Revista M&T - Ed.85 - Out/Nov 2004
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MERCADO

Aço, dólar e burocracia prejudicam venda de máquinas

O segmento de máquinas e equipamentos pode ter seu crescimento refreado em razão do recuo do dólar, alta do aço e atraso no repasse de verbas de programas federais

O acumulado dos três 1I trimestres de 2004, as exportações de máquinas rodoviárias cresceram 152,5% em relação ao mesmo período de 2003, enquanto as vendas internas de produtos nacionais aumentaram em 16,8%. Esses resultados positivos tendem, no entanto, a ser reduzidos daqui para a frente. Do lado das exportações, pelo recuo do dólar e pelo aumento de até 100% nos preços de alguns tipos de aço que, desde janeiro, já elevaram em cerca de 40% o valor das máquinas.

No mercado interno, a mudança das regras de financiamento de programas como o Moderfrota (agrícola) pelo Conselho Monetário Nacional demorou 45 dias e somou-se à greve dos bancários, que atrasou em outros dois meses a análise dos pedidos de crédito. Essa


O segmento de máquinas e equipamentos pode ter seu crescimento refreado em razão do recuo do dólar, alta do aço e atraso no repasse de verbas de programas federais

O acumulado dos três 1I trimestres de 2004, as exportações de máquinas rodoviárias cresceram 152,5% em relação ao mesmo período de 2003, enquanto as vendas internas de produtos nacionais aumentaram em 16,8%. Esses resultados positivos tendem, no entanto, a ser reduzidos daqui para a frente. Do lado das exportações, pelo recuo do dólar e pelo aumento de até 100% nos preços de alguns tipos de aço que, desde janeiro, já elevaram em cerca de 40% o valor das máquinas.

No mercado interno, a mudança das regras de financiamento de programas como o Moderfrota (agrícola) pelo Conselho Monetário Nacional demorou 45 dias e somou-se à greve dos bancários, que atrasou em outros dois meses a análise dos pedidos de crédito. Essa demora e o aporte de mais recursos (R$ 5,5 bilhões contra R$ 2,2 bilhões em 2003) podem, inclusive, fazer com que sobre dinheiro no programa, como já admitiu publicamente o vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil (BB), Ricardo Conceição.

Segundo tabela elaborada pela Câmara Setorial de Máquinas Rodoviárias da Abimaq, o total de exportações em setembro foi de 701 unidades, contra 774 em agosto e é o menor desde abril passado. As vendas internas apresentam queda pelo terceiro mês consecutivo: de 542 unidades em julho para 507 em agosto e 494 em setembro, considerando-se apenas produtos nacionais. A tabela utilizada como referência inclui dados sobre produção, vendas internas de produtos nacionais e importados e vendas externas de tratores de esteira, retroescavadeiras, pás- carregadeiras de rodas, escavadeiras hidráulicas, caminhões fora-de- estrada, motoniveladoras e rolos compactadores, fornecidos diretamente ou através da Anfavea, por fabricantes como a Caterpillar, Fiatallis, Komatsu, Volvo, Case, Dynapac e Randon.

Vendas — Dessas linhas de equipamentos, apenas duas registraram aumento das exportações em setembro. O maior deles foi o de rolos compactadores, com 47 unidades contra apenas 7 no mês anterior, superando a melhor marca do ano, verificada em julho, com 38 unidades exportadas. Já as carregadeiras de rodas tiveram 119 unidades exportadas, em lugar das 111 em agosto, mas bem distantes ainda do recorde de maio - 188 unidades. As duas maiores reduções foram as de tratores de esteira (144 contra 192 unidades) e de motoniveladoras (226 contra 178 unidades). As exportações de retroescavadeiras baixaram de 137 para 132 unidades, as de escavadeiras hidráulicas de 76 para 57 unidades e as de caminhões off-road de 25 para 24 unidades, nos três casos, mantendo a tendência de queda verificada a partir de julho último.

As vendas internas de linhas nacionais que aumentaram no mês foram as de retroescavadeiras (126 unidades contra 111 em agosto), compactadores (33 unidades contra 22) e, bem menos expressiva, carregadeiras de rodas (179 unidades contra 178). Os tratores de esteira lideram este ranking de maior queda em vendas internas de produtos nacionais, com 53 unidades contra 69 em agosto, seguidos das motoniveladoras (36 unidades contra 51). Outra redução foi a de caminhões off-road\ de 7 unidades em agosto para 3 em setembro. A única dessas linhas que mantém o crescimento de vendas internas, nos últimos três meses, é a de compactadores, passando de 19 unidades nacionais em julho, para 22 em agosto e 33 em setembro.

Em termos de resultados no período janeiro a setembro, o melhor de longe continua sendo o das exportações de caminhões off-road, somando 186 unidades, ou 3.000% a mais que nos mesmos nove meses de 2003. Em compensação, é o único equipamento com resultado negativo em vendas internas, com 21 unidades nacionais vendidas até o último mês contra 36 em igual período do ano passado. Outro grande aumento de exportações é o das escavadeiras hidráulicas (446,5%), totalizando 705 unidades no período. Em número de unidades, o equipamento mais exportado foi a motoniveladora (1.825), seguido do trator de esteira (1.270) e da retroescavadeira (1017). Já as linhas nacionais mais vendidas internamente até setembro foi a de carregadeiras de rodas (1.445 unidades) e a de retroescavadeiras (1.020 unidades). Em comparação aos primeiros nove meses de 2003, no entanto, a liderança do aumento de vendas internas fica com os compactadores nacionais (26,1%), com 181 unidades contra 142.

Recuo — Embora prejudicadas este ano, as vendas internas de máquinas nacionais podem ser incrementadas em 2005, por programas especiais como o Moderfrota e o Modermaq (veja matéria nesta edição). Já a tendência de desaceleração do volume de exportações deve persistir, uma vez que são previsíveis a continuidade de valorização do real em relação ao dólar e da alta do aço durante o próximo ano. Esses dois fatores são os mais preocupantes porque certamente a alta de exportações obtida neste ano não será compensada pela demanda interna, o que pode refrear os investimentos dos fabricantes em seu parque industrial. No agronegócio, por exemplo, um do setor que mais respondeu pelos bons resultados de vendas internas de tratores, carregadeiras, motoniveladoras e escavadeiras, a demanda reprimida, exatamente por essa renovação, já não é tanta. Para Ricardo Conceição, o produtor que comprou um trator nesta safra levará um certo período de tempo para adquirir o mesmo equipamento. Estudos do Banco do Brasil indicam que a demanda reprimida para o Finame Agrícola e o Moderfrota é de cerca de R$ 170 milhões e de R$ 66 milhões para outros programas de incentivo à aquisição de máquinas, como o Modermaq. A sobra dos recursos reservados para esses programas deve, assim, ser transferida a outros.

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