TÉCNICAS
O Estado de S. Paulo
25/06/2019 11h00 | Atualizada em 25/06/2019 16h02
O desenvolvimento de uma tecnologia que beneficie o minério de ferro em larga escala sem o uso de água ainda está longe de chegar ao mercado. No entanto, testes neste sentido já começaram a ser feitos pela Vale, mas ainda vai demorar de cinco a dez anos para serem colocados em prática.
Até lá, a indústria da mineração vai recorrer a soluções paliativas, como o processo de empilhamento a seco e a contínua desativação de barragens a montante, hoje o processo mais barato de produção.
O setor tem um desafio ainda maior no Brasil, além da tecnologia. As mineradoras preci
...O desenvolvimento de uma tecnologia que beneficie o minério de ferro em larga escala sem o uso de água ainda está longe de chegar ao mercado. No entanto, testes neste sentido já começaram a ser feitos pela Vale, mas ainda vai demorar de cinco a dez anos para serem colocados em prática.
Até lá, a indústria da mineração vai recorrer a soluções paliativas, como o processo de empilhamento a seco e a contínua desativação de barragens a montante, hoje o processo mais barato de produção.
O setor tem um desafio ainda maior no Brasil, além da tecnologia. As mineradoras precisam recuperar a confiança na atividade, após as tragédias de Mariana e Brumadinho, separadas pelo curto espaço de três anos e dois meses e com um total de 289 mortos.
A Vale, que está no olho do furacão por conta dessas duas tragédias, tem investido em uma planta piloto para testar esta tecnologia.
A mineradora trabalha no desenvolvimento, em escala industrial, de uma técnica de concentração que não utiliza água na produção de pelotas. O projeto piloto usa base patenteada pela New Steel, empresa que a Vale comprou, em janeiro, por US$ 500 milhões, para ter acesso à tecnologia.
"Esse é o futuro, não tem dúvida", afirmou o diretor financeiro da Vale, Luciano Siani. Mas, o executivo procura ser realista: em Minas Gerais será muito difícil abrir mão de barragens para extrair minério. E, para a população, barragem virou sinônimo de tragédia e apreensão.
Há mais de quatro meses, os habitantes de Barão de Cocais passam os dias como se estivessem convivendo com uma bomba-relógio, com o talude da mina de Congo Soco deslizando lentamente e ameaçando de rompimento a barragem Sul Superior.
"Não sabemos ainda se com o empilhamento a seco e a concentração a seco teremos condições de eliminar totalmente as barragens. Provavelmente, não", reconhece Siani.
Como todos os outros executivos do setor, ele faz questão de frisar que a prioridade, no momento, é reconquistar a confiança da população, com uma atuação segura do setor.
Empilhamento
A substituição de barragens por pilhas de rejeitos não zera o risco ambiental, embora reduza a exposição, explica o consultor José Carlos Martins, da Neelix Consulting Metals&Mining.
"Não é uma solução simples. Embora exista tecnologia para processamento a seco, o processo é para pequenas escalas. Para grandes escalas, ainda não existe uma tecnologia provada", disse Martins.
Outra questão importante, apontada por Martins, é que não há como eliminar o rejeito. Há substituição de barragem por pilhas. Sem barragem, vai ter de transportar o rejeito por caminhão, o que aumenta bastante o custo. No entanto, o rejeito vai continuar existindo e vai ser empilhado em outro lugar. "E não pode ser muito distante da mina porque senão o custo fica proibitivo. Então, o processamento a seco elimina a barragem mas não elimina o rejeito. Vejo isso como trocar seis por meia dúzia."
Usando a técnica de empilhamento a seco, a Vale estima que deve alcançar em 2022 a produção que havia planejado para este ano. Em paralelo ao desenvolvimento de novas tecnologias, as empresas do setor de mineração preparam também uma guinada na condução de seus procedimentos.
Tradicionalmente fechadas, as empresas tentam se adaptar a novas formas de comunicação e transparência. Estão cientes de que depende desse trabalho o resgate da confiança para uma atividade que já carregava o estigma de degradação do meio ambiente.
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