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Revista M&T - Ed.168 - Maio 2013
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Segurança

Catalisadores de mudanças

Especialistas em equipamentos dos EUA traçam um panorama do setor de movimentação vertical e trabalho em altura, avaliando o que é possível ser feito em termos de segurança, capacitação e tecnologia
Por Marcelo Januário (Editor)

Com o crescimento exponencial do número de plataformas e guindastes em todo o mundo e o consequente aumento de acidentes envolvendo essas máquinas, a questão da segurança tornou-se um assunto de extrema urgência para o setor. Na edição 166, a M&T detalhou os avanços obtidos em âmbito legal para aumentar a segurança operacional no país, um tema que voltou a ser trabalhado no início de abril em evento promovido pela Sobratema que também está retratado na reportagem reproduzida neste link.

Na presente reportagem, o foco é expandido para o cenário internacional, trazendo avaliações de fabricantes, locadoras e autoridades anglo-americanas sobre o atual momento do segmento de equipamentos para movimentação vertical e trabalho em altura, ademais um tema prioritário de debates em todo o mundo e que incide diretamente na produtividade e gestão das empresas. Como é corrente, no mercado atual clientes e investidores analisam detalhadamente a forma como são tratadas questões sensíveis de planejamento


Com o crescimento exponencial do número de plataformas e guindastes em todo o mundo e o consequente aumento de acidentes envolvendo essas máquinas, a questão da segurança tornou-se um assunto de extrema urgência para o setor. Na edição 166, a M&T detalhou os avanços obtidos em âmbito legal para aumentar a segurança operacional no país, um tema que voltou a ser trabalhado no início de abril em evento promovido pela Sobratema que também está retratado na reportagem reproduzida neste link.

Na presente reportagem, o foco é expandido para o cenário internacional, trazendo avaliações de fabricantes, locadoras e autoridades anglo-americanas sobre o atual momento do segmento de equipamentos para movimentação vertical e trabalho em altura, ademais um tema prioritário de debates em todo o mundo e que incide diretamente na produtividade e gestão das empresas. Como é corrente, no mercado atual clientes e investidores analisam detalhadamente a forma como são tratadas questões sensíveis de planejamento, recursos humanos e sustentabilidade.

UNIVERSO

Para dimensionar a questão, Tim Whiteman, CEO da IPAF (International Powered Access Federation), projeta uma frota mundial de plataformas de trabalho aéreo com 1,2 milhão de máquinas. Só nos EUA, diz ele, existem mais de 700 mil máquinas, enquanto a Europa possui um parque de 265 mil unidades.

Em um contexto mundial de instabilidade econômica, Whiteman aponta que países como Espanha, Itália, Holanda e Dinamarca vêm perdendo frota, ao passo que na Noruega, Reino Unido e EUA o movimento é contrário, com expressivo aumento na demanda. Um destaque apontado pelo especialista é o Brasil, considerado um mercado cada vez mais atraente para esse tipo de equipamento. Com 35% de crescimento no último ano, a frota rastreada do país chegou a 19.500 unidades.

Em termos de receita, a Europa registrou uma movimentação de € 2,3 bilhões no ano passado, enquanto nos EUA os resultados batem a cifra de US$ 6,6 bilhões. Os ganhos de receita por unidade, diz o executivo, quase dobraram nos últimos três anos, saltando de 12% em 2010 para 25% em 2012. Outros dados reveladores mostram que apenas 10% da frota mundial cumprem a regulamentação Tier IV e que cerca de 450 mil máquinas (37,5%) estão no setor de locação.

ÍNDICES

Em seu levantamento de 2012, a entidade registrou 31 óbitos decorrentes de acidentes em 21 países, sendo que 20 deles (64,5%) ocorreram nos EUA, de longe a maior frota mundial. A principal causa de mortes são as quedas, seguidas por eletrocução. “Normalmente, ocorrem acidentes quando o plano operacional e a seleção dos equipamentos são falhos”, avalia Whiteman. “Mas também há desconhecimento do equipamento, conjugado com fatores como terreno irregular, baixa visibilidade, distração, obstrução dos controles, alta velocidade, alterações nas máquinas e, claro, falta de manutenção.”

Para Chris Wraith, técnico ligado ao IPAF, o fato de as quedas liderarem as estatísticas é de fácil compreensão, tendo em vista a evolução obtida pelos equipamentos nos últimos anos. “Antigamente, as máquinas mal chegavam a oito pés (2,5 m) e agora temos alcances de até 150 pés (45,7 m)”, ele argumenta. Com o desenvolvimento tecnológico, os equipamentos também ganharam design e estrutura mais complexos, sendo que o desconhecimento de seu funcionamento constitui outro sério fator de risco.

Para o técnico, entretanto, os principais riscos estão relacionados a movimentos inesperados, muitas vezes sob a ação do vento, mas há também uma boa dose de imprudência humana. “Infelizmente, ainda é comum se passar por cima dos procedimentos de segurança para ir mais rápido nas tarefas”, aponta Wraith. “Além disso, 75% dos operadores não conhecem as normas de segurança.”

Por isso, como explica o especialista, é preciso que haja planos de operação, avaliação de riscos, sistemas de segurança, mecanismos de resgate e – quando não houver opção – socorro rápido do profissional envolvido. “Sabemos que não existe fórmula pronta”, avalia Wraith. “De todo modo, é indispensável haver qualificação, dispositivos de segurança e sempre ler as recomendações dos fabricantes”. Esse ponto, aliás, é outro aspecto delicado, uma vez que os usuários muitas vezes alteram a configuração do equipamento, abrindo espaço para problemas técnicos e mecânicos. “Sem conhecimento do fabricante, estão colocando coisas nas máquinas, alterando sua estrutura e, com isso, afetando a operação básica”, enfatiza.

Em termos institucionais, o clamor é pela unificação dos procedimentos, resultante de uma abordagem comum do problema e que imprima maior coerência às práticas ao redor do mundo. “Precisamos ter uma abordagem holística sobre a proteção, olhar para a totalidade”, propõe Tony Groat, vice-presidente da IPAF-EUA. “Com isso, construiremos uma só norma para todo o mundo, harmonizando os mecanismos de segurança em todos os países.”

FISCALIZAÇÃO

Responsável por realizar 40 mil inspeções de empresas por ano, a Agência Norte-Americana de Saúde e Segurança Ocupacional (OSHA, em inglês) vem debatendo os requerimentos para certificação de operadores de guindastes. Os encontros promovidos pela entidade têm foco na definição de níveis de competência relativos à certificação, incluindo aspectos como sua adequação aos diferentes modelos de equipamentos.

Os padrões da agência estabelecem que, até novembro de 2014, todos os operadores sejam certificados por uma instituição credenciada, com indicação da capacidade e tipo de equipamento que o trabalhador está apto a operar. “O índice de quedas e óbitos ainda é muito alto, com um custo terrível”, crava Jordan Barab, secretário-adjunto da agência. “Por isso, as empresas precisam ir além, criando programas de não-retaliação que respeitem o direito de queixas sobre segurança.”

A reprimenda de Barab é voltada para empresas que não se comprometem com a segurança de seus funcionários. “Muitas não fazem nada para proteger, nem esclarecem o perigo e os direitos dos trabalhadores”, diz ele. “Por outro lado, o trabalhador esconde as lesões, pois essas mesmas empresas costumam castigar quem procede assim.”

EMPRESAS

Por falar em empresas, o presidente da Reachmaster, Ebbe Christensen, salienta que a situação requer uma mudança de paradigma que correlacione projetos, vendas, entregas, treinamentos e operações, tudo simultaneamente.

O executivo afirma que 10% das pessoas que pleiteiam vaga em sua empresa não passam nos testes, que tendem a se tornar mais rigorosos a despeito do impacto nos custos operacionais. “Mesmo que seja cada vez mais seguro, o equipamento é frágil e não se pode confiar só no fabricante”, diz o dirigente da fornecedora de soluções compactas para trabalho aéreo. “Por isso, é necessário um plano que leve em conta o alcance das máquinas, existência de escadas, corredores, portas, desníveis, fiações e espaços confinados, transporte adequado, programa de manutenção e, prioritariamente, certificação do operador.”

A mesma visão é compartilhada por Ron DeFeo, CEO da Terex, para quem questões de segurança devem sempre vir antes da receita, o que implica no monitoramento constante das operações. “Se você não puder medir o problema, não poderá manejá-lo adequadamente”, diz.

Segundo ele, ao contrário do que se pensa, segurança também pode ser rentável para as empresas, ou ao menos evitar gastos inesperados. “Há sim as questões de preço de seguro, faltas e danos à imagem, mas, acima de tudo, temos de pensar na humanidade”, analisa. “Afinal, cada pessoa lesionada no trabalho afeta outras três do grupo familiar.”

Inicialmente, como conta o CEO, os funcionários da Terex foram praticamente forçados a treinar, mas acabaram absorvendo o conceito de “acidente zero” da empresa. “De saída, eles acharam que era uma moda, apenas uma coisa efêmera, mas depois perceberam que era palpável”, recorda. “Leve o tempo que levar, é preciso mudar, pois nunca está bom o suficiente. Afinal, colocamos as pessoas para trabalhar nas alturas e sua integridade é nossa responsabilidade.”

No momento, DeFeo aplica a mesma “terapia de choque” na Demag, marca recém-incorporada pela Terex que produz guindastes e componentes. Sua ênfase no aspecto humano, aliás, também é invocada por Andy Studdert, CEO da NES Rentals, uma das maiores locadoras de equipamentos dos EUA. “Pense que é sua família que está lá em cima”, sugere o executivo, cuja empresa qualificou 1.027 profissionais no último ano e, com o advento do treinamento eletrônico (leia Box na pág. 32), pretende treinar mais de 30 mil até 2014. “De fato, esse é um grande desafio para o setor, que tem uma cadeia com mais de 3 milhões de pessoas”, sublinha.

Na mesma linha, para Michael Kneelan, presidente da United Rentals, o fator humano deve ser sempre levado em conta, cabendo às empresas atuar como catalisadores de mudanças, sem quaisquer barreiras de custos. “Além de serem evitáveis, os acidentes custam uma fortuna e prejudicam o país”, apregoa. “Mas, dizer para uma mãe que o filho morreu é uma experiência ainda mais horrível, e não quero nunca mais passar por isso.”

Ensino a distância aprimora treinamento

Há seis meses, uma das maiores empresas do robusto setor de locação dos EUA tem sido o laboratório para a execução de um projeto-piloto de aprendizagem eletrônica que promete aprimorar o treinamento e a segurança de operadores.

Desenvolvido com a colaboração das próprias locadoras, o projeto de eLearning aplicado pela NES Rentals já capacitou mais de mil funcionários por meio da versão eletrônica do treinamento do IPAF, que inclui dois dias de instruções, provas escritas e avaliação prática. “Para aumentar a segurança é preciso oferecer uma ferramenta completa de capacitação, com revisão constante dos módulos de ensino”, afirma Teresa Kee, da NES Rentals.

Para Giles Councell, especialista do IPAF, o próximo passo é lançar o projeto comercialmente, implantá-lo em todo o território norte-americano e, depois, disseminar para outros países. “Há um mercado imenso nos EUA, mas temos certeza de que será um sucesso no mundo inteiro”, afirma.

Tecnologia é um aliado na prevenção de acidentes

Uma das maiores fabricantes de PTAs do mundo, a fabricante inglesa JLG tem investido em avanços tecnológicos que possam aperfeiçoar a segurança na operação de seus equipamentos. Segundo Tim Hatch, vice-presidente de engenharia global da empresa, alguns dos novos modelos da marca já são equipados com recursos como o Analyser App, que interroga o sistema em busca de disfunções técnicas e mecânicas, e o Skyguard, um sensor automático que para a máquina quando ela se aproxima de anteparos e outras situações de risco. “Há dispositivos acoplados ao painel de controle que permitem resetar o sistema em caso de acionamento indevido”, explica Hatch.

 

 

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