Revista M&T - Ed.121 - Fevereiro 2009
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Lubrificação

O óleo certo para cada aplicação

Especialistas explicam como selecionar o lubrifi cante correto para cada aplicação, assim como os cuidados para a maior durabilidade dos equipamentos
Por Melina Fogaça


Não é segredo para nenhum profissional do setor que a maioria dos problemas de manutenção de equipamentos está relacionada ao desgaste de seus componentes, uma situação que, na maioria das vezes, é provocada por falhas na lubrificação. A escolha do lubrificante correto e os cuidados com sua conservação, como o respeito aos períodos de troca e a adoção de medidas para evitar sua contaminação, figuram entre as ações que fazem parte da cartilha seguida em qualquer empresa minimamente preocupada em preservar seus equipamentos.

Mesmo assim, por que o assunto ainda desperta polêmicas e dúvidas? Para os especialistas, os problemas muitas vezes estão relacionados com cuidados simples, porém não observados na rotina diária. Entre eles estaria, por exemplo, a limpeza do bocal do reservatório do equipamento antes da troca do óleo lubrificante, de forma a se evitar contaminações. Profissionais cuidadosos chegam a recomendar até mesmo a filtragem de óleo novo antes do abastecimento, atestando que não são raros os casos em que o produto é fornecido com alto nível de partículas contaminantes.

Carlos César, diretor da Silubrin, que presta serviços



Não é segredo para nenhum profissional do setor que a maioria dos problemas de manutenção de equipamentos está relacionada ao desgaste de seus componentes, uma situação que, na maioria das vezes, é provocada por falhas na lubrificação. A escolha do lubrificante correto e os cuidados com sua conservação, como o respeito aos períodos de troca e a adoção de medidas para evitar sua contaminação, figuram entre as ações que fazem parte da cartilha seguida em qualquer empresa minimamente preocupada em preservar seus equipamentos.

Mesmo assim, por que o assunto ainda desperta polêmicas e dúvidas? Para os especialistas, os problemas muitas vezes estão relacionados com cuidados simples, porém não observados na rotina diária. Entre eles estaria, por exemplo, a limpeza do bocal do reservatório do equipamento antes da troca do óleo lubrificante, de forma a se evitar contaminações. Profissionais cuidadosos chegam a recomendar até mesmo a filtragem de óleo novo antes do abastecimento, atestando que não são raros os casos em que o produto é fornecido com alto nível de partículas contaminantes.

Carlos César, diretor da Silubrin, que presta serviços e realiza treinamentos nessa área, explica que os problemas com lubrificação decorrem de um único fator: a ruptura da película formada pelo fluido entre as peças metálicas em contato. A partir desse ponto, inicia-se um processo de degradação nas superfícies afetadas, que evolui para o desgaste e a criação de folgas no sistema. “Isso ocorre basicamente devido à sobrecarga, à contaminação ou perda de algumas propriedades dos aditivos presentes nos lubrificantes.

Função dos aditivos

Os lubrificantes são fabricados com diversos tipos de aditivos, de acordo com a aplicação a que se destinam, sujeitos a degradação por oxidação ou outro motivo. Entre esses aditivos estão os detergentes, antioxidantes, anticorrosivos, antiespumantes e para extrema pressão (EP). No caso de um fluido que trabalha como elemento de transmissão de energia, geralmente submetido a esforços elevados, a degradação de um aditivo EP ou antiespumante irá interferir na sua resistência a cargas e o sistema ficará mais suscetível a rupturas na película de lubrificação.

No caso do lubrificante de motor, a situação torna-se ainda mais crítica já que a combustão do diesel libera enxofre, um material que em contato com a água – inevitavelmente presente no sistema em estado gasoso, juntamente com o ar – acaba formando ácido sulfúrico. “Cada motor a diesel funciona como uma pequena fábrica de ácido sulfúrico, um material altamente corrosivo e responsável pelo desgaste das camisas e de outros componentes internos”, afirma Peter Runge, consultor em lubrificação.

Por esse motivo, ele explica que os fabricantes adicionam substâncias alcalinas ao fluido para compensar a acidez natural do ambiente interno de um motor. “À medida que o lubrificante cumpre essa função, esse aditivo vai sendo consumido, até chegar a um ponto que ele não conseguirá mais se contrapor à acidez.” A taxa de alcalinidade de um aditivo é expressa pela medida TBN (Total Base Number), que ao ficar abaixo de um determinado valor, indica a necessidade de troca do lubrificante. Esse, aliás, é o critério adotado pelos fabricantes na determinação dos prazos de troca do fluido.

Reaproveitamento

Essa perda de propriedades é o motivo pelo qual a lubrificação de motores a diesel não pode seguir o mesmo padrão adotado em algumas áreas industriais, onde a troca de óleo tende a ser abolida, desde que o fluido atenda às especificações da operação e seja mantido sem contaminações. “Trocar o lubrificante não significa que esse material será descartado e não terá nenhuma utilidade, o que representaria até mesmo um elevado passivo ambiental”, afirma Peter Runge.

O especialista explica que o produto descartado pode ser armazenado e enviado para empresas que fazem seu recondicionamento. Além da filtragem para remoção dos contaminantes sólidos, ele passa por processos de tratamento para eliminar a presença de água e frações de combustível. “Tratase do re-refino, um processo industrial semelhante ao usado para a produção dos derivados de petróleo, que utiliza até mesmo uma pequena torre de refino para o fracionamento das moléculas de hidrocarbonetos.”

Segundo Runge, cerca de 30% dos lubrificantes vendidos no Brasil passam por esse mercado. O reaproveitamento pode ser adotado para fluidos usados em qualquer aplicação, seja ela industrial, em sistemas hidráulicos ou outros, resultando em um produto até 40% mais barato que o lubrificante novo. “Além de realizar a limpeza e remover água e gases presentes no fluido usado, o serviço promove a correção da sua viscosidade e a aditivação.”

Critérios para especificar

Diante dessa realidade, alguns usuários de equipamentos podem se questionar por que, então, os fabricantes especificam o uso de determinado tipo de lubrificante para seus produtos como condição para a garantia de durabilidade da máquina? Sem entrar no mérito comercial da questão, já que a venda de lubrificante pode representar uma receita adicional, vale ressaltar que ninguém melhor que o fabricante
pode indicar as características de um óleo lubrificante para atender as especificações operacionais de sua máquina, motor, sistema hidráulico e outros.

O problema, de acordo com os especialistas, é quando essa determinação se baseia na marca do produto, já que as propriedades dos lubrificantes são normatizadas por entidades como a SAE (Society of Automotive Engineers), API (American Petroleum Institute) e outras. Elas classificam os fluidos pela viscosidade, mas existem outras normas que os especificam de acordo com a densidade, ponto de fulgor, fluidez e outras características. “Um acompanhamento cuidadoso nessa área, com a análise do lubrificante coletado, pode permitir a revisão dos parâmetros diante de necessidades específicas”, complementa César, da Silubrin. É o caso, por exemplo, da mudança na especificação quando o motor ultrapassa certo tempo de vida.

Os especialistas ressaltam que a viscosidade do lubrificante deve ser definida em função da temperatura na qual ele será aplicado. “Um óleo que trabalha a 10ºC negativo certamente não poderá ter a mesma viscosidade de outro que opera em ambiente com 40ºC”, pondera César. Peter Runge ressalta que variações térmicas de até 15ºC não chegam a comprometer o desempenho do lubrificante, o que permite usar fluidos com a mesma viscosidade em diferentes regiões do Brasil, sejam elas mais quentes (norte e nordeste) ou mais frias (sul). “O ponto crítico é a partida do motor e, para aplicações desse tipo em regiões de temperatura muito baixa, como no Alasca, recomenda-se o uso de um lubrificante de baixa viscosidade e dotado de aditivo rebaixador de fluidez.”

Cuidados na filtragem

Definido o tipo de lubrificante a ser usado, os cuidados se resumem ao controle de contaminações e às trocas regulares do fluido e dos filtros. O combate às contaminações combina ações amplamente conhecidas pelos profissionais do setor, desde o correto armazenamento e manuseio do lubrificante, até os cuidados para não se introduzir impurezas durante as manutenções (poeira no ar, limpeza do bocal, filtragem do óleo etc.).

Carlos César, da Silubrin, explica que o desenvolvimento de filtros absolutos, que substituem a celulose pela fibra de vidro no elemento filtrante, possibilitou a retenção de partículas até 10 vezes menores, ampliando a eficiência do sistema. Mesmo assim, ele ressalta que o controle deve contemplar outras formas de contaminação, como o ingresso de água, por exemplo. “Nesse ponto, existem sistemas de respiros higroscópicos, que empregam sílica gel para reter o ingresso de umidade, além dos filtros coalescentes presentes em alguns equipamentos, que separam a água em condensação no ar antes de realizar a alimentação.”

Os serviços de análise de óleo, oferecidos no mercado por diversas empresas, inclusive fabricantes e distribuidores de equipamentos, permitem o acompanhamento do nível de contaminação, antecipando problemas e identificando suas fontes. Em casos extremos, o acompanhamento pode indicar a necessidade de filtragem do fluido em equipamento externo à máquina, por sistema de diálise. “A análise econômica em relação à lubrificação não pode se basear apenas no custo por litro, mas no custo operacional do equipamento, já que um óleo mais caro pode resultar em maiores intervalos de troca, menos paradas para manutenção e outros ganhos”, conclui o consultor Peter Runge.

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