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Revista M&T - Ed.189 - Abril 2015
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Fabricante

Caterpillar expande portfólio nacional

Mesmo com o mercado doméstico em marcha lenta, a empresa nacionaliza dois novos produtos da Linha Amarela, que passam a ser produzidos em Piracicaba (SP)
Por Marcelo Januário (Editor)

A Caterpillar iniciou a produção de mais dois equipamentos em sua fábrica de Piracicaba (SP). Após investir 400 milhões de reais nos últimos quatro anos em suas operações no país, a empresa incorporou ao portfólio a escavadeira hidráulica 318D2 L e o trator de esteiras D6K2, que antes eram oferecidos ao mercado via importação e, agora, têm índice de nacionalização superior a 60%, o que permite acesso às linhas de financiamento do Finame.

Com o novo acréscimo, atualmente apenas 13% das máquinas da Caterpillar comercializadas no Brasil são importadas. E a tendência, inclusive, é de reforçar a vocação de fonte fabril. Frente a uma desaceleração do mercado brasileiro, a expectativa da empresa é que os novos produtos possam ampliar sua participação na América Latina, região atendida pelas unidades brasileiras, que atualmente exportam máquinas para 120 países e colocam a Caterpillar como a 3ª maior exportadora do estado de São Paulo e a 22ª do país.

Segundo o presidente da Caterpillar Brasil, Odair Renosto, o mercado doméstico realmente tende a perder impuls


A Caterpillar iniciou a produção de mais dois equipamentos em sua fábrica de Piracicaba (SP). Após investir 400 milhões de reais nos últimos quatro anos em suas operações no país, a empresa incorporou ao portfólio a escavadeira hidráulica 318D2 L e o trator de esteiras D6K2, que antes eram oferecidos ao mercado via importação e, agora, têm índice de nacionalização superior a 60%, o que permite acesso às linhas de financiamento do Finame.

Com o novo acréscimo, atualmente apenas 13% das máquinas da Caterpillar comercializadas no Brasil são importadas. E a tendência, inclusive, é de reforçar a vocação de fonte fabril. Frente a uma desaceleração do mercado brasileiro, a expectativa da empresa é que os novos produtos possam ampliar sua participação na América Latina, região atendida pelas unidades brasileiras, que atualmente exportam máquinas para 120 países e colocam a Caterpillar como a 3ª maior exportadora do estado de São Paulo e a 22ª do país.

Segundo o presidente da Caterpillar Brasil, Odair Renosto, o mercado doméstico realmente tende a perder impulso com o câmbio desvalorizado, mas – por outro lado – vinha consumindo tanto que não havia como atender à exportação. Com os investimentos, a cena mudou e, hoje, aproximadamente metade da produção da estrutura brasileira é exportada. “A América Latina pode crescer que estamos prontos para atendê-la”, afirma Renosto. “Já no mercado doméstico, é preciso agora equalizar o outro lado, incluindo competitividade, Custo Brasil e contribuição da moeda, para ajudar a minimizar o impacto da inflação.”

A injeção de recursos ajudou a redimensionar a linha de montagem da fábrica, abrindo espaço para a ampliação da capacidade de produção de todos os modelos e, ainda, a introdução desses novos equipamentos. Fonte global para alguns modelos, no último ano a filial brasileira comemorou 60 anos de atividades no Brasil, uma das mais antigas operações da Caterpillar no mundo. No Brasil, além de Piracicaba, que fabrica sete diferentes famílias de máquinas, a empresa possui uma unidade em Campo Largo (PR), inaugurada em 2011 para a fabricação de retroescavadeiras e minicarregadeiras. “É uma questão de imagem construída, não de onde é fabricada, mas de processo”, destaca José Fonseca, gerente comercial da Caterpillar Brasil. “Nesse ponto, a qualidade de equipamentos feitos no Brasil faz toda a diferença.”

ESCAVADEIRA

Indicada para operações de médio portes no segmento de construção, a nova Cat 318D2 L é uma atualização da conhecida escavadeira hidráulica 315D L, que deixa de existir. Lançado originalmente na Ásia e na Austrália em 2012, o modelo recebeu 12 milhões de dólares em seu desenvolvimento. Atualmente, a máquina de 17 t tem um mercado anual de seis mil unidades no mundo, sendo 400 delas no Brasil.

O equipamento possui motor turbo 3054CA Tier II de 4 cilindros, potência bruta de 118 hp e capacidade de caçamba de 0,88 m³ a 1,00 m³. Com 5,1 m de lança e 2,6 m de braço, a recém-lançada versão nacional tem como maior novidade um sistema de injeção mecânica controlado por governador, de baixa pressão. A alteração, segundo a empresa, dobrou a vida útil do sistema de filtragem de combustível.

A melhoria foi possibilitada pela confiabilidade do sistema, que passa a ter apenas dois filtros ao invés de três, ambos posicionados no mesmo lado da máquina e no nível do solo, para facilitar o acesso. “Antes, o primeiro e segundo estágios de filtragem (até 4 micra) eram de 250 horas, sendo que agora são de 500 horas”, explica Maurício Briones, especialista do produto e aplicação da Caterpillar. “Já a última etapa de filtragem, que era de 500 horas, agora não existe mais.” Além disso, a máquina apresenta um dos filtros com corpo reutilizável (por refil), gerando menos resíduos, pois não é necessário trocar a peça completa, mas apenas o elemento filtrante dentro da cápsula. “O motor é tão confiável e o sistema de injeção tão robusto que não há necessidade de um terceiro filtro”, reforça o especialista. “A máquina trabalha muito bem com dois filtros, o que evidentemente é revertido para o benefício do cliente em tempo, custo e peças.”

O maior trunfo, no entanto, é mesmo a eficiência. Em operação, como garante a fabricante, a nova escavadeira nacional tem um ganho no consumo de combustível de 4% em relação à geração anterior, podendo chegar a 15% em aplicações leves com a ativação do modo econômico. Como opcionais, são oferecidos alguns sistemas eletrônicos de precisão de escavação via GPS ou laser, que permitem uma precisão de 3 cm na operação, além de um aumento de 35% na produtividade (em l/m³). “Com esta máquina, o cliente consegue uma margem significativa de redução de acordo com a aplicação do equipamento, as técnicas de carregamento utilizadas, as condições das ferramentas de penetração e o modo como a máquina é operada”, sublinha o Briones, acrescentando que o motor Tier II foi homologado antes da entrada em vigor do Proconve/Mar I e, por isso, continuará equipando a máquina até 2017. “O produto foi pensado na evolução natural das tecnologias mais limpas”, diz. “É o que os clientes solicitam no momento, mas a mudança para Tier III também não será problema.”

TRATOR

Desenvolvido sobre a plataforma mundial do D6K, o novo trator de esteiras D6K2 estreou no mercado mundial no início do ano passado, com fabricação francesa. Com investimentos de 5 milhões de dólares em seu projeto, o produto chega para complementar a linha de tratores médios da Caterpillar, cuja aplicação principal reside no espalhamento de material e pré-acabamento na construção de estradas.

Dentre as principais novidades estruturais incorporadas ao projeto, destacam-se o peso operacional (que ganhou 500 kg e agora chega a 13,3 t), maior potência e aumento da lâmina como padrão de fábrica. A lâmina do equipamento está 13% maior, passando de 2,7 m³ para 3,1 m³. Isso, segundo o especialista de produto João Zalla, permite levar mais material a cada passada, obtendo um aumento de capacidade de 16%. Também foi realizado um ajuste do ângulo de tombamento da lâmina e uma melhoria do material rodante, com a adição de roletes (superior e inferior) para melhorar a distribuição de peso e o balanço da esteira. “As buchas rotativas da esteira SystemOne também reduzem o custo de manutenção do material rodante”, destaca Zalla.

Já em termos tecnológicos, o trator ganhou um novo controle de posicionamento eletrônico da lâmina, que regula a oscilação e mantém a estabilidade, permitindo ao usuário obter melhor acabamento nas operações. “Os sensores identificam a movimentação do equipamento”, pontua o especialista. “E a maior vantagem disso é que, independentemente da experiência do operador, é possível obter o mesmo acabamento.”

Equipado com motor eletrônico C7.1 Acert Tier III de 128 hp, o modelo D6K2 oferece redução de 18% no consumo, graças ao controle automático de rotação. Com este recurso de gerenciamento eletrônico do motor e da transmissão hidrostática, o próprio trator identifica a necessidade de carga e determina a melhor curva de potência para o trabalho. A redução da rotação ou desligamento do motor automático pode ser ajustada no computador central, de acordo com a conveniência.

Nesse sentido, outro ponto importante da máquina é o controle de tração, que reduz a patinagem das esteiras. “Como o trator tem 10 cv por tonelada, a esteira pode derrapar, desgastando o componente e aumentando o consumo”, diz Zalla, acrescentando que o sistema de injeção de combustível foi redesenhado e passa a contar com um sistema de filtragem com maior durabilidade.

No quesito de segurança, também houve evolução. Uma novidade são os sensores de monitoramento de presença do operador, que desativa o sistema em caso de movimentos bruscos ou inesperados dentro da cabine. Nos opcionais, a Cat oferece o sistema de automatização da lâmina AccuGrade, sendo que o equipamento sai da fábrica preparado para recebê-lo. “Este recurso carrega o plano 2D ou 3D no computador, que por sua vez carrega na máquina e a lâmina se posiciona sozinha”, finaliza Zalla.

Foco em tecnologia é diferencial competitivo

Para aumentar sua diferenciação em um mercado cada vez mais competitivo, a Caterpillar vem investindo pesado na incorporação de novas tecnologias aos seus equipamentos. Em relação à eletrônica embarcada, por exemplo, a empresa já possui um amplo espectro de opções de automação, muitas delas – como o acesso remoto por satélite e GSM – resultantes da parceria com a Trimble. No Brasil, segundo o gerente comercial José Fonseca, o maior desafio ainda é a popularização e consequente aceitação dos benefícios obtidos por essas tecnologias. “É preciso ter pessoas especializadas para ensinar o cliente como utilizar e ter suporte pós-venda no revendedor para suportar as necessidades do cliente”, diz ele. “De modo que o processo talvez esteja sendo desenvolvido numa velocidade aquém do que gostaríamos, mas quem já utiliza está muito satisfeito.”

Só produzir não adianta, também é preciso ter raízes, diz presidente

Principal executivo da Caterpillar Brasil desde meados de 2014, Odair Renosto chegou ao topo da empresa no país em um momento de inflexão do mercado. Mas o cenário mais desafiador não o intimida. Para ele, a configuração da indústria também vem mudando com a recente retração, principalmente em relação à concorrência, o que pode significar um redimensionamento positivo para os players tradicionais com atuação nacional. “Entre 2009 e 2010, existia uma promessa de que o Brasil iria crescer muito, com a ideia de que tínhamos um boom aqui”, avalia o executivo. “E todo mundo quis fazer parte disso, levando a uma invasão de importadores asiáticos, por exemplo, para testar o mercado.”

Incisivo, Renosto reforça que a desaceleração econômica do país vem obrigando muitos desses entrantes a repensar seus investimentos, inclusive em relação à nacionalização de produtos. “Alguns decidiram construir fábricas aqui, para terem acesso ao Finame e livrar-se do imposto de importação, mas não tinham qualidade nem suporte ao produto e, por isso, tiveram de ir embora”, pontua. “Com isso, restaram poucos, que também construíram ou anunciaram que construiriam fábricas, mas até hoje só tem a placa de ‘futuras instalações’. E isso se deve às dificuldades, pois quando se esperava uma indústria de 62 mil máquinas, isso não aconteceu.”

De fato, para a Caterpillar, muitos entrantes realmente deixaram a desejar em relação à qualidade dos equipamentos. “Enquanto muitas empresas estavam preocupadas com imposto de importação, a verdadeira concorrência estava na parte tecnológica”, afirma Suely Agostinho, diretora de assuntos corporativos da Caterpillar. “Com isso, estávamos enfrentando uma concorrência desleal, por conta de produtos que vinham competir sem recursos para controle de emissões de poluentes e ruídos, por exemplo, prejudicando o mercado como um todo.”

Outro aspecto diz respeito à estruturação de redes eficientes de revendedores, sem as quais se torna inviável atuar com sucesso em um país com dimensões continentais como o Brasil. “Não é só ter a fábrica aqui, precisa manter uma rede preparada e com cobertura nacional, o que não é fácil”, diz Renosto. “Somente produzir não adianta, é preciso ter raízes.”

 

 

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