movido a biometano no Brasil para empresa de suinocultura de Brasilândia (MS), pioneira em biodigestão para geração de energia
Por Marcelo Januário (Editor)

Em ação acompanhada in loco pela reportagem da Revista M&T, a New Holland Agriculture (NHAG) entregou em abril a 1ª unidade do trator T6.180 Methane Power no Brasil.

Vendido à SF Agropecuária, o modelo produzido em Basildon, na Inglaterra, já vinha sendo testado como protótipo desde 2017, além de ter sido a estrela da marca em feiras agropecuárias no ano passado.

“Além de ser 100% renovável, o biometano elimina 99% das emissões de material particulado e 90% de CO2, comparado aos motores diesel Tier 3”, ressaltou na ocasião Flávio Mazetto, diretor de marketing de produto da NHAG para a América Latina. “Já em termos estratégicos, não se tem mais a dependência do petróleo, com previsibilidade de preço e independência energética.”

Parte do grupo SF Agropecuária, a propriedade em Brasilândia (MS) é uma das pioneiras no país na utilizaçã


Em ação acompanhada in loco pela reportagem da Revista M&T, a New Holland Agriculture (NHAG) entregou em abril a 1ª unidade do trator T6.180 Methane Power no Brasil.

Vendido à SF Agropecuária, o modelo produzido em Basildon, na Inglaterra, já vinha sendo testado como protótipo desde 2017, além de ter sido a estrela da marca em feiras agropecuárias no ano passado.

“Além de ser 100% renovável, o biometano elimina 99% das emissões de material particulado e 90% de CO2, comparado aos motores diesel Tier 3”, ressaltou na ocasião Flávio Mazetto, diretor de marketing de produto da NHAG para a América Latina. “Já em termos estratégicos, não se tem mais a dependência do petróleo, com previsibilidade de preço e independência energética.”

Parte do grupo SF Agropecuária, a propriedade em Brasilândia (MS) é uma das pioneiras no país na utilização de dejetos de suínos para abastecimento de energia por meio de geração distribuída e, agora, como combustível. As atividades da empresa estão distribuídas em três fazendas, que também recebem eletricidade produzida em uma unidade de biodigestão de resíduos orgânicos, que abastece ainda um caminhão.

O idealizador do projeto é o suinocultor Fábio Barros, diretor da SF Agropecuária. Segundo ele, a preocupação ambiental é determinante, mas também há uma boa dose de estratégia financeira envolvida. “Tratores de 180 cv consomem cerca de 18 l/h de diesel, o que é um consumo normal, de qualquer marca”, ponderou. “Já o trator a gás tem um consumo médio de 10 m3/h.”


Barros, da SF (com a chave): biocombustível atende a necessidades ambientais e financeiras

Produzir o combustível internamente também representa uma facilidade. “É até simples de produzir, evidentemente após todo o suporte técnico e consultivo que tivemos”, atestou Barros, que produz 50 m3/h de biogás na própria fazenda, extraindo de 27 a 30 m3/h de biometano desse total. “E o custo de produção obtido na minha bomba é muito baixo, de R$ 1/m3. Tanto que já temos projetos para caminhões a gás agora”, completou.

PROJETO

Eleito “Tractor of the Year de 2022” na categoria “Sustentável” na Europa, o T6 apresenta transmissão Semi Powershift 16 x 16, o que garante o escalonamento de marchas.

Além disso, o trator tem eixo dianteiro em peça única e suspensão de cabine, que oferece visão 360o e, em conjunto com as luzes de LED, permite a continuidade das operações mesmo à noite. Se necessário, a unidade de ‘extensor de autonomia’ (montada na frente) pode ser substituída por um levantador hidráulico frontal e PTO, ou mesmo removida para trabalho de carregadeira.

Em relação ao equivalente a diesel, a principal mudança estrutural do modelo está na substituição dos tanques de combustível por uma combinação de tanques dispostos ao redor do centro do chassi. Com 453 l de capacidade de gás (equivalente a 79 kg), o trator tem combustível suficiente para cerca de oito horas de transporte rodoviário ou trabalho de tomada de força, chegando a 14 horas para operar como alimentador de gado.

O motor eletrônico agrícola N67 NG é o coração do trator New Holland T6 Methane Power. Com 180 cv de potência e 740 Nm de torque, o propulsor foi desenvolvido especialmente para a aplicação com biogás e promete entregar o mesmo desempenho e durabilidade do equivalente a diesel.

“Não é uma adaptação, mas um projeto que a FPT começou do zero, concebido para essa utilização e com torque similar ao diesel”, apontou Cláudio Calaça Júnior, diretor de mercado brasil da NHAG.


Produzido pela FPT, motor N67 NG promete torque similar ao modelo convencional a diesel

Em comparação ao trator convencional, as emissões do propulsor são reduzidas em até 80% em condições reais, assegura a fabricante, com custos de operação até 30% mais baixos. Além disso, o nível de hidrocarbonetos não metano é reduzido em 90%, enquanto materiais particulados diminuem 98%, óxido nitroso 62% e CO2, 11%.

Para chegar a essa tecnologia, a configuração combina combustão estequiométrica, sistema de pós-tratamento, catalisador passivo de 3 vias e injeção Multi Point Sequencial. O motor N67 NG traz ainda atributos estruturais como coletor de escape em ferro fundido de alta resistência, turbo Wastegate refrigerado a água e cabeçote de ferro grafite compactado (motor Cursor 13). “Em relação ao TCO, não há nenhum ponto a mais que exija atenção na manutenção”, garantiu o diretor.

Em recursos digitais, o trator é equipado com os sistemas IntelliSteer, Isobus Class 2 e Intelliturn, além de ser conectado ao portal de telemetria MyPlmConnect. Segundo Calaça, a marca já negocia mais de dez unidades do modelo, que tem custo 30% acima do trator convencional.

“O limitante ainda é o ecossistema, ou seja, a disponibilidade do biometano”, sublinhou. “A expectativa é que isso evolua à medida que a gente consiga trazer esse desenvolvimento para suportar as vendas no país.”

ECOSSISTEMA

Até porque a introdução da tecnologia disruptiva representada pelo modelo T6.180 Methane Power requer investimentos em uma estrutura de biodigestores, biopostos, geradores e veículos.

Com isso em mente, a NHAG estabeleceu parcerias com empresas do setor de biogás visando criar um ecossistema de produção em pequena escala de biometano, capaz de impulsionar a entrada do premiado trator no país.

Composto por biodigestor, sistema de purificação, gerador, tratores e caminhões pesados, o ecossistema é resultado de colaboração com empresas como Sebigas Cótica (responsável pelas obras civis e instalação do biodigestor) e Air Liquide (que desenvolveu um sistema modular de membranas para purificação do metano, incluindo bioposto para compressão, armazenamento e reabastecimento do combustível), além da FPT, que produz o motor do trator, e TMA, com grupos geradores.

Em conjunto, os novos equipamentos viabilizados pela parceria têm capacidade para processar até 100 m3/h de biogás, gerando cerca de 30 m3/h de biometano após o processo de purificação, informa a NHAG. “O sistema de purificação do gás foi desenvolvido especialmente para atividades agrícolas, o seja, para diluir o investimento de aquisição do equipamento e fazer com que o retorno do investimento seja mais rápido”, disse Mazetto.


Parcerias buscam estimular o desenvolvimento de um ecossistema de biometano no Brasil

Os especialistas ressaltaram que o investimento na estrutura é relativo, pois depende de uma série de fatores como o cálculo do volume de material orgânico necessário (número de animais), mas em média gira em torno de R$ 2 milhões.

“O investimento depende do nível de maturidade de cada propriedade, se já tem tecnologia implementada, como é o caso da SF, por exemplo, que contava com biodigestores”, comentou Calaça. “Mas esse investimento tem um payback rápido, de dois a quatro anos, dependendo da velocidade com que o agricultor substitui o uso do diesel pelo biometano.”


NEGÓCIOS
CNH Industrial assume controle da Bennamann

A CNH Industrial expande as capacidades em combustíveis alternativos ao assumir participação majoritária na Bennamann, empresa do Reino Unido especializada em soluções para captura, redirecionamento e armazenamento de emissões de metano para uso energético.

Em 2021, a Ventures – braço de investimento da CNH Industrial – já havia adquirido uma participação minoritária no negócio.

Participação na Bennamann expande as capacidades da CNH Industrial em combustíveis alternativos

A Bennamann fornece um sistema negativo de carbono que se propõe a suportar a economia circular integralmente na agricultura.

“Essa solução pode transformar as atividades agrícolas em minipolos de energia e gerar sua própria eletricidade, assim como produzir seu próprio fertilizante natural e vender o excesso de gás ao mercado aberto”, afirma Derek Neilson, presidente global da divisão de agricultura da CNH Industrial.

Saiba mais:
CNH Industrial: www.cnhindustrial.com
NHAG: https://agriculture.newholland.com/lar/pt-br

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